quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Então...


--> A origem do Terceiro Mundo, obra de Henrique Oliveira na Bienal de SP
Era justamente isso que vinha me tocando nesses últimos dias. Da dificuldade de falar com (mais do que para) crianças sobre alguns assuntos. Uma cena bem bacana aconteceu quando fui assistir Que História é Essa, peça do Real Fantasia que indiquei aqui. Uma cena bem bacana aconteceu também na platéia. Uma criança pergunta em alto e bom som: Ele morreu, mãe? A mãe tranquilamente responde: O personagem morreu. Assim, com cuidado, mas sem floreamentos.

A Adriana me contou outro dia, por e-mail, que o caminho escolhido pelo Clic para abordar a filosofia com a crianças passa pela localização daquilo que é um nó para os adultos.

Não é que ela tem razão? A morte, o sexo, a arte contemporânea tem em comum o fato de serem assuntos de que a gente pouco sabe, ou com os quais a gente não quer se defrontar.

Acho que abordar esses temas com as crianças passa também pela coragem em assumir o que não se sabe_já que mesmo com o preparo, não é toda hora que podemos contar com a presença de espírito daquela mãe.
Mais do que aprender respostas, as crianças podem aprender a formular boas perguntas...
_Cibele_


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mas isso é Arte?

Muito legal essa matéria da Folhinha em que especialistas respondem a perguntas de crianças sobre Arte Contemporânea, conversando sobre a Bienal de Arte de São Paulo.

_Claudia_

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Desenho e palavra

Até algum tempo atrás, achava-se que, no desenvolvimento infantil, a conquista da linguagem escrita partisse do desenho. Era uma confusão que se fazia com a história da língua escrita, na qual obviamente os caracteres (signos) surgiram a partir de símbolos (desenhos).

Depois de muitos estudos psicogenéticos (entre eles e principalmente os de Ferreiro&Teberosky), já se sabe que não é assim que acontece. O processo de construção da lingua escrita é independente da evolução do desenho, segue percursos e tem características próprias. Ou seja, mesmo que palavras e desenhos sejam linguagens igualmente importantes para o Sujeito epistêmico, mesmo se coordenadas na representação, são intraduzíveis uma na outra, uma não determina a outra.

De fato, a linguagem escrita alfabética (ortográfica) é um sistema tão arbitrário quanto “descolado”, uma cadeia complexa de significantes muito mais que de significados, que busca novas formas de representação do pensamento. Cada criança que nasce já a encontra assim, não precisa reconstruí-la desde o início referindo-se ao símbolo original (o que seria uma grande burrice).

A palavra GATO, por exemplo, é uma estrutura muito mais complexa que a imagem desenhada do animal a que se refere. Contém sons, memórias, sequências, hierarquias, regras que não estão estabelecidas na relação direta com a imagem, como na escrita primitiva. A palavra, o conjunto de caracteres que a gera, é arbitrário, não se refere ao significado nem a sua representação imagética.

gato

Se a gente observa uma criança que desenha e outra que escreve (ou a mesma enquanto realiza as duas operações) compreende perfeitamente a diferença fundamental dos dois processos em termos de processo cognitivo. A criança aprende a escrever ESCREVENDO e não necessariamente lança mão de imagens ou espera a evolução representativa do desenho. As relações não são dadas. Se fossem, pensar seria fácil demais.

Uma Educação baseada em algo mais que relações diretas é imprescindível. Até pra evitar certas deformações teóricas absurdas.

_Claudia_

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Clau bombando

Olha que bacana o vídeo da Claudia Souza, aqui carinhosamente chamada de Clau, produzido pela Callis:




Linda e ruiva, não?

_Cibele_

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mais peripécias da Família Anseridae

Junto com o cd da Banda Mirim, do qual falei aqui, comprei esse, com poemas traduzidos por Haroldo de Campos e musicados por seu filho Cid Campos. A maior de todas as surpresas foi essa, A Pata e o Canguru, letra do poeta do non sense inglês, Edward Lear. O nome do cd é Criança Crionça e está a venda no site do SESC.

Não para de tocar no meu radinho...eu, mais que o Canguru, me apaixonei por essa fêmea Anseridae!

