sábado, 27 de dezembro de 2008

Nessas férias, eu me encontrei...


  • Com a querida Clau e matei 2,3% da saudade.
  • Pela primeira vez com o famosíssimo Idelber Avelar do blog Biscoito Fino e a Massa que gentilmente linkou o Quintarola.
  • Com a espingarda de rolha. A Clau trouxe uma para o meu pequeno. Linda, linda, faz um barulhinho muito próximo daquele que as crianças simulam quando passam o dedo por dentro das bochechas. Conheci também uma linda Chapeuzinho italiana que, como vocês podem ver na foto, insistiu em desobedecer a indicação de Proibido Deitar pintada no banco do parque. Presente para a pequena. Obrigada, sócia!

Conto mais das férias aos poucos, enquanto vou desfazendo minha bagagem...




Bom estar de volta!
Ci

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

De férias

A partir de hoje, queridos leitores, o Quintarola estará de férias. Feliz Natal pra todo mundo e que em 2009 nosso quintal continue sendo do tamanho do mundo.

Inté,

_Cibbele Carvalho_

PS: Clau mandou um abraço a todos. Prometo tirar uma foto do abraço apertado que vou dar nela.

Outros beijos,

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Termina assim o texto "Velhos Brinquedos" de Walter Benjamin, sobre a exposição de brinquedos do Märkische Museum em 1928: “Evidentemente esse tipo de brinquedo (quebrado, rasgado, estragado) não se encontra na exposição. Mas uma coisa devemos ter sempre em mente: jamais são os adultos que executam a correção mais eficaz dos brinquedos _sejam eles pedagogos, fabricantes ou literatos_ mas as próprias crianças, durante as brincadeiras. Uma vez perdida, quebrada e reparada mesmo uma boneca principesca transforma-se numa eficiente camarada proletária na comuna lúdica das crianças.”

Lembrei desse parágrafo, logo que me deparei com a boneca da foto, propriedade da minha afilhada e quinteira phd, Isadora. Soube que a boneca quebrou o braço e foi tratada pela dona. O nome da boneca? Cada dia ganha um, depende da brincadeira.

É muito legal o trabalho dos Hospitais de Brinquedos, mas ainda não tinha visto reparo mais bonito. A esse olhar, à forma própria de agir das crianças é que chamamos cultura da criança e nela, inevitavelmente, os adultos são forasteiros.
_Cibbele Carvalho, cobrindo a sócia Clau, que hoje ainda pousa em terra brasilis (êba!)_

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sobre a urgência das coisas simples


Se fosse uma correspondência entre dois adultos, haveria vários parágrafos de frases prontas, declarações socialmente esperadas e conveniências vazias. Mas como são duas crianças, ficou assim:


De: Fulana Para: Beltrano
Beltrano,
Feliz Natal!
Fulana
***
De: Beltrano Para: Fulana
Fulana,
Obrigado
Beltrano
***
De: Fulana Para: Beltrano
Beltrano,
Dinada
Fulana

Uma lição sobre a urgência das coisas simples!
_Cibbele Carvalho_

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Os 10 brinquedos mais bacaninhas que já vi

E do PLEO faço um salto pra essa lista aqui. Inspirada pelas duas listas, a dos Brinquedos com Selo de Qualidade Quintarola e o Inventário da Cibele, comecei a pensar nos brinquedos que estao disponíveis hoje pras crianças e que são, a meu ver, um verdadeiro primor. Depois cada um pode fazer a sua.

1. Zizi, a macaquinha de Bruno Munari : é um brinquedo super simples, mas provocativo e versátil. Ultra-premiado, merecidamente.

2. Diabolo: o velho e bom brinquedo dos nossos avós,
recriado de mil-e-uma formas.





3. Tartaruga de tecido MUJI : Re-used Yarn Turtle : bichinho feito de tecido re-usado. Fofinha até nao acabar mais. Bem no japanese way of doing things.

4. Pesci, do designer Enzo Mari : um quebra-cabeças simplesmente divino, em resina.











5. Vaquinha do Mercado Central : existe coisa mais singela?


6. World in a bag MUJI - o mundo em lindas pecinhas de madeira, pra montar ao estilo d'O Pequeno Engenheiro (quem lembra?). Outra coisa linda dessa loja japonesa espalhada pelo mundo todo.


7. Animals puzzle, também do Enzo Mari : outro puzzle do extraordinário designer italiano. As peças sao encontradas em resina ou madeira, e podem ser também empilhadas umas sobre as outras.







