segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fralda ecológica

Quando Davi nasceu, há quase 15 anos, embora em pleno boom das fraldas descartáveis, optei pelo uso das fraldas de pano durante o dia. Lembram delas? Hoje parecem relíquias de um passado distante.

fralda-de-pano

Ele usava fraldas descartáveis só pra dormir. Naquela época, li muito sobre isso e tirei minha conclusão principalmente de 2 pontos: a maior irritabilidade da pele que a fralda descartável provoca (devido aos componentes químicos para torná-las impermeáveis e porque impedem a natural circulação do ar) e o desrespeito ao meio ambiente, já que são altamente poluidoras (constituem 15% do lixo não reciclável). Depois percebi que existiam outros motivos importantes: economia doméstica (as fraldas descartáveis custavam muito!), facilitação da aprendizagem do controle dos esfíncteres (com a fralda de pano, a criança é capaz de perceber melhor os excrementos e de sentir um certo incômodo, o que a estimula a controlar os esfíncteres mais cedo e de um modo mais natural), maior conforto para o bebê (o algodão é muito mais “fofinho” de vestir). Existem até estudos associando o aumento de temperatura provocado pelas fraldas descartáveis ao aumento da infertilidade masculina nos últimos 25 anos.

Era meio trabalhoso sim. Eu tinha de lavar a mão e ferver as fraldas num balde de alumínio. Depois estendê-las e no dia seguinte passá-las a ferro. Mas não eram tarefas que eu fazia chateada não. Era algo como preparar eu mesma a papinha dele, dar o banho, cuidar do quarto… coisas que me davam mais prazer que trabalho, na verdade. Eu tinha construído algumas condições de maternidade que a maioria das mulheres não tem: trabalhava fora poucas horas por dia, tinha uma auxiliar em casa e o estado de ser mãe tinha sido uma escolha tanto racional quanto afetiva. Tudo isso colaborou pra que o período-fralda fosse curto (pra ser mais exata, durou o tempo natural) e tranquilo aqui em casa.

Hoje as fraldas descartáveis ocuparam seu espaço no mercado e ninguém mais pensa nas old-fashioned fraldas de algodão. Ninguém? …

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Aqui na Itália um grupo de mulheres está levando avante um belíssimo projeto chamado “Fralda Amiga”, cada dia mais amplo no país. O projeto funciona assim: apenas nasce um bebê, e antes mesmo de colocarem os enfeites tradicionais nas portas das casas, as mães recebem uma carta convidando a participar do projeto e explicando as vantagens, junto com um kit de 24 fraldas de algodão e 3 calcinhas/cuequinhas impermeáveis. As fraldas são de nova geração: são feitas com 90% algodão e 10% de um material absorvente natural, podem ser lavadas na máquina e enxugam rapidinho, sem precisar passar a ferro. O modelo é já em forma de shortinho, o que facilita o uso (não precisa dobrar). pannolini_lavabili

As mães que aceitaram participar (já são muitas) estão fazendo um diário de campo e as impressões não podiam ser mais positivas. Com a experiência, conseguiram convencer primeiro as avós (que resistiam achando que era um retorno ao passado depois de uma grande conquista) e os maridos, que temiam que as fraldas na máquina de lavar sujassem suas camisas. O projeto foi testado com mães consideradas “difíceis” (muitos filhos, trabalhadoras, singles) e deu também ótimos resultados. Os números são animadores, a porcentagem de desistência é só de 0,2%.

Enfim, um projeto que está fazendo seu caminho por aqui e que merece ser aplaudido. Parece que esse movimento já chegou aí no Brasil, mas as novas fraldas ainda não estão disponíveis. Não tenho notícia de projetos oficiais. Se não me engano, as novas fraldas de algodão já estão à venda pelo E-bay... Vale a pena procurar também em lojas virtuais e outros distribuidores.

_Claudia_

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Diário de Campo


Fiquei por meia hora esperando as crianças chegarem para a minha oficina e nesse intervalo, aproveitei para observar outras crianças, também frequentadoras desse projeto social. Elas andavam de lá pra cá em grupos de dois ou três. Às vezes, se empurravam e chamavam a atenção uns dos outros, numa mistura de brincadeira e provocação.

Uma menina pergunta por outra. Respondem que ela foi à cidade, como se estivéssemos fora dela. E talvez estejamos.