_Cibele_

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dica Imperdível para o fim de semana


Único grupo de teatro de Belo Horizonte que se dedica integralmente ao teatro infantil, o Real Fantasia estréia esse fim de semana um espetáculo que parece ser bem bacana. Adaptado do livro "O Pato, a Morte e a Tulipa" de Wolf Erlbruch (prêmio Andersen pelo conjunto da obra), o espetáculo trata de mais um daqueles assuntos que pareciam ser impróprios para criaças.

Eu vou!

Ah, o grupo fará uma apresentação única para escolas, dia 30! Deixo pistas dessa apresentação na caixa de comentário aí embaixo.

_Cibele_



domingo, 19 de setembro de 2010

Menos vale mais

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A maletinha do Mágico. Ali, bem apertadinho, está tudo que ele precisa pra fazer a gente sonhar, sonhando junto. Pouca coisa, poucos objetos, mas todos muito especiais. Escolhidos especialmente pro que o Mágico deseja. Capazes de se multiplicar. De se tornarem milhões. Reunidos de propósito. Organizados.

Acontece assim com as palavras, segundo o Jonas Ribeiro (vou falar mais dele depois). As histórias curtas escondem maletas de Mágico. As histórias curtas, pra crianças, pedem a verdade, o essencial, e descartam todo o resto. Muitas vezes mais difíceis de escrever que um romance.

Acontece assim com os brinquedos. Dizia minha amiga Silvia Ghetti, atriz que manipula os personagens dos meus livros, mãe de gêmeas de sete meses, que os brinquedos preferidos das filhas são pedaços de papel, retalhos, badulaques. Poucos. Essenciais. Os materiais nas mãos dos bebês são verdadeiras maletas de mágico.

No quintal, um pedacinho de pau jogado a esmo, pedrinhas, folhas podem significar um mundo.

Em plena hegemonia do Mercado, do consumismo, do over, do demais… a maletinha do Mágico dá o que pensar.

_Claudia_

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Diário da Amazônia – Parte 4

Um outro trecho da experiência da Regina Marques na Amazônia. Desta vez contando sobre um bonito projeto sobre a diversidade botânica da região e sobre o movimento das gentes por ali.

Botânica Comunitária

Uma experiência nova e interessantíssima, acampando com os botânicos do Kew Gardens de Londres e do Istituto INPA, três dias numa área totalmente desabitada e pura, em busca de amostras para criar um herbario. Lá fomos subindo o rio Xiparinã na canoa com motor, chamada rabeta, passando por dezenas de igapós e laguinhos e parando para pegar plantas. A maioria delas fica lá na copa das árvores, onde os mateiros e um dos botânicos sobem como macacos e cortam pequenos ramos com folhas, flores e frutos. William, botânico inglês, adora subir nas árvores, acaba a viagem todo arranhado mas feliz. Conta que uma vez, ao cortar uma amostra, o ramo caiu em cima de uma casa de marimbondos. Ele viu o enxame inteiro subir até ele e pensou que iria morrer ali mesmo, uma morte atroz. Ele mesmo não sabe como, mas conseguiu ficar perfeitamente imóvel enquanto os marimbondos passeavam por todo o seu corpo, olhos, boca, nariz, orelhas, por longos cinco minutos, até que foram indo embora devagar.

O Rio Xiparinã é tão limpo que quando tínhamos sede bastava esticar a mão com um copo pra fora da canoa e beber… já viram luxo maior? Dormíamos na rede, amarrada entre as árvores, devo dizer que não dormi sonos tranquilos, mas me disseram que na floresta é melhor ficar sempre alerta. Fomos acompanhados por dois mateiros e um assistente – o serviço do assistente era pescar e preparar a comida. Eu ajudava preparando as amostras de plantas, que colocava num jornal dobrado. De 8 a 10 amostras por planta, que, de volta à Reserva, foram colocadas numa prensa e em seguida numa estufa pra secar. Todas as espécies foram fotografadas e descritas e os pontos onde foram recolhidas marcados num GPS. Essas amostras são enviadas para herbários no mundo inteiro para serem identificadas. Os botânicos foram embora levando 400 amostras, nenhuma repetida. E só pegaram plantas com flores e frutos, então os mateiros foram treinados pra continuar coletando, descrevendo, fotografando, secando e armazenando as plantas que florescerão em outras épocas. Um projeto muito bonito.

Movimento

Turistas vão e vem, nestes dias apareceram uma australiana, um indiano, um chileno, uma russa e dois italianos. Brasileiros? Nenhum!

