Para Ju Sampaio que levantou essa bola lá nos comentários e sugeriu que virasse post
Muito do estudo sobre a infância se dá pelo viés da negação. Sabemos o que não deve ser feito mais do que o que deve ser feito. Sem dúvidas há uma crise de paradigmas. Críticos de nossa própria cultura (do consumismo, do tempo acelerado, do virtual), corremos o risco de falar sobre uma infância-negativa, aquela que não existe. Ou porque já passou (infância nostálgica), ou porque nunca existiu (infância idílica) ou por ser a negação total da infância que vemos da nossa janela.
A infância nostálgica
Caímos nela quando usamos como prumo a nossa própria infância. É lugar comum no sermão do adulto dizer: “Na minha época, isso não era permitido!” ou “aquilo é que era infância (ou brinquedo)”, como se essa diferença fosse em si, razão suficiente pra dizer que uma é melhor que a outra. Os brinquedos antigos, a escola de outrora, os velhos valores, seriam mesmo melhores? A própria idéia do resgate da cultura da infância pode levar-nos ao erro de desmerecer a cultura infantil contemporânea, imaginando que seja cultura apenas o que já está esquecido. É o conservadorismo de roupa nova.
A infância idílica
É aquela infância dos tons pastéis ou das cores fortes e muitos diminutivos. A infância da delicadeza, da imaginação pura e da alegria como estados permanentes do infantil. Uma infância sem os medos, as angústias, os sentimentos de culpa e de injustiça. Uma infância quase parnasiana.
A infância pobre
Boa pescaria da Clau, quando lembrou da fala de Paulo Freire: “a falta educa mais que o excesso”. Essa frase faz muito sentido pra quem vive imerso e atuante na sociedade de consumo. Sentir a falta quando tudo já se tornou descartável, é belo aprendizado. Contudo, a mesma frase perde totalmente o sentido se dita de dentro da pobreza. A crítica ao consumismo não é um voto de pobreza, mas a resignificação do objeto (objeto vivo, diria a sócia). O ode à escassez de recursos ou a estética da pobreza parecem acalmar a culpa, quase que invertendo o jogo: felizes são eles que não sofrem com todos os nossos excessos...
Para entender de onde surgiu essa conversa, o caminho é esse.
Muito do estudo sobre a infância se dá pelo viés da negação. Sabemos o que não deve ser feito mais do que o que deve ser feito. Sem dúvidas há uma crise de paradigmas. Críticos de nossa própria cultura (do consumismo, do tempo acelerado, do virtual), corremos o risco de falar sobre uma infância-negativa, aquela que não existe. Ou porque já passou (infância nostálgica), ou porque nunca existiu (infância idílica) ou por ser a negação total da infância que vemos da nossa janela.
A infância nostálgica
Caímos nela quando usamos como prumo a nossa própria infância. É lugar comum no sermão do adulto dizer: “Na minha época, isso não era permitido!” ou “aquilo é que era infância (ou brinquedo)”, como se essa diferença fosse em si, razão suficiente pra dizer que uma é melhor que a outra. Os brinquedos antigos, a escola de outrora, os velhos valores, seriam mesmo melhores? A própria idéia do resgate da cultura da infância pode levar-nos ao erro de desmerecer a cultura infantil contemporânea, imaginando que seja cultura apenas o que já está esquecido. É o conservadorismo de roupa nova.
A infância idílica
É aquela infância dos tons pastéis ou das cores fortes e muitos diminutivos. A infância da delicadeza, da imaginação pura e da alegria como estados permanentes do infantil. Uma infância sem os medos, as angústias, os sentimentos de culpa e de injustiça. Uma infância quase parnasiana.
A infância pobre
Boa pescaria da Clau, quando lembrou da fala de Paulo Freire: “a falta educa mais que o excesso”. Essa frase faz muito sentido pra quem vive imerso e atuante na sociedade de consumo. Sentir a falta quando tudo já se tornou descartável, é belo aprendizado. Contudo, a mesma frase perde totalmente o sentido se dita de dentro da pobreza. A crítica ao consumismo não é um voto de pobreza, mas a resignificação do objeto (objeto vivo, diria a sócia). O ode à escassez de recursos ou a estética da pobreza parecem acalmar a culpa, quase que invertendo o jogo: felizes são eles que não sofrem com todos os nossos excessos...
