quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Downi Creations dolly

Fiquei sabendo num blog italiano da existência de uma nova linha de bonecas que representam pessoas com capaBoneca cegacidade física e mental diversa: a boneca down com olhos amendolados, a boneca de turbante como se fizesse quimioterapia, a boneca com óculos escuros, bengala e cão-guia (foto), a boneca em cadeira de rodas.

Fui direcionada pelo mesmo blog a este link da Times Magazine e soube, entre outras coisas, que a discussão tem sido muito ampla a respeito, inclusive com a participação de pais de crianças “especiais”.

Os fabricantes apostam na intenção de favorecerDisabilityDoll a identificação dessas crianças com o brinquedo, colaborando com sua auto-estima.

Alguns pais se ofendem com o modo em que seus filhos vêm representados. Outros apoiam a iniciativa como possibilidade de ampliar a visão das crianças “normais” a respeito de suas coetâneas “diferentes”, o que serviria como prevenção de comportamentos agressivos e discriminatórios em relação a elas.


Fiquei pensando um monte de coisas. Antes de tudo fiquei curiosa em saber como reagem as próprias crianças a essas bonecas. E me coloquei inúmeras perguntas, bem mais que respostas.

A vocês, o que parece?

_Claudia Souza_

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

a não receita da massinha de modelar

Pegadas - obra by Maria Cecília 2006

A minha receita era assim:

  • 2 xícaras de farinha de trigo;

  • 1/2 xícara de sal;

  • 1 xícara de água;

  • 1 colher de óleo (eu uso de bebê pra ficar cheiroso)

  • Corante alimentício

Fomos fazer juntas e minha filha me ensinou assim:

  • Um montinho de farinha, faz um buraquinho com o dedo e enche de óleo

  • Um tantinho de sal

  • Água tingida até dar o ponto (ela disse: até virar massa)

E não é que a receita dela ficou bem melhor que a minha!!!

_Cibele_

sábado, 26 de setembro de 2009

Crianças educadas em casa

Mãe profissional Picasso Pablo Picasso

O supra-sumo do profissionalISMO materno taqui. Isso é que é querer-ser LITERALMENTE mãe profissional. (Uma curiosidade: não se tem notícia de pais que assumem essa função, é coisa de mãe mesmo, mesmo que a idéia seja do pai).

O que vocês acham? Posso estar errada – e adoraria ver opiniões diferentes – mas tendo a pensar que a Escola vai mal, mas não é nenhum monstro ao ponto da gente (leiga!) ter de segurar as crianças em casa e virar professora, sem formação pra isso. Acho maluquice. Onipotência demais achar que tudo que seus filhos precisam está em você. E seus derivados: achar que eles são incapazes de resolver suas questões em outros ambientes que não o familiar, querer transmitir conhecimentos para os quais não recebeu formação específica, pretender preservá-los dos sofrimentos normais da vida, etc.

Pra mim (sem contar as coisas todas de socialização, institucionalização, Educação Formal e especializada, etc), a melhor coisa da Escola é meu filho ter outros adultos de referência além de mim e de meu marido.

PS.: Muito diferente o caso de famílias (por exemplo, nômades) cujos filhos não podem acompanhar o calendário escolar e portanto participam de programas de educação a distância.

PS2: O link me foi gentilmente mandado pelo Ed Siqueira.

_Claudia_

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Programação para o fim de semana

Para os belorizontinos, mais duas atrações imperdíveis!

O Festival Internacional de Cinema Infantil

e

uma Ópera para Crianças...

Eu vou! Vamos?

_Cibele_

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Na carona dos ISMOS: O construtivismo, nossa religião


Como nômade, tive a oportunidade de circular por inúmeras escolas em diversas cidades do Brasil e tenho notado que o construtivismo tem se prestado a um papel quase religioso.

O construtivismo não é método, mas filosofia, e por isso, presta-se a inúmeras leituras e práticas. A quase totalidade das escolas se define dentro dessa concepção, embora haja escolas totalmente diversas dentro do mesmo barco. Uma vez que a maioria dos pais com mais de trinta anos foram educados no sistema tradicional, a escola passou a ser a detentora desse conhecimento codificado, envolvendo-o com ares de um mistério quase esotérico.

