quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Papai Noel e outros seres esquisitos

Quase toda cultura lança mão de figuras míticas e de lendas pra fazer com que as crianças obedeçam, seja através de prêmios ou de castigos e ameaças. E’ um modo que os adultos tem de lidar com a forte oposição/resistência das culturas infantis diante da imposição das regras de convivencia social, muitas vezes tão distantes das concepções das crianças.

babbo_natale

Pensando nesse assunto nessa época do ano, me vem logo na cabeça o famigerado Papai Noel, que de figura mítica foi transformado em caixeiro viajante. Como é que as crianças podem acreditar que aquele sujeito fantasiado que circula pelos supermercados possa ser um velhinho mágico que voa numa carruagem de renas e traz presentes? Papai Noel virou um exemplo de como as crianças se deixam levar por certas explicações absurdas dos adultos de um modo jocoso, quase irônico, e muito compassivo, já que qualquer crença é rapidamente perdida nas informações óbvias do cotidiano.

A antropóloga Kathleen Barlow (1985) estudou o povo murik, uma comunidade de pescadores da Papuasia, povo animista cuja cultura é povoada de espíritos do bem ou nem tanto. Um desses espíritos é o Gaingeen, que aparece às vezes na vila pra perseguir e bater nas crianças (mas só se consegue pegá-las, coisa que raramente acontece). O personagem (que não fala, mas exprime suas intenções com gestos ameaçadores, chutando e balançando as lanças e os bastões que leva sempre consigo) pode ser pavoroso e portanto útil por um tempo, mas com o crescimento fica fácil observar que ele não aparece sempre que é invocado, além de não ser raro surpreender os irmãos mais velhos enquanto se fantasiam. Dai à intuição de que o gaingeen “verdadeiro”, aquele que aparece na vila, poderia ser também uma máscara, é um pulo.

É’ o preço (alto) que as culturas adultas pagam por querer personificar essas figuras, que ficariam melhor se fossem restritas ao campo da ficção.

_Claudia_

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Retrospectiva Quintarola 2010

Em janeiro de 2010, de mudança para BH, as questões que me tocavam diziam respeito a despedidas, mudanças, adaptações e variações culturais. Daí, veio a série caracolando e a super contribuição da Clau para o tema, com a série inteligência ao revés.

Em fevereiro, estive caladinha, possivelmente desempilhando caixas, enquanto a Clau escreveu excelentes posts sobre a cultura brasileira.

Em março, A Clau cobriu a Feira de Bologna, onde lançou A Princesa, enquanto eu pensava sobre a necessidade de, depois de tantas mudanças, diminuir o relativismo ético da minha casa. Teve ainda post sobre Contos folclóricos, uma polêmica sobre bullying e reflexões sobre adaptação escolar.

Em abril, a Clau segurou a onda com vários posts sobre literatura infantil e eu continuei encafifada com o assunto ética para crianças.

Em maio, a Clau estava bombando com seus livros e foi inevitável que a gente falasse mais de literatura infantil. Aproveitei pra unir literatura e ética e depois literatura e cinema. E teve Alice.

Em junho, a Clau veio pro Brasil e foi tão, mas tão bom revê-la, que nem sei. Teve encontro Quintarola, o Saramago foi embora, teve post sobre festas escolares e mordidas.

Em julho, teve o revezamento na brincadeira dos primatas, reflexões sobre pedagogias diversas: logosofia e waldorf, Copa do Mundo, contos de fadas, preparativos para férias...

Em agosto, a Clau começou a reproduzir o Diário da Amazônia da Regina Marques, teve Toy Story 3, FIT, Música de Brinquedo, brincadeiras cantadas, Filosofia para Crianças, a polêmica sobre as palmadas e as armas nas brincadeiras infantis.

Em setembro, a gente tava meio contemplativa. Vai ver foi a primavera. A Clau voltando pra casa e eu viajando pelo planeta dos pequenos gestos.

Em outubro, as reflexões sobre cultura popular tomaram conta da casa. No Brasil, os blogs tiveram papel importante nas eleições, mas as pessoas continuavam a utilizar essa ferramenta de forma pouco crítica.

Em novembro, aniversário das quinteiras e do Quintarola, teve balão, Senna, a mulher e a educação, história da infância, Maria Rita Khels, hai-kai, e eleição da Dilma e as relações entre política e infância.

Em dezembro, coloquei meus dois pés no mestrado, tivemos momentos nostálgicos típicos dessa época do ano. A Clau escreveu um post lindo, lindo sobre a morte.
E lá se foi 2010. Um ano bacana pra gente, né, Clau? Foram 189 posts, menos elaborados talvez, entre um aperto de costura e outro, mas foi um ano muito legal. Feliz 2011 pra quem lê a gente e pra querida sócia!
_Cibele_

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desopilada a seriedade, voltemos às férias

Depois de lutar, sem sucesso, contra manchas de achocolatado na camiseta dos meus rebentos, eis que descubro a solução para elas. Nenhum produto novo e caro_ viva a água oxigenada!

