quarta-feira, 31 de março de 2010

Mais de Bolonha

Agora que já acabou e que já descansei, consigo rever o monte de coisa que fiz nesses 4 intensos dias da semana passada. Mas queria ter me multiplicado pra ver/fazer mais. Ficou essa sensação de “quero mais” que só vai ser satisfeita no fim de março do ano que vem.

Prestem atenção a algumas atividades que a feira ofereceu (não participei nem de um terço do que tinha, porque sou uma só!):

  • Mostra de ilustração eslovaca ( a Eslováquia era o país hóspede deste ano) - "SlvakUnitedImagiNations";

IMGP3155

  • Lançamento do livro de imagens "Migrando", de Mariana Chiesa Mateos, pela Editora italiana Orecchio Acerbo, uma das mais originais e interessantes daqui. O livro foi lançado também em português e francês;
  • Conferência sobre a ilustração eslovaca: "Ilustração Eslovaca: Presente e Futuro";
  • Mesa redonda: "Literature for Kids in the Newspapers Cultural Sections". Essa foi realmente sensacional e me abriu até uma janelinha pra novos trabalhos;
  • "Master Class com Serge Bloch" com o mote: "An Ideia = A Book, No Ideia = No Book" : eu queria MUITO ter feito essa, mas era muito longa e não deu =(
  • "African Books for Children" : uma apresentação dos editores africanos das novas tendências da literatura africana pra crianças;
  • E finalmente a tão esperada palestra “The Reasons Behind The Choice”, onde o júri expõe as razões da escolha dos vencedores dos prêmios Bologna Awards deste ano.

Além das muitas atividades, trabalhei muito pra Biblioteca do Istituto Brasile-Italia (IBRIT) e no final da Feira a FNLIJ e a Câmara Nacional do Livro doaram os livros pra fazer um upgrade nela (adivinha quem foi a caminhoneira?)

E assinei, muito orgulhosa, dois novos contratos com a Callis, pra dois novos livros que serão lançados talvez até o fim deste ano. Olha a minha carinha de orgulho ao lado do poster gigante do meu livro “A princesa que salvava príncipes”, publicado em português e italiano, no estande do Brasil. Ahh, o livro do Léo (“A planta carnívora de Léo”) veio de roupa nova, ainda mais bonito. Mas deles falo em edição especial na época do lançamento, em maio, em ocasião da Feira do Livro de Turim.

S6300279

Na sessão tietagem, que não pode faltar, este ano tirei fotinha com ninguém menos que ANA MARIA MACHADO.

S6300281

_Claudia_

domingo, 28 de março de 2010

Ética para a infância - parte 1


Semana passada, tomei um susto conversando com uma criança. Ela me disse, do alto dos seus sete anos, que era uma adolescente. E ela tinha a altura da geração danoninho, usava gírias, gostava de se distanciar dos adultos e das crianças menores, assim como gostava de chocá-las com palavrões e escatologias. Falava de dinheiro, dos seus equipamentos eletrônicos de última geração e dos meninos bonitos das séries de tv americanas.


O cenário eram as festas em buffet varando até altas horas mesmo sendo dia de semana. Era o retrato da infância urbano-contemporânea da classe média, ou de pelo menos uma parcela da classe média.


Metade do susto, vem do estranhamento mesmo, mas a outra metade, confidenciei a minhas amigas, vem do fato de que eu sou mãe de uma menina de sete anos e vejo anunciada mais uma transição. Crescendo, a criança vai diversificando as suas referências e tem cada vez mais certeza de que não há somente o certo e o errado de que os pais falaram, mas várias formas de ver o mundo. Parece, portanto, que crescer implica em assumir um certo estranhamento que vem dessa vivência de diversidade e de individualidade.


Oportunamente, indicaram-me o filme A Culpa é do Fidel (imperdível, obrigada Paulo!), que fala justamente de uma menina mais ou menos dessa idade que começa a cruzar os discursos da escola católica, dos pais comunistas e dos avós reacionários em busca da certeza que ela perde junto com a primeira infância.


Aos pais, cabe equacionar duas variáveis: suas próprias convicções e o mundo. Nem em nome da adaptação ao grupo ceder os valores inegociáveis, nem em nome desses valores tirar os filhos do mundo, até porque, que são os valores que não um jeito de estar no mundo?