Certa vez, uma diretora de escola chegou a dizer explicitamente: os maiores dificultadores do desenvolvimento dos filhos são os pais. Ãn??? Não seriam os maiores aliados? Anulada a origem dos alunos e suas heranças, eles convertem-se às escolas-templos e a seus conhecimentos fetichizados. São inicializados. Já os pais, tratados como hereges, não são mais fontes de conhecimento. Se um menino pergunta aos pais se CASA se escreve com S ou com Z, não podem lhe dar a resposta. A resposta misteriosa, iluminada, deve ser encontrada pelo aluno. Aparentemente sozinho, ele segue em busca de uma iluminação, conduzido por seus gurus. Um pai arrisca...Pense meu filho, o que você acha? mesmo sabendo que as evidências sonoras apontam para a grafia errada.

Depois de um tempo, os alunos de escolas-seitas ficam muito parecidos. Vestem-se de forma parecida. Falam de forma parecida. Uniformizados, não há diversidade. Estranho, não era para cada um achar seu próprio caminho? Ao fim do período de iniciação, saem ao mundo os alunos convertidos que pensando ter dominado os princípios do universo, terão de se deparar com um mundo de múltiplas bíblias.

Não se trata de retroceder aos sistemas bancários de educação, mas de começarmos a desconfiar dessa unanimidade. E dos seus apócrifos, como disse bem meu professor outro dia.
_Cibele_

Os “ismos” na vida privada

(O post da Cibbele sobre as canções de ninar me abriu várias janelinhas).



Andy Wahol

Um amigo costuma dizer brincando que é NADA-ISTA =) “Pega o conceito mais lindo que possa existir – ele diz – mete um ista no final e acabou-se a festa”.

Os “ismos” – esses movimentos sociais invisíveis - invadiram a nossa vida privada.

O problema é que a gente vive num Sistema que nos impele a aderir a seus movimentos. Algumas adesões são conscientes, outras vão pelo piloto automático. As relações familiares estão impregnadas delas e muitas vezes a gente nem percebe que está senso moralista ou naturalista ou capitalista ou racista ou paternalista ou consumista ou profissionalista ou machista ou feminista ou comunista ou fascista ou saudosista… enfim. A gente nem percebe que está agindo em função de um movimento social, e não dos próprios pensamentos e sentimentos.

Muitos pais modernos, por exemplo, levam seu profissionalISMO pra dentro de casa e viram “pais&mães profissionais”. Isto é, devem ser pais&mães polivalentes: atualizados, bem-informados, disponíveis 100% do tempo (noite incluída), flexíveis, competentes, bem-controlados… ufa! Falta de paciência é inadmissível: se escapa uma palmada ou um grito, são três anos de culpa. Descuidos com a alimentação, a higiene, com a formação cultural dos rebentos… imperdoável, hoje dormi enquanto lia pra eles! Produtos culturais, só aqueles rigorosamente selecionados, dentro de um universo restrito(limpos, sem violência, eruditos). Brincar? Como assim, brincar é perda de tempo, está fora dos “padrões de qualidade” da família. A não ser que seja uma brincadeira pedagógica, com um objetivo preciso.

Outros preferem ser profissionais só nos respectivos trabalhos e, como bons pragmatISTAS, “terceirizam” a educação dos filhos. Afinal, tem tanto profissional capaz de “dar conta” dessas pestinhas pra gente, né? O cinema e a TV nos oferecem tantos exemplos (de Mary Poppins a Nanny McPhee, passando pelo bizarro Super Nanny) de como um elemento “de fora” pode contribuir para domar as feras que temos dentro de casa. A escola e a babá vem em primeiro lugar. “Nós pagamos, vocês eduquem”. Em último caso, superadas estas e as atividades extra-curriculares, temos o psicólogo, ora!

Alguns “ismos” se associam e assim tornam-se um “ismo” maior. Por exemplo, profissionalismo + naturalismo = higienismo. Que significa controlar obsessivamente alimentação, hábitos e até pensamentos das crianças segundo as regras do politicamente correto. Não que não seja saudável alimentar-se "bem" e ter "boas" condutas, é óbvio, mas além disso ser muito relativo, nenhuma Moral consegue ser construída com taaanto controle externo. Criança precisa de tempo e de autonomia pra construir seus próprios valores.

