quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Papai Noel e outros seres esquisitos

Quase toda cultura lança mão de figuras míticas e de lendas pra fazer com que as crianças obedeçam, seja através de prêmios ou de castigos e ameaças. E’ um modo que os adultos tem de lidar com a forte oposição/resistência das culturas infantis diante da imposição das regras de convivencia social, muitas vezes tão distantes das concepções das crianças.

babbo_natale

Pensando nesse assunto nessa época do ano, me vem logo na cabeça o famigerado Papai Noel, que de figura mítica foi transformado em caixeiro viajante. Como é que as crianças podem acreditar que aquele sujeito fantasiado que circula pelos supermercados possa ser um velhinho mágico que voa numa carruagem de renas e traz presentes? Papai Noel virou um exemplo de como as crianças se deixam levar por certas explicações absurdas dos adultos de um modo jocoso, quase irônico, e muito compassivo, já que qualquer crença é rapidamente perdida nas informações óbvias do cotidiano.

A antropóloga Kathleen Barlow (1985) estudou o povo murik, uma comunidade de pescadores da Papuasia, povo animista cuja cultura é povoada de espíritos do bem ou nem tanto. Um desses espíritos é o Gaingeen, que aparece às vezes na vila pra perseguir e bater nas crianças (mas só se consegue pegá-las, coisa que raramente acontece). O personagem (que não fala, mas exprime suas intenções com gestos ameaçadores, chutando e balançando as lanças e os bastões que leva sempre consigo) pode ser pavoroso e portanto útil por um tempo, mas com o crescimento fica fácil observar que ele não aparece sempre que é invocado, além de não ser raro surpreender os irmãos mais velhos enquanto se fantasiam. Dai à intuição de que o gaingeen “verdadeiro”, aquele que aparece na vila, poderia ser também uma máscara, é um pulo.

É’ o preço (alto) que as culturas adultas pagam por querer personificar essas figuras, que ficariam melhor se fossem restritas ao campo da ficção.

_Claudia_

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Retrospectiva Quintarola 2010

Em janeiro de 2010, de mudança para BH, as questões que me tocavam diziam respeito a despedidas, mudanças, adaptações e variações culturais. Daí, veio a série caracolando e a super contribuição da Clau para o tema, com a série inteligência ao revés.

Em fevereiro, estive caladinha, possivelmente desempilhando caixas, enquanto a Clau escreveu excelentes posts sobre a cultura brasileira.

Em março, A Clau cobriu a Feira de Bologna, onde lançou A Princesa, enquanto eu pensava sobre a necessidade de, depois de tantas mudanças, diminuir o relativismo ético da minha casa. Teve ainda post sobre Contos folclóricos, uma polêmica sobre bullying e reflexões sobre adaptação escolar.

Em abril, a Clau segurou a onda com vários posts sobre literatura infantil e eu continuei encafifada com o assunto ética para crianças.

Em maio, a Clau estava bombando com seus livros e foi inevitável que a gente falasse mais de literatura infantil. Aproveitei pra unir literatura e ética e depois literatura e cinema. E teve Alice.

Em junho, a Clau veio pro Brasil e foi tão, mas tão bom revê-la, que nem sei. Teve encontro Quintarola, o Saramago foi embora, teve post sobre festas escolares e mordidas.

Em julho, teve o revezamento na brincadeira dos primatas, reflexões sobre pedagogias diversas: logosofia e waldorf, Copa do Mundo, contos de fadas, preparativos para férias...

Em agosto, a Clau começou a reproduzir o Diário da Amazônia da Regina Marques, teve Toy Story 3, FIT, Música de Brinquedo, brincadeiras cantadas, Filosofia para Crianças, a polêmica sobre as palmadas e as armas nas brincadeiras infantis.

Em setembro, a gente tava meio contemplativa. Vai ver foi a primavera. A Clau voltando pra casa e eu viajando pelo planeta dos pequenos gestos.

Em outubro, as reflexões sobre cultura popular tomaram conta da casa. No Brasil, os blogs tiveram papel importante nas eleições, mas as pessoas continuavam a utilizar essa ferramenta de forma pouco crítica.

Em novembro, aniversário das quinteiras e do Quintarola, teve balão, Senna, a mulher e a educação, história da infância, Maria Rita Khels, hai-kai, e eleição da Dilma e as relações entre política e infância.

Em dezembro, coloquei meus dois pés no mestrado, tivemos momentos nostálgicos típicos dessa época do ano. A Clau escreveu um post lindo, lindo sobre a morte.
E lá se foi 2010. Um ano bacana pra gente, né, Clau? Foram 189 posts, menos elaborados talvez, entre um aperto de costura e outro, mas foi um ano muito legal. Feliz 2011 pra quem lê a gente e pra querida sócia!
_Cibele_

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desopilada a seriedade, voltemos às férias

Depois de lutar, sem sucesso, contra manchas de achocolatado na camiseta dos meus rebentos, eis que descubro a solução para elas. Nenhum produto novo e caro_ viva a água oxigenada!

E por falar nos bastidores das brincadeiras, um blog do OMO traz alguma reflexões e dicas de brincadeiras. O produto, já há algum tempo, adotou o slogan "porque se sujar faz bem" e assumiu um discurso em favor da infância.

Me deu vontade de fazer o labirinto de bolinha de gude. Tá na lista das férias.

_Cibele_

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um lapso de seriedade antes do Natal: Do autoritarismo ao assembleísmo pedagógico

Há algum tempo atrás, escrevi aqui sobre a minha inquietação quando percebi que boa parte das minhas colocações morais para minha filha tinham um aspecto negativo. Num discurso cheio de contra preconceito, contra discriminação, contra desonestidade, eu posicionava a minha família como não católica, não protestante, não isso e não aquilo. Foi então que comecei uma busca pela positividade dessas questões, tendo então me encantado com o adjetivo pacifista que a Carol tomou emprestado para a família dela. Tudo isso eu conto aqui. (Aliás, por onde anda o Matuto,Clau?)

Pois o mesmo incômodo tenho sentido em relação a algumas instituições de ensino. É claro que a maior parte das escolas ainda são surpreendentemente autoritárias e mesmo as escolas com pedagogia de ponta ainda trazem esse ranço. No entanto, não é surpreendente que muitas escolas tidas por “alternativas” vez em quando sejam ameaçadas por discursos fáceis que tentam adequá-las a metodologias, verificações, auditorias e avaliações?

Parte dessa explicação me parece econômica mesmo. Com problemas no caixa, essas escolas buscam soluções em consultorias e compram milagres instantâneos mesmo que o preço seja a sua própria identidade.

A outra parte é uma explicação relativa ao pedagógico. Essas escolas, assim como os pais “alternativos” dos quais falei no primeiro parágrafo, se definem negativamente. Aqui não se copia, aqui não há seriação, aqui não há decoreba, aqui não, aqui não, aqui não.

O antídoto para esses ataques de soluções pedagógicas de almanaque é um bom líder e um discurso coeso, claro e comunicativo. Que nas reuniões os pais saibam que alguém que estudou muito está falando sobre educação, que nas festas escolares seja evidente o percurso dos alunos (que não precisa ser acabado, mas que seja um movimento), que toda a comunidade escolar seja levada a pensar nos propósitos daquela escola.
Uma vez, uma mãe assistiu uma oficina minha e depois disse que aquilo, ela mesma faria em casa. Ela não deixava de ter razão. Brincar de teatro com o filho é algo que qualquer um pode fazer em casa. Mas não tomando decisões conscientes a todo instante como faz um educador. Nesse dia, aprendi que eu precisaria mostrar aos pais o conhecimento que me mobilizava.