Ontem apareceu uma barca enorme, a Caravana da saúde, do governo estadual, com cardiologista, oculista, dentista, ginecologista. Consultas, remédios e muitas extrações de dentes. Todos muito contentes com os remédios da cidade, enquanto aqui tem muita planta medicinal, mas esse conhecimento está se perdendo.

Enquanto escrevo muitos insetinhos vem passear na tela do computador. Ouço barulhinhos supeitos na palha do teto, Morcegos? Ratos? Melhor não saber! Gasto litros de repelente, nem preciso de hidratante, mas basta uma mínima distração e lá vem o tal do pium, borrachudo danado que faz a pele empolar.

Mas continuo vivendo esses dias como uma oportunidade única, um verdadeiro presente”.

As fotos estão imperdíveis.

_Claudia_

Onde está a Clau?


Mandei um e-mail pra ela agora a pouco perguntando o motivo do chá de sumiço. Ela ainda não me respondeu. Ao mesmo tempo pensei em postar uma espécie de procura-se por aqui, mas quase simultaneamente me lembrei que há séculos atrás ela tinha me mandado esse flyer aí em cima, contando que será um dos brasileiros na Semana Brasileira em Milão. Fina a moça, não?

Tudo bem que ela nem mandou um tchauzinho antes de ir, mas se na volta a gente ganhar notinhas de viagem com fotos, estará perdoada...
_Cibele_


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Raciocínio Hipotético e o banho nosso de cada dia

A filosofia para crianças considera o raciocínio hipotético um dos percursos necessários para se chegar a um filosofar. Descartes, que abusou do raciocínio hipotético, considerava uma das provas ontológicas da existência de Deus, a própria idéia de Deus. Se penso em Deus, ele existe. Não só aqui, mas desde sempre, no entanto, me parece que os adultos penam mais que os pequenos nessa habilidade.

É só ver o entrelaçamento entre o hipotético e o faz de conta, ou entre o hipotético e os contos de fadas. Era uma vez, num lugar muito distante, onde ninguém nunca pisou...Faz de conta que eu sou a heroína. Faz de conta que você é um bode...e por aí vai...

Outro dia ouvi uma pérola do raciocínio hipotético:

_Mãe, se não existisse poeira, ninguém precisava tomar banho, né?

_Não concordo, filha, ainda restariam as bactérias, os vírus, os fungos...

_E se chovesse sem parar?

_Também não acredito. Pelo mesmo motivo.

_Suspira decepcionada...Tá, e se a gente não tivesse olfato?

Essa era a Ciça, defensora do lema do Menino Maluquinho "banho extra nem pensar!" pensando no melhor dos mundos.

_Cibele_

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dramaturgia do teatro infantil e brindes quintarola


Acontece essa semana o 2o. Encontro de Teatro Infantil, promovido pelo teatro Alfa em SP. Queria muito ir ver o dramaturgo e diretor do Banda Mirim, Marcelo Romagnoli, falando sobre dramaturgia infantil.
Praqueles que também não podem comparecer, um prêmio de consolação do Quintarola:
Aqui, uma entrevista com o moço.
Ali, a Banda Mirim no Myspace.
E se depois você já estiver encantado, assim como eu, o link para a venda do cd do espetáculo Espoleta.
Sim, sim, podem me agradecer...
: )
_Cibele_

domingo, 12 de setembro de 2010

De perto

Dentre todas as modalidades possíveis de teatro de bonecos, a minha preferida é a manipulação direta. Acho simplesmente divino a expressão e a plástica que o boneco adquire sendo manipulado assim tão de perto, e melhor, coletivamente. É quase um balé, palavra de quem já esteve vestida de preto, no escuro completo, junto com um monte de gente, dando a alma inteira pra um pedaço de espuma ou madeira virar gente.

Em Belo Horizonte, existem várias companhias que se exercitam nessa técnica. A Zero, da Wilma Rodrigues, é a mais conhecida (lembram do belíssimo espetáculo “A Bolsa Amarela”, a partir do livro da Ligia Bojunga, e do mais recente “Sevé”?). Mas tem outras que usam a manipulação direta unida a outras técnicas, como a Matraca, a Aldeia, a Catibrum

Esse vídeo da Companhia Truks, de São Paulo, é bem representativo da técnica.

