domingo, 28 de fevereiro de 2010

Contos Brasileiros - Uma festa no céu


Talvez fosse preciso aprofundar um pouco mais nesses conceitos literários...os contos, as lendas, as fábulas e os mitos e isso é impossível para alguém que, como eu, está com o escritório encaixotado. Mas o post da Clau me fez lembrar na mesma hora do conto etiológico (que explica a origem de um nome, característica animal ou lugar) que carrega muito da cultura brasileira.


Festa no céu é uma história de uma festa reservada aos que voam e da solução que o sapo, bicho com jogo de cintura suficiente para circular na terra e em meio aquático, arranja para aparecer por lá. Mais brasileiro impossível. O sapo não podia ser outro que não o Cururu, aquele da beira do rio, que canta quando tem frio.


Festa no céu pode ser facilmente relembrada na coleção Disquinho, na coleção Clássicos Infantis da Editora Moderna (que ilustra este post) e na memória dos mais velhos que generosamente ainda se dispõem a contar histórias assim de pronto.
Quem lembra de mais uma?
_Cibele_ tentando fazer 2010 começar pra valer




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lendas e mais lendas

images Como todo povo, o Brasil produziu muita coisa tentando dar sentido a uma vida sem sentido (tem até aquela frase linda da Alda Merini que diz que “a vida não tem sentido mas é a vida que nos dá um sentido”). E é isso a cultura popular, esse emaranhado de personagens, objetos, invenções, palavras, canções, histórias e principalmente lendas, que se juntam pra dar sentido.

As lendas de um povo revelam muito da alma desse povo. As lendas da Cultura Popular Brasileira são um retratinho 3X4 da alma de cada pessoa que nasceu, vive ou viveu no Brasil – por dentro. Porque tocam nos nossos medos, nos nossos sentimentos mais ancestrais, nas nossas espectativas, no nosso jeito de ser mais genuíno.

Às vezes, escuto falar delas de um modo depreciativo ou meio desvalorizado, como se o que vem do povo fosse um conhecimento menor. A própria palavra “folclore” é geralmente usada em modo meio depreciativo, nunca fui muito com a carinha dela, embora o significato real seja bem bonito e próximo do que a gente entende por Cultura Popular. E essa coisa de limitar o folclore a uma data comemorativa (em agosto, acho) me incomoda ainda mais. A Cultura Popular não pode fazer parte da nossa vida o ano inteiro?

Eu defendo a idéia de que as crianças brasileiras precisam crescer cercadas pelas nossas lendas. Que sejam as lendas indígenas (lindas-de-morrer), as lendas do campo, as lendas urbanas. Que sejam originais ou revisitadas. Meninos que conhecem e fazem uso das lendas de seu povo sabem entender mais quem são de verdade.

(Tudo bem que conhecer também as lendas gregas, as latino-americanas, africanas, européias, asiáticas, as novas-lendas-americanas (veiculadas pelo cinema e pelos quadrinhos), só pra dar exemplo porque lenda tem no mundo inteiro, não seja nada mal. Mas as nossas é que são a nossa cara, as nossas é que têm de ser a referência dos pequenos).

_Claudia_

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Bonecões e mamulengos

2762_bonecos_gigantes_olinda

Li que o (belíssimo) Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, vai promover um desfile de bonecões em volta da Estação da Luz e da Pinacoteca do Estado, ao ritmo de marchinhas de carnaval. Já não era sem tempo.

Já era hora das instituições culturais brasileiras apoiarem as manifestações mais jenuínas da nossa cultura, no meio da avalanche de “produtos de exportação” que enchem os olhos do brasileiro e principalmente do resto do mundo nesse período. Deslocar um pouco o foco não é nada mal. Principalmente pras crianças. Vou ficar esperando pra ver se as TVs italianas noticiam (também) esse evento =)

Enquanto isso, na terra do “Homem da Meia-Noite”, Olinda, o Museu do Mamulengo se prepara pra série de espetáculos carnavalescos com seus imperdíveis e célebres personagens: Tiridá, Mateus e Catirina, o boi de janeiro… Queria estar lá pra ver.

Fica aí uma idéia pras escolas: bonecões, mamulengos, burrinhas da Bahia, cirandas, marchinhas, samba de roda, frevo, maracatu… é tanta coisa pra festejar o carnaval que a mulata globeleza vai ficar chupando dedo.

_Claudia_

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um post um pouco ufanista…

Fico acompanhando a situação social européia, principalmente com relação à imigração (um dos principais “problemas sociais” identificados pelas autoridades locais) e é impossível não pensar em como o Brasil é “abençoado por Deus e bonito por natureza”. A gente já é multietnico há um tempão. Esse conceito de “outro”, de “diverso” que a Europa tem apontado, praticamente não existe no Brasil. Porque no Brasil aconteceu a mistura.

