quinta-feira, 5 de abril de 2012

Gioco di ruolo

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Em italiano, “brincar de casinha” se chama “gioco di ruolo”, isto é, brincadeira de papéis sociais. Nome super apropriado, acho. Porque é exatamente isso que fazem as crianças quando brincam de casinha, experimentam as diversas funções sociais com as quais identificam os adultos. Bem revelador de como vêem o mundo.

E levam super a sério essa função. Mesmo se sabem muito bem que aquilo tudo existe “num outro tempo”:

_ Então eu ERA a mãe.

_ Eu ERA o médico e você TINHA IDO fazer a consulta.

Que é o tempo da imaginação. Tempo em que, embora a forma verbal usada no discurso  seja o passado, as ações acontecem no presente e esbarram no futuro.

Tudo tem de ser muito coerente, é uma ficção absolutamente real.

Lembro quando cheguei aqui e não dominava a língua. Brincando de casinha com a filha de um amigo, então com 5 anos, ela era a médica e eu a paciente. Me deu inúmeras injeções (ela tinha acabado de fazer um tratamento em que tomava injeções todos os dias, durante quase um mês). Até que sugeri inverter os papéis. Ela foi cortante:

_ Mas você não pode ser a médica, você não sabe nem falar direito!

E não é que estejam “representando”. Estão ATUANDO. Têm “fé cênica” (Stanislavskij). As ações são tão verdadeiras quanto os sentimentos. A análise é super acurada, bem definida, profunda.

Parecido com os gatinhos que se exercitam na caça; crianças vão a fundo quando se exercitam nos papéis sociais.

(Sou fã de brinquedos de casinha. E de casinhas de madeira no quintal. Casas na árvore. Cenários diversos, tudo que serve de palco pra brincadeira de papéis sociais).

_Claudia_

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O beijo da lua

Uma história de amor entre dois peixinhos-meninos, pra puxar a conversa sobre a homossexualidade com as crianças.

Lírico, profundo, apaixonante. E, não sem muita polêmica, já chegou às escolas elementares francesas.

 

“O filme fala de amor, da pluralidade das relações amorosas. E não de sexualidade” – explica o diretor  Sebastien Watel. “ São os adultos que reduzem frequentemente a homossexualidade à relação sexual”.

_Claudia_

domingo, 1 de abril de 2012

A palavra e a despalavra de Manoel de Barros, antes do cacoete

Minha amiga e artista plástica Patrícia Caetano que me contou.

Poesia é isso, uma frase que te cala. Calei!

_Cibele_

quarta-feira, 28 de março de 2012

Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
Manoel de Barros

 

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Imagem: Ionit Zilberman

_Claudia_

sábado, 17 de março de 2012

Coleção de caixinha de músicas

Uma caixinha de música é uma delicadeza, uma vulnerabilidade, um segredo, uma fragilidade. Elas costumam falar de uma coisa ausente (no tempo ou no espaço) que insiste em se fazer lembrar.

Foi bem assim: eu estava pensando justamente nessas delicadezas, segredos, vulnerabilidades e fragilidades quando caíram no meu colo duas caixinhas:

Ulisses Conti

Essa primeira é do Ulisses Conti, um músico cujo trabalho  descobri recentemente e gostei muito, muito. Indico fortemente uma busca no google e no you tube.

Depois, um amigo compartilhou no facebook,

a Valsa da Amèlie, aquela moça que sabia cuidar das caixinhas dos outros.

E aí comecei uma coleção de caixinhas enooorme, que nem cabe aqui no Quintal. Mas queria compartilhar só mais duas. A história contada pela Regina Spektor sobre como ela se sente presa na melodia repetitiva e infantil da caixinha:

 

E por último, um pedaço de história triste sobre o que acontece quando a caixinha de música cai nas mãos erradas:

Por isso, atenção! Quando estiver com uma caixinha de música nas mãos, esteja a altura da pequeneza dela.

_Cibele_

sexta-feira, 2 de março de 2012

Os palcos de Tina

Hoje em dia, mais que nunca, Educação tem muito mais a ver com Cultura que com qualquer outra coisa. E Cultura tem muito mais a ver com símbolos que com qualquer outra coisa.

Concordam?

Olhaqui um exemplo: usando suas habilidades de cenógrafa, uma professora de primeiro período  criou, junto com suas crianças, alguns  cenários dentro de sua sala de aula. Feitos em modo simples, basicamente em papel e tecido, esses ambientes servem  pras crianças  soltarem a fantasia e assim produzirem mais e mais símbolos. Coisa que só enriquece o dia a dia do grupo.

Achei um barato e fiz fotos procês verem também.

A nave espacial:

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O navio dos piratas:

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O castelo, aberto e fechado.

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Tudo dá pra entrar dentro e brincar até falar chega. Não é uma ótima ideia?

Criançada sortuda essa de ter uma professora assim.