Aqui em Milão tem o Teatro Del Buratto, meus vizinhos (eles ocupam o primeiro andar do prédio onde o terceiro é o Museu do Brinquedo, onde trabalho – o segundo andar é a Biblioteca Infantojuvenil). Muito bacana também. Estão sempre criando jeitos novos de se expressar através dos objetos, e têm, como eu, um carinho especial pela manipulação direta. Se não me engano, eles vão ao Brasil no início do ano que vem. Prestem atenção aí, porque vale a pena.

_Claudia_

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

sexta-feira é dia de link: Astrologia Infantil

Acho que esse foi presente da Sil. Refresco para uma sexta-feira ensolarada.

Bom finde,

_Cibele_

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bem lembrado!

A Fefê (que aliás agora é mestra Fefê) lembrou outro dia da Adriana Braga, doutora em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e autora do livro Personas Materno-Eletrônicas: uma análise do blog Mothern (Editora Sulina, 2008).

Aqui, uma entrevista em que ela fala, entre outras coisas, das novas tecnologias, das novas gerações, de monitoramento dos pais e da aqui já mais que defendida mediação dos adultos.

_Cibele_

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Pequeno Cidadão, o CD

Essa conversa começou nos comentários e aí vai o post prometido. A Ci já tinha até citado uma música desse CD aqui.

Tava na casa de uns amigos e achei muito fofo a filha deles, de 5 anos, derretendo-de-sono-mas-sem-querer-ir-dormir (como acontece quase sempre com as crianças quando tem visita em casa) pedir pra botar esse CD pra embalar a hipnose (os pedidos nessa hora são em 90% dos casos os preferidos). Aí o pai dela, artista gráfico, me contou que tinha feito as ilustrações do CD.

pequeno-cidadao

Ouvi umas coisinhas lá mesmo, ia comprar um pra mim mas o cabeção impediu (ando com sérios problemas de memória). Tem nada não, de volta pra casa já ouvi um monte de músicas no youtube e continuei gostando. Quando voltar ao Brasil, pego logo o meu.

Pequeno Cidadão foi um encontro feliz de uma turma de amigos que tinham filhos na mesma escola, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra (ex-Ira!), Taciana Barros (ex-Gang 90) e Antonio Pinto, compositor de trilhas sonoras de diversos filmes brasileiros, entre eles Central do Brasil. Botaram a filharada pra cantar junto e deu no que deu. Dessas experiências gostosas e muito leves que resultam numa coisa mais gostosa ainda.

Aqui o Myspace do grupo, que já anda organizando shows por todo o Brasil. As belíssimas ilustrações são, como eu disse, do pai da Rachel - e da Dora - Jimmy Leroy, velho combatente mineiro das artes visuais exilado na paulicéia desvairada (com muito gosto, diga-se de passagem), marido da arte-educadora Penha Brant, ex-Escola da Vila, que anda escrevendo material de apoio ao professor pela Itaú Cultural. Fiquem de olho!

E nesse link aqui dá pra baixar as músicas.

_Claudia_

domingo, 5 de setembro de 2010

Diário da Amazônia – parte 3

E mais esse trecho da experiência da Regina na floresta Amazônica. Quintarola é mergulho na Natureza =)

6. GENTE DAQUI, VIDAS EXTREMAS

Em duas semanas de Xixuaú aos poucos vou entrando na vida das pessoas daqui. Solidariedade e camaradagem, companheirismo e leveza, mas também jogos de poder, fofocas e lutas internas entre os membros da comunidade em relação às decisões pequenas e grandes, votadas em reuniões. Na história desse grupo que não chega a 100 habitantes, dramas extremos e relações contorcidas. Ouço falar de filhos anormais, frutos de incesto. Da mãe que deu seu filho para outra mulher criar porque seu homem não queria ficar com o bebê. Da família que se apropriou de um sobrinho para salvá-lo da violência doméstica. Do jovem que jogou ácido em toda a roupa da namorada por vingança, ainda bem que não jogou ácido na própria. Da morte de uma menina de 9 anos por veneno de escorpião porque a única pessoa capaz de aplicar uma injeção de cortisona não teve coragem de fazê-lo. Do rapazinho que, financiado pela comunidade, fez um curso de informática em Manaus e voltando pro Xixuaú só fazia beber e brigar, sendo logo expulso. De outros dramas com final feliz, como o do menino que sem querer deu-se um tiro de espingarda na cabeça e foi operado por um dos líderes da comunidade, que seguia passo a passo as indicações de um cirurgião toscano, via skype. De um homem, oito filhos, violento e alcolizado, que depois de muito aprontar finalmente largou a cachaça e hoje é um dos líderes da comunidade.

