Em italiano, “brincar de casinha” se chama “gioco di ruolo”, isto é, brincadeira de papéis sociais. Nome super apropriado, acho. Porque é exatamente isso que fazem as crianças quando brincam de casinha, experimentam as diversas funções sociais com as quais identificam os adultos. Bem revelador de como vêem o mundo.
E levam super a sério essa função. Mesmo se sabem muito bem que aquilo tudo existe “num outro tempo”:
_ Então eu ERA a mãe.
_ Eu ERA o médico e você TINHA IDO fazer a consulta.
Que é o tempo da imaginação. Tempo em que, embora a forma verbal usada no discurso seja o passado, as ações acontecem no presente e esbarram no futuro.
Tudo tem de ser muito coerente, é uma ficção absolutamente real.
Lembro quando cheguei aqui e não dominava a língua. Brincando de casinha com a filha de um amigo, então com 5 anos, ela era a médica e eu a paciente. Me deu inúmeras injeções (ela tinha acabado de fazer um tratamento em que tomava injeções todos os dias, durante quase um mês). Até que sugeri inverter os papéis. Ela foi cortante:
_ Mas você não pode ser a médica, você não sabe nem falar direito!
E não é que estejam “representando”. Estão ATUANDO. Têm “fé cênica” (Stanislavskij). As ações são tão verdadeiras quanto os sentimentos. A análise é super acurada, bem definida, profunda.
Parecido com os gatinhos que se exercitam na caça; crianças vão a fundo quando se exercitam nos papéis sociais.
(Sou fã de brinquedos de casinha. E de casinhas de madeira no quintal. Casas na árvore. Cenários diversos, tudo que serve de palco pra brincadeira de papéis sociais).
_Claudia_