Sentada embaixo de uma árvore _ o sol está muito forte_ cai um filhote de passarinho aos meus pés. Algumas crianças o cercam, um menino se arrisca a pegá-lo. Joga o pardalzinho pra cima diversas vezes e apanha de novo. Tô ensinado ele a voar _ se justifica. Outro chega e adverte de que ele está é apavorando o passarinho. O tom, muito comum entre eles, é de reprovação. Há uma ginga na fala, mistura de canto e luta. O passarinho passa para a mão do segundo menino. Esse investiga as suas asas e tomado pela curiosidade, abre-lhe o bico, sob os protestos do bicho. Uma instrutora do projeto chega e diz que o passarinho não está gostando. Toma-o nas mãos e afirma que devem devolvê-lo ao ninho. Algumas crianças buscam uma escada de cerca de 3 ou 4 metros. O garoto maior começa a subir e ameaça que vai dar um se não segurarem a escada direito. Duas ou três crianças seguram embaixo, ainda trocando críticas: Segura direito! Cuidado com a sua mão! Nos'Senhora, se o menino cair, ele mata nóis.

Pronto, o passarinho está no ninho. Distraído, um menino pisa na grama e é advertido:
_ Oi, não derrota a grama não!

As crianças se dispersam... Lá em cima, o pardalzinho pia e ameaça sair de novo do ninho de João de Barro tomado como lar.


_Cibele_

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Brinquedos extraordinários 4: O Barangandão Arco-íris

Em muitos países é conhecido como “pássaro de fogo”. Na Nova Zelandia é o kiwido, inspirado em uma prática tradicional Maori, os primeiros habitantes do país. No Brasil foi imortalizado como barangandão pelo Adelsin, com o livro de mesmo nome.

kiwido

São faixas múltiplas e coloridas, amarradas em duplas e sustentadas por uma “capa” resistente, que convidam a experimentar figuras simétricas, com gestos cada vez mais amplos, mais velozes e mais sonoros. O farfalhar exótico das tiras e a profusão das cores deixa encantado até um observador casual.

Depois de alguns movimentos, quando se joga num ambiente aberto, o barangandão pode ser lançado pro “vôo”. É maravilhoso observá-lo caindo levemente no ar…

Adelsin ensina a construí-lo com jornal, barbante e papel crepom. Nada mais simples. Mas convém respeitar as regras de construção pra fazer um brinquedo que funcione bem. Pra isso, que tal dar uma olhada-bem-olhadinha no livro? Lá você encontra ainda outros 35 interessantes brinquedos inventados por meninos.

_Claudia_

domingo, 22 de novembro de 2009

Símbolos, escola e cultura

Andy-Warhol-Mickey-Mouse-8380

Arte: Andy Wahol

Uma mãe finlandesa, que mora na Itália e tem dupla cidadania, entrou com uma ação junto à Corte Suprema Européia para a retirada dos crucifixos nas escolas italianas. E a CSE aprovou, alegando que as escolas são instituições laicas, não podendo portanto expor símbolos de uma ou outra crença religiosa. A opinião pública italiana está majoritariamente contrária a esta decisão e o país deve entrar com recurso. As pessoas acreditam que o crucifixo não é um símbolo católico, mas da tradição local.

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Tramitando no Parlamento italiano a proposta de oferecer nas escolas, além das já existentes aulas de religião católica, aulas opcionais de religião islâmica.

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Numa cidadezinha perto de Milão, governada pelo partido de ultra-direita Lega Nord, está acontecendo desde o dia 25 de outubro, com final previsto em 25 de dezembro, o projeto “White Christmas” (“Natal Branco”) , uma “operação pente fino” contra os imigrantes cuja permissão de permanência em solo italiano está prestes a vencer. Alega-se que o Natal é uma festa cristã e que os imigrantes, a maior parte de outras culturas, “poluem” a sua “brancura”. As escolas locais, defendendo suas crianças imigrantes, saíram ontem em manifestação contrária a esta medida, juntamente com exponentes da Igreja Católica e ONGs em prol dos imigrantes.

