sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

(Entre parentesis)

Dêem uma olhada em como é o Carnaval das crianças por aqui, neste vídeo.

Corujice pura...

Pegando também - com muito prazer! - o fio da meada do Garrocho, ai vai minha contribuiçao à postagem coletiva sobre as Escolas Quintais.
Eu sou suspeita pra falar do CLIC. É igual mãe falando de filho, assim não vale. Mas a Cibbele pediu e então virou ordem ;-)
O CLIC foi fundado em 1996 por mim e pela Liliane Mitre. A história foi que ela me convidou pra montar uma escola e eu já fui dizendo: - Lili, desiste. Escola não serve pra educar.
Frasezinha entre sábia e panfletária, mas que me serviu pra refletir e começar a construir um outro modelo que, segundo me parecia, "servisse pra educar". E assim, devagarzinho, foram nascendo os primeiros contornos do que hoje se transformou num Projeto Educacional, o conceito de Centro Lúdico de Interaçao e Cultura. Um tripé de idas e voltas entre estes três âmbitos que, dialeticamente, vão-se tecendo uns aos outros.
Hoje, o CLIC é dirigido pela Adriana Di Mambro, que se juntou a mim em 1998 e ficou, e pela Letícia Fonseca, educadora formada lá mesmo, que me substituiu quando em 2006 resolvi voar pra outras terras. Deixei meu "filho" em ótimas mãos. De gente que esta trabalhando sério para transformá-lo continuamente e assim mantê-lo vivo e atuante.
A base do CLIC é o brincar, que é onde o tripé "se fecha" concretamente. As crianças no CLIC brincam. No brincar estão implícitos o Lúdico, a Interação e a Cultura. Mas uma ressalva importante deve ser feita: neste projeto, o brincar não está "a serviço" da aprendizagem. O brincar tem significado em si mesmo, e isso faz das crianças, crianças mesmo, e não alunas necessariamente. Elas podem ocupar vários papéis no mundo, na sociedade, em casa. E aprendem, aprendem muito! Isso é natural delas. Mas ter o direito de ser criança é uma grande conquista nesses tempos de pragmatismo.
A Cultura como o CLIC entende é o encontro de dois mundos: de um lado, a Cultura do Adulto, as informações, instruções, conhecimentos que foram sendo acumulados em milênios pela Humanidade. Do outro, a Cultura da Criança, os Saberes Universais que a Infância traz consigo e que representam cada menino, no Brasil ou na Itália, na China ou no Peru, em Serra Leoa ou em Nova York. As Interações servem pra "traduzir" esses dois mundos, achar as interseções, as estradas comuns e também as diferenças, num diálogo contínuo e plano, sem hierarquias.
Por isso, a opção pelas Oficinas. Nada mais libertário, mais democrático, mais poético que experimentar juntos as possibilidades de cada elemento que vai aparecendo diante de nossos olhos.


Eu poderia estender este post ad infinitum, tamanha a intensidade que esta experiência de 10 anos provocou na minha vida. Mas deixo a vocês, leitores, a oportunidade de descobrir esse espaço por si mesmos, seja visitando o site ou indo pessoalmente conhecer essa casinha-com-quintal super simples, meio onírica, no meio dos arranha-céus do Carmo Sion.
_Claudia Souza _

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Escolas quintais: Te-Arte


Ao fim do ano passado, combinamos com o Garrocho, do blog Cultura do Brincar, uma postagem conjunta sobre escolas-quintais, que ele introduziu muito bem aqui. Se o termo “de-fundo-de-quintal” é utilizado quase sempre pejorativamente, no sentido posto passa a ser um adjetivo de grande qualidade. Vou me dedicar a descrever sinteticamente a escola Te-Arte, uma das experiências de escolas-quintais, instalada na cidade de São Paulo e criada pela educadora Therezita em 1975.

Enquanto muitas escolas se convertem ao digital e se vão transformando na vanguarda tecnológica do atraso pedagógico, a Te-arte permanece pioneira e determinada no recurso à simplicidade.”_afirma José Pacheco no prefácio do livro De Volta ao Quintal Mágico da jornalista e professora da USP Dulcilia Schroeder Buitoni.