8. Mikido – "barangandão" japonês: simplesmente adorável e divertido, como a versão artesanal recuperada por Adelsin em seu livro Barangandão Arco-Íris.








9. Espingardinha de rolha: meu filho me disse, aos cinco anos de idade, quando eu era ainda uma mãe radical e tentava lhe explicar por que nãao lhe comprava uma arminha de brinquedo: "Mãe, não se preocupe, essa é de brinquedo, não machuca ninguém, não! "


10. Caleidoscópio: uma das invenções mais geniais da humanidade,
em forma de brinquedo.






_Claudia Souza _

Brincando no Século XXI... ?



Não sei se já chegou aí no Brasil, mas aqui na Europa o top of line dos brinquedos pro Natal deste ano é o dinossaurozinho-robô PLEO.


Coisa extraordinária. Um personagem que parece saído dos filmes de Spielberg, capaz de reagir emocionalmente ao meio, perceber, reconhecer e interagir e mais ainda, capaz de aprender. Segundo os fabricantes, o poderoso grupo de robótica UGOBE, ele pouco a pouco vai desenvolvendo uma personalidade própria, única e distinta, através de suas interações com o ambiente e com as pessoas. Ou seja, é inteligente. Inteligência artificial das mais avançadas, num brinquedo que parece a materialização de nossos sonhos de ficção científica. É vendido ao preço módico de 300 euros (algo em torno dos R$900,00). Ou seja, mais barato que um PlayStation 3.
Tive oportunidade de vê-lo ao vivo numa loja de produtos de alta tecnologia e fiquei hipnotizada. Parecia um animalzinho de verdade. Nos poucos minutos que interagi com ele, me deu respostas que me deixaram embasbacada. Depois, é claro, comecei a pensar na Ética da coisa toda. Principalmente no que tem a ver com as crianças, com o conceito de brinquedo, etc, etc e etc.
Acho que isso daria um ótimo ponto de discussão por aqui. A bola “tá” com vocês. Quem começa?
Pra “embasar”: o site oficial do brinquedo, um vídeo do Youtube e as Informaçoes do Fabricante:
http://www.pleoworld.it/
http://www.youtube.com/watch?v=E0C55PEcj5E

INFORMAçOES DO FABRICANTE:
AS FORMAS DE VIDA UGOBE DEVEM PERCEBER E TRANSMITIR EMOÇÕES.
PLEO é uma criatura complexa e sensível. Reage emocionalmente aquilo que percebe. Se é amado e coberto de atenção, começa a se movimentar de modo vivaz e brincalhão. Se, ao contrário, tem pouca energia ou se sente ignorado, poderá se movimentar timidamente e ficar triste.
AS FORMAS DE VIDA UGOBE DEVEM SER CONSCIENTES DE SI MESMAS E DE SEU AMBIENTE. PLEO é naturalmente curioso: por sorte é bem equipado para explorar e reagir aos estímulos do mundo que o circunda. O seu sofisticado sistema de sensores inclui aparatos que tornam-no capaz de ouvir, ver e perceber seja o toque, seja o movimento. Este sistema lhe confere ainda a capacidade de reconhecer e interagir com os objetos em torno.
AS FORMAS DE VIDA UGOBE DEVEM APRENDER E EVOLUIR NO TEMPO
PLEO nasce com as mesmas habilidades de um recém-nascido. A medida em que avança através dos estágios de vida, a gama de seus movimentos e comportamentos se expande e a sua capacidade de aprender e adaptar-se ao seu mundo aumenta. No curso do tempo, você verá que PLEO desenvolve uma personalidade única e distinta, baseada nas interações com seu ambiente e com você.

_Claudia Souza _

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Inventário Sentimental dos meus Brinquedos

Texto dedicado à minha prima Lícia, sem dúvida alguma, a maior companheira nas minhas traquinagens e que me surpreendeu com um gesto muito doce_ presenteou minha filha com o Cascatinha dela, igualzinho ao meu boneco preferido e que eu já não tinha mais

• 1 Susie Carmem Miranda,
• 1 par de patins,
• 1 Barbie,
• 1 caixa de madeira e trapos de pano,
• 1 bola (preferencialmente para queimada),
• poucos metros de elástico,
• 1 boneco Cascatinha,
• alguns jogos e muitos livros.

Esses foram os preferidos. Já nasci no mundo do plástico, mas ainda a salvo da descartabilidade de hoje. Enrolados em calça plástica, acreditando na chupeta e na mamadeira como substitutos da pele, eu e minha geração. Dessa forma, minhas memórias (e toda memória tem alguma coisa de poética, até mesmo as de plástico) estão permeadas por essa matéria fria, lisa, barata, resistente e leve.