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O presidente francês Nicolas Sarkozy proibiu na França o uso da burca, pois esta vestimenta da tradição muçulmana fere a constituição francesa (que professa que todas as pessoas, homens e mulheres, têm os mesmos direitos perante a sociedade e a lei, rejeitando toda e qualquer forma de servidão), além de esconder a identidade da pessoa em questão, o que poderia ser perigoso em termos de segurança. Em muitas escolas francesas os professores puderam finalmente ver as faces das mães de seus alunos muçulmanos. Algumas, entretanto, se recusam ou são impedidas pelos maridos de sair de casa sem a burca, condenando-se ao isolamento social.

_Claudia_

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Um post para Rosana

Flávia de Rin

O post sobre brincadeiras de guerra da Clau me fez lembrar de discussões que ocorreram na ocasião da notícia sobre essas crianças que brincavam com pós de giz em Sapucaia do Sul.
Lembro de ter estranhado a reação dos educadores da escola e a comoção geral causada pela notícia. Era como se a escola fosse responsável pelo conteúdo das brincadeiras das crianças, como se pudesse controlá-lo. Esse olhar moralizante não enxerga a origem da brincadeira, isto é, o contexto social desses meninos. Por mais que não se queira admitir, há uma coincidência entre a brincadeira e o fato de que a cidadezinha da região metropolitana de Porto Alegre é uma das mais violentas do Estado.

Numa dessas discussões, acabei conhecendo a Rosana Padial, uma profissional do brincar que me apresentou o livro Brinquedo e Cultura de Gilles Brougère em que o autor afirma: A brincadeira é, entre outras coisas, um meio da criança viver a cultura que a cerca, tal como ela é verdadeiramente, e não como ela deveria ser.

Com a generosidade típica de quem sabe brincar, a Rosana ainda me mandou um vídeo lindo do seu trabalho em que ela levanta, entre outras características do brincar, a leveza, que transforma em risada a mais dura realidade.

Rir de si mesmo, diria André Comte-Sponville, é a única forma legítima de humor e a mais necessária, já que levar-se a sério demais é não ter humildade. As crianças o sabem bem...
_Cibele_

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jogos de guerra

picasso_guernica Imagem: Guernica, de Pablo Picasso

(Este post surgiu de uma conversa com um “conspirador do brincar”, Luiz Carlos Garrocho)

O menino da favela brinca de vender cocaína e de metralhadora. O menino italiano brinca de caçar o "cigano-ladrão". O menino americano brinca de explodir países inteiros. Em casa, na escola, as “lutinhas”. O soldadinho. O super-herói.

Tudo é narrativa. A Vida parece estruturada como narrativa.

O Jogo – o brincar – não podia ser diferente.

“De brincadeira” se faz o belo, mas também o bullying, o vandalismo, os jogos políticos, o jogo de negócios, os jogos de guerra. Jogos perversos. Paradoxo inquietante. Às vezes assustador. A violência penetra o mundo da brincadeira, transborda.

As crianças imitam (brincando) o mundo onde estão imersas. E trazem também dentro de si, na natureza humana, os componentes do “lado obscuro da Força”. É uma luta interna de duas narrativas tão opostas quanto humanas. O bom e o cruel lado a lado.

Nessa luta, vista de frente, a possibilidade de aprender ou de se render. É preciso descobrir “Mas e eu, a que jogo pertenço?”

Brincar consigo mesmo – a auto-ironia. Saber brincar. Saber narrar a si mesmo. A dimensão lúdica precisa ser cultivada, inventada, encontrada de um modo muito pessoal. Até que o que esteja no centro seja a alegria, o entusiasmo, a leveza e não mais a onipotência. Aí entra o adulto-ao-lado-da-criança. Aquele que brinca junto, que compartilha as emoções e sugere caminhos. E propõe questões. Se a sociedade estimula a violência, podemos no nosso micro-cosmos indicar outras saídas. Mas isso é um processo longo, não coercitivo.

O que queremos ser através do brincar? Quem queremos ser?

O jogo, narrativo, contém segredos. Poder falar, escutar, interagir, procurar as palavras do outro. Ver a si mesmo primeiro pra ver o outro – e sua extensão, o mundo - depois. Ou a partir de si. Ensaiar a tolerância e a auto-compreensão.

Devemos nos ocupar de narrar a nós mesmos através do brincar, pois a brincadeira põe ordem ao caos da existência.