O espaço da Te-Arte, descrito minuciosamente no livro que utilizo como fonte, é um quintal irregular, com verde por toda parte. É um lugar onde as possibilidades não são necessariamente intencionais, mas precisam ser descobertas. Therezita afirma que é um lugar para se aprender a habitar o próprio corpo, uma vez que a identidade passa profundamente pela memória corporal. Há contato com a natureza, espontaneidade na condução das atividades e inexistência de turmas.

A arte permeia tudo e não está a serviço da educação. A arte existe e pronto. A vivência é multicultural: vai desde a pinhata mexicana, às danças colombianas e elementos da cultura judaica. Os instrutores não são formados pelas universidades de pedagogia, mas são profissionais com “olho” para o infantil, para o ser no presente, no tempo de cada coisa, para o brincar.

Essa aparente anarquia carrega consigo muitos limites. É o limite concreto, da prórpia experiência. Por isso, as crianças do Te-Arte aprendem a brincar com o fogo e a respeitar o limite dessa relação.

Essas e outras experiências são descritas por Dulcilia e nos dão a impressão de que realmente há um conhecimento perdido e muito mais óbvio sobre o educar do que as elucubrações técnicas a que nos submetem a visão generalizada sobre um infantil simplório e muito menos complexo do que ele é na realidade. Um retorno à complexa simplicidade, à realidade. Um quintal de verdade e não um lugar que se parece com. Mais pra ser do que pra parecer.

E agora, Clau e Garrocho, quem pega a bola?

: )

_Cibele Carvalho_

Visita de Honra

Ficamos felicíssimas com a visita de honra do escritor angolano Ondjaki, que tece comentários em blogs com a mesma sensibilidade com que escreve seus livros. Aqui!

***

Aliás, estamos perto de descobrir mais sobre o "35 vitórias."

***

Bom carnaval pra todo mundo...

_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Filosofia do espaço

Sobre o espaço, assunto que dá pano pra manga por aqui, escreveu muito bem a Márcia Tiburi .
E marca-texto nas duas últimas frases, por favor!

Sobre galos e especialistas

Hoje, enquanto eu pagava o sorvete da minha filha, o sorveteiro viu o grande galo empoleirado na testa da pequena e contou um caso que me impressionou. O filho dele, passando o fim de semana numa cidadezinha aqui perto, caiu durante uma brincadeira inofensiva e perdeu temporariamente a visão por causa de uma fratura no crânio. Atendido no pronto-socorro local, foi encaminhado pra cá, cidade um pouco maior. Esse pai (qualquer adjetivo para o seu estado de espírito me pareceu eufemismo) dirigiu 80km em 22min e foi duramente repreendido pelo médico que o chamou de irresponsável por colocar em risco a vida de todos os passageiros.

História de apertar o coração de qualquer um, acabou me surpreendendo muito mais pela postura do médico. Tenho me indignado com diversas situações em que o conhecimento do especialista é utilizado para outros fins que não a prestação do bom e ético serviço. Professores, médicos, psicólogos e diretores de escola se utilizam das informações e aflições familiares (muitas vezes confidenciais), esquecendo-se de que informação é poder e poder exige responsabilidade. Responsabilidade é quando a gente arca, acolhe ou minimiza as más conseqüências dos nossos atos. Isso quer dizer que, um médico_ profissional de saúde e que vive a emergência rotineiramente, quando chama um pai _ comerciante e não motorista de ambulância_ de irresponsável, está, ele sim, agindo irresponsavelmente. A leviandade é a irresponsabilidade ou imprudência do julgamento emitido. A mesma informação poderia ter sido dada de outra forma, se a intenção fosse mesmo alertar para uma futura (e improvável) situação similar. O médico poderia ter julgado a ação em vez de julgar o sujeito, por exemplo.

Há na contramão, alguns profissionais diferenciados. Lembro da proprietária e diretora da primeira escola em que a minha filha estudou, que me vendo sofrer com a adaptação, me mandou um bilhetinho dizendo que a adaptação é para a mãe também. Quando me vi acolhida, estávamos mesmo fazendo parte daquela escola.