Até hoje sei o cheiro do plástico que envolvia o brinquedo novo. E a sensação estranha de ver a minha boneca presa em arames pelos pés, mãos e pescoço, numa caixa de papelão. Uso de propósito o pronome possessivo. Não havia a menor dúvida de que a boneca era minha, antes mesmo daquele encontro.

Ela vinha limpa, penteada, nova e aos poucos ia ganhando as formas da nossa convivência. As marcas das nossas brincadeiras. Peter Stallybrass desenvolve essa idéia citando Lear: "A minha mão cheira à mortalidade". Continua o autor_ é um cheiro que eu adoro e pelo qual a criança se apega ao cobertor, ao bichinho de pelúcia, ao travesseiro. E é por isso que as crianças não gostam de lavar esses “mimis”. Uma boneca de pano facilmente ganha o encardido e o cheiro que marcam essa particularidade. O carrinho de madeira ganha as cicatrizes de cada aventura. Mas o plástico se defende, não absorve o cheiro, não se modela às mãos. É impermeável.

Em tempos de consumismo, perturbamos um pouco a relação entre as crianças e seus objetos. Dificilmente uma criança marcará e será marcada tão intensamente por dezenas de bonecas loiras de plástico, como acontece com uma só. Stallybrass, no mesmo livro, afirma que Marx errou quando emprestou o termo fetiche da antropologia do século XIX e o aplicou às mercadorias, uma vez que a abundância de materiais só faz desvalorizá-lo.

A infância tem mesmo uma força própria. Ela escapa e se molda aos contornos dos novos tempos. Quando vejo uma boneca-bebê pintada à canetinha, um cabelo cortado ou um carrinho costumizado, só faço pensar em como a infância se rebela, insiste e resiste em deixar suas próprias marcas.
Quem mais topa fazer o seu inventário?
_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A História do Brinquedo


Essa história, ouço contar bem assim:

(E os créditos devem ir pra Lucia Cipriano, que é a responsável pela visita guiada do Museo del Giocattolo e del Bambino, de Milão.)



Imaginem há muito tempo atrás, um tetravô ou uma tetravó que andava pela casa recolhendo materiais pra construir um brinquedo. Tentem imaginar um mundo sem TV, sem internet, sem lojas de departamento e principalmente sem brinquedo comprado. Difícil, né? A gente acostumou em ver as coisas como são agora. Então, o tal tetravô ou a tal tetravó partia, por exemplo, de um cabo de vassoura unido a uma colher de pau através de alguns fios, e fazia um belíssimo cavalinho de pau. E com ele brincava de príncipe (que salvava a princesa), de princesa que salvava o príncipe - e aqui ela faz um parêntese longo: (… por que não? Princesas também podem salvar os príncipes, não é verdade, princesas adultas? E vocês, princesas crianças, depois de um pouco mais crescidas me contarão quantos príncipes terão salvado na vida), e continua: brincava de cavaleiro… cavalgava por todo o terreno inventando mil histórias, deixando voar a fantasia. Há muito tempo atrás, os brinquedos eram assim, pura invenção, porque as crianças de outros tempos não eram tão “sortudas” como as atuais, que tem os armários repletos de brinquedos... e assim precisavam inventá-los por si mesmas.
Depois, algumas pessoas adultas perceberam a importância do brinquedo na vida das crianças, e começaram a construir brinquedos em suas oficinas. Essas pessoas eram os artesãos. Foi assim que foram sendo criadas as bonecas de cerâmica, os primeiros brinquedos de madeira, que foram evoluindo, evoluindo, ficando cada vez mais complexos com a ajuda de engenhocas e máquinas já existentes (o mecanismo do relógio foi o mais utilizado), até virarem brinquedos caríssimos, comprados apenas pelos reis e nobres a seus filhos. Estes brinquedos eram quase sempre raros, mesmo para as crianças muito ricas, e, por eles, elas criavam uma estima imensa (eis porque muitos existem ainda!).
Os brinquedos artesanais reinaram absolutos por muito tempo, nas mãos ultra-cuidadosas dessas crianças nobres, que mal podiam usá-los em suas brincadeiras, sob o risco de vê-los despedaçados como resultado de uma ação mais contundente...
Até que, na Revolução Industrial, e isso já foi no tempo dos nossos bisavós, as fábricas passaram a se dedicar à produção de brinquedos. Novos materiais mais resistentes foram incorporados, como o ferro e outros metais. Já era possível não só brincar de modo mais livre, mas também às crianças burguesas adquirir um brinquedo. Cada vez mais brinquedos foram sendo produzidos nas fábricas e hoje, em larga escala de produção industrial, se encontra de tudo. O plástico, que é da época dos nossos avós, veio resolver definitivamente o problema da resistência e da leveza, mas principalmente do preço dos brinquedos. Depois do plástico, mesmo as crianças mais pobres puderam ter um brinquedo, o que é maravilhoso. Mas a entrada do plástico nessa história trouxe como substrato a irrelevância e a não-identidade do brinquedo. As crianças de hoje tem MUITOS brinquedos, mas se afeiçoam pouco a eles. Geralmente, não cuidam bem, tem pouco interesse, descartam muito rapidamente... A tecnologia invadiu o terreno e trouxe propostas interessantíssimas, outras nem tanto, porque um convite à passividade absoluta. E trouxe também, como não podia deixar de ser, um brinquedo mais individualista...
A história do brinquedo terminaria assim, de modo um pouco melancólico... Não fossem algumas crianças que, embora sejam mais “sortudas” que seus tetravós e possuam tantos brinquedos comprados, ainda se lançam na aventura de construir seu próprio brinquedo. O jogo de construção pode ser muito mais delicioso que um brinquedo comprado. E andar pela casa recolhendo os materiais disponíveis – antes que eles virem lixo – é uma atitude lúdica e ao mesmo tempo ecológica(eu já ando com preguiça dessa palavra, de tanto que é usada de modo vazio, mas ainda vale alguma coisa).
E o brinquedo “educativo”? Isso é outra história...
_ Claudia Souza _