Tendo a pensar que se a gente conseguir ser mais NADA-ISTA talvez consiga educar melhor, com mais verdade, sem tantos exageros ou sem tantas faltas. Afinal, pressupondo que sejamos todos adultos, é de se esperar que tenhamos uma lógica formal, capaz essa sim, de tomar decisões úteis diante dos conflitos do dia-a-dia. Jogar com a Razão faz bem, nos faz menos racionalISTAS.

_Claudia_

domingo, 20 de setembro de 2009

O corpo da menina

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As meninas – Diego Velasquez, 1656 – Museu do Prado, Madrid

A menina é um corpo de porvir. Não deve apenas crescer, como o menino, mas transformar-se para adquirir um gênero. A menina é um ser sexuado sem o layout de gênero.

Tornar-se mulher requer um esforço duplo: ir adquirindo o fenótipo feminino (e habituar-se a ele) e ao mesmo tempo identificar-se com os modelos existentes de feminibilidade de sua cultura para construir sua sexualidade.

Nem por isso a menina está invulnerável ao massacre cultural que recebe o corpo da mulher. Os jornais estão cheios de tristes notícias.

Sabemos que o corpo da mulher, associado ao demoníaco, está e sempre esteve à marcê do homem. É ele que o encobre ou o desnuda. É ele que o violenta, que o agride (chegando a mutilá-lo, como em algumas culturas africanas, com o consentimento das outras mulheres já mutiladas) ou que o submete reduzindo-o a enfeite. A mulher é ainda coisificada, mesmo depois de tanta luta, e de alguma conquista.

A maior parte das mulheres adultas (que a menina ocidental média vê), embora se considere emancipada, aceita esta condição e perde sua identidade em favor do olhar alheio, enquanto anula os traços de sua expressão e as marcas da vida (fazendo-se de alvo para a cirurgia plástica), ou encobre suas imperfeições, querendo ser “bela”. Pasteurizada, veste a capa de produto que lhe foi designada e desfila seus órgãos pelo cenário patético da artificialidade.

A menina, crescendo ou desde já, terá este corpo como referência e o tomará como seu em potência? Ou terá/buscará outros modelos? Está e estará sob o risco da anorexia, da bulimia, da depressão por não ser/parecer perfeita, por não ser reconhecida como “bela” ou “casta”? Ou compreenderá que na face pode levar as expressões de seus sentimentos e no corpo as marcas de sua história como qualquer ser humano?

A menina estará sob o risco de olhar-se no espelho e não se ver?

_Claudia Souza_

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Internet, infância, horror, cantigas de ninar e dominação cultural

Joshua Hoffine

Não deve haver uma só pessoa que não tenha recebido o clássico e-mail da(o) brasileira(o) que trabalhou no exterior cuidando de crianças, e percebeu, através dos olhos da americana dona da casa, o horror nas cantigas de ninar brasileiras. Mais um texto sem autor. Um mito que circula na internet, como tantos outros, muitas vezes atribuídos a autores consagrados.

Aqueles que veem nas letras a força da lei e nelas creem incondicionalmente, acabam mantendo uma relação de dominação com a internet e consequentemente, pelas infinitas asneiras que circulam nela. As novas gerações precisarão aprender a selecionar, num mundaréu de quinquilharias, aquilo que lhes serve.

Nesse caso específico, do e-mail sobre as cantigas brasileiras, uma pesquisa rápida pelo google nos faz ver que o texto circula tanto com o narrador feminino, quanto com o masculino. Uma das marcas registradas do disse-me-disse internético.

O assunto do texto me lembrou de um livro muito bonito, de nome O Acalanto e o Horror. Nele, a autora Ana Lúcia Cavani Jorge atribui ao bicho papão e a outros seres amedrontadores, o papel do Outro, da Lei, da Cultura, daquele que faz a interdição na relação mãe e filho. O bicho-papão antecipa a separação realizada no pai, no irmão, no trabalho da mãe, na noite, no sono. Nas cantigas de ninar, as ameaças são belamente ditas assim:

boi, boi, boi, boi da cara preta...

ou

papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar...

ou

tutu marambá, não venha mais cá

Eu não conheço as cantigas de ninar estadunidenses, tampouco a cultura popular do país, mas dado que se trata do berço do politicamente correto, não deixa de ser interessante notar a coincidência geográfica entre o moralismo puritano e um país extremamente bélico. Entre a docilidade brasileira (pra lembrar de Giberto Freyre) e o Tutu marambá.