E por falar nos bastidores das brincadeiras, um blog do OMO traz alguma reflexões e dicas de brincadeiras. O produto, já há algum tempo, adotou o slogan "porque se sujar faz bem" e assumiu um discurso em favor da infância.

Me deu vontade de fazer o labirinto de bolinha de gude. Tá na lista das férias.

_Cibele_

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um lapso de seriedade antes do Natal: Do autoritarismo ao assembleísmo pedagógico

Há algum tempo atrás, escrevi aqui sobre a minha inquietação quando percebi que boa parte das minhas colocações morais para minha filha tinham um aspecto negativo. Num discurso cheio de contra preconceito, contra discriminação, contra desonestidade, eu posicionava a minha família como não católica, não protestante, não isso e não aquilo. Foi então que comecei uma busca pela positividade dessas questões, tendo então me encantado com o adjetivo pacifista que a Carol tomou emprestado para a família dela. Tudo isso eu conto aqui. (Aliás, por onde anda o Matuto,Clau?)

Pois o mesmo incômodo tenho sentido em relação a algumas instituições de ensino. É claro que a maior parte das escolas ainda são surpreendentemente autoritárias e mesmo as escolas com pedagogia de ponta ainda trazem esse ranço. No entanto, não é surpreendente que muitas escolas tidas por “alternativas” vez em quando sejam ameaçadas por discursos fáceis que tentam adequá-las a metodologias, verificações, auditorias e avaliações?

Parte dessa explicação me parece econômica mesmo. Com problemas no caixa, essas escolas buscam soluções em consultorias e compram milagres instantâneos mesmo que o preço seja a sua própria identidade.

A outra parte é uma explicação relativa ao pedagógico. Essas escolas, assim como os pais “alternativos” dos quais falei no primeiro parágrafo, se definem negativamente. Aqui não se copia, aqui não há seriação, aqui não há decoreba, aqui não, aqui não, aqui não.

O antídoto para esses ataques de soluções pedagógicas de almanaque é um bom líder e um discurso coeso, claro e comunicativo. Que nas reuniões os pais saibam que alguém que estudou muito está falando sobre educação, que nas festas escolares seja evidente o percurso dos alunos (que não precisa ser acabado, mas que seja um movimento), que toda a comunidade escolar seja levada a pensar nos propósitos daquela escola.
Uma vez, uma mãe assistiu uma oficina minha e depois disse que aquilo, ela mesma faria em casa. Ela não deixava de ter razão. Brincar de teatro com o filho é algo que qualquer um pode fazer em casa. Mas não tomando decisões conscientes a todo instante como faz um educador. Nesse dia, aprendi que eu precisaria mostrar aos pais o conhecimento que me mobilizava.

Ter um educador-líder não é ser autoritário. É preservar as escolas do assembleísmo pedagógico. Uma escola democrática não age necessariamente pela opinião da maioria, porque o educador nem sempre coloca em plebiscito as suas convicções e porque é ele, por fim, quem responde e se responsabiliza pela próprio processo educacional.
Quando digo "pedagógico" ou "educativo" não estou defendendo mercados e diplomas, mas estou dizendo que não, nem todo mundo é educador. Uma amiga, educadora experiente, apontando a desvalorização do conhecimento pedagógico, uma vez usou um argumento interessante_"engraçado que não há amigos do tribunal ou amigos do hospital, mas existem amigos da escola, pressupondo que basta boa vontade para exercer essa função."
Nesse silêncio da baixa autoestima do educador, o discurso oportunista toma lugar e só com muita luta a maioria conseguirá afastá-lo. Se é que conseguirá.
_Cibele_

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Politicamentecorretês

O cravo não brigou com a rosa, "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Sambalelê não está com a cabeça quebrada, nem precisa de uma boa palmada (é proibido!), “Sambalelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar”.

Não se pode mais atirar o pau no gato nem de brincadeira, pois “isso não se faz/o gatinho/ é nosso amigo/não devemos maltratar os animais”.

Quem entra na roda dança não pode mais ter sete namorados sem casar com nenhum. Sete namorados (e principalmente solteirice) é coisa de menina fácil.

Ninguém mais é pobre pobre pobre ou rico rico rico de marré-de-si, para não despertar na meninada o sentido da desigualdade social .

Blá.

_ Claudia – que não é mais branquela ou branca azeda ou Omo total, é uma cidadã caucasiana desprovida de pigmentação mais evidente.

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Adaptação de um texto atribuído a Luiz Antônio Simas (Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Simbora?