_ Claudia_

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A musa do Parque Guanabara

Tenho muitas memórias da minha infância no Parque Guanabara.  Por ser um espaço tão familiar, nunca tinha me perguntado_ afinal, por que cargas d´água a roda gigante do parque fica de costas pra Lagoa da Pampulha. A questão foi colocada por meu irmão num encontro familiar e reproduzida nesse post.

Em uma visita ao parque em maio do ano passado, conheci a nova e linda roda gigante, fato que constado aqui.

Mas ontem… ontem foi demais! Eu andei (esse verbo cabe?) na roda gigante. Ela é linda, altíssima e tem uma vista ma-ra-vi-lho-sa de Belo Horizonte. A Lagoa, o Mineirão, o Mineirinho…fui no início da noite, querendo mesmo ver as luzes do parque, mas vou voltar em breve pra ver tudo sob a luz do sol.

Altamente indicado para crianças, adultos amantes da cidade, adultos desiludidos e saudosistas.

Não esqueçam de levar a máquina fotográfica! Olhem os meus click’s:

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_Cibele_

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Uma história entre amigos, debaixo de uma mangueira ou talvez numa rede. Quem sabe se houvesse uma fogueira…

Não sei se a história que vou contar cabe aqui, mas estou considerando que qualquer história bonita combina com um quintal.

Há alguns anos atrás, li numa aula de francês um artigo que mencionava um tal de “folclore obsceno das crianças” e fiquei tão intrigada que corri atrás do livro (isso significou importar um livro francês, usado, num sebo on-line americano e em seguida a sua tradução por uma editora de Barcelona na Argentina também via internet). Fiquei com essa pulga atrás da orelha até que ela se transformou num projeto de mestrado.

Por causa desse projeto (e mais um penduricalho de outras questões) fui parar na análise. Comecei a saber mais sobre Claude Gaignebet, autor do Le Folklore Obscène des Enfants. Descubro que ele nasceu na Síria, um típico pied-noir, além de ser um rabelaiseano que defendeu a tese desse livro que tanto me interessa, no ano de 1968 sob a orientação de Roger Bastide e tendo na banca Lacan. Procuro aqui e ali e tenho algumas intuições sobre a pessoa dele, uma enorme simpatia, algumas idealizações e claro, muita curiosidade.

Ano passado, em dezembro, decidi escrever pra ele. Quem está no meio acadêmico aprende logo a não cortar os pulsos quando não obtem uma resposta, mas, pra minha surpresa, a dele chega em menos de 40 hs. Ele é educado, generoso, receptivo e me promete uma resposta em breve, tão logo possa recolher as indicações que lhe peço.

Sei que Claude Gaignebet é conhecidamente erudito, além de um defensor de áreas de conhecimento em franca (e injusta, na minha opinião) decadência. Discordo da teoria dele em vários pontos e isso de forma alguma diminui minha enorme empatia. Acredito que essa identificação se deva ao fato de que o meu estudo tem me permitido cada vez mais me conciliar com a criança que eu fui. E vamos combinar que isso não é pouca coisa.

Até que em fevereiro agora, tomo um susto ao abrir meu e-mail. O senhor de 74 anos com quem eu começava a me corresponder havia falecido. Ele não estava doente, ao contrário, tinha muitos projetos.

Eu estava cansada naquele dia e devo dizer que as lágrimas escorreram ininterruptamente. E assim continuaram nos dias seguintes. Passados três dias, escrevo pra mulher que intermediava a minha correspondência com ele. Uma aluna? Sua mulher? Secretária? Amiga? Pouco me importa agora. Escrevo dizendo que sinto muito. As palavras são muito deficitárias nesses momentos, menos ainda se não estão no idioma da gente. Acho mesmo que ficou aqui um resto que talvez eu não tenha conseguido falar. Envio o e-mail quase como uma mensagem ao mar. A resposta vem ainda mais rápida que a primeira. Ela me conta da humanidade dele, da partida dele, dos projetos dele. Estou envolvido com os dois até o último fio dos cabelos. Durmo mal. Choro à toa. Perco a fome. Não tiro um sorriso do rosto de gratidão pelo presente que ela me dá com suas descrições. Alguns dias depois ela parte para longe, se despede e nossa correspondência termina.

Aos poucos vou me dando conta de que se ele não era um guru, um mestre, (e tampouco sua obra uma bíblia), ele era ao menos (se é que isso é pouco) uma espécie de pai teórico e que há motivos de sobra pra me sentir muito sozinha. Não há pesquisa sem autonomia intelectual, mas isso não impede que a gente marque as referências que nos são importantes.

De lá pra cá, ando calada, introspectiva, mas cada dia melhor. Estou investindo em comfort food, comfort people, comfort drink, comfort jeans e outros comfort´s.

Pensando bem, até que demorou pra eu vir aqui.

Devo dizer que a minha pesquisa segue como uma espécie de homenagem.

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Claude Gaignebet (1938, +2012)

_Cibele_

 
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