Por mim, continuaremos atirando o pau no gato.

Sobre o mesmo e-mail, também falou Hélio Consolaro.

Sobre terror e infância, é desconcertante o trabalho de Joshua Hoffine.

Sobre os crimes cometidos por crianças em escolas americanas, o livro Precisamos Falar sobre Kevin.

Sobre o sono infantil, arrisquei algumas linhas aqui.


_Cibele_

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Divirta-se quem puder

Pro pessoal de BH, fica a sugestão de um espetáculo teatral infantil que não vi, nem poderei ver tão cedo mas, vindo de quem vem, só pode ser coisa boa. Olhem a ficha.

Anjo Aleijadinho

(Pra quem não sabe, o Grupo Matraca é o coração do Cauê Salles, ator, mestre bonequeiro e arte-educador. Coisa fina).

_Claudia_

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dinossauros do Brasil - descolonizando a paleontologia

Calhou da Clau comentar mais de uma vez sobre o surgimento dos dinossauros no currículo da educação infantil com a minha própria filha estar se aventurando pela pré-história e lá fui eu atrás das pegadas desses bichos.

Não me lembro de ter estudado sobre eles na escola, embora me lembre bem da professora falando sobre a pré-história, surgimento da roda, domínio do fogo e pinturas rupestres. Os nômades, os fósseis, da pedra lascada à pedra polida. Lembrei da clássica excursão que as crianças belorizontinas fazem à Gruta da Lapinha, onde Peter Lund achou fósseis de animais pré-históricos e o crânio do Homem de Lagoa Santa, que viveu, calcula-se, há 10 mil anos.

Mas foi no Museu de Taubaté, conhecendo o Paraphysornis brasiliensis do qual já falei aqui, que me ocorreu fuxicar mais sobre os animais pré-históricos do Brasil e América do Sul. Primeiro descobri incríveis aves gigantes e carnívoras. Mas quem poderia imaginar que um réptil herbívoro gigante, como esse aí embaixo, foi encontrado ali mesmo, em Uberada? E esse gigante carnívoro à esquerda? Alô, alô fabricantes de brinquedos! Chega de Tiranossauro Rex!

É bem verdade que a paleontologia brasileira ainda engatinha e não é fácil achar informações sobre os animais pré-históricos brasileiros, mas deixo aqui a minha pequena contribuição, uma lista de links, que espero, sirva de inspiração:



http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinossauros_no_Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Dinossauros
http://www.valedosdinossauros.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paleorrota
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15233.shtml
http://virtualbooks.terra.com.br/livros_online/dinossauros_do_Brasil/capa.htm
http://acd.ufrj.br/mndgp/pv/index.html
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/caracteristicas/dinossauros-do-brasil.php
http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1096&sid=129#dinobrasil
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=20&sid=9
http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2818
http://ich.unito.com.br/controlPanel/materia/view/2812
http://www.smartkids.com.br/especiais/dinossauros-brasileiros.html
http://www.museuhistorianatural.com/



Recomendo também o segundo volume dessa série de dvds. O primeiro também é legal, mas o segundo se dedica aos animais da américa do sul.





Quem quiser engordar a minha lista, será muito bem vindo.



_Cibele_

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Encanto

E quando as crianças brincam de olhar as nuvens? Ou de pensar na morte da bezerra? De acompanhar o ritmo das formigas? Os gravetos, os troncos, as pedrinhas. Alguma coisa que flutua na água. Ou até de morrer (estirada no chão do quintal, imóvel, por hooooooras…).

Criança é confundida com atividade. As brincadeiras contemplativas – cuja ação é “de dentro” - são muitas vezes motivo de preocupação entre pais e educadores.

Esse menino ‘tá quieto demais. ‘Tá doente? E se estão em companhia: estão aprontando alguma coisa!

Por isso ou porque não reproduzem as atividades adultas “normais”, como no jogo de faz-de-conta (que aos olhos adultos parece previsível mas quem se dispõe a observar de perto percebe rapidamente que pode ser muito transgressivo).