Ter um educador-líder não é ser autoritário. É preservar as escolas do assembleísmo pedagógico. Uma escola democrática não age necessariamente pela opinião da maioria, porque o educador nem sempre coloca em plebiscito as suas convicções e porque é ele, por fim, quem responde e se responsabiliza pela próprio processo educacional.
Quando digo "pedagógico" ou "educativo" não estou defendendo mercados e diplomas, mas estou dizendo que não, nem todo mundo é educador. Uma amiga, educadora experiente, apontando a desvalorização do conhecimento pedagógico, uma vez usou um argumento interessante_"engraçado que não há amigos do tribunal ou amigos do hospital, mas existem amigos da escola, pressupondo que basta boa vontade para exercer essa função."
Nesse silêncio da baixa autoestima do educador, o discurso oportunista toma lugar e só com muita luta a maioria conseguirá afastá-lo. Se é que conseguirá.
_Cibele_

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Politicamentecorretês

O cravo não brigou com a rosa, "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Sambalelê não está com a cabeça quebrada, nem precisa de uma boa palmada (é proibido!), “Sambalelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar”.

Não se pode mais atirar o pau no gato nem de brincadeira, pois “isso não se faz/o gatinho/ é nosso amigo/não devemos maltratar os animais”.

Quem entra na roda dança não pode mais ter sete namorados sem casar com nenhum. Sete namorados (e principalmente solteirice) é coisa de menina fácil.

Ninguém mais é pobre pobre pobre ou rico rico rico de marré-de-si, para não despertar na meninada o sentido da desigualdade social .

Blá.

_ Claudia – que não é mais branquela ou branca azeda ou Omo total, é uma cidadã caucasiana desprovida de pigmentação mais evidente.

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Adaptação de um texto atribuído a Luiz Antônio Simas (Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Simbora?





Dica do meu amigo Jairo, ó que coisa boa!


_Cibele_


Eu e as letrinhas

Dois links bunitinhos pra mim, que eu queria compartilhar com vocês =)

http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=445516

http://us.orcabook.com/productdetails.cfm?PC=3500

_Claudia_

Entre uma Sabrina e outra...

Li e gostei do texto legal da Piauí que parte da premissa de que "toda lei seca gera uma sombra" para refletir sobre o fenômeno dos baleiros na porta das escolas belorizontinas.

_Cibele_

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O ritmo das coisas

Outro dia, escrevi no Facebook que "depois de fazer alguma coisa bem difícil, fica ainda mais difícil fazer coisas fáceis, porque nada se quer fazer". Assim, com essas palavras ou de forma similar. O que importa é que eu ando em ritmo de férias, quase sentindo o cheiro do mar e a textura da areia sob meus pés. Ontem, perdi um compromisso importante.
Fui tomar um chá com uma amiga dia desses e ouvi na mesa ao lado um diálogo genial:
_O que você vai levar para ler nas férias?
_Ulisses e Sabrina.
Mais ou menos assim...não digo que eu não vá escrever uma linha sequer, nem abrir nenhum livro dissertativo, mas se o fizer, será por puro prazer e de um jeito diferente. Lendo o fim antes do início, recitando o índice, vendo as gravuras demoradamente, pulando as notas chatas...
É o que acontece com aqueles que sentem muito prazer com o próprio trabalho. Vez em sempre as coisas se embaralham.
Com o Quintarola não será diferente. Não me comprometo a ser leve. Nem a falar sério. Meu comprometimento agora é com o ritmo das coisas.
_Cibele_

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A noite que fica

Meu filho de 15/quase 16 anos perdeu a avó materna no Natal passado e duas semanas atrás perdeu o avô paterno. Está se estranhando com a Vida e a Morte. Ontem pediu pra que eu ficasse ao lado da sua cama, de mãos dadas, na hora de dormir.

Me dizia: “O que me assusta é que, de um momento ao outro, vou parar de pensar”.

Quando ele tinha 3 pra 4 anos, não me lembro bem se teve alguma coisa concreta ou se foi só o período natural em que a criança se descobre indivíduo, passou um período de questionamento constante sobre a Morte. Me perguntava o que era, por que, pra onde, pra quê. Eu não sabia responder, como não sei agora. E não queria colocar nenhuma crença nesse lugar (até porque não tenho nenhuma). A coisa foi se estendendo e eu cheguei a pensar em procurar um psicólogo (a mãe psicóloga é um ser à parte….). Até que um dia não sei por que cargas d’água eu disse que ele não precisaria se preocupar, pois fosse o que fosse, quando ele morresse, eu já estaria lá pra protegê-lo como fiz com sua chegada à Vida. Isso não é necessariamente verdade, eu sei (e anos depois uma amiga que tinha perdido um filho me lembrou isso), mas é pelo menos a ordem natural das coisas. Foi onde me encostei. Pra garantir uma certa esperança. Fato é que resolveu, ele se acalmou e não tocou mais no assunto até agora.

Agora não adianta dizer de novo que estarei lá pra protegê-lo. Ele já sabe, como eu, que “lá” provavelmente não existe e que o mais provável é que a gente simplesmente deixe de ser, apague. Termine. Pare de pensar, como ele tanto teme.

Ontem eu disse a ele que, mesmo sendo finita, a Vida é maravilhosa e é sempre um privilégio viver, principalmente se se vive ao lado de pessoas como ele. Porque, como no poema de Fernando Pessoa, quando a gente morre, o poente é belo e é bela a noite que fica.

_Claudia_

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Café com letrinhas

Se você conheceu seu marido no Café com Letras, como eu. Se você, vez por outra, chafurda no petit gateau de lá depois da sessão de análise, logo ali do lado. Se você passou toda a faculdade dura, mas sem deixar de ir ao café pedir uma dupla de pães de queijo ou uma taça de vinho. Se você gosta do drink verão e das saladinhas deliciosas de lá. Se você já foi ao café no Dia dos namorados e para uma reunião de negócios. Se pelos mesmos ou outros motivos você gosta do Café com Letras e fica doido pra arrumar uma desculpa para ir até lá:

Ei-la!

_Cibele_

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vai que é tua, Cibele!

Tafarel E a minha queridissima sócia A-BA-FOU no exame de Mestrado da FAE (Faculdade de Educação da UFMG). Não só passou, como passou em primeiro lugar. É mole? Nenhuma surpresa. A Ci é fenomenal mesmo.

(Ci, PLEASE, não fica chata-acedêmica senão me divorcio de você!)

_Claudia_

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mulher que ensina, criança que aprende

Sherazade Escrever para crianças é basicamente uma atividade feminina. Mesmo se existem diversos (e importantes) escritores homens, se não me falha a observação, a maioria avassaladora de autores de livros infantojuvenis é de mulheres. O mesmo para as editoras voltadas para este público, cujas diretoras são principalmente mulheres.

Como consequência, temos um ambiente muito próximo àquele educacional, onde a grande maioria são também mulheres. Não é de se estranhar então a tendência de colocar a literatura “a serviço” da pedagogia, considerando ao mesmo tempo o texto literário um instrumento pedagógico e a criança-leitora como aluno. De fato, a grande maioria dos livros infantojuvenis publicados no Brasil hoje têm caráter nitidamente “educativo”, sendo a Escola o maior consumidor do Mercado Editorial. É o primitivo (arquetípico) binômio mulher que ensina-criança que aprende em plena ação.

Coisa pra ser amplamente questionada. Literatura não é coisa pra viver amarrada, mas para “amarrar”, no sentido de envolver, como bem fazia Sherazade nas Mil e Uma Noites (imagem).

