Hoje de manhã, meu filho (3 anos) me perguntou como eu e o pai dele escolhemos seu nome. Muitas horas depois, sucedeu-se esse diálogo:
_Samuel!
_Samuel, não. Sou o Flash-que-muda-de-cor-VolBeline-tigle-dinossauLo-malvado-Lancelot-o-Cavalo-mais-Valente-da-Távola-Redonda-com-Gancho-Samuel.
_Tá, samuel!
_Samuel, não!
_Samuel, vou demorar pra aprender um nome desse tamanho.
_Tá, pode ser Samuel até você aprender, então.
Colei o diálogo no facebook, achei graça como toda mãe, mas depois me lembrei de que eu também tive um nome criado por mim mesma: Adriana Aparecida de Jesus. Até hoje é possível que minha mãe, vez por outra, me chame assim, no que respondo sem pestanejar.
Mas tudo isso me levou ainda a pensar numa outra questão. A Sociologia da Infância tem defendido a autonomia relativa da criança, sua atividade na produção do conhecimento, ou seja, a visão de que a criança é um ator social. Por outro lado, a psicanálise provoca que o nome da criança é escolhido, dado, herdado. Uma puxa pra autonomia, outro pra heteronomia.
Tendo a pensar que nem tanto ao céu, nem tanto à terra, toda criança tem lá um conjunto de demandas, expectativas ou currículos, como cada um quiser chamar, nem sempre convergentes: a mãe, o pai, os irmãos, os professores, os colegas, os vizinhos…O nome, as heranças culturais e materiais, o quarto decorado, o tema da festa…mas cada uma criará, com maior ou menor liberdade, a sua bricolage de referências.
Viver sem expectativas é chato, deprimente até, e mesmo as educações mais liberais constituem um currículo prescritivo: seja autônomo, dê a sua opinião, negocie com seus pares, contribua, seja ativo…ainda bem.
A gente ganha um nome dos pais, o nome mais importante de todos, sem dúvida, mas depois ganha apelidos negociáveis dos colegas e cria certos pseudônimos para agir aqui ou acolá.
Pelo menos é o que eu ando pensando…
_ Cibele, que um dia já foi Adriana Aparecida de Jesus_
E lá no Butão (min 3), onde os pais levam os bebês aos monges budistas que lhe escolhem o nome?
Xi, deu nó!