7. NOMES

Os nomes do povo daqui são de indiscutível (ou discutivel) criatividade: Fadison, Everton, Igleson, Helon, Messias, Raynick, Francilane, Aldenisa, Zuíla, Deyseane, Kellen, Kerly, Kerlin, Renan, Renildo. Os apelidos não deixam por menos: Pimpim, Tabaco, Pelado, Taco, Cachorro, Cabeção e assim por diante.

8. GENTE DO MUNDO, GENTE DE PASSAGEM

Grande expectativa pela chegada de 8 pessoas de uma vez só, 5 turistas italianos e três pesquisadores, dois ingleses e uma brasileira. E um americano que foi roubado no barco e que chegará dois dias depois. Muitas histórias, cada qual a sua, os italianos todos jovens super motivados e deslumbrados, os cientistas experientes em Amazônia e apaixonados por seu trabalho. Saio de manhã na canoa com um dos italianos, o passeio é um presente da natureza: além dos inúmeros pássaros (tucanos, araras, corocas, corô-corôs e outros) deparamos com dois bandos de macacos minúsculos e uma família de ariranhas curiosas que circundam a canoa e nos sorriem. É o dia em que meu pai faria aniversário, me emociono muito e agradeço pelo presente.

9. AVATAR

O passeio de canoa é como um mergulho no mundo de Avatar, o filme. Percebemos a força da natureza, da criação, do ciclo da vida, se vislumbra que fazemos parte daquilo tudo. Tem uma libélula branca miudinha parecida com as flores voadoras do filme, flutuam graciosas e delicadas, uma maravilha em que me perco a cada vez.

Sair de noite na canoa é como cair no vazio do silêncio, uma paz antiga, um sono ancestral mas vivo. Comunhão e presença.

10. MAIS BICHOS

O meu despertador às seis da manhã é o canto alto e lúgubre dos macacos guariba, um verdadeiro filme de terror. Na primeira vez que ouvi pensei que fosse o Barry roncando no quarto ao lado do meu, e ele pensou que fosse eu!

No outro email esqueci de contar de dois sons de bichos:

a coroca: estava no lago de canoa quando ouvi o canto da coroca, pássaro preto que tem as asas de um azul escuro e profundo, muito bonito: o canto dela é igual a um pum barulhento! Será que é daí que vem a expressão velha coroca, velha peidona?

Volto a falar de borboletas. A variedade é incrível, seu design e cores deixam qualquer Versace ou Dolce e Gabbana no chinelo. Impossíveis de fotografar.

11. DESPEJO

Por conta da chegada dos gringos tive que me mudar pra casa da Laura e da Maddalena. A última casa da aldeia, quase dentro da floresta. Muitos os sons novos, cantos de pássaros que ainda não tinha ouvido. Na casa tem um casal de gatos que adoram ficar na minha cama, carentes como quê. E as crianças, que se acostumaram a vir desenhar, convidadas pela Laura, se encantaram com a minha boneca com caixinha de música. Tive que escondê-la para evitar que cometam pecado de furto, visto que aqui as portas não tem tranca.

Regina Marques

Vejam aqui as fotos das gentes e outros bichos de Xixuaú.

_Claudia_

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sexta-feira é dia de link: criança, consumo, publicidade, autonomia, estudos da infância e por aí vai...

Achei muito boa essa entrevisa com a psicóloga Solange Jobim, Conselheira do Projeto Criança Consumo, entre outras coisas. Ela trabalha bem com a questão da autonomia da criança, da criança ativa na produção de sentido (diante da publicidade, no caso), mas ao mesmo tempo, defende a necessidade de mediação do adulto.
Uma coisa que já algum tempo tem me chamado atenção nos discursos sobre a cultura da criança é que muitas vezes eles são pouco críticos, mergulhados na salada russa de autores, correntes e teorias.
Outro dia falei da necessidade de se repensar a criança como devir deleuzeana e a criança presentificada, da sociologia da infância. Aqui fica outro dilema...o adultocentrismo e a criança como centro da família, como entidade santificada. Não necessariamente dicotomias, mas como são ideias aparentemente incompatíveis, precisamos de um esforço reflexivo pra costurar tudo isso e superar essa condição dos estudos da infância_ um pouco superficial, um pouco acrítica e muito ideológica. Achei que a Solange Jobim foi super certeira nas suas conciliações, assim como nos seus divórcios conceituais.
É preciso que cada um faça as suas apostas. Eu ainda não consigo fazê-las com muitas certezas, mas tenho me esforçado.
Um abraço e bom fim de semana,

Cibele

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O planeta dos pequenos gestos

Falei desse lugar aqui e desde esse dia venho colecionando algumas cenas...