Num artigo muito bonito*, a Doutora Alessandra Mara Rotta de Oliveira, da Universidade de Santa Catarina, diz que a brincadeira contemplativa

provoca a imaginação dinâmica e criadora. E não nos enganemos, exige esforço, exige tempo. Falamos aqui de um tempo de criação que contém em si a contradição fecunda da inércia, do ócio e do movimento, da ação, da experimentação e da contemplação. Este jogo entre imaginação criadora e os elementos da natureza exige um tempo e um esforço concretos(…).

tra le nuvole

* Texto publicado no livro: FRITZEN, Celdon e CABRAL, Gladir S. (orgs) Infância: imaginação e educação em debate. Campinas SP. Papirus 2007, p. 73-90.

As brincadeiras contemplativas (sempre ativas) aparecem, felizmente, com muito mais frequência que se imagina entre as crianças. De fato, nenhum brinquedo ou atividade estruturada jamais será capaz de substituir a natureza como referência, como mestra dos processos imaginativos e da Arte.

_Claudia_

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Folclore Obsceno das Crianças

Cabra-cega, 1788
Francisco Goya, Espanha, 1746-1828
Óleo sobre tela, 40 x 41 cm
Museu do Prado, Madri


Para quem ainda imagina uma infância idílica, lugar de inocência e sonho, essa idéia é a prova dos nove. Existe, afirma o antropólogo francês Claude Gaignebet, um folclore obsceno infantil que vem sendo transmitido horizontalmente, independentemente dos adultos e mais ainda, a despeito deles. Duvidam? Olhem só essa versão da cantinela do cabra cega:

“Cabra-cega de onde vens? Do Castelo Trazes ouro ou trazes prata? Trago ouro! Vá beijar no cu do besouro. Trago prata! Vá beijar no cu da barata.”

Esse é o meu objeto de estudo. A função desse conteúdo dentro das sociedades infantis, as forças coercitiva e de resistência são pontos a serem observados. Quem quiser contribuir com outras pérolas do folclore obsceno infantil, ganha um doce! (Os mais tímidos podem escrever para cibbelecarvalho@gmail.com). E nada de sair por aí ensinando isso pras crianças, heim! Nessa brincadeira, adulto não tem vez!


Cibele

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A infância de Gaudí

No Museu sobre Antoni Gaudí que tem dentro da Sagrada Família, também em Barcelona, encontrei um textinho simples mas muito significativo sobre a infância dele. O Marco fotografou pra gente:

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Traduzindo: Antoni Gaudí i Cornet nasceu no ano de 1852, na zona rural do Campo Baixo (Tarragona). Pequeno, tinha uma saúde muito fraca e seus contínuos ataques de reumatismo o separaram das brincadeiras de crianças e atrasaram seu ingresso na escola elementar. Sua mãe passava muitas horas com ele e o distraía com passeios pelo campo, observando a natureza.

Recordando sua infância, Gaudí, já adulto, escreveu: “com os maços de flores, rodeado de vinhedos e oliveiras, animado pelo cacarejo das aves, o piar dos pássaros e o zumbido dos insetos, e com as montanhas de Prado ao fundo, captei as mais puras e prazerosas imagens da Natureza, essa Natureza que sempre é minha Mestra”.

Esta citação nos revela que os primeiros anos de vida de Gaudí foram chaves em seu caminho até uma arquitetura inacreditavelmente singular, naturalista e orgânica.

Vendo o trabalho dele, dá pra perceber como a Natureza é realmente sua maior inspiração. E é de arrepiar. No Museu tem essas instalações explicando a referência que ele usava da geometria natural em seus projetos arquitetônicos.

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E no fim, dá nisso (deixo de fora o Parque Guell de propósito, porque um dia quero fazer um post só sobre ele):

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Fotos minhas e de Marco

Sempre achei que os primeiros anos de vida determinam todo o resto. E que uma educação vivenciada e mediada pelo afeto vale muito mais que qualquer erudição.

