Prometi falar do Corsaro quando estive no Seminário em Brasília e não o fiz porque demorei 3 meses para digerir a reprodução interpretativa. Fazer resumo é muito chato e qualquer um pode fazer isso numa biblioteca perto de você. No fim, a gente quer é dar pitado e contar uns casos. Mas vamos ao resuminho pra depois prosear.
Corsaro criou conceitos importantes para a sociologia da infância como “reprodução interpretativa” e “cultura de pares”.
Reprodução interpretativa: O termo interpretativa captura os aspectos inovadores da participação da criança na sociedade, indicando que as crianças criam e participam de suas culturas de pares singulares por meio da apropriação de informações do mundo adulto de forma a atender aos seus interesses próprios enquanto crianças (Giddens). O termo reprodução significa que as crianças não apenas internalizam a cultura, mas contribuem ativamente para a produção e a mudança cultural. Significa também que as crianças são circunscritas pela reprodução cultural (Bourdieu).
Cultura de pares (peer culture): conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e interesses que as crianças produzem e compartilham com seus pares, primariamente por meio da interação face a face.
Mas o mais legal do Corsaro é a proposta metodológica que consiste numa entrada em campo muito específica. Primeiro ele faz uma entrada reativa. Chega, senta e espera as crianças reagirem. Nada mal, já que os adultos não entendem muito bem como é que se chega num grupo infantil. É só fazer um teste: chegar num grupo de crianças e começar a perguntação adulta: Oi, como vai? O que vocês fazem aqui? Como você se chama? Perguntas que as crianças jamais fariam. Mas além disso, ele propõe que o adulto se comporte como um adulto atípico que, abrindo mão de sua autoridade, ganha um acesso privilegiado ao universo infantil.
O psicólogo César Ades explica que o adulto atípico Não é um retorno ao que o adulto foi um dia, mas uma forma de ele estabelecer um contato social diferente e, por meio dele, aprender como se aprende sempre através da interação. (p 128) ...“É preciso que o adulto desista um pouco, como num mundo de faz de conta, do poder que lhe confere o papel tradicional de adulto, como quem se agacha para falar com as crianças, estabelecendo uma proximidade ao mesmo tempo física e simbólica.”
Semana passada, fiz minha primeira inserção num grupo infantil experimentando esse adulto atípico. No segundo dia, participei do seguinte diálogo:
“_Você faz faculdade de quê?_perguntou a menina.
_De Educação._respondi.
_Ah, então você vai ser professora quando crescer?”
Uma pequena mostra de que o adulto atípico pode ajudar demais aos adultos que querem ter um acesso privilegiado aos grupos infantis.
_Cibele_
4 comentários:
Hahaha essa foi ótima, Ci! Cê disse a ela que certos adultos não passam nunca de 1,60? hahaha
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Comigo já aconteceu uma vez (e quase morri de vergonha) de uma mãe me contar que o filho de 4 anos lhe perguntou o que era "adolescente" e ela respondeu:
- É uma pessoa brincalhona, vestida de um modo bem original, meio adulta meio criança.
Ao que o filho emendou:
- Assim tipo a Claudia né.
Sugestão aos leitores: emendem a leitura de Corsaro com Barbara Rogoff. A natureza cultural do desenvolvimento.
Nossa, adorei esse adulto atípico!
Boa, né, Fer? No dia a dia, com nossos filhos e alunos, a gente tem que ser adulto típico mesmo. O atípico é uma postura específica pra se aproximar das crianças com objetivos bem claros. Se bem que mesmo pai, mãe e professor são atípicos às vezes, né?
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