Obrigada também ao Luiz Carlos Garrocho pelo generoso post sobre este blog no seu, linkado aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Brinquedos com Selo de Qualidade Quintarola


O Natal vem chegando e somos bombardeados por toda sorte de anúncios de brinquedo. As crianças acabam fazendo suas listas, tendo por parâmetros o limitado universo dos anúncios televisivos. Até mesmo os canais fechados e ditos “pedagógicos” renderam-se. Há algum tempo são oferecidos, pelos olhos da cara, releituras das mesmas bonecas loiras, dos mesmos carrinhos e suas pistas, dos mesmos bebês que falam...
Especialistas se debruçam na tentativa de elencar critérios: adequação à faixa etária, gênero, segurança, impacto ambiental. No meio de tanta informação adulta, muitas vezes perdemos de vista o mais essencial no brinquedo: Sua capacidade de convidar a uma boa brincadeira.
Para aumentar as opções de escolha, sugerimos um pulinho (acompanhado das crianças) numa boa loja de brinquedos. Tente ver pela ótica infantil. Qual brincadeira tem provocado o gosto da criança? Quantas possibilidades de brincadeira o brinquedo traz? Ouça as razões da criança. Mostre outras possibilidades. Deixe-as pegar, cheirar, testar. Não se engane_ brinquedo educativo nem sempre é legal. Brincadeira não deveria ter que ensinar nada. Aliás, brinquedo, assim como a arte e a filosofia, está na categoria das inutilidades imediatas. Eles ficam melhores sem as rubricas, erro cometido por alguns dos sites linkados abaixo, que tentam explicar, classificar, categorizar, analisar, dissertar e por fim, dissecar taxonomica e ontologicamente o coitado do brinquedo.
Para mostrar que há muita coisa bacana por aí, selecionamos alguns brinquedos com SQQ (Selo de Qualidade Quintarola). Os brinquedos fabricados por grandes marcas não serão aqui lembrados, porque é quase impossível esquecê-los:

FABER CASTEL
kits criativos
LOJA TRENZINHO ON LINE – BRINQUEDOS EDUCATIVOS
Minha perspicaz sócia me alertou pra uma questão em que eu não havia pensado: a tenda de índio é bem americanizada. Mesmo assim, não a tirei da lista por representar uma opção mais genuína às barraquinhas de personagens e porque, se tivesse do meu tamanho, eu adoraria ganhar uma (ah, as incoerências do desejo...)! Mas fica aqui uma oportunidade de reflexão, inclusive para ser feita com as crianças e seus fortes apaches.
DRAGÃOZINHO – BRINQUEDOS CRIATIVOS
O interessante dessa loja é que ela classifica os brinquedos pelo material: metal, madeira, plástico... Pelo menos é uma classificação bem mais próxima da cultura da criança. Vale a pena ainda dar um pulinho no Almanaque do Dragão.
PEÇA RARA ARTES E OFÍCIOS
CAIXA DE BRINQUEDOS – BRINQUEDOS EDUCATIVOS
BATE BUMBO
Tacobol que também é conhecido por Taco ou Bentes Altas. Na Tok Stok também tem, embora não seja possível visualizar pelo site.
BONECOS CAMILA DESIGN
Lindos bonecos do bem que são vendidos aqui.