_Claudia_ Esta série de posts de viagem termina aqui. Agora a bola tá com a Cibbele.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Fundació Miró em Barcelona

Passeando pelo site da Fundação vocês podem até se divertir tentando ler em catalão =)

Fiquei impressionadíssima com o tanto de atividade educativa que desenvolvem lá. Entre visitas comentadas, oficinas, espetáculos, ateliês… um monte de coisa pras pessoas conhecerem e se aprofundarem na história e na obra do grande mestre catalão. Essa história de que museu de arte é lugar tedioso pra criança ou então que tem de fazer muita pantomima pra “atraí-las”, pelo menos ali, é coisa do passado. A Fundação se articula pra oferecer atividades significativas e divertidas ao mesmo tempo, pra que não só as crianças, mas o público em geral possa aproveitar a experiência e se enriquecer culturalmente, de modo ativo e crítico. O que no fim das contas é o objetivo de um Museu.

O prédio é imenso e sua arquitetura um espetáculo à parte, além de bastante acessível.

Confesso que deu nó na garganta ver os quadros e as esculturas dele ao vivo. Como diz a Maria Isabel Leite no ótimo livro Museu, Educação e Cultura, “que bom que possamos ter acesso a vídeos, CD-ROMs, etc, para ampliar nossas possibilidades e nosso contato com as diferentes linguagens. Mas uma experiência indireta com a obra não substitui a experiência direta”.

Não só de áreas fechadas é feita a Fundació Miró. Os jardins das esculturas são um ambiente pra lá de agradável.

Por ali, dá até pra parar e se alienar um pouco com a água, enquanto se admira as belíssimas esculturas. Né, meninos?

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Foto minha

_Claudia Souza_

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Brinquedos no parque...

Olhem que lindos esses espaços equipados pra brincadeiras no Parque Joan Miró, centro de Barcelona. O Parque é uma delícia, super amplo e arborizado, ótimo pra passear e pra observar passarinhos (vi um monte de periquitos lá!). Ali está a imensa e emocionante escultura de Miró, Dona i Ocell (A mulher e o pássaro). Fiquei embasbacada e sim, tirei fotinha do lado =)

Mas vamos aos espaços, que fotografei especialmente pra vocês:

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São várias “ilhas” espalhadas pelo parque, e em cada uma existe uma plaquinha com indicações da faixa etária mais indicada e sugestões de “desdobramentos” de brincadeiras a partir do ambiente. Mas não são espaços proibidos aos adultos não, pelo contrário.

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Aliás, o que achei mais interessante foi justamente a possibilidade de interação entre adultos e crianças nos diversos brinquedos/espaços. Na foto acima, uma menininha brinca de amarelinha junto com o pai. Na debaixo, o pai entra no brinquedo junto com o filho e se diverte também.

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Já os brinquedos típicos de parque adquirem uma leitura nova e interessante (notem o escorregador vasado) :

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Adorei essa espécie de tirolesa feita com pneu velho (tá, eu puxo a sardinha mesmo pros materiais recuperados). Super simples e divertida! Deu vontade de ir também. Mas ‘tava calor demais =)

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(Deu procês entenderem pela foto? Tinha um fio esticado diagonalmente entre um patamar e uma árvore, as crianças vinham do patamar e desciam deslizando pelo fio até a árvore, onde havia um outro pneu bloqueando e amortecendo a chegada.)

_Claudia_ (em breve tem mais dessa série)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O mineirês europeu

catalão

O idioma catalão é tão bonitinho. Me pareceu basicamente um encontro do espanhol com o italiano e o francês. A gente vê isso no vocabulário, por exemplo mulher não é mujer, é dona (em italiano, donna). Amigo é amics (e se pronuncia como em francês, ami). Pra dizer até amanhã, dizen fins demàs (em francês, demain e em italiano fino a). E tem essa coisa de terminar as palavras antes da hora, de comer letra, mas não é só no oral não, é no escrito também. Fundació, ao invés de Fundación. Passeg ao invés de Passeggio. Parece mineirop falando. Tem ainda o modo engraçado de separar a palavra com um hífen: Paral-lel, col-lecció… quando a letra é dobrada. Essas algumas regulariades que identifiquei assim por alto.

Eu ficava tentando ler as coisas nas ruas igual menino aprendendo a ler. Ótimo exercício quando a gente vai num país de língua diferente da nossa. Até na Bélgica consegui, usando o contexto e a curiosidade, extrair algum significado das placas em flamengo, ou melhor, neerlandês (como é mais correto dizer).

Em Barcelona foi bem mais fácil, claro. Cruzamento de línguas já minhas conhecidas.

