Claro que há momentos, assuntos, informações exclusivos para adultos. Claro que ninguém é obrigado a ter vontade de brincar quando vê uma criança, assim como eu tenho. Claro que a opção “não ter filhos” é legítima. E é claro que criança às vezes cansa, irrita... Aliás, muitos adultos também!
Mas ando assustada com a aversão a crianças que tenho visto por aí. Há hotéis e restaurantes child-free. Monitores e parquinhos por toda parte, o mais longe possível da cena principal.
Há educadores e outros profissionais da educação que admitem não gostar delas. É cult ter pressa, ser impaciente, estar ligado numa atividade cerebral ininterrupta. A criança exige estar no presente, uma abertura para se surpreender, um certo imediatismo, um descompromisso com o tempo, uma alegria ou poesia que nada tem a ver com o mundo blasé muderno.
No entanto, ainda que alguém opte por não ter filhos e por não trabalhar com crianças, é inevitável que em algum momento de sua vida haja um encontro com alguma criança. Seria bom que, nesse momento, esse alguém hipotético se lembrasse que ninguém nasceu adulto e que algum dia, outro alguém teve de ouvir seu choro, seus gritinhos agudos de euforia ao ver uma taça de sorvete, seu correr pela casa de braços abertos e sua alegria simples. Isso é, se é que esse alguém foi uma criança alegre.
E só para lembrar, as crianças são cidadãs amparadas por direitos. Tá lá no Estatuto da Criança e do Adolescente, ó:
Mas ando assustada com a aversão a crianças que tenho visto por aí. Há hotéis e restaurantes child-free. Monitores e parquinhos por toda parte, o mais longe possível da cena principal.
Há educadores e outros profissionais da educação que admitem não gostar delas. É cult ter pressa, ser impaciente, estar ligado numa atividade cerebral ininterrupta. A criança exige estar no presente, uma abertura para se surpreender, um certo imediatismo, um descompromisso com o tempo, uma alegria ou poesia que nada tem a ver com o mundo blasé muderno.
No entanto, ainda que alguém opte por não ter filhos e por não trabalhar com crianças, é inevitável que em algum momento de sua vida haja um encontro com alguma criança. Seria bom que, nesse momento, esse alguém hipotético se lembrasse que ninguém nasceu adulto e que algum dia, outro alguém teve de ouvir seu choro, seus gritinhos agudos de euforia ao ver uma taça de sorvete, seu correr pela casa de braços abertos e sua alegria simples. Isso é, se é que esse alguém foi uma criança alegre.
E só para lembrar, as crianças são cidadãs amparadas por direitos. Tá lá no Estatuto da Criança e do Adolescente, ó:
Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Post dedicado a uma condômina child-free em BH que reclama dos passinhos e corridinhas dentro de casa de duas crianças (1 e 3 anos) que dormem às 19:30h da noite. Aos que por aí praticam a indelicadeza de bater vassouras de madrugada enquanto pais tentam descobrir e aliviar a dor de um bebê doente.
Mas dedicado, principalmente, aos condomínios bacanas que praticam a eleição de um síndico mirim, responsável por representar as vontades das crianças.
Por último, gostei desse texto aqui.
_Cibbele Carvalho_
27 comentários:
Cibbele, concordo em todas as letras. Mas vamos convir também uma coisa: as crianças modernas andam muito sem limites, e isso é realmente irritante, principalmente pra quem não escolheu tê-las. Muita gente exagera, mas tem também aqueles que fazem reclamações justas. Ninguém é obrigado a tolerar falta de educação e crises de birra em lugares públicos, né? Tá com a criança onde tem mais gente, você é obrigado a fazê-la respeitar as regras dequele lugar, pra não incomodar os outros. Tem de dar seu jeito, o que os pais ultimamente parece que têm preguiça ou não sabem fazer.
(Eu particularmente tenho mais problemas com os pais das crianças do meu prédio que com elas. O povo aqui grita demais com as coitadas!)
E esse revolvinho aí no bolso do menininho da figura, heim?
Lindo, lindo, lindo e fundamental post! Acabei de colocar esse tema na agenda para um texto futuro do Biscoito também. Lembrei-me do norteamericano que atirou um copo d'água na cara de um bebê num avião. Coisa de crueldade inominável, porque na decolagem, com muita frequência, a criança sofre mesmo.