__Cibele__





sexta-feira, 26 de março de 2010

Quintarola em edição extraordinária direto de Bolonha

Os vencedores dos prêmios* da Feira não deixaram a desejar. Cada um mais interessante e bonito que o outro. Alguns eu fotografei pra mostrar pra vocês. Todos vocês podem ver aqui.

Um livro americano incrível saiu vencedor do “Opera Prima”, esse aqui, ó:

IMGP3124

“THERE WAS AN OLD LADY WHO SWALLOWED A FLY”

CHRONICLE BOOKS – San Francisco, CA, USA, design e ilustrações de Jeremy Holmes

Não parece, mas é um livro. É o conceito de livro-objeto levado ao extremo. Dá pra brincar com ele, é quase um boneco. E o texto é bem interessante.

Outro que ganhou menção honrosa no “Opera Prima” foi um livro árabe, de uma pequena e independente editora de Beirute. Tive a honra de apertar a mão das duas, editora e artista, super simpáticas e disponíveis, mas infelizmente aconteceu a Lei de Murphy e a minha câmera descarregou bem na hora. Não faz mal. Olha o livro aí:

IMGP3123

“TIME FLIES”

DAR ONBOZ – Beirut, Lebanon, texto e ilustrações de Susana Reisman

Em preto e branco, clean, delicado e lírico, um primor.

Na categoria não-ficção, venceu este:

IMGP3126

THE RIVERBANK

THE CREATIVE COMPANY – Mankato, MN, USA

autor: Charles Darwin, illustrações de Fabian Negrin

E este aqui levou a categoria “Ficção”, olhem que lindeza:

IMGP3130

O Brasil marcou presença entre os premiados com o livro Tchibum, do nadador Gustavo Borges, editado pela Cosac Naify, que venceu a menção honrosa na categoria “New Horizons”. Super bonitinho e gostoso de manusear, realmente dentro dos critérios do prêmio. Marcamos ponto também com a indicação do escritor Bartolomeu Campos de Queiroz e do ilustrador Roger Mello para o Hans Christian Andersen.

*Na feira são anunciados os vencedores de 5 grandes prémios: Bologna Awards, Astrid Lindgren Memorial for Literature 2010, Bologna Children's BookFair-SM Foundation International Award for Illustration, Hans Christian Andersen Award 2010 (o Nobel da Literatura Infantil), IBBY-Asahi Reading Promotion Award Winners 2010... e pode ser que tenha outros que não contei.

Depois eu volto com outras notícias, sobre as milhões de atividades que a Feira oferece. Pena que não tenho o dom da bi, tri ou multi-locação!

_Claudia_

terça-feira, 23 de março de 2010

Duas curtinhas: uma vídeoconferência e dicas de (salve, salve) Ronaldo Fraga


A Rede Social SP promoverá uma série de vídeoconferências que começam em março e vão até agosto. A primeira é convidada é Irene Rizzini, professora e pesquisadora da UFRJ, que falará sobre o Contexto Histórico Cultural dos Direitos da Criança e do Adolescente.


Dia 26/03 das 9:30h às 12:30 h.
***
Acolá, o superhiperultramegapower Ronaldo Fraga dá dicas de como comprar roupas infantis. Ele fala, a gente escuta.
_Cibele_


segunda-feira, 22 de março de 2010

Cópias perfeitas?

Antes de partir pra Bolonha amanhã bem cedo, pra próxima Feira Internacional do Livro Infanto-Juvenil que começa amanhã, deixo esse link que me deixou estarrecida. A gente já falou um pouco sobre isso aqui no Quintal, essas bonecas muito reais. O link tá em italiano, mas o que conta são as fotos das bonecas, idênticas aos bebês.

Algumas são beeem inquietantes, bem como a informação de que, além das mães que “querem guardar uma recordação de seu bebê”, essas bonecas-cópias são compradas por “colecionadores” que as levam pra passear em carrinhos de bebê pelas ruas de Londres e “cuidam” delas como se fossem crianças reais… Cada uma custa mais ou menos 800 libras esterlinas.

Nos vemos semana que vem!