Que ensina, claro que ensina: há muito tempo aprendi que buscar a verdade na literatura é muito mais útil que buscá-la nos fatos (isso vale pra História, pra Socilogia, pra Psicologia…). Mas uma Literatura Infantojuvenil que se preze é muitas vezes anti-pedagógica, politicamente incorreta, violenta, fiel apenas aos princípios (e aos desvios) da própria narração. Fazer boa literatura, principalmente para crianças, é contar as histórias como são, sem nenhum objetivo secundário que submeta este importante ponto de partida. Sob pena de perder o significado e a força.

Tome-se como exemplo os contos populares. Desde os mais antigos, os contos de fadas, escritos a partir da tradição oral. Compare a versão dos Irmãos Grimm (Alemanha) com as de Charles Perrault (França), ambas do final do século XVII, início do século XVIII. Enquanto os irmãos alemães se deixam levar pelo deleite dos elementos simbólicos que só fazem enriquecer sua narrativa, seu contemporâneo francês as utiliza como “instrumento de moralização e educação”. Não é difícil avaliar a diferença da força de uma e de outra versões dos mesmos contos.

Quando um escritor (e principalmente uma escritora) renuncia a ensinar, tem muito mais chances, na minha opinião, de produzir textos que falem diretamente aos pequenos leitores, para além do lugar de aluno.

_Claudia_

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sexta-feira é dia de link: Filmes africanos, caribenhos e afroamericanos


O IMAGEM DOS POVOS, dirigido por Adyr Assumpção, disponibilizará, durante 14 dias para escolas, associações comunitárias e organizações culturais o acesso gratuito via internet ao repertório de filmes africanos, caribenhos e afroamericanos. A iniciativa do festival faz parte também das atividades comemorativas do mês da consciência negra.


Envie um e-mail para iptv@imagemdospovos.com.br e solicite seu cadastro. A programação é gratuita e estará disponível de 29 de novembro a 12 de dezembro aqui.
_Cibele_


Dica da querida e sumida Carlandréia Ribeiro! Figura bacana e atriz sensacional, diretamente do facebook.


Como chove nessa cidade...


Bom fim de semana,


_Cibele Carvalho_

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FESTA NO QUINTAROLA

Apertadas de costura, perdemos 3 comemorações ao mesmo tempo. Mas como sempre fomos chegadas num desaniversário...

Primeiro pra minha querida sócia, mais de um mês atrasado (24/10), mas com muito, muito carinho!



Depois pro Quintarola, que fez aniversário dia 06 de novembro. Dois anos de um espaço que representa muito pra mim e pra sócia. Só pra contar um pouquinho da nossa estória, conheci a Claudia pela internet. Diz ela que nos envolvemos pela escrita. Faz sentido. Daí pra nos envolvermos pela fala e pelo abraço foi um pulo. Estávamos as duas fazendo as malas. Ela deixava pra trás uma história linda como educadora (inesquecível, aliás) em Belo Horizonte, eu para acompanhar meu marido numa andança que só terminou esse ano. O meu caminho era voltar, o dela era ir mesmo. Mas o Quintarola sempre foi um lugar de estar com aquilo que a gente acredita, independente da língua, independente do clima. O lugar em que nunca fomos forasteiras, porque o chão eram as nossas convicções. Com muito e muito carinho, uma homenagem para esse lugar!



E finalmente, num momento eu e meu umbigo, parabéns pra mim mesma, que fiz mais (mas só um pouco mais) de trinta num dia 20 e ensolarado de novembro, seguido de uma noite de lua cheia.





: )





_Cibele_

Vivendo e aprendendo a jogar _parte 2

Não acompanho esporte, mas fui assistir ao filme do Senna, acompanhando meu marido. Do ponto de vista do cinema, é uma das piores coisas que já vi. O roteiro é uma colagem cronológica grosseira e a sensação de que valeu a pena ter assistido, se deve só e unicamente à história de um cara muito competente naquilo que se propunha a fazer dentro de um jogo espúrio.

A tensão entre a competência de um indivíduo contra um sistema de cartas marcadas, coerente a várias situações micro e macropolíticas, se dá pela ameaça do cinismo garantidor da ordem ou do aniquilamento do sujeito. Ambos resultados igualmente indesejáveis.

É certo que qualquer discussão ética ou política já se relaciona, por princípio, com a infância, mas passo a frente, vez em quando alguns exemplos caem no colo.

Não há educador que não saiba da importância do brincar, sobretudo na primeira infância. Contudo, a maioria das escolas tradicionais de Belo Horizonte aderiu completamente a ideia da alfabetização até os 5 anos, o que se reflete sobretudo nos exames de seleção.

Surpreendidas, as escolas “alternativas” (não alternativas às pedagogias mais modernas, mas alternativas às políticas que atendem a outros interesses que não a própria educação) se veem em uma situação cuja equação tende a duas resultantes arriscadas: ou acolhem o risco de estarem fora do sistema ou se adequam só o suficiente para terem fôlego de protestar. Não considerarei aqui o cinismo uma resultante válida. Tampouco o aniquilamento total do projeto de uma educação infantil coerente com o que se sabe sobre as crianças. Para as duas soluções válidas, ainda dois riscos. O primeiro, da própria sobrevivência e o segundo, da incoerência. Decisões difíceis.

Voltando ao Senna, é o inicinho do filme, ele e os pais dando uma entrevista em que a mãe declara algo mais ou menos assim: “Foi um bom ano de trabalho e isso é mais importante do que os títulos. Foi um bom ano sobretudo de trabalho honesto.”

O que não impediu que o piloto no Japão, em 1990, jogasse o jogo contra o qual ninguém queria protestar.




Quem de nós ao fim do ano poderá dizer que teve um bom ano de trabalho?

Cibele

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O fácil e o difícil, o pronto e o inacabado…

Queridos pais e mães leitores, me dêem licença. Maaaas... é uma pergunta que não quer calar. E ao mesmo tempo um lamento depois de tantas experiências negativas.

Por que os pais e mães de crianças pequenas e nem tão pequenas (e sua extensão, alguns educadores) são tão vaidosos? Por que querem/exigem o resultado da produção perfeita, certinha, lustrada, “reparada” dos filhos/alunos? Será que não percebem que “consertando aqui, mexendo ali, ajustando acolá" tiram completamente a autenticidade dos trabalhos das crianças? Que exigir o término, marcar o tempo pode tirar a força da obra? E mais, que centrando-se sobre o resultado tiram delas a chance imperdível de viver a grandeza do PROCESSO?

Escutem, queridos pais, o que diz uma educadora meio "passada" mas ainda na ativa. Muitas vezes as crianças não se importam em terminar um desenho, uma construção, até um texto. Porque se divertem e crescem ENQUANTO trabalham, enquanto produzem, enquanto criam, sem a pressão, a vaidade e a pressa de ter de terminar. Muitas vezes também o “fácil” (geralmente o que vem amarradinho em métodos didáticos definidos) não agrada nem desafia, e elas preferem o “difícil”, o desconhecido, o a-construir. Preferem inventar novos modos, novas possibilidades, novas combinações.

Se a gente deixa, eu juro! a criança não PRECISA terminar. Nem menos pega o caminho mais curto, mais pragmático, mais apressado. Se a gente aceita, elas generosamente nos oferecem um resultado muito diferente do esperado: o inusitado de sua constante descoberta.

Tentem!

_Claudia_

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Leitura imperdível

"Quem tem medo do Bicho-Papão" é um texto muito, muito bonito do Luiz Tarlei de Aragão, antropólogo da UNB.

