domingo, 31 de maio de 2009

Teatro e família

CatimO Catim Nardi, da Companhia O Navegante de Teatro de Bonecos, cuja sede é em Mariana (MG), me escreveu contando sua experiência no Festival Internacional Artisti in Piazza (Arte de rua) aqui na Italia. Diz ele que a chuva fez com que a organização tivesse de rever tudo… E que ninguém sabe como e quando vai poder se apresentar. Pena. Vamos torcer pra passar a onda de chuvas, afinal ainda restam 3 dias de Festival.

Mas pro Catim a vinda aqui na Italia valeu foi por outro motivo: ele reencontrou um braço da sua família que nem sabia que existia. Encontrou, entre outros, uma irmã do seu avô que tem 95 anos e é lúcida e ativa. Achei um barato essa história, imagina que emocionante reencontrar esses laços assim perdidos no tempo e no espaço. Histórias de migração, de separações longínquas, de encontros e despedidas sempre me tocam muito. Eu fico sempre pensando que o mundo pode ser tão grande ou tão pequeno, dependendo da situação.

Acaba que ele foi entrevistado pela TV e por vários jornais italianos por causa dessa história. Aqui dão muito valor pra esse tipo de coisa (justamente, todo país devia dar). Recebeu também uma homenagem na Prefeitura de Cesena, “uma espécie de troféu em cerimônia”, como descreveu ele, pelo trabalho que apresentou lá. Mais-que-merecido. A Cia Navegante vem fazendo muita coisa linda nos últimos anos, confiram no site deles, e merece todo reconhecimento do mundo. Mais um orgulho das Minas Gerais... (terra adotiva do argentino-meio-italiano Oscar Alberto Nardi, mundo pequeno, não?).

_Claudia Souza_

sábado, 30 de maio de 2009

Moral e Moralismo

Taí uma diferença sutil e fundamental. Muito bem alinhavada pelo Marcelo Coelho aqui.

Não é um fio interessante pra uma boa conversa?
Puxem os banquinhos que a sombra da árvore tá ótima.

_Claudia Souza_

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Estátua!



O Quintarola comemora aqui 100 posts de muita conversa boa. Viva eu, viva tu. Viva quem pitacou, quem leu, quem conheceu, quem se reconheceu, quem reencontrou, viva a criança, viva a infância... e é claro, viva o rabo do tatu.


Tim-tim!

Claudia e Cibele

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Salpicadas


Imagem da artista contemporânea Laurie Lipton. Para ver a infância com os olhos da americana...(X).

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No caderno MAIS (acesso para assinantes folha e uol) da Folha de São Paulo de domingo, o incrível diálogo entre Sílvio Santos e Maisa em que ele, muito zeloso, a adverte que ela era feia no início de sua carreira. Em seguida a pergunta: o que você vai fazer quando tiver 10 anos e o público não ligar mais pra você?

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Aqui, disponível pela Biblioteca Digital da UFRGS, uma excelente dissertação de Flávio Roberto Meurer sobre a transformação da criança em atração midiática. Obviamente, disponível para consulta e não para comercialização.

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Mas como nem tudo são espinhos, aprendi com um brincante gente grande a fazer uma pipinha com aquele fio da vassoura piaçaba...uma coisa de uma poesia sem igual. Diante do meu espanto, ele deu de ombros: uê, eu fazia isso quando era criança. Prometo foto e passo a passo depois.

_Cibbele Carvalho_

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Filosofia boa é isso

O Ed me mandou esse link pra uma história em quadrinhos do Maurício de Souza, em que Piteco protagoniza a alegoria da caverna, de Platão. E vem direto pro quintal. Valeu, compadre.
=)

_Claudia Souza_

terça-feira, 26 de maio de 2009

Maisa e o filósofo ou como banalizar a vida

Li esse texto sobre o caso da criança Maisa e o deixaria passar desapercebidamente se ele já não estivesse circulando por grupos de discussão sobre educação. Trata-se de um filósofo com alta graduação, polemista, autor do conceito de filosofia como desbanalização do banal, pragmatista que se orgulha da amizade de Richard Rorty. É exemplo da autoridade dos títulos e da própria filosofia como detentora de um conhecimento universal a respeito do mundo.

