domingo, 15 de maio de 2011

Pensar além

Eu tinha botado um vídeo sobre isso outro dia, lembram?

Aqui na Itália nos últimos dias  está muito forte a discussão sobre a Síndrome do Déficit de Atenção e Concentração. Muitas pessoas estão (finalmente!) reagindo contra o uso indiscriminado de psicofármacos em crianças. (Aliás, eu sempre disse que achava isso uma loucura, esses remédios anulam as ações externas, “amansam” a criança mas internamente a deixam ainda mais agitada. Sem contar que o diagnóstico fácil, ao inventar uma “síndrome”,  põe de lado inúmeras outras questões da criança moderna e aborta possibilidades de mudanças no seu contexto social).

No Salão do Livro de Turim foi lançada uma mega campanha com adesão de diversos intelectuais, artistas, escritores, etc, chamada “Pensare oltre” (= pensar além), contra o diagnóstico fácil, os rótulos, a homologação e tantas outras deformidades causadas pela chamada “psicologização da infância”. A proposta é justamente mudar as condições, o contexto. Ao invés de reprimir e de impedir, oferecer outros modelos de Educação para que as crianças possam se expressar e realizar todas as suas capacidades, as quais são vistas como diferentes e variadas. Mas o básico é poder – ter o direito de -  ser criança.

Um dos participantes é o cartunista Bruno Bozzetto, muito conhecido aí no Brasil também. Olhem que legal esse vídeo dele:

 

_ Claudia_

7 comentários:

Cibele disse...

Ô, esse eu achei beeem mais legal, embora o outro também seja.

Você tocou aí em cima num ponto que muito me interessa...ser criança...

Que será, Clau, será que as crianças mudaram e não correspondem mais as expectativas? Ao que a sociologia da Infãncia chama de Ofício da Criança? Ou será que o modelo de criança mudou e as crianças continuam peraltas como sempre?

Claudia Souza disse...

Eu acho que mudou o contexto. A expectativa de obediencia e de controle dos mais jovens sempre existiu, mas agora aparece camuflada, pois seria politicamente incorreto. Isso produz mecanismos absurdos. Enquanto se discutem leis que transformam palmada em crime, se permite e inclusive se incentiva o uso indiscriminado de psicofarmacos em crianças. Nao é bizarro isso?

Cibele disse...

Ô...muito bizarro! Então você vê uma reação entre, digamos assim, a falta de limite (o extremos da falta de palmada) e o excesso de diagnósticos? Foi isso que me incomodou no outro vídeo...simplesmente converter um suposto e aparente problema numa suposta e aparente vantagem, entendeu?

Claudia Souza disse...

Hummmm eu tinha visto (no vídeo) mais como possibilidade que como suposta vantagem. Mas pode ser que você tenha razão, pois a coisa no status quo circula um pouco por essa ambiguidade: ou se justifica e se aceita tudo ou se estigmatiza. Duas coisas que ajudam pouco a perceber o outro e principalmente a conviver com ele.

Daniele BH disse...

Eu penso algumas coisas sobre esse excesso de diagnósticos de déficit de atenção e o uso indiscriminado de psicofármocos em crianças. Um dos meus pensamentos sobre isso tem relação com o fortissimo poder/lobby da indústria farmacêutica. Outro diz respeito a uma urgência, a uma pressa, a uma visão imediatista de tudo, que creio ser típica da nossa era: as pessoas querem que a criança cresça logo, que se torne rapidamente um sujeito "educado"; mas acontece que educar para a vida em sociedade dá trabalho e demanda tempo, o tempo de maturação de um ser humano, então, como hoje ninguém tem tempo, todo mundo é imediatistaa e as crianças demoram a entender como devem se comportar, é mais fácil e prático rotulá-las e medicá-las, pra ver se asssim elas se comportam dentro das nossas expectativas (e que só parem de tomar remédios quando forem adutlas e já saibam se comportar!). Um terceiro pensamento que me ocorre é que hoje os lugares são todos muito inóspitos para as crianças e muito excitantes, impactando, realmente, no comportamento delas; muitas passam o tempo livre diante da TV e do computador, sendo bombardeadas por um excesso de estímulos e tendo de frequentar ambientes que não foram feitos para elas, por isso não há como esperar que se comportem de maneira adequada; elas não têm mais quintais e nem a possibilidade de brincar nas ruas; nos momentos de lazer, muitas vezes vão parar nos shoppings. Como esperar que uma criança que ficou horas parada diante de uma TV e depois vá para um restaurante com adultos ou às compras em um shopping fiquem "comportadas"? Qunando meninos e meninas ficavam pelo menos até os 7 anos brincando pelos quintais, com outras crianças, só importunavam os adultos em momentos específicos e extraordinários. Hoje, crianças e adultos dividem e disputam os mesmos lugares (shoppings, restaurantes, salas apertadas de apartamentos) e aí fica difícil.
São só pensamentos soltos, provocados pelo post.
Beijo.

Claudia Souza disse...

Ótimos pensamentos, Daniele. Compartilho todos com você.
Abração!

Cibele disse...

Ô...boa colocação, Dani...Quintal na meninada!

 
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