"É bem verdade que chega a ser um "luxo", a paternidade em sociedades modernas, onde, como super-heróis mal enjambrados assumimos com exclusividade essa condição de genitores, locus privilegiado de uma lei super-potente."

"...perdemos a capacidade de sermos pais dos filhos dos outros e com isso criamos de vinte anos pra cá um exército de órfãos, que por mais irônico que possa parecer, é filho de uma dupla "carnificina" simbólica."

São alguns trechos sobre o lugar incômodo que a criança tem ocupado na sociedade. Cheio de memórias, belezuras e sensatez, o texto trata dessa orfandade explícita e do papel social do medo:

"De toda essa panóplia aterrorizante, certamente os mais eficazes e generalizados, que eu chamaria de "universais paralizantes" de nossos meninos e meninas, era o trio: Bicho-papão, Lobo-mau e Capeta, por razões que até os psicanalistas, muito mais que os antropólogos e outros "ólogos", poderiam considerar a título de compreensão, ou lazer. Acho que esses bichos e a própria propedêutica ligada a eles está desaparecendo,despencando ladeira abaixo; na curva que o mundo está dando certamente saltarão fora dos trilhos de nossa civilização, para dar lugar a outros, de outros nomes, certamente menos poéticos."
E o que é melhor, disponível aqui.
_Cibele_

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sexta-feira é dia de link

O material educativo da Bienal de São Paulo, disponível aqui, é imperdível para quem foi e quem não foi.

_Cibele_

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

As princesas segundo os gigantes, as bruxas, os pais omissos e as madrastas

Sarm Chair/ Jéssica Harrison

Quando acho que o assunto Psicanálise dos Contos de Fadas já está dando marcas de puído, um texto da Maria Rita Kehls me faz pensar sobre o narrador dos contos, os pais. Acho que outros tantos títulos podem ser produzidos pensando exatamente sobre que tipo de emoções são produzidas nos pais ao lerem os contos para seus filhos.

Devo dizer que da minha parte reina ambiguidade. Um certo incômodo por estar do outro lado, quando não consigo eu mesma me identificar com o frágil protagonista que ganhará no final. Então há essas duas leituras: a leitura em que me coloco no lugar do herói (embora esse nome não seja bom) e a leitura em que não conseguindo tal façanha, só me resta ser a madrasta.

_Cibele_



terça-feira, 16 de novembro de 2010

3 versos aos 8 anos


Contam que Bashô, o mestre do hai kai, quando decidiu viajar para conhecer outras naturezas, recebeu reação negativa de seus discípulos. A esse protesto contra a sua ausência, o mestre responde assim:

— Não tenho mais nada pra ensinar a vocês, qualquer dúvida que vocês tenham, perguntem para uma criança de 8 anos.

Isso e muito mais nos conta Alice Ruiz no prefácio do livro Conversa de Passarinho, disponível na íntegra lá no Pedro Doria.
Quando li o post, não resisti, chamei a minha filha de quase 8 para fazer o teste. Outras mães já tinham me avisado de tal fenômeno. Imagina, há anos atrás, eu fiquei 15 dias com a própria Alice Ruiz numa Oficina em Ouro Preto me esforçando para sintetizar uma imagem em 3 versos e até 17 sílabas. Tentando me desfazer das abstrações, do eu e do meu filosofês. Não foi fácil, não, mas a mesma opinião não teve a menina que apenas com uma indicação _escrever uma imagem em 3 versos_ encheu a folha na mesma hora:
Cobra nadando na lagoa
Jacaré boiando
A lagoa grita
Uma pessoa nascendo
Uma pessoa morrendo
Na metade da vida
Uma porta aberta
Uma porta fechada
Uma porta abrindo
Comprei o livro pra ela, quem sabe não sai uma resenha crítica.
_Cibele_

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

História da Infância

A mais famosa é a do Philippe Ariès (1960), que todos vocês já devem ter lido, segundo a qual a consciência de infância era ausente na sociedade medieval; tão logo conseguisse viver sem a assistência direta da mãe ou substituta, a criança entrava diretamente na sociedade adulta. Esta tese é fundamentada principalmente na análise da Arte medieval, em que as crianças são representadas como adultos em miniatura.

Alguns autores alargaram esses estudos: deMause (1974), Shorter (1977), Stone (1977).

bambini 1900

Outros criticaram a visão de Ariès: Garnsey (1991), Hanawalt (1993), Shahar (1990) e principalmente Linda Pollock (1983), em seu interessante livro Forgotten Children. Nele a autora questiona a modalidade indireta com que os dados foram recolhidos nos estudos de Ariès e seus seguidores e defende que os mesmos devam ser recolhidos sobretudo em fontes mais diretas, como diários, autobiografias, artigos de jornal e atos de tribunais relativos a processos envolvendo crianças e adolescentes. Através destes documentos, a autora alega ter encontrado uma visão da História da Infância muito diferente daquela de Ariès. Segundo Pollock, a idéia de infância não só existia desde épocas muito longíquas como foi sempre um pré-requisito para a sobrevivência das sociedades humanas.

Barbara Hanawalt traçou um quadro da vida de crianças e jovens na Londres dos séculos XIV e XV, Lester Alston dedicou-se ao estudo das crianças escravas nos Estados Unidos e Elliot West estudou as crianças imigradas naquele país entre 1880 e 1900; outros estudos que merecem ser lidos.

E quem sabe desdobrados em novas pesquisas…

_Claudia_

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cinema DE criança

Pequeno Cineasta

_Claudia_

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Exemplos

Simpsons Mais que o que dizemos, o que mostramos, muito mais que o que ensinamos, as crianças tem o dom de captar quem somos de verdade. O que os adultos próximos pensam e sentem no fundo (e que às vezes até gostariam de esconder).

Por isso que os filhos agem segundo o sentimento (o desejo) dos pais. Que a menininha se recusa a abraçar a amiga com quem a mãe está ressentida.

Que os grupos de crianças agem segundo o sentimento (o desejo) do educador: os grupos de crianças pequenas quase “adotam” a personalidade do educador.

Não adianta fingir, querer ser politicamente correto, porque se você é racista, ou classista, ou elitista ou consumista ou tudo ista seu filho (ou aluno) vai manifestar isso de algum modo. E você vai se ver num espelho meio exagerado e bastante incômodo.

Basta “perceber” – não sei como elas percebem tão bem – alguma coisa no nosso íntimo e lá se vão elas adiante, construindo suas concepções, suas perspectivas, sua posição no mundo.

Olhar pra dentro de nós mesmos e tentar nos enxergar através delas é o grande desafio que nos trazem as crianças.

_Claudia_

domingo, 7 de novembro de 2010

Vou de link também

Também vou postar um link. Esse artigo do Denis Russo diz tudo que eu gostaria de dizer nesse domingo de chuva.

Não tá nada fácil ser criança nesse tempo e nesse espaço.

Bom domingo a todos!

_Claudia_

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O discurso e os discursos

Eu queria destacar só esse trechinho do discurso que motivou o meu último post:

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!
Colo abaixo o discurso na íntegra, pra não ter que linkar o uol/FSP e suas sutilezas rancorosas:
Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui.

Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.

Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!

Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:

Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.

Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.

Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.

Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.

Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.

Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.

O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.

É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.

A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.

Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.

Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.

No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.

Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.

Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.

Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.

Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.

Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.

Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.

Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.

As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.

Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.

Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.

Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.

Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.

Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.

Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.

Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.

A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.

É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.

Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.

Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.

Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.

Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.

Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.

Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.

Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.

Saberei consolidar e avançar sua obra.

Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.

Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.

União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.

Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.

Muito obrigada,
***
_Cibele_

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Política, Infância e Gênero



Quando o Obama tomou pose como primeiro presidente negro dos EUA, bem no dia do aniversário da minha filha, escrevi um post pensando no que aquele dia representaria para o futuro das crianças.

Hoje não poderia ser diferente. Confesso arrependida, cometi o equívoco de colocar a minha filha na cama, antes que ela visse a primeira presidenta eleita desse país se pronunciando, um aceno promissor para o lugar da mulher (e das crianças do sexo feminino) nesse país. Mas o farei hoje. Por aqui.

Pensando em como a infância se relaciona com a política, para além da imprescindível reflexão sobre o projeto político para a infância e a educação de cada candidato, recorri à minha própria memória.

A ditadura, só vi nos livros didáticos; o Diretas-já, uma memória muito difusa. O que marcou a minha infância foi a inflação, as compras colossais no início do mês antes que o dinheiro minguasse nas mãos da minha mãe e os cálculos contorcionistas do meu pai para o ajuste da minha escassa mesada. Os candidatos pareciam sempre os mesmos e a desesperança era grande. Lembro ainda a emoção trepidando a voz da minha professora de português na quinta série, quando ela relatava a queda do muro de Berlim e com isso marcava as nossas memórias e tecia a trama dos nossos valores.
Na adolescência, contrariando meu pai, adotei um broche do PT na minha mochila, apelidada carinhosamente, Neide Candolina, famosa por essa homenagem. Nunca entendi direito porque sendo meu pai tão forte na minha formação, tomei caminhos tão diferentes nas minhas convicções políticas. Possivelmente, rascunho hoje, porque já naquela época comecei a desconfiar que a meritocracia tão defendida por ele, não lhe devolvia o que lhe era de direito, dado que sempre trabalhou muito, com uma inteligência rara e uma honestidade incansável. Havia alguma outra força atuando naquela realidade, que não a dedicação e a competência.
Por ver o que era uma quimera de adolescência ganhando contornos nítidos de realidade, ontem fui dormir mais tranquila. Talvez o mundo esteja mesmo mais justo e seguro para minha filha...

... E aproveito para pensar sobre a importância dos líderes na política, nas instituições e porque não, nas escolas.


Bom dia companheiras,

_Cibele_



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Costura apertada


Queridos amigos leitores,

Eu e Clau estamos até a tampa de para casa. Lamento muito não ter tempo de vir aqui, um espaço caro para a expressão do que acreditamos, justamente num momento em que me sinto muito impelida a firmar a minha posição.

Peço desculpas pela semana que se passou e já antecipo a minhas desculpas pela semana próxima, que vem se anunciando mais apertada ainda.

No mais, bora todo mundo reiterar suas convicções e na segunda semana de novembro, estarei volta.

Se o bicho despegar pra Clau antes disso, sorte nossa.

Beijos

_Cibele_

domingo, 24 de outubro de 2010

Fidinho

Enquanto o bicho pega por aqui e do outro lado do Atlântico, alguns dançam e dançam muito bem, para um público composto por pequenos espectadores. Em BH, o Fidinho começou ontem e segue até semana que vem. São dois espetáculos: "Um lugar que eu ainda não fui", da Cia Meia Ponta e "Alpendre", da Cia Suspensa. Quem tem juízo, vai e leva a meninada!

_Cibele_

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sexta-feira é dia de link - blog altamente visitável

Olha que surpresa esse blog que "aconteceu" na nossa caixa de correio. É o trabalho da Amaranta com a criançada do Bela Vista/SP. As reflexões caminham para o lugar e o (não) lugar, o acontecimento e o (não acontecimento), tal como ensaiamos lá nos primórdios do Quintarola.
Clau, querida, Obrigada por segurar a onda aqui. Aliás, não só segurar, mas surfar nela. Ótimos posts!
_Cibele_

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Livros infantis “de grátis”

A Fundação Itaú Social está doando oito milhões de livros infantis. É verdade, os livros estão sendo distribuídos gratuitamente em todo o Brasil. Para recebê-los, é só cadastrar-se no site deles (muito bonitinho por sinal) no endereço www.itau.com.br/lerfazcrescer.

Eles mandam entregar na casa da gente, sem nenhum custo.

Que boa mais essa oportunidade de estimular a paixão pela leitura em nossas crianças (na propaganda deles vem escrito “o hábito pela leitura”, mas me reservo o direito de ressalvar que ler não é nem pode ser hábito, ler é pura paixão).

Não é necessário ser cliente do ITAÚ.

_Claudia_ com a contribuição da amiga Julie Pereira

Cinco marias, pedrinha, bole-bole, saquinhos…

É tudo a mesma coisa. Um jogo delicioso que eu me lembro como se fosse hoje de brincar por horas e horas com os amigos ou sozinha.

Eu jogava muito com seixos arredondados ou com sementes de pêssego. Depois, já em Belo Horizonte e já adulta, conheci a versão dos saquinhos de arroz, muito legal porque é mais fácil de pegar, sem falar na etapa de construção do brinquedo (cortar, preencher e costurar o saquinho, com direito a enfeites exclusivos), muito divertida também.

5 marias

Aqui uma reportagem da Folhinha sobre o jogo entre as crianças da Amazônia, que usam sementes. Tem um video muito legal das crianças brincando, da série Mapa do Brincar.

_Claudia_ (a gente já deve ter falado disso aqui, mas é sempre bom reforçar).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Você ainda quer mudar o mundo?

Já ouviu falar do TED?

Olhaqui.

O TED é uma conferência nonprofit que, desde 1984, acontece todo ano em Monterey, na Califórnia e em Oxford, na Inglaterra e que nos últimos anos tem acontecido também em outras cidades, inclusive São Paulo.

Ali se reunem pensadores com o objetivo simples e prático de MUDAR O MUNDO. No TED TALK cada um tem a disposição 18 minutos pra dizer o que, segundo lhe parece, é preciso fazer pra mudar o mundo. o TED PRIZE premia indivíduos ou projetos que se mostrem capazes de provocar mudanças consideráveis de concepção ou de realidade. O TEDWOMEN coloca questões sobre o papel das mulheres. E por aí vai.

No TED São Paulo compareceram pessoas das mais diversas áreas e linhas de pensamento, movidas pelo mesmo desejo e pelo mesmo sentimento de que sim, a sociedade civil pode fazer alguma coisa pra mudar efetivamente as coisas. Que tudo não tem de ficar como está. Que mudar o mundo não é impossível.

(Prestem especial atenção à fala da Roberta Faria e do Dênis Russo).

_ Claudia_

sábado, 16 de outubro de 2010

A Notícia:

Uma criança de 8 anos é chamada pelo Ministério Público a depor. Motivo: mordeu um vizinho de 7 anos no play...

Impressionante como a cada dia que passa, mais nossos desentendimentos vão se tornando casos de tribunal, expressando a dificuldade absurda de comunicação e empatia com as pessoas que nos cercam. No fim da notícia um argumento estranho, os pais da criança mordida achavam que a situação seria mantida em sigilo quando encaminhou o caso para o MP.
Por um lado a escola não é mais o templo do saber, a família não é mais única referência e os meios de transmissão de saberes estão mais diversificados: televisão, escola, pai, mãe, vizinho, igreja. Há uma polifonia, uma sobreposição de discursos formativos e uma alargamento das influências. Mas por outro lado, esses diversos emissores de vozes estão cada vez menos responsabilizados pelo outro.
Impressionante também que as crianças não sejam vistas em suas especificidades, em suas inimputabilidades e que a infância vá perdendo mesmo aos nossos olhos, as razões de sua existência.
Por fim, tenho visto uma situação cada vez mais comum. Crianças com sérias dificuldades de relacionamento cercadas de vizinhos, amigos, escola e familiares sem a menor tolerância e o menor pudor de excluir, julgar e condenar.
Às vezes, dá saudade do tempo em que o filho do vizinho era também um pouco filho da gente...
_Cibele_

Bonecas

Simplesmente divinas as bonecas da Cássia Macieira (Lagoa Santa, MG). Confiram aqui.