São tantas as minhas indignações com a irresponsabilidade do texto, que meu post inicial tinha 4 laudas, pontuadas em tópicos de argumentos e contra-argumentos. Por enquanto, vou ficar com a afirmação de que o sentimento da infância e por conseqüência o conceito de infância e os direitos da criança são construções históricas extremamente caros à nossa cultura.
_Cibele Carvalho_agora sim, se dando ao deleite das notas de viagem da Clau

Ai se eu estivesse aí!!!


Não perdia quase nada. Coisa muito boa de se ver. Espetáculos sem idade.
Parabéns de novo Catibrum!
E dessa vez, um parabéns especial: a Adriana Focas me escreveu contando que eles estão comemorando 10 anos de Festival!

_Claudia Souza_

Outra ainda mais curtinha

As crianças em Bruxelas nessa época do ano, como em toda a Europa, saem muito pra excursões fora da Escola. Também, 'tadinhas, no inverno ficam o tempo todo em espaços fechados (que sorte das crianças brasileiras). Na Primavera visitam museus, salas de exposição, praças importantes, vão a concertos, etc. E usam os meios de trasnsporte normais da cidade: metrô, ônibus, etc. (Nada de vans privadas).







Em Bruxelas o interessante é que vão devidamente realçadas nesses coletinhos fosforescentes. Bem seguro, né?

Notinhas de viagem: Bruges

Nesse período eu viajo um cadiquinho, então queria ir deixando algumas curiosidades pra vocês do que tenho visto em relação à Cultura da Criança por aí. Em notinhas.

Bruges, na Bélgica, é a cidade-realização-dos-contos-de-fadas. Pra quem como eu a-ma as histórias dos Irmãos Grimm & Cia, parece que a gente entra dentro de uma delas. Muito mais legal que os parques da Disney World (eu acho!).

As crianças estão pra todo lado aproveitando as lojas de brinquedos artesanais (um monte, articulados, lindos!), as esculturas e construções inspiradoras, chocolate, os passeios de barco e de charrete e... olhem só o que achei. Coisa mais poética essa!!! O realejo. Com folhinhas furadas e tudo. Um encanto. Em São Paulo, lá na Feirinha do MASP, tem um também, na nossa versão tupiniquim, daqueles que o periquitinho tira a sorte. Fofo.




_Claudia Souza_

sábado, 23 de maio de 2009

...mas acabou!

Pelo menos momentaneamente...
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/05/22/e22059180.asp

_Cibele Carvalho_

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Demorou!

Maisa chega aos sete anos exposta a situações "constrangedoras e degradantes", é a manchete do uol.

Os leitores do além-mar conhecem esse fenômeno?

_Cibele Carvalho_

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Feliz 50º aniversário, Barbie!

Imagem enviada pela Paula Juchem

A boneca do cor-de-rosa, ídolo de muitas menininhas, completou 50 bem-vividos anos, no dia 9 de março deste ano. Foi nesse dia, em 1959, que a Barbie pisou pela primeira vez em um salão do brinquedo. A criá-la, a designer norte-americana Ruth Handler, 14 anos depois de inaugurar, junto com o marido Elliot, a empresa de brinquedos Mattel.Barbie saía completamente fora dos padrões das bonecas da época, e pouca gente achou que a idéia fosse funcionar. Mas pouco tempo depois ela já era a "boneca da moda". Fez e faz tendência entre os estilistas, que competem pra vesti-la (de Calvin a Cartier, de Gucci a Galliano, de Versace a Armani). Calcula-se que, só pra vesti-la, sejam gastos mais de um milhão de metros de tecido, o que faz da Mattel um dos maiores produtores de roupas do mundo (pasmem!). Além disso, arquitetos continuam a projetar casas e móveis pra ela. Fábricas de automóveis fazem seus carros.

Barbie não é mais um simples brinquedo... Já foi motivo de estudos de psicólogos, sociólogos e antropólogos e entrou definitivamente como peça de museu, chegando a valer cifras impensáveis. A Barbie mais cara do mundo - Franci Barbie, que foi vendida só no Japão nos anos 60 - é hoje motivo de guerra entre os grandes colecionadores do gênero.