Cada vez mais, os pais se sentem seguros o suficiente para buscar as informações necessárias que contribuem muito na tarefa de educar, ao mesmo tempo em que exigem respeito ao trabalho diário e difícil de fazer crescer um filho. Todo pai ou mãe acaba entendendo um pouco de medicina, psicologia, pedagogia e outras modalidades de conhecimento, mas nenhum pai ou mãe é obrigado a agir tal qual um especialista quando a vida lhe colocar à prova. Cada pai/mãe pode e deve desenvolver seu próprio estilo para que suas ações sejam coerentes com os princípios da casa. Podem fazer diferente do outro e ainda assim acertarem todos. Podem até se dar ao direito de errar. Ganham os filhos tendo pais seguros, felizes e coerentes. Nesse sentido, o blog mothern, indispensável companheiro da minha maternidade, fez escola.

Vou fechar esse post, agradecendo ao meu vizinho Dr. João (leitor do quintarola, diga-se de passagem) por ter muito, muito delicadamente assistido a minha filha depois de um tombo feio na escada. Com grande capacidade de empatia, ele consegue se ver como pai na aflição do outro. Sorte dos pacientes dele! Sorte dos filhos dele! E sorte da minha Cecília também!
***
A propósito, galo na testa é personagem indispensável da infância, né? Fiquei curiosa sobre a origem da expressão. Será que é pela semelhança com uma crista??? Quem souber, por favor chame por ô de casa perguntas sem resposta!
***
Clau, estou adorando seu ritmo alucinante...
: )
_Cibbele Carvalho_

Planeta Tangerina

é uma editora portuguesa de livros pra crianças "que carrega um quintal imenso" ... como disse a Cibele.
Dêem uma conferida.

http://www.planetatangerina.com/publico/index.html

_Claudia Souza_

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Curtinhas de quintal

Assim como as brincadeiras, as canções, parlendas, versinhos e contos tradicionais, cuja transmissão é basicamente oral, vão sofrendo modificações e/ou adaptações de acordo com as regiões e períodos.Por isso, muitas vezes ficam até meio incompreensiveis. Interessantíssimo pegar algumas versões originais e compará-las àquelas atualmente conhecidas e usadas. Vejam só:


"Batatinha quando nasce


ESPALHA A RAMA pelo chão (... e não ESPARRAMA)


Mamãezinha quando dorme


Põe a mão no coração."


(Versinho)



"A moda DAS TAIS ANQUINHAS* (... e não DA CAROCHINHA)


É uma moda estrangulada


Quando põe o joelho em terra


Faz a gente ficar pasmada".


(Ciranda)


* Anquinhas= tipo de cinta usada pelas moças do início do século XX para apertar a cintura e realçar suas ancas ou quadris.



_Claudia Souza_

A Propósito da Universalidade da Infância...

Tenho duas experiências pra contar:


  • Logo que cheguei aqui em Milão, participei de um ensaio fotográfico chamado "A Memória dos Jogos Tradicionais". Duas fotógrafas, uma venezuelana e a outra italiana, queriam imagens de brincadeiras do mundo todo. As brincantes éramos eu (representando América), uma chinesa (Ásia), uma romena (Europa) e uma camaronense (África). Ajudadas pela língua (embora incipiente) em comum, a gente conversava muito durante as sessões de fotos, realizadas em várias escolas da cidade. E acabamos concluindo que a base das brincadeiras era a mesma: mudava o nome, claro, e algumas regras acessórias. As crianças italianas não tinham dificuldade nenhuma em entrar no ritmo das propostas, mesmo se a mediação não fosse necessariamente a língua (todas nós brincantes éramos recém-chegadas e, como não dominavamos bem o italiano, usávamos outros recursos de comunicação), mesmo porque não tinha muita novidade pra elas. Rapidamente identificavam a brincadeira dentro de seu repertório pessoal e cultural.