_Claudia_ fazendo as malas de dedos cruzados

domingo, 21 de março de 2010

Contos populares 5: Contos de Origem e Contos de Peleja

Só pra fechar essa série:

Os contos de origem são os mais antigos de todos e já aparecem em culturas muito primitivas, explicando como surgiram seres, objetos, eventos ou características. “A Festa no Céu”, que a Cibele citou aqui, é um deles. “As cores das aves” é outro, maravilhoso, bem típico da tradição oral (esse eu escrevi há pouco tempo, a Paula Juchem ilustrou de um jeito bem particular, e agora está no prelo de uma novíssima editora paulista -vou já atiçando a curiosidade de vocês hehe).

O grande manancial de lendas do folclore cristão (contos de milagres, de obras, de natureza etc) traz esses componentes, bem como a maioria das lendas indígenas brasileiras. A lenda da noite, a da mandioca, a lenda das montanhas-irmãs são alguns exemplos… As lendas gregas e africanas também fazem muita referência à origem. Os contos de origem têm um certo aporte místico, e são associados a divindades e/ou entidades, ao “começo do mundo”, a um tempo fictício, embora não sejam contos religiosos.

Já os contos de peleja narram epopéias, batalhas, lutas, armações, dificuldades quase insuperáveis de algum personagem (que acaba se transformando em herói) pra vencer as forças da natureza, vilões, o destino ou o que quer que seja, em nome de um ideal. A literatura de cordel, típica do nordeste brasileiro, usa e abusa desses componentes associando-os a uma linguagem em versos incomparável.

cordel

Enfim, essa classificação é meio didática e na realidade todas as modalidades se entrelaçam no emaranhado de narrativas universais e milenares, transmitidas de pai pra filho através dos tempos, dentro da cultura popular. Não é à-toa que esses contos sobreviveram, mesmo através de períodos em que não se contava nem menos com a palavra escrita. Eles têm um sentido fortíssimo dentro dos arquétipos da Humanidade.

_Claudia_

quinta-feira, 18 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010


Começou hoje, às 18 horas, rolando agora mesmo, vai até dia 18 e pode ser assistido via internet, olha que barato! São três mesas de debate:
1) Honrar a Infância
2) Refletir o consumismo e
3) Brincar.

Bora todo mundo pro quintal do vizinho. O último a sair puxe o portão, faz favor!
_Cibele_

Jogos de mesa e competição


Sempre gostei de jogos de mesa. Os velhos e bons War, Combate, Banco Imobiliário, Imagem e ação e Master nunca faltaram na minha casa, além é claro do xadrez, do dominó, das damas e do baralho. Porque eles são uma combinação interessante entre sorte e habilidade. Quando trabalhei como psicopedagoga clínica também usei muito esses jogos como instrumento de descentração do pensamento das crianças, bem como de ativação das estruturas cognitivas. Mas nunca deixei de levar em consideração o caráter lúdico deles; jogo não pode ser "sério". Embora até sejam úteis, fundamentalmente um jogo serve pra brincar.

Por isso que, dependendo do modo como são usados, prefiro passar longe.

Quando faço visistas em casa de pessoas pouco conhecidas, por exemplo, ou em festinhas de família, fico torcendo pra não ser convidada pra jogar, porque se tem uma coisa que detesto é “jogo sério”. A dinheiro então, deus-mi-livre. Me divirto pouco quando o objetivo (dos outros) é vencer.

Os jogos de mesa me fazem pensar na velha questão do antagonismo VS agonismo, tão presente nas atividades esportivas, nas competições. No antagonismo o outro vira necessariamente um inimigo a ser derrotado. Eu jogo CONTRA alguém. Já no agonismo eu jogo tentando superar a mim mesma, fazer o meu melhor. O outro é um adversário leal que me estimula dentro da competição. Vencer não é o único objetivo: joga-se também pra colocar-se em jogo, pra interagir, pra experimentar as boas sensações de competir, pra brincar. Lembrando que brincar é sério, mas sem a pretensão de ser "sério".

Muita gente se diverte mais com o antagonismo que com a competição em si, e essa é a chave do sucesso de vários esportes. Outros preferem evitar as atividades competitivas e dedicar-se só aos jogos de colaboração (que têm o componente lúdico como objetivo central). Mas dá pra fazer o meio-termo, não dá? Competir pode ser bem bacaninha também. E os jogos de mesa podem ser uma excelente dica pra quem quer competir em tom de brincadeira, ou seja, pra quem quer praticar o agonismo. É só olhá-los com esses olhos.