Dica do meu amigo Jairo, ó que coisa boa!


_Cibele_


Eu e as letrinhas

Dois links bunitinhos pra mim, que eu queria compartilhar com vocês =)

http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=445516

http://us.orcabook.com/productdetails.cfm?PC=3500

_Claudia_

Entre uma Sabrina e outra...

Li e gostei do texto legal da Piauí que parte da premissa de que "toda lei seca gera uma sombra" para refletir sobre o fenômeno dos baleiros na porta das escolas belorizontinas.

_Cibele_

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O ritmo das coisas

Outro dia, escrevi no Facebook que "depois de fazer alguma coisa bem difícil, fica ainda mais difícil fazer coisas fáceis, porque nada se quer fazer". Assim, com essas palavras ou de forma similar. O que importa é que eu ando em ritmo de férias, quase sentindo o cheiro do mar e a textura da areia sob meus pés. Ontem, perdi um compromisso importante.
Fui tomar um chá com uma amiga dia desses e ouvi na mesa ao lado um diálogo genial:
_O que você vai levar para ler nas férias?
_Ulisses e Sabrina.
Mais ou menos assim...não digo que eu não vá escrever uma linha sequer, nem abrir nenhum livro dissertativo, mas se o fizer, será por puro prazer e de um jeito diferente. Lendo o fim antes do início, recitando o índice, vendo as gravuras demoradamente, pulando as notas chatas...
É o que acontece com aqueles que sentem muito prazer com o próprio trabalho. Vez em sempre as coisas se embaralham.
Com o Quintarola não será diferente. Não me comprometo a ser leve. Nem a falar sério. Meu comprometimento agora é com o ritmo das coisas.
_Cibele_

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A noite que fica

Meu filho de 15/quase 16 anos perdeu a avó materna no Natal passado e duas semanas atrás perdeu o avô paterno. Está se estranhando com a Vida e a Morte. Ontem pediu pra que eu ficasse ao lado da sua cama, de mãos dadas, na hora de dormir.

Me dizia: “O que me assusta é que, de um momento ao outro, vou parar de pensar”.

Quando ele tinha 3 pra 4 anos, não me lembro bem se teve alguma coisa concreta ou se foi só o período natural em que a criança se descobre indivíduo, passou um período de questionamento constante sobre a Morte. Me perguntava o que era, por que, pra onde, pra quê. Eu não sabia responder, como não sei agora. E não queria colocar nenhuma crença nesse lugar (até porque não tenho nenhuma). A coisa foi se estendendo e eu cheguei a pensar em procurar um psicólogo (a mãe psicóloga é um ser à parte….). Até que um dia não sei por que cargas d’água eu disse que ele não precisaria se preocupar, pois fosse o que fosse, quando ele morresse, eu já estaria lá pra protegê-lo como fiz com sua chegada à Vida. Isso não é necessariamente verdade, eu sei (e anos depois uma amiga que tinha perdido um filho me lembrou isso), mas é pelo menos a ordem natural das coisas. Foi onde me encostei. Pra garantir uma certa esperança. Fato é que resolveu, ele se acalmou e não tocou mais no assunto até agora.

Agora não adianta dizer de novo que estarei lá pra protegê-lo. Ele já sabe, como eu, que “lá” provavelmente não existe e que o mais provável é que a gente simplesmente deixe de ser, apague. Termine. Pare de pensar, como ele tanto teme.

Ontem eu disse a ele que, mesmo sendo finita, a Vida é maravilhosa e é sempre um privilégio viver, principalmente se se vive ao lado de pessoas como ele. Porque, como no poema de Fernando Pessoa, quando a gente morre, o poente é belo e é bela a noite que fica.

_Claudia_

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Café com letrinhas

Se você conheceu seu marido no Café com Letras, como eu. Se você, vez por outra, chafurda no petit gateau de lá depois da sessão de análise, logo ali do lado. Se você passou toda a faculdade dura, mas sem deixar de ir ao café pedir uma dupla de pães de queijo ou uma taça de vinho. Se você gosta do drink verão e das saladinhas deliciosas de lá. Se você já foi ao café no Dia dos namorados e para uma reunião de negócios. Se pelos mesmos ou outros motivos você gosta do Café com Letras e fica doido pra arrumar uma desculpa para ir até lá:

Ei-la!

_Cibele_

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vai que é tua, Cibele!

Tafarel E a minha queridissima sócia A-BA-FOU no exame de Mestrado da FAE (Faculdade de Educação da UFMG). Não só passou, como passou em primeiro lugar. É mole? Nenhuma surpresa. A Ci é fenomenal mesmo.

(Ci, PLEASE, não fica chata-acedêmica senão me divorcio de você!)

_Claudia_

 
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