Anyway, dizem as estatísticas que as vendas de Barbies em todo o mundo vêm caindo vertiginosamente. Sinal do século XXI? Não se sabe.

(Eu não brinquei de Barbie, mas com a sua tia-avó Suzy. Era tu-do!)



_Claudia Souza_

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiirraaaaaaaaaaaaaaaaa


Aproveitando o "quentinho" da discussão aqui, resolvi fazer um post a respeito.

De tanto refletir sobre esse "fenômeno infantil mundial e irrestrito" = a birra, de tanto conversar com pais e mães e com as próprias crianças, acabei chegando a algumas conclusões.

Do meu ponto de vista, a birra acontece quando a criança, de um certo modo, perde o eixo. Perde as estribeiras, como diziam os antigos. E aí o corpo faz uma descarga difusa de tantos sentimentos misturados e incompreensíveis pra ela. Motivo tem de sobra pra isso, como foi inclusive citado nos comentários.

Muitas, muitas vezes mesmo, a birra vem "agudizada" pelo cansaço. Dos pais, da própria criança. Mas uma condição é quase sempre presente: a birra pra acontecer precisa de público. Raramente acontece em privado, já perceberam? Isso me faz pensar que tem a ver com algum mecanismo político. Uma vontade, ou várias vontades acumuladas, que não é/não são satisfeita(s). A gente percebe pouco o quanto não vê/não escuta as crianças (e isso já falei no post abaixo). Porque o ritmo que impomos na vida é quase sempre o nosso, de adulto. E elas nesse meio? Enfim, teria de avaliar, com uma calma que o momento da birra não permite, se essa vontade exteriorizada na birra é justa ou não (as outras vontades complementares já tendo sido dissolvidas). Praticamente impossível, eu diria. Naquele momento, pelo menos. Depois dá pra conversar e pensar.

Não é uma fórmula (porque se eu soubesse fórmulas de educação estaria escrevendo um manual pros milhões de mães e pais desesperados, eu incluída). Mas uma atitude que, na minha experiência pessoal, foi interessante e eficaz é, no momento da birra, "catar" a criança, acolhê-la com firmeza e ternura, oferecendo a ela um eixo corporal externo seguro. Sabem o tipo "abraço de urso"? Coisa bem entre vocês dois? Dar a ela o eixo que perdeu, sair do público, entrar no privado. Falar baixinho, no seu ouvido... Depois de um tempinho assim, enlaçados, ela costuma ir se acalmando, vai reencontrando seus sentimentos e pode ser até capaz, entre um soluço e outro, de nos contar alguma coisa importante.

Eu sempre preferi fazer alguma coisa, mesmo correndo o risco de errar. Quem não erra, não educa, como dizia Paulo Freire.

Se as crianças modernas andam (pelo menos aparentemente) mais birrentas, é um ponto controverso. Na minha experiência de educadora observo um crescimento desse comportamento, em termos de frequência e de queixa das famílias. E atribuo ao comportamento dos pais modernos que me parecem muito desconcertados, seja diante da explosão da birra ou em outras situações de autoridade. Talvez um pouco mais de tentativa, de ação educativa, ajudasse...

_Claudia Souza_

Invisibilidade social


Um vez li um estudo realizado por um psicólogo na Faculdade de Psicologia da UFMG (do qual não me lembro o nome, se alguém souber me avise) que passou 6 meses vestido e executando as funções de lixeiro no Campus de manhã e como professor (ele mesmo) à tarde. A mesma pessoa, em dois contextos diferentes. De manhã, sem qualquer maquiagem, mostrando o rosto, era ignorado, simplesmente não era visto pelos frequentadores do lugar. Diz ele que era como se fosse transparente. As pessoas passavam por ele e não o viam! Nesses 6 meses, ninguém se dignou a lhe dar um bom dia sequer, nem um simples sorriso, nada, de manhã. À tarde, ao contrário, não só era "visto" como tratado com deferência e consideração, mesmo por pessoas que não o conheciam, no mesmo estacionamento do Campus que tinha limpado de manhã.
Hoje já sei que esse fenômeno se chama "invibilidade social".
E que muita coisa já foi escrita a respeito, basta googlar um pouquinho.