Para entender de onde surgiu essa conversa, o caminho é esse.
Para estender a conversa por novos caminhos, grite ô de casa aí embaixo.
Cibbele Carvalho
10 comentários:
Lindissimo texto, socia! E' sempre bom deixar muito claro "de onde" e "de que exatamente" estamos falando, ainda mais quando pisamos terrenos tao movediços. Voce foi simplesmente CRISTALINA ^_^
Vou usar esse texto no curso de formaçao de operadores de espaços ludicos aqui em Milao. Pode?
Pode sim, querida! Tô chique, heim! Aliás, vc viu que eu botei ali do lado um Licença pra uso?
Nele, a gente autoriza:
copiar, distribuir, exibir e executar a obra criar obras derivadas
Sob as seguintes condições:
Atribuição. Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante.
O que vc acha?
Olá meninas,
conheci o blog de vocês através da Rede Cultura Infância..faz um tempo a Cibbele se apresentou por lá...fiquei encantada! aproveito para mandar um beijinho para a Claudia - foi através dela que eu e o meu filhote Cairu chegamos até o CLIC e lá estamos ainda hoje, apostando num espaço que valoriza a infância. Achei essa discussão aqui pertinente. Pois desde que entrei no universo da maternidade, as conversas sempre giram em torno de um negativismo tremendo em relação a infância de hoje. Nas rodas de mães com crianças pequenas ou com filhos já criados, a infância é frequentemente tratada sob o viés da negação e o tema da infância idílica e nostálgica quase sempre prevalece. é muito chato e angustiante! por isso, foi com muito alívio que terminei a leitura desse post. depois, entrando lá no endereço que a Ju Sampaio enviou e que deu origem a toda a conversa...fiquei lembrando de uma prosa que tive outro dia com uma educadora do CLIC sobre o momento do brincar entre pais e filhos. Dizia a ela, que descobri outro dia, que quando a gente relaxa, e deixa um pouco de lado toda essa crítica do cotidiano acelerado, o consumo, etc...nós também adultos ficamos mais à vontade para brincar/criar/recriar ao lado de nossas crianças - são momentos muito singulares, onde reconstruimos nossas lembranças, se apropriando de objetos que fazem parte do nosso dia a dia de hoje, resignificando-os com ludicidade.
um abraço carinhoso a vcs,
Chris Sampaio
registro aqui o site do programa com crianças que trabalho no Brasil - www.worldschildrensprize.org
Oi, Chris! Que bom receber essa sua visita! Ha pouco tempo estive no CLIC e vi o Cairu todo grandao e seguro de si... lembrei de voces chegando, se nao me engano no Berçario, né?
Sobre seu comentario muito pertinente, eu teria a acrescentar que, nas tribos indigenas, os adultos tem muito essa consciencia da importancia desses momentos junto com as crianças, e esquecem todas as tarefas pra estar com elas simplesmente brincando por algum tempo. Uma vez, uma india me disse que "as crianças ajudam a gente a nao desaprender a sonhar". Interessante é que, nessas mesmas tribos, as crianças aprendem por imitaçao e observaçao dos adultos,nao existe "pedagogia" mas eles, adultos, também reconhecem o quanto podem aprender com elas. E fazem isso de um modo muito pratico, sem edealizaçoes, muito menos negaçoes.
Um beijinho pra voce também, Chris! E outro pro Cairu.
Visitei o site que voce registrou. Fantastico, Chris! Vou usa-lo aqui nas minhas "investidas trans-culturais" :-)
legal, Claudia..!é, cheguei no Clic, Cairu tava com quase um ano..!! imaginei que vc fosse se interessar pelo programa (ou site), que foi criado por uma ong da Suécia. entre as intenções uma é combater o xenofobismo, do qual vc falava a respeito em outro post.
vamos trocando..
um grande abraço
chris
Pois é Chris, você veja como é a infância...mesmo uma década tida como pobre estética e culturalmente, como foi a década de 80, legou uma infância inesquecível...é só ver a quantidade de blogs e fotologs que se dedicam a resgatar as imagens daquele tempo...
Super bacana o programa em que você trabalha! Seja bem vinda ao Quintarola!
Beijos
obrigado, Cil
já tó me sentindo em casa..
aliás, no quintal da casa
bjs
Chris, isso mesmo, a gente puxa a cadeira, senta no quintal e fica de papo pro ar proseando. Beijao!
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