Nuns encontros de leitura que tenho feito, estou utilizando uma técnica que aprendi na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Primeiro, leio o texto sem mostrar as ilustrações, combinando com as crianças que podem imaginar as cenas, os personagens, os acontecimentos.
Nessa hora, a força é toda jogada na voz. Tento não dramatizar, não sugerir demais, não chamar a atenção pra mim, pra deixar à imaginação de cada um o melhor da festa.A voz escorre baixo e devagar, com as pausas e as tensões justas ao que estou dizendo. Se consigo fazer bem essa tarefa, a leitura fica parecida com uma canção de ninar: enleva.
Depois de ler, a gente conversa e eles me contam como imaginaram, como “enxergaram” a história. E só depois mostro as ilustrações, isto é, como o ilustrador a enxergou. É um momento muito gostoso esse, de confrontar como pessoas diferentes imaginam diferente, de avaliar estereótipos, de levantar outras possibilidades. Além disso, estimula a vontade de levar o livro pra casa e fuçar nas ilustrações (o que é bem bacana, porque as imagens escondem mensagens secretas que só uma leitura mais acurada revela).
Pensei que as crianças iam se opor a essa ideia. Estão tão acostumadas a ouvir histórias coladas às imagens (tem muita gente boa que diz que criança lê imagens, não palavras). À velocidade do vídeo. Às cenas teatrais, aos recursos cênicos mais variados acompanhando as palavras. Eu sempre observo que as crianças modernas têm certa dificuldade pra escutar, a gente tem de repetir a mesma coisa várias vezes pra elas…
Mas não! Elas não só topam na hora como adoram a experiência. Algumas fechavam os olhos, outras até os apertavam pra imaginar melhor. E todas se deixaram levar pelo texto. Escutaram de verdade, super ligadas, sem nenhuma interrupção, colhendo cada palavra que eu ia dizendo como se fosse um fruto raro.
Uma professora me contou que, no dia seguinte, foi ler um livro em classe e uma menina perguntou:
_ Mas nós vamos poder imaginar?
Concluí: num mundo tão “multitasking” quanto o nosso, poder ser “mono” é uma preciosidade.
_Claudia_