Ontem, na fila da lanchonete fast food lotada, observei esse fenômeno em relação às crianças. Um menino ficou um tempão tentando comprar seu lanche. Mas
1) As pessoas da fila passavam na sua frente como se ali não tivesse ninguém; e
2) A moça do caixa o ignorava (e olha que ele tentava!)
Até que um adulto (que devia ser pai ou tio do menino) se aproximou e deu uma bronca federal... nele!
Não entro nem no mérito dos meninos de rua, que já nos acostumamos a "ver"/não ver cheirando cola pelas ruas. Falo dos meninos de um modo geral.

Acho que o caminho a percorrer pelas crianças em termos de seus direitos como cidadãs é longo. Vê-las e considerá-las como "gracinhas", ou como inocentes, vítimas a priori, ou como alunas ou principalmente como consumidoras, é relativamente fácil. Mas enxergá-las como cidadãs já é uma outra história. Pra isso precisa conviver com elas. No mais amplo sentido da palavra.

_Claudia Souza_

terça-feira, 19 de maio de 2009

Aversão a crianças


Claro que há momentos, assuntos, informações exclusivos para adultos. Claro que ninguém é obrigado a ter vontade de brincar quando vê uma criança, assim como eu tenho. Claro que a opção “não ter filhos” é legítima. E é claro que criança às vezes cansa, irrita... Aliás, muitos adultos também!

Mas ando assustada com a aversão a crianças que tenho visto por aí. Há hotéis e restaurantes child-free. Monitores e parquinhos por toda parte, o mais longe possível da cena principal.

Há educadores e outros profissionais da educação que admitem não gostar delas. É cult ter pressa, ser impaciente, estar ligado numa atividade cerebral ininterrupta. A criança exige estar no presente, uma abertura para se surpreender, um certo imediatismo, um descompromisso com o tempo, uma alegria ou poesia que nada tem a ver com o mundo blasé muderno.

No entanto, ainda que alguém opte por não ter filhos e por não trabalhar com crianças, é inevitável que em algum momento de sua vida haja um encontro com alguma criança. Seria bom que, nesse momento, esse alguém hipotético se lembrasse que ninguém nasceu adulto e que algum dia, outro alguém teve de ouvir seu choro, seus gritinhos agudos de euforia ao ver uma taça de sorvete, seu correr pela casa de braços abertos e sua alegria simples. Isso é, se é que esse alguém foi uma criança alegre.

E só para lembrar, as crianças são cidadãs amparadas por direitos. lá no Estatuto da Criança e do Adolescente, ó:


Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.



Post dedicado a uma condômina child-free em BH que reclama dos passinhos e corridinhas dentro de casa de duas crianças (1 e 3 anos) que dormem às 19:30h da noite. Aos que por aí praticam a indelicadeza de bater vassouras de madrugada enquanto pais tentam descobrir e aliviar a dor de um bebê doente.


Mas dedicado, principalmente, aos condomínios bacanas que praticam a eleição de um síndico mirim, responsável por representar as vontades das crianças.

Por último, gostei desse texto aqui.




_Cibbele Carvalho_

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um Gato para Gertrudes - teatro para mineirinhos


Trabalhei com teatro infantil por aaanos a fio. Apaixonada por ele, vivo a estudá-lo. Quase todo fim de semana, minha filha de seis anos me leva para assistir uma peça. Deveria ser o contrário, talvez.
É desse lugar privilegiado que posso dizer que o espetáculo Um Gato para Gertrudes da Cia Luna Lunera é raro. Imperdível. Se relaciona com uma criança-espectadora inteligente. E é divertido, ainda por cima. Eu, minha filha e minha afilhada adoramos!

Imprimindo o flyer do espetáculo, você ganha um descontão no ingresso. Mais informações no blog do grupo.
Temporada: de 2 a 31 de maio, Sábados e Domingos, às 16:30. Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa (Praça da Liberdade, 21 – Funcionários - Info: 31+3337-9693).Ingressos: R$24 (inteira) e R$ 12 (meia para até 21 anos, estudantes e maiores de 60 anos).

