segunda-feira, 30 de março de 2009

Punk, a Levada da Breca



Escrevendo o post sobre o modo de se vestir das crianças, fiquei lembrando do seriado Punk, a Levada da Breca, que eu assistia no sbt quando era criança. Acabei indo ao Google e descobri que a Bandeirantes comprou os direitos do seriado para reexibir em 2009.
Lembra Jota?

Crescendo


Um dos efeitos da visão nostálgica da infância é a ideia de que ela é a melhor época da vida, decorrendo daí uma dificuldade em identificar o crescimento como algo positivo. Se por um lado assistimos ainda à visão da criança como mini-adultos, por outro não podemos negar uma crescente dificuldade de nossa sociedade em permitir e incentivar que cada indivíduo cresça e exerça a sua autonomia.

Dado esse parágrafo como ressalva, não posso deixar de rir de algumas representações críticas dos adultos, presentes nas produção cultural destinada às crianças:

_Ora os adultos! Exclamou Narizinho com ar de pouco caso._Não há maior sem-gracismo do que ser adulto. Bem razão tinha Peter Pan em não querer nunca virar gente grande_ ou “adulto”, como eles dizem com pedantismo. A tal gente grande não sabe fazer a única coisa interessante que há na vida...
_Que é Narizinho?
_Ora que é! Brincar, bobo. Tirando o brinquedo, que é que resta na vida. As gentes grandes arrumam a casa, varrem, lavam roupa, guiam bondes nas ruas, entregam pão nas portas, constroem navios, escrevem livros, jogam no bicho, guerreiam _ fazem tudo, menos a grande coisa que é brincar, brincar, brincar até arrebentar, como nós...
_É verdade_ concordou o menino._ Mas por que será que os adultos não brincam?
_ De medo de parecerem crianças. Eles morrem de medo de parecerem crianças, como se não fosse dez vezes mais importante ser criança do que ser uns homões de bigodes feito taturanas debaixo do nariz, ou umas mulheronas gordas, cheias de rugas na cara, sardas e pés de galinha.
_É como eu penso_ volveu Emília lá na garupa_ Se em vez de boneca eu tivesse nascido gente grande, sabem o que eu fazia? Suicidava-me com um tiro de canhão na orelha.
(Viagem ao céu - Monteiro Lobato)

E por falar em nascer gente grande, assistiram ao filme O Curioso Caso de Benjamin Button?

_Cibbele Carvalho_

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ainda na onda dos livros pra crianças...

Algumas maravilhosas indicações da Elisa Randow (obrigada, Elisa!):

http://www.gestalten.com/books/detail?id=ceaea7651e30769d011efebc8e2f0090&count=10

A Editora do livro acima é a:
http://www.gestalten.com/ (Assistam o videozinho da abertura do site, é otimo!)


E esse é o livro Making Stuff for Kids:
http://www.coolhunting.com/archives/2008/01/making_stuff_fo.php



_ Claudia Souza _

quarta-feira, 25 de março de 2009

A Feira do Livro de Bologna



Ufa!! Estou viva e feliz. Mas cansadíssima! Como acontece depois de um parto.



Voltei hoje de dois dias na Bologna Book's Fair 2009, uma das mais importantes Feiras Internacionais do Livro Infantil do mundo. Me permitam "duas" linhas de egotrip: este ano foi oficialmente lançado lá meu primeiro (espero de muitos!) livro pra crianças. Não foi ainda publicado (deve ser até junho deste ano, pela Editora Callis de São Paulo), mas um modelo em inglês já foi apresentado a Editores do mundo inteiro.








"A planta carnívora de Leo" - escrito por mim e ilustrado pela talentosa Chris Mazzotta, ilustradora paulista que, com este, completa três livros-filhos, um deles a versão italiana d' "O Galo que cantava pra fazer o sol nascer", do não menos talentoso Rubem Alves (que, por sinal é meu conterrâneo).