E finalmente, pra não parecermos nostálgicas...

Obrigada ::Fer:: pela dica de configuração em html.
_Cibele Carvalho_

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Quintal Como Categoria Sociológica

Roberto DaMatta, nesse livro, invencionou a idéia de Rua e Casa como categorias sociológicas fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira. Barrocos, nos entendemos através de antíteses: público e privado, fora e dentro, masculino e feminino. O autor se refere ao quintal como “o espaço arruado da casa”. Fiquei pensando...o que há de "arruado" no quintal? Céu aberto, chão de terra, árvore, bicho, chuva, vento, sereno...Uma certa aventura (projetada), algum risco (calculado), uma interação com o tempo e o espaço.
Cá pra mim, tenho que o quintal também é uma categoria sociológica fundamental para o entendimento da infância. Quintal não designa apenas um espaço geográfico. As categorias sociológicas são (vou citar o cara por completa incapacidade de dizer melhor e mais bonito) “acima de tudo, entidades morais, esfera de ações sociais, províncias éticas dotadas de positividade, domínios culturais institucionalizados e, por causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas (blogs) e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas.” Pura poesia em forma de texto dissertativo, não é?!
_Cibbele Carvalho_

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SURPRESA!







Menino precisa ser surpreendido. Sem surpresa, no party. A gente devia - bem que podia - manter essa característica pra vida toda. Porque surpresa é mais ou menos a máxima moriniana de ESPERAR O INESPERADO. Menino faz isso muito bem. A gente não. A gente é cheia de expectativas, mas se recusa a esperar o inesperado. Ao contrário, a gente quer sempre prever, e aí tudo vai perdendo a graça. Envelhecer é isso (também?).
Quando a gente convive com crianças - especialmente se são crianças saudáveis e muito muito vivas - aprende que uma pequena - aqui na Itália inclusive mínima - dose de surpresa muda tudo. Quiçá os educadores soubessem esse segredinho e o usassem com mais constância... e/ou com mais sabedoria. Porque não basta surpreender por surpreender. A surpresa tem de ser surpreendentemente ... surpresa!

Alguns exemplos:
  • um espetáculo de teatro de marionetes francês que assisti outro dia em Mantova. Falando assim, ESPERA-SE que as marionetes sejam pequenininhas, que a cena se passe num palco e que os atores manipulem os bonecos do alto. Na-na-ni-na-não... eles fazem. E vem com uns bonecoes imensos, balões flutuantes, manipulados de baixo (ok, com fios) por três ou quatro pessoas. O cenário? O céu da cidade. Mais surpreendente ainda é que a história se passa no fundo do mar. Ou seja, nós público, somos colocados no fundo do fundo, na medida em que assistimos tudo "de baixo". Enfim, um deslocamento de ponto de vista extraordinário. Os manipuladores interagem com o público de um modo muito interessante, fazem parte do boneco, caminham do nosso lado como se fossem eles também personagens, provocam emoções extras com gritos, expressões, um deles chegou a "cutucar" uma menininha na platéia. Resultado: como não podia deixar de ser, crianças absolutamente satisfeitas (surpreendidas), adultos encantados, famílias devidamente "alimentadas" num domingo cultural.

  • os - bons! - narradores/contadores de história. No Museu onde eu trabalho, a moça que faz a visita guiada tem esse dom de sobra. E assim ela consegue apresentar um cavalinho de pau ou um "pracinoscópio" (precursor do cinema) de 300 anos a uma menininada acostumada com computador e DVD sem que ninguém pisque! A-do-ro ouvir os "oohhhs" enquanto ela desfila seu novelo de brinquedos artesanais, "anacrônicos", mais-que-simples...

  • Os mágicos de espetáculo. Às vezes, eu queria ser como eles pra brincar com as crianças. Queria conhecer e realizar com tamanha habilidade algumas ações simples, do tipo que enganam os olhos e surpreendem. Surpreendem sem que sejam magia de verdade - todo mundo sabe disso, inclusive as crianças, mas nem por isso deixam de ser magia. Magia de mentirinha - eu queria conhecer essa Arte, juro.