_Cibbele Carvalho_


Mapa do Brincar



O Mapa do Brincar é uma iniciativa do caderno infantil Folhinha do Jornal Folha de São Paulo. A idéia (genial, aliás) é que crianças de todo país participem de um levantamento do brincar hoje no Brasil. Renata Meirelles e Adriana Friedmann participam como consultoras nesta pesquisa.

Renata Meirelles é pesquisadora de brinquedos e brincadeiras, mestre em educação pela Universidade de São Paulo e autora de Giramundo e Outros Brinquedos e Brincadeiras dos Meninos do Brasil e conhecida pelo Projeto Bira, uma iniciativa autrônoma de pequisa sobre a cultura lúdica na região Amazônica.

Adriana Friedmann é educadora, doutora em antropologia, professora e consultora na área da infância e do brincar em várias instituições, membro da Aliança pela Infância, autora de livros como A Arte do Brincar e O Universo Simbólico da Criança.

Link para o blog da folhinha, aqui!

_Cibbele Carvalho_

domingo, 17 de maio de 2009

Ruba bandiera

Descobri uma brincadeira italiana que não conhecia...

Se chama Ruba bandiera e é assim:
os jogadores se dividem em dois grupos, cada grupo faz uma fila lateralmente ao "Mestre" que segura a "bandeira" (um pedaço de pano qualquer). O Mestre confere um número a cada dupla de jogadores dos dois times (isto é, cada grupo tem um jogador 1, um 2, um 3, etc).

O Mestre "canta" um número e os jogadores que o detém devem tentar pegar a bandeira e levá-la ao último da sua fila, com um detalhe: quem pega a bandeira não pode ser tocado pelo outro jogador, senão a perde.
Cria-se então uma dinâmica interessante entre os dois jogadores, porque não podem lançar-se diretamente a pegar a bandeira, devem driblar-se, enganar-se mutuamente.



Cada vez que a bandeira é levada ao último da fila, vale um ponto.
No final, vence o grupo que marca mais pontos.

Será que tem algo parecido no Brasil?

_Claudia Souza_

Criar significa o quê?


A obrigação de ser original, isto é, não copiar nunca?

Não creio. As idéias derivam de outras (confirmando ou confrontando, como dizia Harold Bloom no seu indescritível "A angústia da Influência").
Copiar (principalmente de outras crianças) pode ser um ótimo exercício de criatividade. Até porque a cópia nunca será igual ao original, mesmo se feita pela mesma pessoa que o produziu. Copiar traz novos repertórios, abre outros canais, outras possibiliades, esclarece as influências, as identidades. Estimula a buscar novas idéias. Muitas vezes, a cópia é só um pretexto, e é logo modificada...

Criar é um ato social. E portanto interativo.

Quem cria está criando com alguém e para alguém. Nada de menos "puro".
A criação não é pura como a cultura não é pura como a Arte não é pura. Isso é discurso pra boi dormir (acho eu).
E viva as colagens, as releituras, as revisões, as interpretações, e viva as cópias. As crianças aprendem - e apreendem - também por imitação e por repetição. No problem! Relaxem pais e mães, relaxem principalmente professores. Porque nesse ato estarão sempre previstos a construção, a pesquisa, as elaborações cogniticas, os conceitos. Não são estruturas isoladas. O ser humano é complexo.

(Viva a cópia! Desde que sejam citadas - e devidamente reconhecidas - as fontes).

_Claudia Souza_

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Versões...

No Museu onde trabalho fiquei sabendo que "Pinóquio" foi originalmente publicado em capítulos, num antigo jornal italiano, o Giornale per i Bambini, de 1883. A história se chamava "A história de um bonequinho". E tinha tons rocambolescos, tanto que o próprio autor, Carlo Collodi, anexou ao texto um bilhetinho aos editores, pedindo que "avaliassem bem o conteúdo pra ver se era adequado". Só muito tempo depois foi publicada em livro com o título "As aventuras de Pinóquio". Mais tempo ainda, e ganhou a versão Disney, como muitos outros contos clássicos. Não entro no mérito de dizer se isso é bom ou ruim.