_Claudia Souza_

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Vivendo e aprendendo a jogar


Observando um grupo de crianças brincando, percebemos como varia a intensidade com que cada uma se relaciona com o jogo. Há as que se colocam no meio do campo na queimada e aquelas que se escondem nas beiradas, há as que são os primeiros a correr no pegador e as que nunca saem do pique. Há as que jogam a primeira mariazinha bem alto para dar tempo de pegar todas as outras, há as que, prudentes, jogam bem baixinho. O jogo é a tensão entre a entrega e a necessidade de autoproteção.

Quando somos pegos ou queimados, conseguimos avaliar onde foi que erramos. Há ainda um outro tipo de perda _ aquela que foge ao nosso controle. Um jogo completo deve associar estratégia e sorte, porque há situações em que nossas estratégias mirabolantes escoam num simples lançar de dados. A morte, o curinga, a chuva e o par ou ímpar são exemplo das nossas limitações e da nossa humanidade. Se uma sorte teima em se repetir, é chamada de dados viciados_ um jeito que a estratégia tem de se vestir de sorte.

Quando os adultos simulam a vitória das crianças, lhes dão sinais de condescendência, que é a desonra total do jogador. Muito diferente da “carta branca” que declaradamente relativiza as regras para manter no jogo os mais novos, que sem esse recurso, não experimentariam novas habilidades. Para admitir a carta branca, as crianças têm de entender que existe uma hierarquia de habilidades, mas que também os mais hábeis se tornam de alguma forma mais responsáveis. Percebo uma forte tendência na cultura da criança contemporânea-urbana para mascarar a vitória e a derrota. Como que tentando frear o individualismo e a competitividade, evitamos a relação, a entrega e todos os riscos. Jogamos a criança fora, junto com a água do banho.

Do outro lado do time, há os adultos que criam dificuldades na vida das crianças a fim de prepará-las para o pior. Ora, como se já não houvesse suficientes pedras no meio do caminho de qualquer um.

O brincar é tudo isso... envolve coragem e autopreservação. Brincar bem é arriscar sem se comprometer gravemente. Por isso, os joelhos escalavrados. Por isso, o pique.


_Cibele_

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Choro em língua materna

UAAAA Nos últimos 3 anos ando lidando em primeira pessoa com essa coisa de mudança de língua. Já percebi que é um processo longo que exige muita paciência e principalmente muita observação. Por isso, me coloco muito na posição de “escuta”. Percebi que cada língua tem mesmo a sua “musiquinha”, quase uma frequência diversa, que a caracteriza. Às vezes, se falo português por muito tempo e devo mudar depressa pro italiano, me vêm alguns minutos de dificuldade, até entrar na outra “frequência”.

As crianças parecem ter menos dificuldade pra “sintonizar” as línguas que eu. Observando os filhos bilingues das minhas amigas, vejo que eles passam de uma língua a outra como se mudassem de canal. Há pouco tempo cheguei a comentar com Marco que achava que os bebês daqui choravam diferente dos do Brasil…

Aí ontem me deparei com uma reportagem que dizia mais ou menos assim: o choro do recém-nascido reproduz a cadência da língua dos pais. É o que sustenta um grupo de pesquisadores coordenados por Kathleen Wermke, da Universidade de Würzburg, na Alemanha. Partindo da gravação dos “vagidos” de 60 neonatos entre 2 e 5 dias de vida, metade franceses e metade alemães, concluiu-se que a entonação do choro espelhava aquela da língua dos pais: crescente para os franceses e decrescente para os alemães.

Nos últimos três meses de gestação o feto é capaz de ouvir os sons provenientes de fora. A hipótese, explica a revista Current Biology, é que a aprendizagem da língua começa já nesta fase e que os recém-nascidos reproduzam no choro as “notas” da linguagem verbal que assimilaram nos últimos meses de vida intra-uterina.

Kathleen Wermke quer agora estudar o choro de crianças chinesas e japonesas, bem como de neonatos surdos.

_Claudia_

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Música para gente grande. Ou não.

Agora, tudo ao contrário. Música de gente grande com potencial para agradar a meninada.


Cabelo -
Aqui cantada pelo Arnaldo Antunes é também uma delícia na voz de Jorge Ben(jor)

Acalanto

Samba de Maria Luiza

Leãozinho

O Vira

João e Maria

Preta, preta, Pretinha

Marimbondo

O Pato

Lobo Bobo

É a Rádio Quintarola tocando no seu radinho...