_Claudia_

sexta-feira, 12 de março de 2010

Glauco, esconde-esconde, unidunitê legendado e hífens

Recebi de uma lista de discussão sobre dicas da língua inglesa, um vídeo com crianças brincando de esconde-esconde (hide and seek) e utilizando uma fórmula de escolha, o Eeny Meeny Myni Moe.
Compartilho o link porque, de alguma forma, ver crianças de outras culturas brincando como as nossas, nos faz lembrar do componente universal da cultura infantil.
E por falar em língua, esconde-esconde permanece com o hífen, não é? Assim como nos compostos de palavras iguais ou parecidas...pega-pega, corre-corre, pingue-pongue, tico-tico, reco-reco, zigue-zague...
Fui conferir,


Ó!

***
Hoje estou de bode por causa da morte do Glauco. Parece que a morte de gente do bem, podecrê e ainda por cima engraçada expõe demais a falta de sentido do mundo, né não? Aqui, a infância vista pelo cartunista. O Geraldinho é o retrato de uma infância pouco autônoma, mas paradoxalmente erotizada precocemente, consumista e sem limites.

***

Cibele_ que ainda engatinhando no novo acordo ortográfico, vez em quando se mete em outras línguas

quinta-feira, 11 de março de 2010

Contos populares 4: Contos de esperteza

Falando de politicamente correto hehe Taí os mais politicamente incorretos do planeta. Mas sabem que eu a-do-ro? Quando eu era pequena minha mãe dizia que eu gostava do “mal-feito” =)

O português Pedro Malasartes era meu ídolo na infância. A historinha dele com a sopa de pedras minha mãe me contava sempre, na mais pura tradição oral, e é excepcional. Mas tem muitas outras, o homem é terrível!

Malasartes

Depois tem o velho e bom Macaco Simão, aquele mesmo da história da Velha, em outros contos mirabolantes em que sempre vence pela esperteza, pra não dizer malandragem mesmo (inclusive num trecho d’O Macaco e a Velha inserido na versão recontada pelo Braguinha, como expliquei pra Cibele posts atrás). Tem também os irmãos-caçula dos contos de fadas. Os animaizinhos “indefesos” de várias fábulas. Nos desenhos animados então, tem milhões: o Pica-pau, o Jerry, o Piu-piu, o Papa-léguas, o Pernalonga… todos inspirados nesses contos antiiiiigos da cultura popular.

O bacaninha é quando o humilde, o mais fraco, a criança, vence o mais forte através de artimanhas. E vence porque se defende, porque o mais forte quer dominar. Tá certo, é um pouco aquela coisa dos fins justificarem os meios, mas as tramas são tão bem articuladas que, como conto, são divertidíssimas. E fazem pensar. Inclusive sobre nosso moralismo.

_Claudia_

terça-feira, 9 de março de 2010

Chovendo no molhado - um post inclusive sobre o Cascão

Ainda meio desconectada do mundo, com parte da minha vida encaixotada e uma lista interminável de pendências relativas à mudança, acabei chegando um pouco atrasada para a discussão sobre a possível prática de bullying nas histórias do Maurício de Sousa.

Tudo começou com esse texto panfletário, capaz de deixar meio envergonhado até os mais politicamente corretos.

Vejo nas histórias uma certa agressão e um comportamento que deve ser discutido com as crianças, mas não vejo propriamente um bullying, que pressupõe desequilíbrio de forças e isolamento. Nem tampouco acho que a presença desse comportamento nos quadrinhos seja propriamente condenável. Ao contrário, não pode ser uma oportunidade de discussão? Menos ainda acredito numa influência das obras em linha reta, porque isso é acreditar num sujeito de aprendizagem passivo.
"Se o pai resolve na porrada, o filho ou a filha vão saber que é assim que deve ser feito. É desse modo que se constrói a personalidade." ãn?
Por último, bullying se escreve assim: b.u.l.l.y.i.n.g e se alguém quiser aportuguesar o termo, o que acharei ótimo, vamos de bulim. Só não vale ficar no meio do caminho.
Há várias repercussões bacanas, mas deixo aqui as minhas preferidas até o momento e me declaro, embora não seja lá tão fã dos quadrinhos da Mônica, integrante da turma do “Deixa disso, Dioclésio”!
_Cibele_

Professores, mérito e otras cositas más…

Achei bacana essa discussão aqui. A gente já tinha conversado sobre esse assunto aqui no Quintal, a Ci e eu com opiniões um pouco diferentes, uma botando argumentos pra outra refletir. Acho que esse link pode botar mais sal na nossa salada. Vê aí, sócia, principalmente o bate-bola entre autor e comentaristas.