Mas acaba que a versão Disney vira A versão oficial. E quase ninguém mais se lembra de que, ao invés da baleia, nadava pelos mares e engoliu Gepetto e Pinóquio um monstro imenso, um "peixe-cão". Ficou esquecido também que um Mestre marceneiro, de nome Mastr'Antonio e apelido Cereja por causa do nariz sempre vermelho, foi quem encontrou o pedaço de madeira falante com o qual pensava em fazer um pé de mesa, mas que acabou dando ao compadre pra se livrar dele (é muito divertida a cena do primeiro encontro de Pinóquio, ainda pedaço de madeira mas já irreverente, com Gepetto). Que a "Fada Azul" era uma menina de cabelos azuis que vivia numa casa abandonada. Que o Grilo Falante era na verdade um sábio. E de muitos outros detalhes (inúteis?) inventados pelo autor de fato, numa história cheia de símbolos e de inspiração poética.

A versão Disney é tão poderosa que no "Parco Collodi" aqui na Itália, logo na entrada, vê-se uma grande escultura representando a baleia. Provável homenagem aos desenhistas que a inventaram...

Eu acho que vale a pena revisar um pouco as versões originais dos contos clássicos junto com as crianças. São obras de arte, e penso mesmo que não é por acaso que certos conteúdos estão ali. Cada detalhe faz parte da trama de criação do autor, e tem um sentido que as crianças são capazes de compreender, nem que seja só num nível simbólico, mesmo aqueles mais "violentos".

Os filmes da Disney - principalmente os primeiros, como Branca de Neve e o próprio Pinóquio, são muito bem feitos, divertidos e cumprem sua função de entreter. São leves e "politicamente corretos". Mas conhecer as obras literárias de onde derivam pode ser também uma ótima pedida. Totalmente diferente como linguagem, muito mais ampla como conteúdo.

_Claudia Souza_

terça-feira, 12 de maio de 2009

Amarrações


O cadarço é ou não é um ícone da infância? Pena esteja perdendo espaço para os tênis de velcro. Domá-lo é uma das grande conquista dos pequenos que dá uma autonomia danada. Circulam várias estórias para ajudar as crianças a guardar a ordem dos movimentos. Faça duas orelhas de coelho ou uma árvore e um esquilo para passar por baixo...
E amarrá-lo na canela pro tênis não voar junto com a bola? Parece que essa foi uma solução pros enormes cadarços do Kichute. Não sei se é verdade, mas a solução foi prontamente adotada pela meninada, de kichute ou não. No site da empresa há várias demostrações de amarrações com nomes bem divertidos: volta ao mundo, orelha e bigode de coelho e por aí vai...Nesse outro, 15 amarrações diferentes e aqui, 31!!!

Aqui você pode aprender o nó perfeito: bonito e seguro. Quero ver se ele resolve o problema do cadarço do all star, que não pára de jeito nenhum.

E eu que achava que já tinha aprendido a amarrar os meus sapatos!
_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Diário de campo


Vamos imaginar as crianças como um grupo social, tal como na antropologia da infância. Ou um sub-grupo, se preferirem. Mas o importante é que seja um grupo independente e produtor de cultura. Uma etnia em que nós adultos somos estrangeiros, forasteiros. Há dificuldades de comunicação. Fronteiras. Cada lado tende a ver seu ponto de vista como universal. Isso independe de gostar ou não de crianças, embora a simpatia seja um passo à frente da empatia.