Já aqui as coisas ainda estão no ponto de medidas como a última do Ministério da Instrução, que limita a 30% o teto de alunos estrangeiros nas escolas. Isso, argumentam, pra favorecer a integração e evitar que as escolas também se transformem em ghetos, como certos bairros de Milão, por exemplo. De decisões da Justiça de não aplicar as leis de clandestinidade aos menores e de oferecer permissão temporária a clandestinos que tenham filhos menores. Por estrangeiras entende-se crianças filhas de “extra-comunitários”, mesmo se nascidas e crescidas na Italia. Crianças que na maior parte crescem se sentindo fora de casa. Cada grupo ainda é muito “puro”, particular, facilmente identificável. Quase ninguém se mistura.

Jorge Amado dizia que a mistura é o antídoto contra o racismo.

portinariImagem: Candido Portinari, Retorno do trabalho, 1940 .

O árabe no Brasil é o pai do meu amigo. O africano é o meu bisavô (já ele misturado e re-misturado). O chinês é o dono da lavanderia, casado com uma nordestina e pai de três menininhas de olhos puxadinhos e cabelos encaracolados. O japonês é o nissei paulista que namora a minha amiga. O europeu é minha avó, os antepassados da minha amiga de Curitiba, os parentes do meu filho, que tem olhos azuis e nariz largo. O que pode ter de “perigoso” nisso?

Existe racismo no Brasil? Claro que existe. Porque gente ignorante tem em todo lugar. Mas não podia existir. Porque o Brasil é a prova de que é possível misturar tanto ao ponto de nem existir mais raças. De ter a raça única da humanidade. Cada brasileiro é a fusão de um monte de raças, e até quem tem uma aparência de uma ou de outra, olhando bem, não é nada disso. Nós não somos isto OU aquilo. Somos isto E aquilo.

_Claudia_

PS.: No último relatório sobre imigração na Italia, o povo brasileiro obteve o maior índice de inserimento entre todas as nacionalidades imigradas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Poesia sobre a infância

Ana Paula, leitora sabida, apontou tempos atrás que o Quintarola estava em falta com a poesia. Justo com a poesia, a forma mais infantil de ver o mundo. Falta gravíssima, vou tentar amenizar, postando vez por outra uma poesia sobre ou para a infância.

Hoje, de volta a Belo Horizonte e em homenagem à cidade que deixei pra trás, trago duas poesias de Adélia Prado, a divinopolitana mais ilustre.

Me despeço aqui, que poesia tem dessas coisas. Pede silêncio de sobremesa.

_Cibele_

A MENINA DO OLFATO DELICADO
Quero comer não, mãe
(no canto do fogão o caldeirão esmaltado)
quero comer não, mãe
(arroz com feijão, macarrão grosso)
comer não, mãe
(sem massa de tomate)
quero comer não, mãe
(com gosto de serragem)
quero comer não, mãe
(com cheiro de carbureto)
quero comer não
(vi um gato no caminho, fervendo de bicho)
quero comer não, mãe
(quando inaugurar a luz elétrica e o pai consumir com o gasômetro, eu como).
Vamos ficar no escuro, mãe. Põe lamparina,
põe gasômetro não, o azul dele tem cheiro,
o cheiro entra na pele, na comida, no pensamento,
toma a forma das coisas. Quando a senhora tem
raiva sem xingar é igual a ruindade do gasômetro,
a azuleza dele. Vomito, mãe. Vou comer agora não.
Vou esperar a luz elétrica.
CARTONAGEM
A prima hábil, com tesoura e papel, pariu a mágica:
emendadas, brincando de roda, 'as neguinhas da Guiné'.
Minha alma, do sortilégio do brinquedo, garimpou:
eu podia viver sem nenhum susto.
A vida se confirmava em seu mistério.
REBRINCO
As minhas primas vinham ensaboar as de missa.
Enchiam a bacia de espuma, Tialzi cuspia dentro,
ai que nojo. Mesmo assim, tão bonito!
As calcinhas de Tialzi amarelavam no fundo,
dois, três dias na grama, marronzavam.
Eu andava em círculos, escutava conversa,
interrogava com apertada atenção.
Quando de tão calada me notavam, eram as pragas.
Tão boas, tão como devem ser que eu desinterssava,
ia chamar Letícia pra brincar.
Medo que eu tinha era não ter mistério.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

 
BlogBlogs.Com.Br