Na mesma Feira, apresentei outros projetos e comecei a tecer outras idéias. Quem sabe ano que vem tenhamos novos filhotes? Estamos já de dedos cruzados.

E vocês, leitores do Quintarola, preparem-se pra correr pras "melhores livrarias do ramo" quando o livro começar a ser vendido.




Da série "Encontros na Feira":

  • Weebeasts - do artista californiano Micah Linton. Olha ele ali, absolutamente sozinho no seu stand, cercado das suas criaturas. Uma só pessoa que faz texto, ilustração, edição, distribuição... Parece alguma coisa medieval? Existe alguém no mundo moderno ultra-fragmentado que pega o trabalho criativo com as próprias mãos e... vende! No meu caso, não. Ganhei um!! Iêba. O moço tem um currículo invejável, que inclui até a Dream Works.


  • André Neves - ilustrador e escritor pernambucano. Uma pessoa absolutamente adorável. Generoso, disponível, simpático, acolhedor. Coitado dele, usei e abusei de seus conhecimentos nessa Feira. E aprendi um bocado de coisas com ele!



  • Mauricio de Souza - ícone da minha infância. Esse foi o momento tietagem da Feira. Tiramos, eu e a Paula, fotinha com ele e tudo, pra posteridade.
  • (Ai, eu sai gorda nessa foto!)


  • Gabriella Poglianich - encadernadora (que linda esta arte!). Uma das pessoas mais belas e iluminadas que já conheci na vida. Cinco minutos em sua presença são capazes de te fazer esquecer de 30 anos de mazelas.

  • Begoña Lobo Abascal - editora-responsável de MediaVaca, Livros Infantis, Espanha - uma Editora estupenda guiada por uma mulher estupenda. Deu vontade de chorar também quando fui cumprimentá-la pelo merecidíssimo primeiro prêmio da Feira e ela deixou cair duas lagriminhas. Depois veio correndo atrás de mim - uma ilustre desconhecida - com um foulder de um concurso internacional de contos infantis.

Afinal, para-além do business editorial, não é pra isso - os encontros - que servem as Feiras? :-D


_ Claudia Souza _

sexta-feira, 20 de março de 2009

Com que roupa eu vou, na festa que você me convidou

As roupas são, pois, uma forma de memória, mas elas são também pontos sobre os quais nos apoiamos para nos distanciar de um presente insuportável: o presente da infância, por exemplo, quando somos protegidos (eu colocaria aspas na última palavra_ Pitaco Quintarola.) pelos nossos pais. E me lembro de Jen White me falando sobre um par de sapatos que seus pais compraram para ela ir á escola. Sapatos práticos, bons, mas com os quais você tinha vergonha de ser visto. É difícil avaliar seriamente, de forma suficiente, a agonia desses momentos, a raiva, o sofrimento, o desespero. Uma identidade demasiadamente visível está lá, nos seus pés, fazendo troça de você, humilhando você. Pois você foi fabricado, produzido por um outro, colocado na libré de uma dependência abjeta...
(Stallybrass, Peter _ O Casaco de Marx – roupas, memórias, dor_ Ed. Autêntica)

Quem convive com criança já viveu o dilema: decidir o que vestir numa criança, enquanto ela se rebela frente ao guarda-roupa . Quem não convive com crianças pode se lembrar de pelo menos uma cena em que se sentiu mal dentro da roupa escolhida pelo adulto. De um sapato apertado ou talvez das sempre herdadas roupas do irmão mais velho.

Ao escolher o que vestir na criança, o adulto escolhe o papel que ela deve desempenhar. O adulto se projeta na roupa do filho. Algumas crianças andam verdadeiramente fantasiadas: Vestidos impecavelmente engomados e rodados como os de outrora? Saias curtas e saltinhos? Gravatas e suspensórios? Corte de cabelo skatista (ainda existe esse?)? Há grande sorte de personas e de certa forma não há como abrir mão delas. Vestir-se de silêncio deve ser impossível. Até a roupa branca ou o nu enunciam alguma coisa.