No blog, outras informações sobre a artista. Pra vocês fazerem contato porque vale a pena.

_ Claudia _

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sexta-feira sem link ou subvertendo os costumes

obra do austríaco Waldmüller retirada do sensacional blog de imagens Imagens e Letras.
Esse post da Clau me lembrou o Thompson, Edward Palmer Thompson, um dos historiadores mais importantes de todos os tempos que, apesar disso, e vai ver até por isso mesmo, é um não-acadêmico. Pois então, o Thompson faz uma distinção super oportuna entre costume e tradição. O costume, ele diz em Costumes em Comum - Estudos sobre a Cultura Popular Tradicional, “longe de exibir a permanência sugerida pela palavra tradição, era (ele tá falando do século XVIII) um campo para a mudança e a disputa, uma arena na qual interesses opostos apresentavam “reinvindicações conflitantes.” Por essa razão ele sugere que se tenha cuidado com o termo “cultura popular” que pode sugerir uma “perspectiva ultraconsensual”, como um conjunto de significados partilhados.
Já há bastante tempo o termo “folclore” foi substituído por “cultura popular” para realçar a dimensão analítica que superava a ideia do colecionador de aspectos culturais desvinculados de seu contexto. Eu ainda utilizo folcore em contexto muito específicos, mas Thompson sugere um passo a mais...repensar a cultura sob a luz dos costumes. Ele segue contando do paradoxo que é a dimensão rebelde da cultura tradicional, que resiste em nome do costume e contra as inovações da economia (ele continua falando do século XXVIII, mas me parece muito oportuno).

O brincar e a cultura popular, então, se rebelam contra as datas comerciais e, por outro lado, dentro dessa tradição, coabitam inúmeras vozes e costumes não necessariamente consensuais. Mesmo uma só pessoa não é uníssona, mas ambígua, o que nos permite por exemplo, de vez em quando, ter uma experiência repleta de sentidos mesmo num mundo de plástico. O que me permitiu por exemplo, encarar a fila para comprar presentes para os meus filhos. Já reinvindicava uma amiga sumida, hilária e sabida, a Surya, que lhe exigir coerência aí também era demais!
Fiquei boba quando vi que aqui no Quintarola a gente já tinha tags pra costumes e cultura popular!!!
E me lembrei do Benjamim...mas ele tava no post Um Minuto de Silêncio, então, cumprindo a promessa, deixo pra semana que vem.
_Cibele_ que acha dificílimo fazer voto de silêncio...aliás, qualquer voto

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Arte brasileira em Milão

Dim

Ontem aconteceu o lançamento do projeto “Vontobel para a Arte” , através do qual será publicado o catálogo dedicado ao artista brasileiro Dim Sampaio, na prestigiosa Biblioteca Ambrosiana (1607), aqui em Milão. Coisa muito fina.

O moço, 35 anos, nascido no interior do Piauí, vive desde 1999 em Bolonha e já é considerado um gênio da pintura nesse lado do mundo. Foi nada mais nada menos “adotado” pelo banco suíço Vontobel, que comprou um de seus trabalhos e desenvolverá um projeto de apoio a sua obra (que inclui desenhos, pinturas e instalações).

E que obra! De tirar o fôlego. Fazia tempo que eu não via, em Arte Contemporânea, tanta belezura e originalidade. E ainda por cima de um artista do meu país, é coisa boa até falar chega.

Dêem uma conferida no site dele.

_ Claudia_

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cultura ouTradição?

Tarsila

Imagem: Tarsila do Amaral

Aqui na Italia tem muita, muita tradição. Aliás, fico pensando como no Brasil tem pouca, como a gente é um país que se reinventa a cada Carnaval. Os italianos, ao contrário, podem levar anos pra mudar um sofá de lugar. (Em sentido figurado mas também literal). Faz parte da História deles ser assim. As crianças italianas já nascem e são educadas num universo assim.

Ontem, na casa de uma amiga, estávamos conversando sobre a tradição local de ligar dando os parabéns no dia do “onomástico”, que é o santo do dia. Tipo, no dia de Santa Cibele (existe uma? Não sei se existe, mas se não existir aqui na Italia te inventam uma, Ci!) eu ligaria/teria de ligar pra minha sócia dando os parabéns. E ai de mim se me esquecesse, a Cibele ficaria mordida de raiva pelo meu desdém. Pior que esquecer o aniversário dela.

A obrigação social de ligar pra família e os amigos mais próximos, pelo menos no sul da Italia de onde vem o meu marido, não é limitada ao onomástico, mas chega às beiras da patologia: contei uma por uma e atingi a incrível cifra de 13 vezes ao ano. Tradições ligadas a datas religiosas que eu compreenderia perfeitamente se as pessoas que as perpetuam fossem, pelo menos, católicas. Pra se ter uma idéia, um outro dia em que "se deve" comprimentar os familiares e amigos é o Domingo de Ramos.

Eu era a voz da discordância na conversa porque, enquanto pros italianos tudo isso faz parte da “cultura” local que deve ser preservada, pra mim é apenas tradição, repetição baseada num controle perverso das relações familiares (estendidas a um grupo de amigos). Porque pra mim cultura tem a ver substancialmente com SENTIDO. Se o Domingo de Ramos não tem sentido pra mim, não serei eu a perpetuá-lo como costume, muito menos a transmiti-lo e exigi-lo de meus filhos. Embora respeite quem o faz com sentido.

Cada sujeito constrói seus sentidos ao longo de sua História e uma tradição só é digna de se tornar Cultura se tem um sentido compartilhado socialmente. Ou seja, só levo adiante um costume que faz sentido pra mim, dentro dos MEUS princípios pessoais imersos na sociedade. Todo o resto é pura obediência.

As tradições podem até ser importantes pra família, mas que cada um leve adiante só o que é importante pra si e aceite o outro como é. Se a gente fosse (afetivamente) levar em conta o que é importante pra família de origem, nada mudaria no mundo, porque família é e sempre foi o representante social e psíquico do status quo. O sofá continuaria no mesmo vão eternamente.

_ Claudia _ (agora reflitam vocês sobre as datas comemorativas puramente comerciais).

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um minuto de silêncio


Pensei em postar sobre a alucinante programação cultural proposta pelos produtores de BH para a chamada Semana da Criança, a despeito de meses e meses de absoluta escassez. Pensei em resmungar qualquer coisa sobre as incontáveis, irresponsáveis e impertinentes propagandas de tv. Pensei em escrever sobre os brinquedos e dessa vez defender a Hasbro e sua versão "Life" do antigo "Jogo da Vida", que apesar de ainda reacionário, pelo menos não traz a filosofia como sinônimo de falência. Pensei em falar das filas, das infindas listas de brinquedos iguais, da enorme variedade do mesmo e da atualidade dos escritos de Benjamim. Mas no lugar disso, no lugar de produzir mais falação dentro desse imenso blábláblá que se tornou a reiteração comercial e artificial da infância contemporânea, vou ficar calada por toda a semana.
_Cibele_

sábado, 9 de outubro de 2010

Inteligência ou inteligências?

