Aproveitando o "quentinho" da discussão aqui, resolvi fazer um post a respeito.
De tanto refletir sobre esse "fenômeno infantil mundial e irrestrito" = a birra, de tanto conversar com pais e mães e com as próprias crianças, acabei chegando a algumas conclusões.
Do meu ponto de vista, a birra acontece quando a criança, de um certo modo, perde o eixo. Perde as estribeiras, como diziam os antigos. E aí o corpo faz uma descarga difusa de tantos sentimentos misturados e incompreensíveis pra ela. Motivo tem de sobra pra isso, como foi inclusive citado nos comentários.
Muitas, muitas vezes mesmo, a birra vem "agudizada" pelo cansaço. Dos pais, da própria criança. Mas uma condição é quase sempre presente: a birra pra acontecer precisa de público. Raramente acontece em privado, já perceberam? Isso me faz pensar que tem a ver com algum mecanismo político. Uma vontade, ou várias vontades acumuladas, que não é/não são satisfeita(s). A gente percebe pouco o quanto não vê/não escuta as crianças (e isso já falei no post abaixo). Porque o ritmo que impomos na vida é quase sempre o nosso, de adulto. E elas nesse meio? Enfim, teria de avaliar, com uma calma que o momento da birra não permite, se essa vontade exteriorizada na birra é justa ou não (as outras vontades complementares já tendo sido dissolvidas). Praticamente impossível, eu diria. Naquele momento, pelo menos. Depois dá pra conversar e pensar.
Não é uma fórmula (porque se eu soubesse fórmulas de educação estaria escrevendo um manual pros milhões de mães e pais desesperados, eu incluída). Mas uma atitude que, na minha experiência pessoal, foi interessante e eficaz é, no momento da birra, "catar" a criança, acolhê-la com firmeza e ternura, oferecendo a ela um eixo corporal externo seguro. Sabem o tipo "abraço de urso"? Coisa bem entre vocês dois? Dar a ela o eixo que perdeu, sair do público, entrar no privado. Falar baixinho, no seu ouvido... Depois de um tempinho assim, enlaçados, ela costuma ir se acalmando, vai reencontrando seus sentimentos e pode ser até capaz, entre um soluço e outro, de nos contar alguma coisa importante.
Eu sempre preferi fazer alguma coisa, mesmo correndo o risco de errar. Quem não erra, não educa, como dizia Paulo Freire.
Se as crianças modernas andam (pelo menos aparentemente) mais birrentas, é um ponto controverso. Na minha experiência de educadora observo um crescimento desse comportamento, em termos de frequência e de queixa das famílias. E atribuo ao comportamento dos pais modernos que me parecem muito desconcertados, seja diante da explosão da birra ou em outras situações de autoridade. Talvez um pouco mais de tentativa, de ação educativa, ajudasse...
_Claudia Souza_
De tanto refletir sobre esse "fenômeno infantil mundial e irrestrito" = a birra, de tanto conversar com pais e mães e com as próprias crianças, acabei chegando a algumas conclusões.
Do meu ponto de vista, a birra acontece quando a criança, de um certo modo, perde o eixo. Perde as estribeiras, como diziam os antigos. E aí o corpo faz uma descarga difusa de tantos sentimentos misturados e incompreensíveis pra ela. Motivo tem de sobra pra isso, como foi inclusive citado nos comentários.
Muitas, muitas vezes mesmo, a birra vem "agudizada" pelo cansaço. Dos pais, da própria criança. Mas uma condição é quase sempre presente: a birra pra acontecer precisa de público. Raramente acontece em privado, já perceberam? Isso me faz pensar que tem a ver com algum mecanismo político. Uma vontade, ou várias vontades acumuladas, que não é/não são satisfeita(s). A gente percebe pouco o quanto não vê/não escuta as crianças (e isso já falei no post abaixo). Porque o ritmo que impomos na vida é quase sempre o nosso, de adulto. E elas nesse meio? Enfim, teria de avaliar, com uma calma que o momento da birra não permite, se essa vontade exteriorizada na birra é justa ou não (as outras vontades complementares já tendo sido dissolvidas). Praticamente impossível, eu diria. Naquele momento, pelo menos. Depois dá pra conversar e pensar.
Não é uma fórmula (porque se eu soubesse fórmulas de educação estaria escrevendo um manual pros milhões de mães e pais desesperados, eu incluída). Mas uma atitude que, na minha experiência pessoal, foi interessante e eficaz é, no momento da birra, "catar" a criança, acolhê-la com firmeza e ternura, oferecendo a ela um eixo corporal externo seguro. Sabem o tipo "abraço de urso"? Coisa bem entre vocês dois? Dar a ela o eixo que perdeu, sair do público, entrar no privado. Falar baixinho, no seu ouvido... Depois de um tempinho assim, enlaçados, ela costuma ir se acalmando, vai reencontrando seus sentimentos e pode ser até capaz, entre um soluço e outro, de nos contar alguma coisa importante.
Eu sempre preferi fazer alguma coisa, mesmo correndo o risco de errar. Quem não erra, não educa, como dizia Paulo Freire.
Se as crianças modernas andam (pelo menos aparentemente) mais birrentas, é um ponto controverso. Na minha experiência de educadora observo um crescimento desse comportamento, em termos de frequência e de queixa das famílias. E atribuo ao comportamento dos pais modernos que me parecem muito desconcertados, seja diante da explosão da birra ou em outras situações de autoridade. Talvez um pouco mais de tentativa, de ação educativa, ajudasse...
_Claudia Souza_
Um comentário:
tenho pavor qdo vejo criança dando birra e os pais ignorando. ou entao aqueles que dao safanao no menino. me da vontade de interferir.
F.
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