Na medida em que nenhuma criança escreveu ainda tese, dissertação, artigo ou blog sobre a sociologia da infância, podemos considerar que a cultura da criança é aquilo que o adulto chama de cultura da criança. Parece haver um recorte, uma seleção adulta à cultura da criança.
A emergência da sociologia da infância não é independente do debate social em torno dos direitos da criança, como mostra a soióloga francesa Sirota, de forma que muitas vezes o discurso político e o científico se entrelaçam. A sociologia da infância surge e cresce como parte desse esforço de reiteração de uma infância que se mostra ameaçada.
Sendo assim, caberia alargar os domínios da cultura da criança também para aquilo de que as crianças se apropriam a despeito do discurso dos educadores-pesquisadores: a cultura de massa, a cultura escolar e por aí vai.
Vista pelo prisma da cultura da criança pura, a criança real não existe. Vista em sua complexidade, a cultura da criança contemporânea com quem “convivemos” nos parquinhos de shopping, nas praças, nas festas de criança e nas escolas (lugares em que as crianças estão, temos de admitir) é uma mistura de Discovery Kids, atividades de recreação transmitidas por monitores nas férias e atividades escolares.
E como toda cultura é arbitrária, não cabe fazer juízo de valor (o que não nos tira o deleite de abrir umas janelas pra chuva de palpites por aqui). Não parece absurdo afirmar que o peão e a finca, talvez não sejam mais artefato importante para a cultura da criança contemporânea, mas fruto do esforço de institucionalização de uma dada infância. Por vezes, esse esforço de preservação acaba colando e aí as crianças se apropriam dele. É o caso do barangandão, brinquedo de confecção obrigatória nas recreações escolares ou extra-escolares de toda meninada mineira, desde o lançamento do
livro de Adelsin.
A cultura da criança urbana contemporânea está mais pra backyardigans do que para backyard. Sobre o mundo de Pablo, Austin, Tascha, Tairone e Uníquoa escrevi aqui. Se você não sabe quem é o quinteto, mas sabe o que é peão e finca, feche o livro ou blog e converse com uma criança perto de você.
E não, não acho que o mundo esteja de cabeça pra baixo. Vamos conter nossos impulsos apocalípticos. São só as crianças negociando com o mundo, como desde o princípio dos tempos.
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Vocês viram que a roda gigante do Parque Guanabara agora está virada pra Lagoa? Muito legal! Essa questão já me acompnahva desde 2009, vejam só! Viram também que o Parque acrescentou a atração A Incrível Mulher Monka? Ninguém lá em casa teve coragem de entrar, mas ficamos um tempão nos deliciando com a narração do locutor. Muito, muito bom!
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E o show Música de Brinquedo do Pato Fu? Um ótimo exemplo de como a infância não precisa ficar tãããão confinada! Como se não bastasse ser lindo, o show é também uma experiência diferente da relação entre adultos e crianças!
Bom restinho de fim de semana,
_Cibele_