Alguns critérios ao escolher o que vestir são objetivos: O orçamento, os hábitos da criança levando-se em conta o conforto e a praticidade, o clima onde mora, algumas convenções sociais imprescindíveis. Esses são de competência do adulto. O problema é que mesmo nós temos tido problemas com esses limites. Compramos mais do que precisamos e abrimos facilmente mão do conforto.

Mas há critérios subjetivos. As crianças também constroem identidades e as comunicam através das roupas. E alguns desses significados escapam aos adultos ou são simplesmente atropelados pela necessidade adulta de se construir socialmente através do filho.

Lembro-me dos primeiros dias de aula da minha filha em sua escola atual. Eu insistia para que ela usasse tênis. Na minha opinião, era mais seguro para brincar. Ela insistia em ir de chinelo. Chegando lá vi que todas as outras crianças chegavam de chinelo e o deixavam num canto da sala para ficarem descalças a tarde toda. De tênis, ela deixava evidente o que queria apagar: a sua condição de novata.

É evidente a projeção nas meninas vestidas de “peruinhas”, contudo, não nos enganemos os “modernos” e descolados. É natural que as crianças experimentem diversos papéis (sobre isso, fala muito bem a Mani). E vestir a criança de alternativa, quando muitas vezes ela prefere se incluir e não se rebelar, é tão violento quanto.
Por último, há algumas heranças da cultura vestuária infantil, quase sempre adaptações aos uniformes escolares, que são geniais: sandália com meia, blusa de manga comprida debaixo da blusa de manga curta, combinações inovadoras de estampas, são algumas que me veem à cabeça agora.
A combinação da foto, pro meu gosto digna de qualquer fashion week kids, foi feita por uma criança sem interferência de adulto.
Cibbele Carvalho

Dia Internacional do Teatro para a Infância e a Juventude


É hoje! E a festa, com o apoio da Cooperativa Paulista de Teatro, é lá no Portal Cultura e Infância.

Obrigada pela dica, Luana!

Multi-cultural ou trans-cultural?

A gente tem falado em "Infância" num sentido universal, partindo daqueles pontos em comum que todo menino no mundo tem com os outros meninos. Temos também pontuado a existência de uma Cultura da Criança, do Brincar, que segundo nos parece, é universal.
E eu tenho vivido aqui na Itália um momento de perplexidade diante do aumento do racismo, da xenofobia (mais explícitos por causa da crise econômica, mas sempre latentes), coisas que na minha ingenuidade de recém-chegada, a Europa já tinha superado depois do holocausto.

Hoje existem mais de 4 milhões de estrangeiros vivendo em solo italiano. Quase 10% da população total do país. Gente do mundo inteiro. Gente que migra fugindo da pobreza, das péssimas condições de vida, das guerras; gente que sonha com uma vida melhor em outras terras. Diariamente eles chegam às centenas, em grupos ou isolados, muitas vezes arriscando a vida. Vem dos países do leste europeu (a maioria), da África setentrional e meridional, da América Latina... Muitos entram ilegalmente. Outros tapam os buracos da economia do país rico em trabalhos árduos e assim conseguem a legalidade. E é claro, os ciganos, andarilhos históricos, aqui conhecidos como Rom ou Sinti.
Poucos vem como eu, por opção. A maioria dos estrangeiros está aqui porque em seu país de origem a vida ficou insuportável.
Nas ruas de Milão a gente já vê a diversidade de tipos, de olhares, de layout, de costumes, de línguas e tenderia a dizer (também ingenuamente): - Que linda essa profusão de cores! Mas depois você observa bem e se incomoda porque não existe mistura, quase todo mundo é "puro", é "típico" demais... (Bendito Brasil!)
Milão é uma cidade cosmopolita. Multi-cultural. Aqui voce sai do restaurante senegales e entra no mercadinho japonês num pulo. Acha de tudo, do mundo todo. Dá até impressão de uma total interação (em termos de produto, pode até ser). Mas é só impressão. Porque a gente percebe claramente como cada comunidade vive entrincheirada no seu mundo. Como a população local teme o estrangeiro. Como o estrangeiro teme a população local e os outros estrangeiros.
A imprensa e as autoridades italianas, ao invés de contribuir para a diminuição desses fenômenos nocivos que já levaram a Europa a cometer tanta loucura, botam lenha na fogueira e não é raro a gente escutar incitações explícitas nos telejornais ou nos discursos dos políticos.
Enfim, clima de caldeirão fervente.