  • Em setembro de 2008, em Verona, aconteceu o Tocatì, Festival Internacional de Brincadeiras de Rua, promovido pela Prefeitura da cidade em parceria com a Associação de Brincadeiras Antigas. Cada ano, a organização do Festival convida um país diferente como destaque. Desta vez tinha sido a Escócia. Pude acompanhar mesas redondas, palestras, conferências, comprar livros e catálogos sobre brincadeiras, e o mais incrível foi vê-las brincadas na rua, por adultos e crianças indistintamente. A cidade foi toda transformada num grande quintal, com pistas de bolinha de gude, tatames, chão de pião, balanços, etc. De todas as brincadeiras que vi, duas merecem destaque: uma é o arremesso de queijo, brincadeira tradicional italiana.Um queijo imenso é enrolado numa corda e depois lançado. Pra vocês nao dizerem que estou mentindo, tenho a foto abaixo pra comprovar. Outra é uma brincadeira de homens escoceses. Parece um Rugby: do alto alguém atira uma bolinha, do tamanho de uma bolinha de tênis, e os jogadores, divididos em duas equipes, se jogam uns sobre os outros na tentativa de pegá-la e levá-la à base do adversário pra fazer uma espécie de gol. Era divertidíssimo assistir, porque os jogadores podem blefar, podem esconder a bolinha dentro da roupa, podem usar as estratégias mais impensáveis. Ou seja, apesar da semelhança, nada muito esportivo, tudo muito lúdico. O impressionante é que, mesmo na confusão generalizada de gente amontoada, ninguém se machuca. Existe um respeito completo pela incolumidade física. Tinha inclusive gente de óculos!!
Na maioria, eram brincadeiras já minhas conhecidas, com poucas modificações. Até a velha e boa "finca" - jogo com barrinhas pontudas da minha infância perdida no interior de Minas - eu pude reencontrar.
É fato: as crianças têm uma Cultura que avança sobre as fronteiras virtualmente construídas pra separar os Homens e pra sustentar seus poderes (igualmente virtuais). Que avança inclusive sobre o Tempo. Não existe mesmo idade pra Infância.

"Os homens não param de brincar porque envelhecem; eles envelhecem porque param de brincar" - Ditado mexicano.

_ Claudia Souza_

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Agora, sim : Os da minha rua


Sem dúvida alguma, Os da Minha Rua , do escritor angolano Ondjaki, é um dos melhores livros de literatura que li nos últimos tempos...

Começo pelo início do fim. Ondjaki afirmando: “A infância é um ponto cardeal eternamente possível”. Fica noutro lugar, mas pode ser revisitado. Lendo, vou me lembrando de algumas imagens e restaurando sensações.

Uma imagem: (o cachorro) mexia-se sempre devagarinho, bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol para lhe acudir as feridas. (...) O Kazukuta naquele olhar dele de remelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar. Outra: Tirei os quedes vermelhos, tinha os dedos grandes, os mindinhos e os calcanhares muito irritados. E cheirava muito a chulé, eram, pra dizer a verdade, um quedes que não davam jeito nenhum, mas eu gostava deles. Não sei bem porquê.

Mesmo na infância angolana, podemos ver a infância de todos nós. As infâncias são muitas_ agolanas, brasileiras, palestinas, americanas, israelitas, japonesas, medievais ou pós-modernas. Mas as infâncias são uma só, por exemplo, na sua estrangeiridade (tomei a expressão emprestada de Walter Koan) em relação ao adulto. Quem não se lembra da angústia de ser pequeno no mundo dos grandes? De não entender todos os códigos (Não sei, eu era só uma criança dessas a olhar os mais velhos)? E de se saber sempre andarilho rumo a um o ponto cardeal ainda não visitado?

Uma sensação:
_Meninos, a tia Maria morreu.
Até tive medo, não daquela notícia assim muito séria, mas do que alguém perguntou:
_Mas podemos continuar a brincar só mais um pouquinho?

Outra:
Nós, as crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade.

E Outra: é um pouquinho assustador, mas mesmo quando somos crianças, o antigamente já fica lá longe.

E outra mais: Eu brincava um pouco se houvesse jardim ou mesmo rua. Depois sentava-me no colo da tia Rosa e começava a “encher o saco”, como dizia Tio Chico. Começávamos a perguntar se já íamos embora, dizia que tinha sono e fome, só me respondiam que estava quase a chegar a hora de irmos. E vinham mais cervejas. Muitas mais.

Na rua, as crianças constroem comunas lúdicas, regidas por éticas e etiquetas próprias.
_Amanhã num queres me convidar para almoçar na tua casa?

Na rua, os adultos é que experimentam o não-pertencimento. Quando um adulto resolve interferir ou julgar uma brincadeira sem ser solicitado, em geral, mete os pés pelas mãos.