Criança aprende a ler assim, fazendo leitura contextual. Desde muito pequena. Inútil achar que só vai ver as letras na escola. Inútil também essa coisa de tentar esconder as letras delas antes da alfabetização (tem gente que até marca idade, 7 anos). Afinal já nascem num mundo que é todo letrado. Tem letra pra todo lado e elas, claro, se perguntam o que é aquilo e pra que serve aquilo, como todo o resto.

Eu concordo em só começar um trabalho sistematizado a partir de uma certa idade (antes é perder tempo de coisas mais importantes), e essa idade a própria criança nos indica. Geralmente os meninos mais tarde (tipo 7) e as meninas um pouquinho mais cedo (entre 5 e 6 anos). Mas que eles ‘tão investigando o tempo todo, ah isso ‘tão! E não custa responder a algumas perguntas com sinceridade e até estimular o raciocínio. Brincando.

O Letramento (muito mais amplo que a alfabetização) é um processo pessoal, super lindo, que começa no berço.

_Claudia_

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pra começar...

Com a filhinha da prima do Marco, Marta, de um ano, descobri que aqui na Italia também fazem aquelas brincadeiras com criancinhas pequenas, tipo:

Janela, janelinha (tocando os olhos)
Porta (boca) campainha (nariz)
peeeemmmmm (apertando o nariz).


Aqui é assim:

Questo è l'occhio bello (este é o olho belo - tocando um olho)
Questo è il suo fratello ( este é o seu irmão - tocando o outro olho)
Questa è la chiesina ( esta é a igrejinha - tocando a boca)
Questi i fratini (estes os fradezinhos - tocando os dentes)
E questa la campanella (ou campana - e este é o sino - tocando o nariz)
Ding dong! (apertando o nariz) =)

Outra com os sentidos, igualmente deliciosa:

Mette il gettone (coloca a moedinha - fingindo que introduz uma moeda no olho da criança)
Schiaccia il bottone ( aperta o botão - nariz)
Giri la manovella (Gira a manivela - girando a orelha)
Esce la caramella! (e sai a bala! (ou caramelo, pra rimar melhor) - fingindo que pega uma balinha da boca da criança).

No repertório de brincadeiras tradicionais, existem umas tantas dedicadas aos muito pequenininhos. Como estas, de rosto, as cadeirinhas de Belém, dos dedos das mãos (mindinho, seu vizinho...), a do homenzinho (nossos dedos médio e indicador) que percorre o braço e encontra a casinha na orelha da criança... e aí vai. Notem que são todas de contato corporal muito leve, embaladas por parlendas doces e delicadas, recitadas em tom de voz quase onírico e muito amoroso.
É essa a proposta da Cultura da Criança pro início da Vida.

_Claudia_

Nas minhas férias de inverno...


Aproveito pra contar das minhas férias (tá, tá...recesso!) de julho também. Estivemos numa exposição chamada Artes para Crianças (tour pelo google, aqui), que esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mas infelizmente não chegou a BH. Fiquei encantada ao ver as crianças se aproximando da linguagem artística, num ambiente que dispensa alguns protocolos desnecessários, mas faz manter o respeito pela obra. À esquerda, uma vídeo instalação do nosso conterrâneo (salve, salve) Éder Santos, capaz de fazer sonhar até os mais incrédulos. À direita, uma sala com 381 xilografias bem pequenas de Rubem Grilo e entre elas uma surpresa que não posso contar. Tinha ainda Ernesto Neto, Amilcar de Castro e até Yoko Ono. Foi bonito, Clau! E eu me segurei pra viver aquilo sem tirar tantas fotos, porque deu vontade de mostrar tudinho aqui!
Tentei ir ao Safari em SP, mas amanheceu que era uma chuva só ! E por último, visitamos o Museu de História Natural de Taubaté que tem uma especificidade em relação a outras abordagens da pré-história. O Museu adota como mascote, não as espécies mais conhecidas pelo cinemão, habitantes da américa do Norte. No lugar disso, o paparicado é o Fisó, Paraphysornis brasiliensis, uma ave gigantesca e carnívora que viveu há 23 milhões de anos na região de Taubaté. Só não gostei de não poder tirar foto...
Beijos e que bom que você está de volta!
Ci _ aguardando mais notinhas de viagem da Clau


 
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