Fotos minhas do Espetáculo "A Pérola" , do grupo frances Plasticiens Volants, apresentado durante o Festival Internazionale d'Arte e Teatro per l'Infanzia em Mantova, Itália, 9 de novembro de 2008.

_Claudia Souza _

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O dia em que os Backyardigans Aniquilaram Fedidópolis


Quando vi que o episódio de hoje ia se passar em Fedidópolis, parei tudo na esperança de ver o desenho caminhando para sua redenção, ainda que já na terceira temporada. Fiquei frustradíssima! Todos estavam contra Austin, o Príncipe das Calças Sujas. No fim, Tasha, Pablo, Tairone e Uniqua conseguem encurralar o príncipe e banhá-lo numa fonte. Como se não bastasse, o subversivo Austin trai a sua verdadeira vocação quintarolesca e se junta aos quatro reacionários para cantarem o ensaiadinho hino cívico_ Ode ao Sabonete! Francamente! Não sei onde esse mundo vai parar!


_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Nova versão do velho

Não sei quando exatamente isso se deu, só sei que a partir de hoje estou rodando com a versão beta do in mode 31. As diferenças da versão .30 para a nova versão só poderão ser averiguadas após alguns acessos. Ainda não há notícias de incompatibilidades, já que o .31 possui um dispositivo mais eficaz de rescue.
Em outras palavras, estou ficando mais velha!

_ Cibbele Carvalho_

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Estranho Quintal-Palco dos Backyardigans

Estréia hoje, no Discovery Kids, a terceira temporada de Backyardigans. A maior surpresa dos novos episódios será o surgimento de um novo personagem, o dinossauro Boy. Confesso que o desenho me causa um estranhamento-quase-constrangimento, que me levou a demorar alguns episódios tentando decifrar.

Estranhei, inicialmente, o quintal artificial, ensaiado, sem espontaneidade, asséptico e livre das marcas produtivas do quintal brasileiro a que me referi: varal, pomar, horta, bichos, adultos trabalhando. O quintal do desenho canadense é campo de ação unicamente infantil, pra não dizer, infantilizado, com fronteiras bem demarcadas entre o adulto e a criança. No máximo, vemos ali, uma árvore ornamental e um tanque de areia. É um quintal, plano, capinado, adaptado, limpo e por isso mesmo, livre dos desrelevos que nos impelem a escalar e ver além.

Não há muros e por isso, não há intimidade. Os Backyardigans não só sabem que podem estar sendo observados, como dirigem-se ao telespectador e aqui o meu constrangimento se torna ainda maior.

Sabemos que a criança pequena não faz teatro, mas joga dramaticamente, uma vez que ela não fantasia para entreter uma platéia. Minha filha, quando é surpreendida sendo observada por mim em suas brincadeiras de faz-de-conta, costuma repreender: “_Não gosto que me vejam brincando!” E é por isso que a falta de muros do quintal-palco bakyardiganiano me soa como uma bela música tocada num teclado e seus amplificadores.

Isso nos faz perceber que o quintal não é um espaço físico nos fundos de uma casa com crianças, mas um jeito de ser-explorante-continuamente. E digo dessa forma, porque morei toda a minha infância num apartamento pequeno e apesar disso, carrego comigo uma quintarola.

Mesmo assim, principalmente se comparado a outros desenhos, o Backyardigans não chega a ser prejudicial e demonstra grande avanço nos produtos mercantilizados que temos oferecido às crianças. Aqui em casa, certamente, vamos querer ver quem é esse tal Dino-Boy, mas não sem achar esses bichinhos exibicionistas no mínimo, muito esquisitos.
_Cibbele Carvalho_

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Quintal Como Espaço de Auto-Projetação

Quem observa uma criança brincando livremente no quintal percebe como ela vai construindo um sem-fim de significados em cada ação. Um pedacinho de pau vai sendo transformado continuamente. De espada a corpinho de boneca, de talher a pincel, de cavalinho a, de novo, espada. E essa operação vai se complexificando cada vez mais, na medida em que o pedacinho de pau vai sendo combinado e re-combinado com outros elementos também simples, como pedrinhas, plantas, água. Não precisa de muita quantidade, nem de varieadade pra dar sentido na brincadeira. As necessidades são poucas e genuínas. Os objetos ocupam um importante lugar de representação, como deveriam ser normalmente se não tivessem sido, um dia, transformados em produto. E a criança reina absoluta nessa teia, projetada por si mesma, pelo seu Desejo.
Na medida em que projeta, ela se auto-projeta, se constrói como Sujeito, para-além de uma tênue identidade. O Sujeito auto-projetado é dono de si mesmo, não esta à merce de nada nem de ninguém. Não sofre homologações – ao menos ali, naquele momento em que é levado pela brincadeira. Pode criar a seu bel-prazer um mundo encantador e aberto.
Auto-projetar-se significa construir um significado para si mesmo no mundo.
Quantos de nós adultos – cercados de toda sorte de objetos e de sofisticações - somos capazes dessa proeza?