No fim do fim do livro, Ana Paula Tavares, em carta, afirma ao autor que teu livro dá conta de como crescem em segredo as crianças. Ou em um dialeto próprio.

Tudo isso pra ficar na cultura da criança, porque se fosse pra falar da linguagem poética, da delícia que é ler o Português de outros países, teríamos mais alguns posts.
###

Aprendi as expressões angolanas matabichar (fazer pequena refeição, o desjejum) e pedir abuçoitos (pedir licença de uma brincadeira, similar ao nosso “altas”). Guardo aqui como numa coleção de achados.

###

Quintarola Quizz
Quem conhece a brincadeira angolana “35 vitórias”? Fiquei curiosíssima para saber como é...Valendo um doce!
_Cibbele Carvalho_

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Com as crianças no quintal

Bom dos 0 aos 150 anos...









  • Slides: a meninada de hoje, tão acostumada com o DVD, com o vídeo-game, com o computador, será que ainda encontra qualquer coisa no velho projetor de slides? Imagem parada, sem som... A resposta é SIM!! Podem experimentar. Das velhas historinhas dos anos 70 (slides que eu tenho até hoje), recontadas tão bem pelo inesquecível Braguinha (que foram reeditadas em CD há algum tempo) até os desenhos delas próprias projetados, passando por fotos de viagens, quadros famosos e outros que-tais, a experiência de ver uma projeçao de slides juntos pode ser sensacional. Isto porque ver uma imagem em largas dimensões, com tempo pra analisar os detalhes, as particularidades, é impagável. Criar um clima de "cineminha" é um ótimo complemento.
  • Contação de histórias na "cabana": outra coisa deliciosa. Escolham bem os textos de acordo com o ambiente, o clima, a hora... mas acima de tudo de acordo com a sua paixão.
  • Cirquinho: reunir a meninada da rua ou do prédio pra organizarem um espetáculo de circo. Cada menino apresenta um "núumero". E depois, os adultos são a platéia.
  • Rua/estrada das formigas: com uma pazinha, vocês vão construindo as "pistas", com curvas, pontes, viadutos, placas. Uma pitada de surrealismo pode ser muito divertido.
  • Pista de pião, bolinhas de gude: fazer o pião rodar é quase uma arte. E as pistas de bolinhas de gude, então? Um dos jogos mais gostosos de todos os tempos.








Quem tiver/quiser outras idéias, fique à vontade.

_Claudia Souza_

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Mineiridade

Pois é, Paula, eu estava justamente pensando sobre a poética mineira quando me deparei com o site do Ronaldo Fraga para os pequenos . Ele é ou não é um estilista que carrega um quintal imenso?
_Cibbele Carvalho_

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Rua, o Quintal e a Praça


Foi a Clau quem apelidou carinhosamente a abordagem sociológica da infância de “infância de quintal”. Venho revirando esse termo tão sugestivo e pensando no que é uma infância vista pelo viés do espaço e mais, de um espaço quase extinto, já que as casas e seus quintais estão cada vez mais raros nas grandes cidades.

Aparentemente, faria muito mais sentido pensar hoje na infância de pracinha, assim como antigamente, na infância de rua. E porque insistimos na idéia da infância de quintal, correndo o risco de tomar cores muito idílicas? A infância de rua, sim, é lugar irrecuperável, já que seu território foi tomado pela noção do público totalmente descolado do privado. A rua não é de ninguém e por isso, não é lá muito confiável.

A infância de pracinha, por sua vez, é a solução dada para a “atopia” da infância. A pracinha oferece o sol matinal e alguns companheiros. Se o quintal é o espaço arruado da casa, a pracinha deveria ser o espaço caseiro da rua, mas não é assim que acontece.... Na pracinha, vejo crianças passeando (ou melhor, sendo passeadas) em carrinhos, babás uniformizadas e vigilantes para evitar qualquer arranhão de joelho, além de pouquíssimos atrativos e desafios. A pracinha não traz as marcas das crianças, não é construída por elas e por isso não é lugar (olha que conceito oportuno!).