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Acaba que quem leva a pior nessa história são, como sempre, as crianças. As Escolas até que tentam minimizar o "problema" (aqui na Itália imigrante ainda é problema) com diversos programas de "mediação cultural", defendendo a multi-culturalidade. Existem diversas ONGs a respeito, e diversos intelectuais em campo em defesa das crianças imigradas.
E existe acima de tudo a Comunidade Européia que, por principio, é inclusiva: segundo as Leis européias, toda e qualquer criança, mesmo que não esteja em condições legais no país, tem direito de inscrever-se em qualquer escola pública do território europeu, bem como qualquer pessoa tem direito de usufruir do Sistema de Saúde público local amplamente.
Tudo isso é excelente. Mas não resolve a questão de fundo, que é a barreira ideológica entre as diversas pessoas, que se manifesta no temor mútuo. As crianças estrangeiras aqui sofrem situações diversas de "estranhamento", pra não falar de preconceito mesmo em relação a algumas raças e nacionalidades. Tudo isso é visível, embora as professoras se esforcem (a maioria) pra ser/parecer espontâneas, e as outras crianças se vejam em meio ao turbilhão de sentimentos que significa conviver com um dito "diverso", por elas não reconhecido como diverso, muito menos como perigoso. Porque, pras crianças mesmas, essas barreiras são fictícias. Elas brincam juntas, arrumam um modo de se comunicar, interagem naturalmente. Benditas crianças. Na Cultura delas o movimento é Trans, e não Multi. Tem idas e voltas. É vivo.



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Procês verem. Aqui se alguém casa com estrangeiro é chamado de "coppia mista". Um dia, um menino perguntou pra professora o que era e ela respondeu: _ É um casal de um homem de cor e uma mulher branca, por exemplo. E ele: _ Achei que era de um homem e um robô, por exemplo.

terça-feira, 17 de março de 2009

Taco, Bete, Bentes ou Bentes Altas

Eu jogo assim: Marca ponto quem está com o taco nas mãos. Duas duplas. Uma com a bola tenta acertar a casinha da outra (em geral, uma lata de achocolatado resolve o problema) que a defende com o taco. A bola, arremessada o mais longe possível, atrasa a dupla que vai buscá-la, enquanto a que leva os tacos se encontra no meio cruzando-os e marcando quantos pontos houver tempo.
Eu jogo assim e se falo no presente não é à toa. Já tinha visto meu irmão caçula jogar, mas eu mesma, só vim a jogar depois de adulta.

Aqui no Quintarola o jogo é semelhante, enquanto me falta tempo pra sentar e escrever um post que não me sai da cabeça, arremesso umas bolas na intenção de botar a correr.

Mas que esses sites valem uma visita, ah, isso valem!






_Cibele Carvalho_

quinta-feira, 12 de março de 2009

Uma infância possível

Afinal, a Infância não precisa de muitos predicados. A gente só não pode esquecer o que é possível, senão ela corre o risco de desaparecer, de ser riscada precocemente do mapa da nossa vida. Eu penso sempre que ser criança "hoje" não tá nada fácil, em função das configurações da modernidade, mas se for pensar bem, nunca foi. Em todas as épocas a Infância precisou de adultos conscientes que a defendessem. Sejamos nós os de agora.