Agora, imaginemos que um indivíduo estrangeiro venha um dia morar em nossa casa. Que casa? Nossa casa mais primária, nosso corpo. Ele vem e se aloja na nossa barriga! Um outro que se comporta como se fosse seu fígado. Haverá muito, muito amor (disso a antropologia não dá conta), mas haverá também lutas e concessões. Sensações, idéias, sentimentos e questões absolutamente novos surjem dessa experiência. Um diário de campo não seria uma excelente idéia? Sorte de quem vai se aventurar daqui pra frente!
Parabéns Ju e Lau!
_Cibbele_

domingo, 3 de maio de 2009

Brincadeiras no mundo inteiro

A pedido da Cibbele, andei fazendo uma pequena pesquisa com as crianças daqui, li um livro sobre brincadeiras africanas, conversei com uma amiga chinesa e outra russa, e cheguei à conclusão de que as brincadeiras tradicionais infantis nesses países são praticamente as mesmas do Brasil. Muda pouca coisa. Por exemplo, no Senegal tem o pular corda cantando números, só que a pergunta é "quantos filhos você vai ter"; tem o chicotinho queimado, que se chama Langà, tem vários jogos em que um fala e os outros respondem como no Boca de forno... Aqui na Itália tem o "batatinha frita" que se chama "1, 2, 3 stella", tem o "Pare, bola!", o "Estátua" e o "Morto vivo"... Na China as crianças brincam muito de esconde-esconde, de pegador (ou "pic") de diversos modos, apostam muita corrida como a gente, e tem também o "cabra cega". Na Rússia, muitas cirandas de roda e o brinquedo "currupio". Aliás, os brinquedos populares também variam pouco: catavento, barangandão, aros, pião são encontrados nas mais diversas culturas.

Vou continuar pesquisando com as crianças marroquinas, latino-americanas e do leste europeu que encontrar. Mas acho que não vai ser muito diferente não. Tem algumas variações, mas as semelhanças são muito significativas. Posso até encontrar alguma brincadeira que não conhecia, mas se "escarafunchar" pelos sertões do Brasil pode ser que encontre uma nossa "tradução" lá.

Em breve, vou postar algumas brincadeiras africanas desse livro, uma que não conheça. Quem sabe vocês encontram alguma coisa similar por aí?

_Claudia Souza_

Vamos brincar de quê?

Em geral, tende-se a considerar a brincadeira como uma atividade com fim em si mesma; pueril e inútil. A atividade lúdica, intrinsecamente sem objetivo, é assim contraposta ao trabalho, objetivado e produtivo. Mas é assim mesmo? Munari fala de "brincar com a Arte" definindo novos modelos que se revelaram absolutamente eficazes para a didática da Arte. Mas a brincadeira de Munari é uma brincadeira muito séria, mesmo mantendo sempre as características de leveza e graça. Como podemos descrever isso? Que relacionamento há entre a brincadeira de Munari e as reflexões de Piaget que reconhecia no jogo uma função importante no desenvolvimento da esfera cognitiva e da personalidade, e a obra de Vygotskij que o considerava como força da evolução afetiva?

(Silvana Sperati, "A che gioco giochiamo", tradução minha)
Me deparei por acaso com este trecho e pensei naquela questão que a Cibbele colocou sobre o "uso pedagógico dos jogos e brincadeiras". Não seria o caso, como já defendi nesse artigo uma vez, de pensar também no uso lúdico da pedagogia, da didática? É possível e saudável brincar com a Arte, com a Matemática, as Línguas, enfim, com qualquer objeto de conhecimento. É óbvio que brincando se aprende (muito mais que quem pretende controlar possa imaginar), como também aprender é um jogo diante da necessidade/vontade/desejo de crescimento que acompanha todo Ser Humano. O problema é colocar uma coisa "a serviço" da outra. Na verdade, penso que sejam âmbitos interligados e igualmente importantes. Problema pior é "escolarizar" as capacidades humanas. Aí sim, perde completamente o sentido.

_Claudia Souza_

Família, família, "família" ...

Pegando carona nessa discussão que a Cibbele levantou sobre ser pai/mãe hoje em dia, queria colocar na roda um outro ponto: as articulações que fazem, dentro das famílias, o "sagrado" e o "profano".