Bom fim de semana,

_Cibele_

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Pequenos (grandes) leitores na Dinamarca

A Dinamarca é um país muuuuito frio, com regime de monarquia parlamentar, bem no topo da Europa. Lá, a maior parte das pessoas se declara feliz. Foram eles que inventaram o Lego. E têm o hábito curioso de enfiar bandeirinhas nas cacas de cachorro encontradas pelas ruas.

Mas no meio de todas as estatísticas dinamarquesas, uma, lida isoladamente, deixa a gente estupefata: na Dinamarca, as crianças de Escola Elementar (6 a 10 anos) lêem, em média, nada menos que 110 livros ao ano. Parece tanto! Principalmente se comparado à média de livros lidos ao ano por um adulto brasileiro: 4,7.

moomincov

Mas não fica difícil de entender quando se sabe que, nesse país, as escolas não usam livros didáticos. Todas as matérias são estudadas nos livros originais, de pesquisa ou de literatura. As salas de aula são verdadeiras bibliotecas.

todayiwillfront

Imagens: Book by its cover

Ou seja, as crianças dinamarquesas também lêem principalmente o que lhes indicam as escolas, como as brasileiras (que, da média nacional de 6,9 livros lidos ao ano, só 1,3 são de escolha espontânea). A diferença (que faz subir tanto a média de leitura das dinamarquesas) é que, ao contrário das crianças brasileiras, as dinamarquesas não conhecem o “simulacro” dos livros que lêem, mas a versão original, inteira, de acordo com os conhecimentos trabalhados em sala de aula. Desde cedo, aprendem a selezionar e a processar as informações nas próprias fontes, ao invés de encontrá-las já “mastigadas” e previamente organizadas num material feito sob medida pro modelo escolar. Os livros originais são, além de autênticos, mais interessantes e completos, o que contribui para um conhecimento mais profíquo e mais profundo.

Ler é mais paixão que hábito, tá certo, por isso essas estatísticas não podem ser lidas absolutamente. Mas ter contato com tantos livros diferentes na escola deve fazer um bem danado!

_Claudia_

domingo, 8 de novembro de 2009

Ainda os brinquedos extraordinários: Cinco Marias ou “pedrinha”

5 marias2 Diz que a origem desse brinquedo é na Grécia Antiga quando, tentando prever o futuro, jogavam-se cinco ossinhos pra cima na presença dos deuses. Dependendo de como caíam se obtinham as respostas desejadas, num código preciso.

O jogo consiste em espalhar as pedrinhas (ou os saquinhos cheios de grãos ou de areia, ou as sementes de pêssego ou até as castanhas, basta que tenham dimensões semelhantes) no chão e ir pegando de volta enquanto uma delas é jogada pra cima, numa sequência primeiro numérica (pega-se primeiro só uma, depois duas e assim por diante), depois de movimentos determinados. Enquanto se pega uma (ou um grupo) não vale tocar nas outras. Os jogadores mais hábeis devem pegar com uma só mão, os iniciantes podem usar as duas pra recolher.

Os movimentos que seguem a etapa numérica são:

  • a “velha”: jogar as cinco pecinhas no chão e pegar uma sem tocar nas demais; com a outra mão, formar um túnel por onde as restantes deverão ser passadas, uma de cada vez, enquanto a pecinha escolhida estiver lançada ao ar;
  • a “aranha”: repetir o gesto acima, mas espalmar a outra mão bem aberta no chão e, enquanto a pecinha escolhida estiver lançada no ar, ir preenchendo os espaços entre os dedos, cada um com uma pecinha, com um só impulso. Depois faz-se o movimento inverso, ou seja, vai-se retirando as pecinhas de entre os dedos;
  • o “bico de pato”: jogar as cinco pecinhas no chão, entrelaçar as duas mãos deixando os indicadores estendidos, um apoiado no outro. Com eles, vai-se pegando uma a uma as pecinhas e lançando entre as mãos levemente abertas, onde ficarão guardadas.

Feitos esses, podem-se inventar muitos outros ou então recomeçar a sequência.

O legal das cinco marias é que pode jogar tanto em grupo, competindo, como sozinho. Lembro que passava hooooras dedicada a elas na minha infância, deixando meu pensamento voar junto com as pecinhas.