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Algumas coisas possíveis para a Infância atual:

  • Levar uma vida mais simples, sem tantas "necessidades" criadas/impostas de fora;
  • Viver num ambiente tranquilo;
  • Alimentar-se com consciência, mas sem obsessões;
  • Estar com outras crianças (até de idades diferentes) o maior período de tempo possível;
  • Brincar MUITO;
  • Usar roupas confortáveis (um pouco de pé-no-chão...);
  • Sujar-se;
  • Ser dona do próprio tempo;
  • Ser escutada e respeitada em suas pequenas e grandes decisões e opiniões;
  • Ser compreendida em relação a seus sentimentos (como diz o Ives Della Talle, "sentir é sempre lícito, o que pode não ser lícito são as açoes em função dos sentimentos");
  • Aconchegar-se quando quiser;
  • Ter ao lado adultos fortes e responsáveis o suficiente pra ser autoridade, proteção e referência;
  • Ter direito à privacidade;
  • Sonhar. Sonhar muito! Porque esse é o principal conteúdo da Infância de sempre.

_Claudia Souza_

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nem pobre, nem antiga, nem idílica

Para Ju Sampaio que levantou essa bola lá nos comentários e sugeriu que virasse post

Muito do estudo sobre a infância se dá pelo viés da negação. Sabemos o que não deve ser feito mais do que o que deve ser feito. Sem dúvidas há uma crise de paradigmas. Críticos de nossa própria cultura (do consumismo, do tempo acelerado, do virtual), corremos o risco de falar sobre uma infância-negativa, aquela que não existe. Ou porque já passou (infância nostálgica), ou porque nunca existiu (infância idílica) ou por ser a negação total da infância que vemos da nossa janela.

A infância nostálgica
Caímos nela quando usamos como prumo a nossa própria infância. É lugar comum no sermão do adulto dizer: “Na minha época, isso não era permitido!” ou “aquilo é que era infância (ou brinquedo)”, como se essa diferença fosse em si, razão suficiente pra dizer que uma é melhor que a outra. Os brinquedos antigos, a escola de outrora, os velhos valores, seriam mesmo melhores? A própria idéia do resgate da cultura da infância pode levar-nos ao erro de desmerecer a cultura infantil contemporânea, imaginando que seja cultura apenas o que já está esquecido. É o conservadorismo de roupa nova.

A infância idílica
É aquela infância dos tons pastéis ou das cores fortes e muitos diminutivos. A infância da delicadeza, da imaginação pura e da alegria como estados permanentes do infantil. Uma infância sem os medos, as angústias, os sentimentos de culpa e de injustiça. Uma infância quase parnasiana.

A infância pobre
Boa pescaria da Clau, quando lembrou da fala de Paulo Freire: “a falta educa mais que o excesso”. Essa frase faz muito sentido pra quem vive imerso e atuante na sociedade de consumo. Sentir a falta quando tudo já se tornou descartável, é belo aprendizado. Contudo, a mesma frase perde totalmente o sentido se dita de dentro da pobreza. A crítica ao consumismo não é um voto de pobreza, mas a resignificação do objeto (objeto vivo, diria a sócia). O ode à escassez de recursos ou a estética da pobreza parecem acalmar a culpa, quase que invertendo o jogo: felizes são eles que não sofrem com todos os nossos excessos...

Para entender de onde surgiu essa conversa, o caminho é esse.
Para estender a conversa por novos caminhos, grite ô de casa aí embaixo.
Cibbele Carvalho

terça-feira, 10 de março de 2009

A urgência de brincar

Começa como um comichão. De repente, vem aquela vontade de brincar. A criança olha em volta à procura de material para explorar. Pode ser durante a cerimônia de casamento da tia, enquanto o almoço não chega ou numa viagem longa. É difícil resistir à urgência de brincar. Se a brincadeira estiver muito pronta, não satisfaz. Bom mesmo é realizar.