Há no quintal, também em contraponto, o irresistível ser pra dentro. Ele é arruado, mas é da casa. A infância de quintal, de certa forma, prestigia o momento de estar sozinho como imprescindível para estar com o outro. E aqui me lembro da atriz Maria Luiza Mendonça, em entrevista à Marília Gabriela, dizendo que incentivava sua filha não a ser artista, mas a cultivar um ser artístico, a ter uma riqueza interior tal, que lhe permita estar bem consigo mesma.

Tudo isso não nos impede de aproveitar os momentos praças da vida, tal como esse, descrito sensivelmente por Fabrício Carpinejar ,ou de recordar as aventuras da rua como no livro Os da Minha Rua do escritor angolano Ondjaki. Mas para este livro, belo presente (autografado!) da minha amiga Ju Steck, dedicarei um post à parte.

Estou de volta e empolgada com as encomendas de temas para posts sugeridos pelos nossos queridos leitores. Quem quiser participar pode, a qualquer momento, botar o pé no quintal e gritar: “ô de casa!” Assim como fez a Elisa ali embaixo.

É bom voltar pra casa!

_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

MAdrasta ou BOAdrasta?

Pois é, como bem disse a Elisa, comentando por aqui, a gente fala muito sobre pais e mães e se esquece das outras pessoas que vivem em primeira pessoa a experiência da maternidade/paternidade: os padrastos e madrastas. Nomezinhos horrorosos pra uma gente que passa a significar tanto pros nossos filhos.
O fato é que as famílias modernas estão mais complexas. E viva! Uma coisa que há algum tempo atrás era vivida com certo receio, hoje já pode - e deve! - ser vista como um privilégio. Porque essas pessoas podem oferecer às crianças outros modelos, outras referências, que servem muito a elas em seu processo de construção da própria personalidade. Ou seja, a coisa se amplia. E isso é otimo!
Um ponto importante pra partir a conversa é que pai e mãe não se separam. Marido e mulher sim, mas continuam a ser pais e mães morando em outras casas e trazendo outros companheiros pra família. Portanto, não é porque o pai casou com outra mulher que esta vai substituir a mãe. Não é porque a mãe casou com outro homem que este vai substituir o pai. Esse é o grande pânico das crianças, o medo de trair a mãe ou o pai quando se permitem gostar do novo marido da mãe ou da nova mulher do pai. A primeira barreira que eu acho que os novos companheiros devem quebrar é essa. Do seu próprio imaginário e do imaginário dos enteados. Feito isso, são todos livres pra começar uma outra relação, baseada em outros parâmetros, mas muito próxima do que se vive como pai ou mãe. Começar significa estar aberto a aprender juntos, a ir se conhecendo devagarinho. Afinal, são duas pessoas que se encontram através de uma outra, mas cujo relacionamento superara esta outra, na medida em que for se constituindo.
O marido da mãe não é um simples amigo da criança. Nem a mulher do pai. São mais que isso. Têm muita responsabilidade e portanto têm de ter muitos direitos. Há pouco tempo, li uma reportagem de que, na França, foi proposta uma lei que regulariza esses direitos. Nada mais justo. Os direitos devem ser na mesma medida da responsabilidade.
Na atual configuração familiar, é um pouco diferente o status de marido da mãe, do status de mulher do pai. Isso por um motivo simples: geralmente as crianças moram com a mãe. Então, o marido da mãe também mora com seus filhos. A mulher do pai, geralmente não. São relações diferentes em intensidade, em intimidade, mas podem não ser em qualidade.
Claro que nem todo mundo se coloca nessa situação do mesmo modo. Conheço muitos novos companheiros que não se aproximam dos filhos do cônjuge, outros até que competem com eles e acabam caindo numa relação insustentável. Não existe uma fórmula exata pra como as pessoas se comportam, cada um faz como quer e/ou consegue.
Mas eu considero perfeitamente possível estabelecer uma relação saudável e prazerosa nessas condições. Desde que cada um seja respeitado e sobretudo que seja respeitado o lugar de cada um. Assim, o afeto encontra espaço pra se manifestar.
Enfim, não tenho a pretensão de esgotar esse assunto. Quis escrever só alguns pontos pra puxar mais conversa de quintal. A bola tá com vocês.

_Claudia Souza _
 
BlogBlogs.Com.Br