Comecei pela mão da minha mãe cuidadosamente leve e calorosa nos meus ouvidos para me fazer dormir num silêncio oco.

E pela mãe do Max digitando a estória que ele inventava debaixo da mesa de vidro por onde trocavam olhares emoldurados pelos pés da mãe em meia fina cor da pele. (talvez as mães sejam rainhas nesse planeta)

E o dia em que me despedindo de uma turma de teatro, as crianças me pediram que eu contasse pela última vez a estória da Libélula Chispa Foguinho, quando entra pela janela uma libélula para o alvoroço da meninada. (tenho dúvidas sobre o tamanho desses gestos)

E quando a minha filha, mudando outra vez de cidade, foi se despedir da professora de artes... deixou cair seu material pelo caminho e quando alertada, respondeu que era para não esquecer o caminho de volta. (para ver pequenos gestos é preciso ter um coração bem grande)

E o silêncio que a minha menina fez ainda na sala de parto, no colo do pai, logo depois do choro de fôlego de vida.

E o jeito que as avós recebem em casa as crianças com a mesa cheia de guloseimas para preferências diversas cozidas em fogo brando.

E o dia em que me vendo mais calada, uma criança que vivia quieta de fome e de medo me disse: tia, hoje é você quem precisa do meu abraço.

E quando Wood e seus amigos dão as mãos enquanto escorregam irremediavelmente para o fogo.

E quando o amor da gente enfrenta milhas e milhas aéreas pra te ver de surpresa porque te ouviu saudosa pelo telefone.

E o sorriso do bebê que amamenta com os olhos fixos.

E quando sem saber bem o que dizer a gente coloca as mãos nas costas de alguém.

E quando alguém te vendo chateada, percorre rapidamente a órbita permitida aos olhos, a procura de qualquer coisa para te presentear...uma bala, uma flor, um papel que vira origami.

E quando uma criança quer percorrer de novo o circuito da natação para ganhar uma medalha pelo amigo que se ausentou, porque estava doente.

Pensando bem, as crianças é que são rainhas desse planeta!

_Cibele_

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que bonito, Clau! Hoje ainda, em outra discussão pensando sobre o público e o privado, lembrei das nossas discussões aqui sobre o quintal e a rua. Parece que a diferença vai aí mesmo, na forma e na intensidade da apropriação.

Eu, que depois de morar mais de vinte anos numa casa só, com meus pais, saí por aí meio nômade, acabei mudando um pouco a forma de ver esse espaço.

Quando meu marido me liga, a música que toca é essa aqui, ó:




Beijos,
Cibele
com criança doente, com pilhas e pilhas de livros e desfalcada de marido

Voltar pra casa

Cidade Paula

Imagem: Paula Juchem

Minha casa tava precisando de mim. E agora que cheguei, depois de abandoná-la por dois meses e alguma coisa, está agradecendo os mimos e os cuidados. O chão está brilhando, as janelas se movem com cuidado junto com a brisa de setembro e a cozinha está muito cheirosa com os meus quitutes. As paredes gostaram de receber os novos enfeites. E o ambiente se encheu de novas e vivas fotografias.

A gente pode girar o mundo inteiro, conhecer as paragens mais lindas, hospedar-se nos lugares mais confortáveis, encontrar os melhores amigos, ter todo o aconchego deste mundo em casas alheias, que quando volta pra casa sente o coração emocionado, pulando de alegria como se retornasse de uma guerra de 100 anos.

A gente tem saudade de si mesma quando está fora.

A casa da gente é quem a gente é de verdade.

E quando ali retornarmos
Verás que nunca nos fomos
Pois o lugar onde estamos
O lugar onde estaremos
É sempre o lugar que somos.

(Ana Miranda, em Geografia Pessoal, poema-presente do compadre Ed Siqueira)

_Claudia_

 
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