Nessas horas surgem idéias geniais como as tradicionais bonecas de igreja ou esses bonecos de canudo que ocuparam boas horas das crianças nessas férias.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Objetos vivos Vs Objetos produtos

A partir do post abaixo da Cibbele e deste vídeo, mandado pela Paula Juchem, estive pensando muito sobre o conceito de objeto-produto e em como é triste perceber que, para a infância atual, as coisas, antes vivas (principalmente nos quintais), viraram produtos de consumo desprezíveis e descartáveis. Se a gente compara o pedacinho de pau transformado em milhões de significados, às vezes conservado por anos e anos no "museu pessoal", com a sandalinha da Sandy, por exemplo, tem vontade de chorar. Ou até o "Forte Apache", o carrinho de madeira feito pelo pai, o vestidinho novo experimentado e re-experimentado na casa da costureira, o ursinho de pelúcia que acompanhava à cama e ajudava a adormecer sem medo... todos objetos-vivos, que passavam a fazer parte da vida e da história de quem os possuía, com o que é oferecido/imposto às crianças hoje, aí sim, a gente se desespera.
Eu gosto de coisas, sempre gostei. Não de acumulá-las, mas de me relacionar com elas, de traçar seus caminhos na sociedade, de observá-las, estudá-las, interpretá-las. Eu sempre gostei de possuir algumas coisas que me atraiam e nisto não vejo nada de mal. Pois nessa relação de posse existe uma escolha, um sentido, um investimento afetivo que é útil para meu crescimento.
O que se vê agora é, ao contrario, uma não-posse desses objetos-produtos, que lutam nas propagandas pra sair das prateleiras mas não pra serem investidos de afeto . É a coisa-em-ato de comprar, de adquirir e basta. Porque é assim que funciona e se alimenta o sistema: quanto menos se considera o produto depois de comprado, mais se tem "vontade" de voltar a comprar um outro. É o eterno vazio provocando o eterno impulso de consumir.

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Às vezes penso até em como as próprias pessoas estão sendo gradativamente transformadas em produtos nessa absurda predominância das relações de mercado, e é dai que me vem de pensar que precisamos urgentemente fazer alguma coisa pra reverter esse estado de coisas, pelo menos no nosso micro-ambiente.

_Claudia Souza _

quarta-feira, 4 de março de 2009

Programa família

Interessante, a gente vive valorizando a criança e sua cultura, tentando entendê-la em suas peculiaridades e não apenas como um adulto em miniatura. A indústria cultural se dedica há vários anos a colocar na linha de montagem o que julga ser adequado a elas. Pra não entrar no mérito da qualidade da produção, nem do conceito de infantil difundido por aí, a questão é que chegamos a um verdadeiro apartheid cultural.

Alguns programas infantis chegam a ser insuportáveis aos adultos, tal como o inverso. Festas, shoppings, supermercados e restaurantes, por todo lado, há recreadores para que os adultos e crianças não se chateiem. Nos fins de semana, os dias são recheados de programas infantis enfadonhos para os adultos, que esperam colocá-las pra dormir para começarem a se divertir. Cada vez é mais comum hotéis e restaurantes com restrições às crianças, tal como cada vez é mais comum crianças que não sabem como se comportar nesses lugares.

Criança ouve bem música adulta de qualidade, tal como os adultos ouvem com prazer a boa música infantil. O mesmo vale pra literatura e outras artes. Vale até pro prazer de comer bem. Alguém inventou que criança gosta de muito doce, cachorro quente e hambúrguer e todos os buffets infantis compraram o conceito. Aliás, acho até que as crianças são mais abertas a experiências novas que os adultos e suas certezas.

Bom, tudo isso pra falar do quanto eu gosto de programas-família. Isso é, aqueles em que todos nos divertimos não só dividindo o espaço, mas dividindo uma vivência mesmo. As duas experiências legais que eu tenho pra dividir são em Museus, embora festivais de rua, shows e concertos em praça sejam sempre uma boa opção.