_Claudia Souza _


EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA:
Plebiscito em BH

Quinteiros eleitores em Belo Horizonte, vamos votar até o dia 05 de dezembro no plebiscito on-line para escolher o projeto a ser implementado no Mercado de Santa Tereza, aquele que quase virou quartel.

São três propostas:

1) Centro de artes, cultura e tecnologias sócio-ambientais
Projeto de TAMBOR MINEIRO (Maurício Tizumba)/ IETEC EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA / LUME ESTRATÉGIA AMBIENTAL / MUNDO MICO

2) Mercado Mineiro de Santa Tereza
Projeto da Associação do Bairro Santa Tereza com o apoio dos músicos LÔ E TELO BORGES, GABRIEL GUEDES, FLÁVIO HENRIQUE, FLÁVIO VENTURINI E MURILO ANTUNES


3) Mercado Cultural de Santa Tereza
Projeto da parceria entre o GRUPO GALPÃO, GRUPO GIRAMUNDO E AGENTZ PRODUÇÕES

Ainda não me decidi, mas já adianto algumas observações: as propostas 1 e 2 são muito pouco claras quanto ao orçamento. Não consegui descobrir o valor exato do projeto, que pode ir, segundo edital, de 700 mil a 12 milhões. A terceira proposta tem o valor de 12 milhões (u-lala!), que até acredito poderem ser captados via leis de incentivo, dado o peso dos nomes dos proponentes. No entanto, ainda estou me perguntando se a mudança de endereço do Galpão Cine Horto, do Museu Giramundo e a criação de um espaço circense, seriam de interesse público maior do os objetivos principais das duas outras propostas.

Como entre os nossos leitores há um consultor em estratégia, algumas pessoas da área da cultura e mais um monte de sabidos, coloco aqui os meus dois pontos e espero os comentários :
_Cibbele Carvalho_

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Post Agradecimento

Escrevi esse texto em outra oportunidade para a minha amiga e super artista Sil Falqueto. Achei oportuno publicar aqui. É dela o nosso (lindíssimo) template. Não era pra menos_ bióloga por formação, mãe e artista por vocação, ela tem tudo a ver com o quintal. Então foi ela quem traduziu o Quintarola em linhas e cores. Lá vai o texto:

Silvia Falqueto é como uma de suas mulheres-personagens. Tem grandes olhos abertos, mas que facilmente se fecham para uma visão interior. Sua obra traz igualmente as minúcias da natureza_ bichos e plantas e muitas paisagens interiores. Duas faces de uma só. Poderia ser muito sóbrio se fosse só uma idéia, mas não é. É o traço solto da alegria simples, silenciosa, cotidiana e gratuita. A alegria desprovida do imediatismo das cores substantivas, encharcada de adjetivos. Mais avermelhado que vermelho. Aproximadamente como tudo é. Anote aí: Sílvia Falqueto_você ainda vai querer uma na sua parede!
Obrigada, Sil!

***

Aproveito para saudar a Clau por ter embarcado nessa comigo. Algumas brincadeiras ficam bem mais legais em conjunto.