A palavra família sempre foi, e é, muito ligada ao "sagrado". As referências são sempre fortíssimas, família é coisa amoral, "de fé", quase religiosa. Pai mãe e filhos - parece o círculo perfeito, que "expulsa" o que é de fora. A própria propaganda de margarina. A perfeição. Cada uma com o seu estilo, as suas crenças, as suas peculiaridades, as suas lembranças, a sua história que vai sendo construinda dia após dia. E como isso, sendo "sagrado", é forte! Já ouvi dizer (e não lembro a fonte) que somos reféns das nossas famílias de origem. Haja sessão de psicanálise pra, ao menos, movimentar um pouco as peças no tabuleiro!
(Imagem: Sacra famiglia, de Caravaggio)



Já o profano vem apontando como possibilidade familiar só no final do século XX, início do XXI. As famílias estão se reconfigurando. As pessoas já têm feito escolhas mais pessoais, têm se permitido encontrar o "de fora" - sacrilégio! - e até gostar. Até gostar mais! Isso pode ser um problema, pois significa "trair" a sagrada família. Mas depois, passadas as primeiras tempestades, pode ser muito divertido.



Nota de rodapé: É muito divertido comparar a Cultura Italiana com a Brasileira. Um simples passeio por Veneza te faz compreender como eles se pautam por séculos de repetição (de "sagrado") e nós nos reiventamos a cada Carnaval (mais "profanos" impossível). Bom mesmo é poder viver as duas coisas em concomitância, sem hierarquia. Nas famílias modernas, a concomitância do Sagrado com o Profano pode ser uma saída.

Obs.: Tenho uma implicância inatural por Arte Sacra, portanto Veneza pra mim pode ser insuportável dependendo do ponto de vista. Mas caminhar pelas vielas, olhar as roupinhas penduradas de fora das casas, as gôndolas, os canais, pode ser de uma beleza inconcebível :-P



_ Claudia Souza _

sábado, 2 de maio de 2009

Jorge Amado falando sobre o pó de pirlimpimpim

Adorei a citação abaixo, parte do artigo A Literatura Infantil e o Pó de Pirlimpimpim de Maria Cristina Gouveia Soares, no livro Lendo e Escrevendo Lobato, Editora Autêntica. Lembrei dela durante essa e essa discussões sobre realidade e fantasia e corri para transcrevê-la assim que o livro me caiu às mãos novamente:
"...Difícil gênero esse de escrever à criança. Para satisfazer a estes leitores adultos é bastante relatar à vida...não é preciso fugir da realidade. Porém a criança exige mais do que isso: exige imaginação...
Porém, aí aparece a minha discordância com o grande Lobato. E esta discordância está no pozinho. Todas as vezes que os pequenos heróis de Lobato têm de fugir do plano da realidade para o plano da imaginação tomam uma pitada daquele pó. O pó é como uma explicação, uma separação mesmo de dois planos, deixando os leitores na impossibilidade de passarem para o imaginário porque lhes falta o rapé de pirlimpimpim. O garoto não precisa de rapé algum para enveredar pelos países da imaginação, viver aventuras maravilhosas, ver coisas nunca vistas. Para que explicação do pó? A imaginação da criança não só não exige, como até recusa essas explicações. Acho que no livro infantil, a passagem da realidade para a fantasia deve se dar sem nenhum sono, sem nenhum pó, sem coisa algma que auxilie esta passagem...para o pequeno leitor, é sempre uma decepção isso de heróis se servirem de qualquer coisa para fugirem da realidade besta deste mundo besta."_Jorge Amado
_Cibbele Carvalho_

Vivo ou Morto

Alguns chamam de sol/chuva. Brincadeira parecida é Terra e Mar: O "chefe" risca uma linha no chão, combinando que de um lado é a terra e de outro o mar. Os outros devem pular seguindo os comandos.
Eu brincava com apenas esses dois comandos, vivo ou morto, e me surpreendi com a versão para a brincadeira de uma turma de crianças com idades diferentes que brincavam na quadra do meu prédio:

gordo (arco com as mãos ao lado do corpo)
magro (mãos retas ao longo do corpo)
careca (mãos na cabeça)
cabeludo (arco acima da cabeça)
barrigudo (fazem arco com as mãos formando uma barriga)
pipoca (pulam)
panela de pressão (mão na cabeça, giram fazendo zzzz)
dança (dançam)
hidroginástica (fazem polichinelo)

Interessante como as brincadeiras vão incorporando elementos da cultura adulta.

_Cibele Carvalho_
 
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