_Claudia_

quinta-feira, 4 de março de 2010

Olhem que legal essa programação

Que eu tenho prazer em passar pra frente:

01330213315J

O ano começa com novidades para quem pesquisa, estuda e produz teatro infantojuvenil e se interessa por ele: entre os dias 15 e 21 de março, diversos especialistas se reúnem no Interações em Cena - 4º Encontro do Dia Mundial do Teatro para a Infância e a Juventude em um intercâmbio de ideias e reflexões, com workshops e mesas-redondas.
Haverá debates e oficinas para adultos, mas as  crianças não ficarão de fora: estão convidadas a assistir ao premiado espetáculo cômico O Cano, do Circo Teatro Udi Grudi. A peça explora a relação entre a música e o clown, além de combinar técnicas circenses em meio a um repertório musical que vai do jazz à MPB, produzido com instrumentos alternativos como garrafas e canos de PVC. Um espetáculo para toda a família! Saiba mais aqui.
Durante a semana ainda acontece um sarau, um coquetel com intervenções cênicas e o lançamento do I Catálogo Livre do Teatro Infantil. Tudo isso para comemorar o Dia Mundial do Teatro para a Infância e a Juventude, que acontece em mais de 80 países, no dia 20 de março.
Para informações sobre a programação de debates e oficinas, clique aqui.
segunda 15 a domingo 21 de março de 2010

Instituto Itaú Cultural | Avenida Paulista, 149 - Paraíso - São Paulo SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô)
informações:  11 168 1777 | atendimento@itaucultural.ogr.br
entrada franca

_Claudia_ mais tagarela que a Ci! =P

Contos populares brasileiros 3: Contos de Riso

Taí uma modalidade que a meninada adora! E a adultada também. =)

São histórias boas de contar, de ler, de escutar, de escrever. Através de recursos simples, mas complexos, trazem à tona uma das coisas mais difíceis de se lidar: o ridículo que traz dentro de si todo e qualquer ser humano, seja ele “bobo, bocó, burraldo e paspalhão”, como no maravilhoso livro do mestre Ricardo Azevedo, ou o supra-sumo da inteligência.

As anedotas não envelhecem nunca nesses contos. Podem ser repetidas à exaustão que a gente morre de rir, só pelo modo em que são narrados. Tem de ter muita capacidade pra amarrar as palavras umas nas outras de modo a provocar o riso solto. Coisa pra poucos contadores, e menos ainda escritores (imaginem a dificuldade de não ter outros recursos senão a palavra).

4018 - 1961 - O Macaco e a Velha 01

Lembram do “Macaco e a Velha”? Gosto muito dessa versão recontada pelo Braguinha (que é a que a gente escuta cantada na Coleção Disquinho e vê nos velhos slides, que agora descobri, foram parar no iutubi!), mas tem muitas outras divertidíssimas, de rolar de rir. A minha versão preferida é a do Ricardo Azevedo mesmo, confesso. Com especial destaque pro final. Antes tinha o livrinho só dela, acho que saiu de catálogo, mas vocês podem ainda lê-la na coletânea Histórias que o povo conta. São Paulo: Editora Ática, 2002. p. 26-30. Aliás, é ótimo apresentar às crianças várias versões do mesmo conto(mesmo que às vezes elas reclamem: Não é assim!). Com o cuidado de evitar as tais adaptações ou “versões renovadas”, o que significa “politicamente corretas”(isso vale não só pros contos de riso).

Como toda categoria de conto popular, os contos de riso têm a sua gramática. São cheios de idas e voltas, jogos de palavras (com a licença poética pras chamadas palavras chulas, mas delicadas, sem exageros), situações fantásticas e burlescas, onde a sorte é quase sempre determinante a favor do mais fraco… enfim, acho que vale mais a pena vocês mesmos descobrirem o quê mais, lendo e relendo o que tem por aí.

