Nesse feriado de Páscoa fomos pra um lugar paradisíaco, as Cinque Terre, na Liguria, entre a França e a Itália. Terras altas ao lado do mar. Quando estiverem googlando por acaso, procurem fotografias e informações.
Como no sábado choveu, fomos passear pelas redondezas e acabamos chegando a uma fortaleza medieval perto de Parma, o Castello di Bardi. O castelo até que é bem conservado, apesár de algumas obras de restauração mal-feitas ao longo do tempo que descaracterizam certas partes da construção do século IX (reparem, é século IX mesmo e não XIX!).
Bem, mas meu assunto é outro. É, claro, a cultura da criança.
Ali são organizadas diariamente duas visitas guiadas. Demos sorte e chegamos poucos minutos antes de uma delas. Durante a visita, para um grupo de 8 adultos e 5 crianças, a guia ia desfiando um monte de datas, de informações meio insípidas, de um modo muito, mas muito inadequado aos pequenos. À medida que íamos entrando, o castelo, que de fora parecia bem intrigante, ia se tornando um lugar meio mortinho, meio sem graça, meio “coisa velha e descuidada”.
Aí os adultos do grupo de visitantes começaram a tentar resolver a coisa do jeito deles. Sutis como trombones. Começou um tal de falar de princesa pra cá e princesa pra lá. “Aqui a princesa gostava de caminhar”, “onde será o quarto da princesa?”, “a princesa achou o príncipe aqui e se casaram” e ufa! Não davam uma dentro, tentando encarar uma onda de conto de fadas numa fortaleza medieval (que mesmo que tenha sido habitada por nobres, de princesa não tinha nada). A gente não aguentava mais ouvir falar de princesa. Mas entendia o desespero dessa gente tentando envolver as crianças numa didática museal muito ruim.
A um certo ponto, a guia começou a falar da lenda de um fantasma que ronda a fortaleza. Um truque também desesperado pra fazer a coisa valer como atração turística. Pra inglês ver, porque ela não sabia brincar, jogar com a coisa. A conversa parecia mais papo de jornalzinho de escola. Não envolvia, não capturava. A história do tal fantasma não passava de uma apelação. Obviamente as crianças duraram pouco na visita. Logo estavam se divertindo a correr pelos “cortili” do castelo, subindo nas rochas, escondendo-se atrás das janelinhas estreitas. Deixaram de conhecer um monte de coisas interessantes de um período e de uma vida tão distantes.
Enfim. Pena. Porque material e ambiente tem de sobra pra fazer um museu vivo. Falta conceito de Museu e de História. Faltam propostas interessantes pra transformar um passeio desses numa atração significativa. Não precisa de muito, a História por ali já grita por si mesma. A região tem tanto a dizer mas se cala atrás de um discurso vazio e didático, sem nenhuma ludicidade. Como em muitos outros lugares como esse…
_ Claudia_