Gardner Há algum tempo atrás, escrevi uma resenha numa revista de educação sobre o livro “Inteligências múltiplas: a teoria na prática”, do Howard Gardner. Livro importantíssimo que documentou a extensão até a qual os estudantes possuem diferentes tipos de mente e, portanto, aprendem, lembram, desempenham e compreendem de modos diferentes.

Acho que isso foi em 1996. Pois é, pouca coisa mudou nesses quase 15 anos. As escolas continuam a insistir num modelo de transmissão de conhecimento basicamente linguístico e/ou lógico-matemático. Sem estimular (ou na melhor das hipósteses estimulando pouco) outras áreas igualmente importantes, como representação espacial, pensamento musical, corporal, compreensão do outro, compreensão de si mesmo... Será que demora tanto assim pra sacar o óbvio?

Para Gardner, a diferença está no “vigor” ou grau dessas inteligências e na forma como são “invocadas e combinadas em função dos diversos procedimentos necessários”.

Sei que tudo em Educação é processo. Mas… Não é tão difícil assim buscar e reconhecer diferentes “entradas de conhecimento” para diferentes sujeitos, estender as formas de representação já trabalhadas aos diversos grupos, em vez de procurar adequar e homogeneizar as estratégias e habilidades da população de maneira geral. Assim, uma criança cuja inteligência seja vigorosa num determinado modelo pode ser estimulada a utilizar suas destrezas e desenvolver outras através delas.

Se as escolas diversificassem suas formas de transmissão e produção de conhecimento e oferecessem iguais oportunidades de sucesso escolar, se incrementassem trocas entre os diversos indivíduos, quem sabe conseguíssemos delimitar o que é dificuldade de aprendizagem e o que é simples desconhecimento técnico das peculiaridades da inteligência, ou melhor, daS inteligênciaS.

_Claudia_

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

“Criança não trabalha, criança dá trabalho!”

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A gente sabe que é assim, a gente vê toda hora, e sente aquela dor grande, como se tivesse levado um soco no estômago. Mas os NÚMEROS… ah, os números. Que força que têm os números. Passei o resto do dia chateada, pensando que por mais que a gente trabalhe, pense, crie, aconteça, busque, queira, faça… pela infância nada é suficiente diante desses números.

São 306 milhões as crianças exploradas no mundo. Ponto.

Do número total, 115 milhões de menores estão ocupadas em trabalhos perigosos, ou então no mercado do sexo. O fenômeno é mais amplo na Ásia e no Pacífico. Na África abaixo do Sahara são 65 milhões. (Dados da Campanha Stop Child Labour, link na imagem).

Existem aquelas visíveis, que a gente acaba se habituando a ver sobrecarregadas nas ruas. Mas existem também aquelas que não são vistas, das quais não se sabe nada e que são – infelizmente– as mais numerosas, as mais frágeis.

As crianças trabalhadoras não são uma realidade apenas nos países em desenvolvimento, mas também naqueles com economia em via de transição e até nos países industrializados, onde o percentual pode atingir 1%.

Estarrecedor.

_Claudia_

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Olha que legal!



A Andréa Amendoeira nos escreveu contando que dia 17 de outubro estará em BH com a Banda Esquindô. Às 11 hs no Parque Muncipal, tá?

Um abraço, Andréa,

_Cibele_

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um pequeno passo para formar eleitores mais críticos


Um dia depois do primeiro turno da eleição, o assunto está em toda parte. No sacolão, no elevador, nas escolas, no rádio, na televisão e na internet. Essa última tem se mostrado importante ferramenta e se configurado como espaço de debate. Mas uma coisa me espanta muito: a forma como as pessoas dão credibilidade a textos com algumas características específicas: textos em inglês, textos com autorias falsas de intelectuais ou textos com autorias verdadeiras de falsos intelectuais.


Uma escola que pretende formar cidadãos críticos, precisa tomar para si o ensino dessa habilidade de discernimento entre spans , boatos (hoaxes) e informação confiável. Pode começar com os pequenininhos tendo espaço para questionar os adultos, pra colocar a sua opinião, pode prosseguir com crianças que tenham acesso a modos legítimos e não legítimos de cultura para identificar essas vozes, pode terminar nos adolescentes sendo levados a levantar critérios de legitimidade das informações na internet. Uma coisa aqui me salta aos olhos. Não conheço alguém capaz de identificar um texto de falsa autoria que não tenha conhecimento do estilo do autor, ou pelo menos, da norma culta da língua. Da mesma forma que, para um leitor de jornal, é mais fácil identificar um texto falsamente atribuído a um jornal pelo flagrante estilo não jornalístico. De forma que os professores ainda tem um bom motivo para ensinar a cultura legítima, mesmo num mundo mundialmente conectado.

Espero que as próximas gerações deem continuidade ao processo de amadurecimento da democracia brasileira. Porque me espanta receber dezenas de e-mails boatos difamando candidatos, vindos de gente que deposita em qualquer conjunto de letras a confiabilidade que só se deposita num pai.
Que venha o segundo turno.
_Cibele_




sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sexta-feira é dia de link

IEP!

(Holanda / Bélgica, 2010, dir.: Ellen Smit).

Vencedor do prêmio máximo no festival de cinema infantil de Montréal, no Canadá, Iep! está sendo exibido em São Paulo, no 8º FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil) . O filme é um encanto. Exatamente porque usa a fantasia como moldura pra trabalhar questões muito sérias e às vezes até espinhosas.

Já vi o livro também, na Feira de Bolonha, muito bonito, bem ilustrado e editado, mas não achei nenhuma referência em link pra passar pra vocês, embora seja muito popular na Holanda.

Aqui, uma entrevista na Folhinha com a roteirista.

_ Claudia_

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Então...


--> A origem do Terceiro Mundo, obra de Henrique Oliveira na Bienal de SP
Era justamente isso que vinha me tocando nesses últimos dias. Da dificuldade de falar com (mais do que para) crianças sobre alguns assuntos. Uma cena bem bacana aconteceu quando fui assistir Que História é Essa, peça do Real Fantasia que indiquei aqui. Uma cena bem bacana aconteceu também na platéia. Uma criança pergunta em alto e bom som: Ele morreu, mãe? A mãe tranquilamente responde: O personagem morreu. Assim, com cuidado, mas sem floreamentos.

A Adriana me contou outro dia, por e-mail, que o caminho escolhido pelo Clic para abordar a filosofia com a crianças passa pela localização daquilo que é um nó para os adultos.

Não é que ela tem razão? A morte, o sexo, a arte contemporânea tem em comum o fato de serem assuntos de que a gente pouco sabe, ou com os quais a gente não quer se defrontar.

Acho que abordar esses temas com as crianças passa também pela coragem em assumir o que não se sabe_já que mesmo com o preparo, não é toda hora que podemos contar com a presença de espírito daquela mãe.
Mais do que aprender respostas, as crianças podem aprender a formular boas perguntas...
_Cibele_


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mas isso é Arte?

Muito legal essa matéria da Folhinha em que especialistas respondem a perguntas de crianças sobre Arte Contemporânea, conversando sobre a Bienal de Arte de São Paulo.

_Claudia_

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Desenho e palavra

Até algum tempo atrás, achava-se que, no desenvolvimento infantil, a conquista da linguagem escrita partisse do desenho. Era uma confusão que se fazia com a história da língua escrita, na qual obviamente os caracteres (signos) surgiram a partir de símbolos (desenhos).