_Claudia_

quarta-feira, 3 de março de 2010

Links

E por falar em educação democrática...Super bacana esse conceito de bullying pedagógico! Não percam essa entrevista do Instituto Alana.

***

E não deixem de dar uma passadinha no blog vizinho Cultura do Brincar para ler o post sobre O fim da infância. Vir aqui e não ir lá é desfeita!

****

Cibele - em momento verborrágico e prolixo

terça-feira, 2 de março de 2010

Mais sobre adaptação escolar


Passadas as adaptações mais emergenciais de 2010, fiquei pensando nela como num tripé: família, criança e escola.


As famílias, peça chave nesse processo, ora dão aval, ora pedem colo. Cada criança tem as suas demandas e é claro que no meio disso tudo podem haver circunstâncias...a chegada de um irmão, uma mudança de casa ou cidade, uma separação, a mãe que volta a trabalhar... E há a escola, a adequação da cultura daquela escola especificamente à cultura familiar. Tudo isso os educadores sabem bem. O que tem me chamado a atenção é uma outra variável que consiste na forma como a cultura da escola se abre para o mundo o e que me parece influenciar bastante no sucesso das adaptações.

Adaptar numa escola de altos muros, com regras rígidas e com grupo seleto é muito mais difícil do que numa escola aberta e flexível. Uma escola realmente arejada dialoga com o mundo, absorve a sua diversidade e dá espaço para que o novo integrante traga a sua bagagem. Uma escola arejada acolhe porque entende que o acolhimento é o primeiro capítulo da transformação que a educação possibilita.

E qual seria o antônimo de arejada? Abafada? Asfixiada? Enclausurada? Nas escolas de muros altos, com seleção rigorosa e crianças que estudam juntas desde o primeiro ultrassom , há mais certezas do que dúvidas e não há diálogo real nessas circunstâncias. O novato é praticamente uma ameaça, porque ele traz o novo, o lá de fora que instaura incertezas. Por isso é preciso cortar-lhe os cabelos e apropriar-se rapidamente de todos os seus pertences. Perde o novato, perdem os veteranos...

E é bom lembrar que ser aberto não significa de forma nenhuma abrir mão de uma identidade ou negociar o inegociável. Aliás abertura pode ser, ao contrário, um princípio, uma cláusula pétrea.

E mais...a idéia de que adaptar-se a um grupo pequeno é mais fácil pode ser enganosa. O autoritarismo se adere super bem a pequenos grupos e muito raramente alcança grupos maiores. Quando isso acontece, vira fenômeno histórico, investigado por cientistas sociais, filósofos e psicanalistas.

Independente do número de alunos ou da área da escola, é muito mais fácil adaptar-se numa escola que viva os diversos significados do adjetivo grande.


_Cibele_

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Lenda do Romãozinho


Lembrei de outra pra contar...a lenda do Romãozinho, um menino danado demais! Nasceu danado e assim ficou até o seu fim, do qual a gente só sabe ouvindo a estória que se segue com ouvido bem abertos.


Pois a mãe do Romãozinho pediu ao malcriado que levasse o almoço a seu pai que estava trabalhando numa roça logo adiante. Romãozinho praguejou e de raiva resolveu comer todo o frango do pai.


O pai, quando viu os ossinhos no fundo do prato, foi logo perguntando quem fez aquilo e Romãozinho, só na ruindade, vingou-se da mãe dizendo que tinha sido ela e um homem que sempre a visitava quando o pai estava ausente.


O pai volta pra casa na mesma hora e encontrando a esposa a fiar no alpendre, mata-lhe pelas costas, chamando-a infiel. Antes de morrer, a mãe pragueja contra Romãozinho, dizendo que não haveria lugar pra alma tão ruim nem mesmo no inferno.


E é por isso que Romãozinho vive até hoje aqui e aí ao seu lado, amedrontando qualquer um na ruindade que lhe é própria, fazendo artes de norte a sul. Pra ele, nem o céu, nem o inferno!


Ai que medo!


_Cibele_


* Dizem que esse conto deu origem à lenda do saci.
** Conheço na versão de Câmara Cascudo que reconto aqui de memória, mas que vale a pena procurar pra ler de cabo a rabo.
 
BlogBlogs.Com.Br