_Claudia_

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

No meu I POST

Vou começar esse post lembrando de uma idéia de Drummond em sua obra Confissões de Minas:

O gênero Literatura Infantil tem a meu ver existência duvidosa. Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de ser alimento para a alma de uma criança ou um jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom livro para crianças que não seja lido com interesse pelo homem feito? (...) Observados alguns cuidados de linguagem e decência, a distinção preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte? Ou será a Literatura Infantil algo de mutilado, de reduzido, de desvitalizado – Porque coisa primária, fabricada na persuasão de que a imitação da infância é a própria infância?

Fiz uma lista de músicas de diferentes músicos/bandas pra mostrar que o Drummond não deixa de ter lá a sua razão.

A primeira, da banda Ziriguibum de BH, tem um baixo irresistível, além da doce voz da querida Cristina Brasil, professora de música que enfeitiça os alunos. Duvida?


A segunda, da professora de música da UFMG, Cecília Cavaliere, é sobre a menina Tippi, filha de fotógrafos da National Geographic, que tem uma relação de cumplicidade com os bichos e a natureza. Aqui dá pra ouvir um tiquim, muito tiquim. Mais sobre a Tippi, aqui.

A terceira é a Alface, do segundo cd da Adriana (Calcanhoto) Partimpim, é letra traduzida por Augusto de Campos e musicada pelo filho Cid Campos.


A quarta é Sai Preguiça do Palavra Cantada, grupo que tocando no meu cd player do meu carro, já fez muito carona adulto pedir a benção. Do Palavra Cantada também, o cd inteiro Pé com pé e a música que possivelmente mais tocou na minha casa_ O Rato do cd Canções Curiosas.

A quinta é a música Família Suja do grupo gaúcho músico-teatral Cuidado que Mancha:

A sexta é o Leitinho Bom do Projeto Pequeno Cidadão do Arnaldo Antunes e do Edgar Scandurra. Além dessa, todos os outros clipes são lindos! Tá láááá no fim da página, mas os outros clipes tb são lindos!
A sétima é daquelas que a gente ouve até cansar. Chuva, chuvisco, chuvarada do Cocoricó.

E finalmente, a oitava, a nona e décima são...8, 9 e 10!

E vale o mesmo esforço ao contrário. Uma lista de músicas produzidas para os adultos e capaz de encantar a meninada.
_Cibele_ já em clima de sexta feira

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Vila Sésamo na Palestina

Quem está beirando os 40 anos vai se lembrar do Vila Sésamo. Senão, dou uma forcinha (eu podia ter linkado pra abertura, mas não resisti, eu A-MO o Come-Come!):

O Vila Sésamo foi a experiência brasileira do projeto americano Sesame Street, e foi transmitido pela Rede Globo entre 1972 e 1977, pleno período da Ditadura. O cenário era uma vila operária, onde adultos, crianças e bonecos brincavam juntos enquanto eram veiculadas mensagens educativas.

Essa é a “configuração” do projeto internacional do programa, que continua a todo vapor em 25 países, entre eles vários considerados “em situação difícil”: adaptar o programa a cada realidade social, transmitindo mensagens a-políticas, mas baseadas em virtudes universais como respeito mútuo, colaboração, otimismo, tolerância, etc. Ou seja, sem o politicamente, mas pensando no correto.

Cada experiência tem uma identidade precisa: uma locação característica, transmissões ao vivo com crianças locais e um time de bonecos. Em Bangladesh colocam em cena bonecos tradicionais do país, enquanto na Africa do Sul um dos protagonistas de Takalani Sesame é Kami, um boneco órfão e soro-positivo.

A experiência do projeto na Palestina é impressionante. Depois de várias tentativas em vão de fazer o programa em conjunto entre TVs israelitas e palestinas, Shra’a Sim Sim vem sendo transmitido pela Al Quds Educational Television, o canal Universitário palestino. Pra manter o contrato com a produção norte-americana, entretanto, a TV palestina deve transmitir também alguns episódios da versão israelense, e vice-versa.