Depois de muitos estudos psicogenéticos (entre eles e principalmente os de Ferreiro&Teberosky), já se sabe que não é assim que acontece. O processo de construção da lingua escrita é independente da evolução do desenho, segue percursos e tem características próprias. Ou seja, mesmo que palavras e desenhos sejam linguagens igualmente importantes para o Sujeito epistêmico, mesmo se coordenadas na representação, são intraduzíveis uma na outra, uma não determina a outra.

De fato, a linguagem escrita alfabética (ortográfica) é um sistema tão arbitrário quanto “descolado”, uma cadeia complexa de significantes muito mais que de significados, que busca novas formas de representação do pensamento. Cada criança que nasce já a encontra assim, não precisa reconstruí-la desde o início referindo-se ao símbolo original (o que seria uma grande burrice).

A palavra GATO, por exemplo, é uma estrutura muito mais complexa que a imagem desenhada do animal a que se refere. Contém sons, memórias, sequências, hierarquias, regras que não estão estabelecidas na relação direta com a imagem, como na escrita primitiva. A palavra, o conjunto de caracteres que a gera, é arbitrário, não se refere ao significado nem a sua representação imagética.

gato

Se a gente observa uma criança que desenha e outra que escreve (ou a mesma enquanto realiza as duas operações) compreende perfeitamente a diferença fundamental dos dois processos em termos de processo cognitivo. A criança aprende a escrever ESCREVENDO e não necessariamente lança mão de imagens ou espera a evolução representativa do desenho. As relações não são dadas. Se fossem, pensar seria fácil demais.

Uma Educação baseada em algo mais que relações diretas é imprescindível. Até pra evitar certas deformações teóricas absurdas.

_Claudia_

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Clau bombando

Olha que bacana o vídeo da Claudia Souza, aqui carinhosamente chamada de Clau, produzido pela Callis:




Linda e ruiva, não?

_Cibele_

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mais peripécias da Família Anseridae

Junto com o cd da Banda Mirim, do qual falei aqui, comprei esse, com poemas traduzidos por Haroldo de Campos e musicados por seu filho Cid Campos. A maior de todas as surpresas foi essa, A Pata e o Canguru, letra do poeta do non sense inglês, Edward Lear. O nome do cd é Criança Crionça e está a venda no site do SESC.

Não para de tocar no meu radinho...eu, mais que o Canguru, me apaixonei por essa fêmea Anseridae!

_Cibele_

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dica Imperdível para o fim de semana


Único grupo de teatro de Belo Horizonte que se dedica integralmente ao teatro infantil, o Real Fantasia estréia esse fim de semana um espetáculo que parece ser bem bacana. Adaptado do livro "O Pato, a Morte e a Tulipa" de Wolf Erlbruch (prêmio Andersen pelo conjunto da obra), o espetáculo trata de mais um daqueles assuntos que pareciam ser impróprios para criaças.

Eu vou!

Ah, o grupo fará uma apresentação única para escolas, dia 30! Deixo pistas dessa apresentação na caixa de comentário aí embaixo.

_Cibele_



domingo, 19 de setembro de 2010

Menos vale mais

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A maletinha do Mágico. Ali, bem apertadinho, está tudo que ele precisa pra fazer a gente sonhar, sonhando junto. Pouca coisa, poucos objetos, mas todos muito especiais. Escolhidos especialmente pro que o Mágico deseja. Capazes de se multiplicar. De se tornarem milhões. Reunidos de propósito. Organizados.

Acontece assim com as palavras, segundo o Jonas Ribeiro (vou falar mais dele depois). As histórias curtas escondem maletas de Mágico. As histórias curtas, pra crianças, pedem a verdade, o essencial, e descartam todo o resto. Muitas vezes mais difíceis de escrever que um romance.

Acontece assim com os brinquedos. Dizia minha amiga Silvia Ghetti, atriz que manipula os personagens dos meus livros, mãe de gêmeas de sete meses, que os brinquedos preferidos das filhas são pedaços de papel, retalhos, badulaques. Poucos. Essenciais. Os materiais nas mãos dos bebês são verdadeiras maletas de mágico.

No quintal, um pedacinho de pau jogado a esmo, pedrinhas, folhas podem significar um mundo.

Em plena hegemonia do Mercado, do consumismo, do over, do demais… a maletinha do Mágico dá o que pensar.

_Claudia_

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Diário da Amazônia – Parte 4

Um outro trecho da experiência da Regina Marques na Amazônia. Desta vez contando sobre um bonito projeto sobre a diversidade botânica da região e sobre o movimento das gentes por ali.

Botânica Comunitária

Uma experiência nova e interessantíssima, acampando com os botânicos do Kew Gardens de Londres e do Istituto INPA, três dias numa área totalmente desabitada e pura, em busca de amostras para criar um herbario. Lá fomos subindo o rio Xiparinã na canoa com motor, chamada rabeta, passando por dezenas de igapós e laguinhos e parando para pegar plantas. A maioria delas fica lá na copa das árvores, onde os mateiros e um dos botânicos sobem como macacos e cortam pequenos ramos com folhas, flores e frutos. William, botânico inglês, adora subir nas árvores, acaba a viagem todo arranhado mas feliz. Conta que uma vez, ao cortar uma amostra, o ramo caiu em cima de uma casa de marimbondos. Ele viu o enxame inteiro subir até ele e pensou que iria morrer ali mesmo, uma morte atroz. Ele mesmo não sabe como, mas conseguiu ficar perfeitamente imóvel enquanto os marimbondos passeavam por todo o seu corpo, olhos, boca, nariz, orelhas, por longos cinco minutos, até que foram indo embora devagar.

O Rio Xiparinã é tão limpo que quando tínhamos sede bastava esticar a mão com um copo pra fora da canoa e beber… já viram luxo maior? Dormíamos na rede, amarrada entre as árvores, devo dizer que não dormi sonos tranquilos, mas me disseram que na floresta é melhor ficar sempre alerta. Fomos acompanhados por dois mateiros e um assistente – o serviço do assistente era pescar e preparar a comida. Eu ajudava preparando as amostras de plantas, que colocava num jornal dobrado. De 8 a 10 amostras por planta, que, de volta à Reserva, foram colocadas numa prensa e em seguida numa estufa pra secar. Todas as espécies foram fotografadas e descritas e os pontos onde foram recolhidas marcados num GPS. Essas amostras são enviadas para herbários no mundo inteiro para serem identificadas. Os botânicos foram embora levando 400 amostras, nenhuma repetida. E só pegaram plantas com flores e frutos, então os mateiros foram treinados pra continuar coletando, descrevendo, fotografando, secando e armazenando as plantas que florescerão em outras épocas. Um projeto muito bonito.

Movimento

Turistas vão e vem, nestes dias apareceram uma australiana, um indiano, um chileno, uma russa e dois italianos. Brasileiros? Nenhum!

Ontem apareceu uma barca enorme, a Caravana da saúde, do governo estadual, com cardiologista, oculista, dentista, ginecologista. Consultas, remédios e muitas extrações de dentes. Todos muito contentes com os remédios da cidade, enquanto aqui tem muita planta medicinal, mas esse conhecimento está se perdendo.

Enquanto escrevo muitos insetinhos vem passear na tela do computador. Ouço barulhinhos supeitos na palha do teto, Morcegos? Ratos? Melhor não saber! Gasto litros de repelente, nem preciso de hidratante, mas basta uma mínima distração e lá vem o tal do pium, borrachudo danado que faz a pele empolar.

Mas continuo vivendo esses dias como uma oportunidade única, um verdadeiro presente”.

As fotos estão imperdíveis.

_Claudia_

 
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