Há algumas semanas estive no Inhotim e achei um programa-família excelente. Carrinhos de bebê e cadeiras de rodas circulam muito bem. Algumas obras enchem os olhos da meninada. A favorita da minha filha foi o Iglu (By Means of a Sudden Intuitive Realization, 1996) do artista dinamarquês Olafur Eliasson.



Pro meu filho de 1 ano, a sensação foram os gramados, lagos, fontes e patos.







Outra experiência deliciosa foi esbarrar com a exposição do Fluxus no Museu do Olho em Curitiba há alguns anos atrás. Obras-engenhocas-interativo-musicais acenderam a curiosidade das crianças e dos adultos.


E embora crianças e adultos gostem muito de se divertir entre seus iguais, seria muito bom se pudéssemos extrair mais prazeres desses encontros.

_Cibbele Carvalho_

domingo, 1 de março de 2009

Máquinas de brincar

Ontem, completamente por acaso, "esbarrei" nelas, passeando pelo centro de Milão. Já tinha visto o site , indicado por uma colega designer; coisa fascinante. Mas vê-las ao vivo, funcionando, é uma outra coisa. É o Grupo espanhol Guixot de 8, de Barcelona, e suas incríveis máquinas de brincar. Todas feitas com material recuperado (que eu prefiro - isso aprendi aqui - não chamar de sucata, escrevo sobre isso em outra oportunidade). O título da intervenção, feita em praça pública em pleno Carnaval Ambrosiano, era "Brincadeiras por um futuro sustentável".
Eu estava sem câmera fotográfica, mas a Doca (Alessandra Latalisa) da Escola Balão Vermelho, que estava comigo, fez estas belas imagens e gentilmente cedeu para serem compartilhadas com vocês, leitores do Quintarola.




Esta ao lado era uma roda com algumas "pinças" e bolinhas dentro dos diversos aros. A brincadeira era capturá-las com as diversas pinças, enquanto girava-se.




Já esta outra acima era uma figura humana feita de molas, cordões e peças automotivas. O jogo era levar o dedo indicador à "boca" para fazer a expressão de "pssssit", puxando os cordões e equilibrando os "braços" com as "mãos".





Ao lado: uma máquina feita a partir de uma pia de cozinha. Debaixo da base, "controles" imantados que conduziam pequenas esferas pela superfície. Um jogo de habilidade.









Eram tantas... podia-se estar ali a brincar ou a observar o dia inteiro. Instigantes, divertidas, verdadeiras "traquitanas" que pareciam saídas dos apontamentos de Leonardo Da Vinci. Às vezes, a engenhosidade de alguns adultos pode "acessar" o universo da criança e jogar com ele de um modo bem harmônico... no caso dessas máquinas, com o a-mais de propor um re-uso de materiais desprezados pelo sistema social - atitude tão fundamental para as novas gerações.



_ Claudia Souza_

Dia Internacional da Criança no Rádio e na TV

Hoje, mais especificamente, agora, a TV Cultura exibe um programa produzido por 8 crianças-adolescentes entre 12 e 14 anos. A produção "Ligados no Esporte" marcará a iniciativa do canal para o Dia Internacional da Criança no Rádio e na TV. Nesta data, criada pelo UNICEF, mais de 2 mil emissoras de TV e Rádio do mundo todo fazem uma programação dedicada às crianças e aos jovens. Veja um trecho e a forma como os oito produtores definiram o tema aqui.
Assistindo aos vídeos, fiquei pensando na forma debochada como as crianças-adolescentes representam os adultos e a cultura adulta. A ironia e o humor são boas formas de resistência, né? Por fim, chamou-me atenção a fala de um dos garotos: _Eu acho que não pode ser de um programinha de jeito assim moralista. Vocês gostam de assistir programas cheios de moral_se você não fizer isso assim, assim, e assim...?
Viu, Barney?
***
Clau, por aí há alguma iniciativa pra esse dia?
 
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