As crianças são a maioria nas populações dos territórios palestinos e viraram um símbolo da luta nacional. Os programas de TV pensados especialmente pra elas são pouquíssimos. Como na Cisjordania todo mundo tem antena parabólica, as crianças acabam seguindo Spacetoon, um canal de Dubai famoso em todo o mundo árabe que transmite basicamente desenhos animados americanos e japoneses, dublados ou legendados em árabe clássico. A Palestinian Broadcasting Corporation, o canal oficial da Autoridade Palestina, transmite há anos um talk show pra crianças em que a apresentadora, enquadrada em close, lê fábulas ou observa artistas que pintam. A TV Al Aqsa, de Hamas, também transmite diversos programas pra crianças e pensa em criar um canal só pra elas. No programa Pioneiros do Amanhã, a apresentadora palestina Saraa e alguns bonecos em forma de animais dão lição de ideologia, explicando porque é errado falar inglês, porque é justo aprender de cor o Alcorão, ou porque os dinamarqueses são infiéis e devem ser eliminados. De vez em quando um boneco morre como mártir pela Palestina.

Os coordenadores do projeto de Shra’a Sim Sim contam que a grande dificuldade é com os roteiristas do programa: são exageradamente ligados à realidade, o que torna o programa tedioso e até pesado. “É impossível fazer com que brinquem” – diz uma deles em entrevista à revista New York Times Magazine.

Às vezes, a produção do programa leva os bonecos em tamanho natural às escolas. Aí sim, vêem a dimensão da “entrada” desses personagens. As sofridas crianças palestinas exalam alegria e diversão, e não vêem a hora de saber o que vai acontecer com eles naquele dia.

_Claudia_

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

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Olhem que legal o anuário do Saci lançado quinta-feira, dia 29 em SP. O link, de livre visualização, é de encher os olhos:

http://www.readoz.com/publication/read;jsessionid=0FB35EEBCA918C934660B8B8DC40DCC7?i=1019100

_Cibele_ em feriado diretamente de Itajubá, a terra do saci

Rapidinha de feriado

Muito legal esse artigo que faz algumas relações entre a cultura lúdica e o futebol. Um tema que é muito representativo da infância brasileira:

http://www.cidadedofutebol.com.br/2009/11/3,10996,A+CULTURA+LUDICA++OS+JOGOS+INFANTIS+E+O+FUTEBOL+PERTINENTES+INTERACOES.aspx

_Cibele_

domingo, 1 de novembro de 2009

O moussakàs e a inter-culturalidade

Partindo das conversas sobre o Dia do Saci, me veio de matutar mais um pouco.

Se a gente defende a cultura popular brasileira – por exemplo, propondo alternativas locais à colonização – pode parecer nacionalismo barato (e azedo) ou resistência ao convívio com outras culturas mundiais. Mas não é bem assim. Trata-se de um exercício de resistência sim, mas não de negação das culturas diversas, ou da porosidade entre culturas. Resistência ao domínio, à invasão cultural banalizada, à perda da identidade nativa em nome de costumes importados.

bambini

Hoje li na revista Internazionale uma metáfora muito interessante sobre a integração entre etnias, que posso usar pra explicar como penso esse conceito.

O artigo, da jornalista grega Helene Paraskeva, recorre à metáfora do “moussakàs, prato completo de sabor único” , comparando-o “a uma sociedade em evolução, que passa de um modelo multicultural a outro inter-cultural”. moussaka Este prato de forno é feito com camadas de comidas muito diferentes, cozinhadas de modo muito diverso. É um prato multicultural porque seus ingredientes vêm de diversas partes do mundo. Mas é também inter-cultural já que seus ingredientes (que não são espremidos, comprimidos ou prensados, mas mantém sua identidade original) recebem todos o sabor do azeite, o qual põe em relação os diversos sabores e cria a harmonia pro paladar.

Pra mim é mais ou menos assim que deve funcionar a inter-culturalidade. Cada povo mantém sua identidade cultural, trabalha pra preservá-la, pra transmiti-la às novas gerações, embora reconheça o “fio de azeite” que une todas as culturas e que torna tudo mais harmonioso, mais bonito, que faz a convivência pacífica, “porosa”, entre os povos. É belo e curioso conhecer e saber reconhecer AS outras culturAS, e até trocar influências, desde que se conheça bem, se valorize e se faça respeitar A sua própria culturA. Aí estará sempre a sua referência, o seu ponto de convergência, no mundo-vasto-mundo. Porque cultura é sempre construção de sentidos.

Pra saber olhar pra fora, começa-se por olhar pra dentro.

_Claudia_

 
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