***

É bom estar cercado por quem a gente admira!
_Cibbele Carvalho_

domingo, 9 de novembro de 2008

O Museu Ettore Guatelli


Numa cidadezinha perto de Parma, Itália, a mais ou menos uma hora de Milão, existe _ e resiste _ um Museu diferente de todos os outros que já vi. Porque não é um museu de objetos ou obras raras e "importantes". É o museu das (in)nutilidades. Escrevi (in)utilidades, assim, porque os mais de 70 mil objetos expostos, um dia foram utilíssimos e ajudaram a construir toda uma civilização de camponeses italianos. Hoje, poderiam ser considerados lixo. Não foram restaurados, nem limpos, muito menos lustrados. Foram apenas cuidadosamente recolhidos. Não estão em vetrinas, mas sujeitos às ações naturais, ao pó, ao toque, ao tempo que continua a torná-los, a cada dia, mais significativos.
No Museo Ettore Guatelli esse "lixo" é lindamente disposto e organizado como se fossem desenhos nas paredes, em composições marcantes e surpreendentes, que fazem o viajante, opa!, o visitante, perder o fôlego. São simples e cotidianos objetos de casa, roupas, móveis, instrumentos de trabalho, brinquedos, e um outro sem-fim de categorias entrelaçadas. Cada um com a sua singularidade que é dada, justamente, pelo conjunto. Uma rede infinita de "significados significantizados", como uma linguagem ou uma bela canção. Coisas que só existem a partir da interpretação, da criação de quem um dia com elas se relacionou e, agora, de quem com elas ainda insiste em se relacionar, para fazer história, para dar sentido.
Mas - vocês podem estar se perguntando - o que tudo isso tem a ver com a temática proposta neste blog? Com o Quintal (enquanto símbolo e sobretudo enquanto signo da auto-projetação infantil), com a Infância, com a Cultura da Criança?
O Museo Guatelli é lugar político para as crianças modernas. É lugar sagrado para ir e levar os pequenos. O Museu Guatelli é um Quintal em forma de museu. Cada pessoa _ e cada criança principalmente! _ que vai ali, recebe lições profundas de criação, de História Vivida, de interação, de registro, de transformações, de impermanência, de diferença (que não precisa ser desigualdade), de poesia, enfim, de Vida. Porque, como dizia o sábio senhor Guatelli, adorador dos objetos, que os recolheu durante mais de 70 anos e depois os organizou no Museu, "as coisas tem vida". Esses lugares de coisas vividas e por-viver podem significar muito pra um Sujeito perdido num mundo fragmentado como o nosso, principalmente, repito, para as nossas crianças. As crianças que ainda brincam no Quintal - e as que brincaram um dia - sabem muito bem essa lição da vida das coisas, dos espaços, da natureza. As que não tiveram mais esse Reino, podem descobri-lo ainda, em espaços como o Museu Guatelli.

Este é meu texto de inauguração desse novo projeto que aceitei fazer junto com a Cibele. Comentários serão muitíssimo bem-vindos. O bom de um blog é fazer conspirações...
Sintam-se em casa _ aliás, sintam-se no quintal de casa _ pra jogar conversa fora com a gente.

_Claudia Souza_








História do quintal

A moradia é um discurso e seus significados. Cada parede, uma frase. Cada casa, um texto inteiro. Uma casa fala por si mesma. Da mesma forma, seus cômodos, a varanda, os corredores e, porque não, a quintarola.

Um grupo constrói a moradia que lhe é peculiar. A terra é carregada pelo desejo-braço de alguém ou por um grupo de alguéns. A terra pode ser também carregada por um alguém que não tem (nem desejo, nem casa, nem liberdade). A terra faz o muro em taipa, já que ainda não nos inventaram o tijolo cozido. O espaço é determinado por esses muros, por fronteiras, por oposição.

O espaço do quintal é designado pela organização da cidade-colônia, que concede terrenos calculados pela metragem linear da fachada e não pela metragem quadrada, surgindo assim vários terrenos retangulares, com grandes áreas ao fundo.

Quintal: pequena quinta ou a quinta parte do terreno. Galinhas, porcos e árvores frutíferas o habitavam. Mulheres e escravos trabalhando. Crianças circulando. A cozinha dos cozimentos demorados e muito quentes. A casinha. Não compartilham dessa origem os quintais do além-mar, dado que nossa província destina-se (ou é destinada por outrem) à exploração e não ao povoamento. A produção brasileira enche caravelas rumo ao mercado externo, exigindo que cada casa fosse não só lugar de morada e abrigo, mas espaço de cozimento, de plantações e criações, que atendessem as necessidades mais urgentes.
Essa origem do quintal na arquitetura brasileira nos dá pistas do espírito quinteiro de que queremos falar...

Nossa quintarola é espaço velado aos visitantes de cerimônia. Para eles, oferecemos a varanda ou a sala de estar. Nossa quintarola está aberta a quem quiser se dependurar no muro para prosear, trocar ou emprestar xícara de trigo. Nossa quintarola (entre muros, mas aberta ao céu)recebe de alma inteira.
Importante citar duas fontes sobre a origem dos quintais na arquitetura urbana brasileira:
1) Os estudos para o doutorado do arquiteto Luis Octávio da Silva ;
2) O terceiro capítulo deste livro.
3) Inspiração vinda desta matéria.
_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Chegando

Só um pé primeiro. Pra sentir a temperatura e a textura do chão.
 
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