Não acho que as crianças de hoje sejam mais ou menos birrentas ou sem limites que as de antes. Acho que desenvolveu-se -- especialmente entre uma certa classe social -- a ideia de que estar em lugar público implica o direito de não ser incomodado nunca. É uma noção de "privacidade" que tem lá sua história e suas origens. Os incômodos são parte do mundo e devem ser negociados com bom senso. Muitas vezes, o que parece ser birra pode ser uma dor de ouvido, de barriga, ou mesmo uma reação assustada aos olhares ou às palavras agressivas de um adulto estranho. Estou totalmente contigo, Cibbele, e vou escrever sobre isso em breve. Um abraço.
Oi, Idelber.Me permita discordar em parte do seu comentário. Como disse acima, eu acho que as crianças de hoje estão muito mais birrentas e sem limites sim, e que isso é muito responsabilidade dos pais que estão meio perdidos em sua função. Acho ainda que se os pais antigos pecavam pelo autoritarismo, os atuais pecam pela permissividade. Tem certos comportamentos que, mesmo compreendidos, não podem ser admitidos.A birra, mesmo compreendida, deve ser gerida pelos pais junto com a criança. Como mãe eu sempre pretendi compreender as razões do meu filho, seus sentimentos.Acho lícito ter motivos, sentimentos, ter suas razões. Não acho lícito entretanto, por causa disso, sentir-se no direito de incomodar os outros. É óbvio que os encontros humanos são sempre feitos de certos incômodos e concordo com você e com a Cibbele quando dizem que hoje em dia as pessoas estão menos propícias a esses encontros, e portanto a serem incomodadas minimamente. Mas a tendência, para uma sociedade civil, é que todos tentem realmente incomodar ao mínimo os outros, ou seja, que cada um pense na coletividade como um valor importante para todos. Se não conseguimos, ou se tem gente que se incomoda com facilidade, faz parte do "bom senso na negociação" de que você falou. Acho muito saudável que as crianças aprendam desde cedo a tentar não incomodar, sem exageros ou obsessão, claro, pelo simples desejo de viver bem junto com outras pessoas. Um abraço para você também e contamos com outros comentários seus aqui no Quintarola.
a mensagem da Clau é muito direta: pais, tomem conta de seus filhos. gostei! bj.
F.
Cibbele, sabe que comecei a pensar no outro extremo desse assunto? Nas crianças excessivamente misturadas no mundo dos adultos? Expostas a certos assuntos ou experiências que não conseguem elaborar? Escreve sobre isso?
Ops! Não tinha visto o comentário do(a) F. Eu fui direta assim, é? ha ha ha
Clau e Idelber,
A educação autoritária deu lugar ao tudo pode, mas isso foi nos anos 70. Eu vejo a crise de paradigmas como a grande dificuldade da educação atual. Mudando rapidamente como o mundo tem mudado, parece que os valores são sapatos apertados. E as famílias não são mais as únicas referências: há a televisão, os vizinhos, a escola, os colegas, enfim...uma organização bastante complexa.
Confesso que quando vejo uma criança dando birra isso chega a me dar alguma satisfação. Acho que ela está no papel dela e vejo a birra (uma crise de comunicação clara) como uma grande oportunidade de aprendizado para a criança. Criança que não tenta dar birra é de se estranhar, não é? O que me irrita é a atitude dos adultos. Ora tendendo pra omissão, como a Clau alertou, ora pra violência, como na cena horrorosa que o Idelber descreveu. Ainda há gente que bate nas crianças! Que exige delas o comportamento adulto. Que usa punições adultas e até desumanas! Que usa argumentos adultos!
Eu sinceramente não sei como as crianças vão aprender esses “modos” se não for participando desses "meios". Se não for errando. Se não for convivendo com a família em vez de serem meramente controladas pelas babás e monitores bem longe da cena.
Nessa crise de paradigmas, pensar um pouco sobre a relação público x privado como vocês oportunizaram aqui no Quintarola é muito oportuno.
Idelber, eu queria ainda agradecer a enorme contribuição do Biscoito Fino para a situação das crianças palestinas. Confesso que várias, várias vezes ensaiei falar do assunto aqui no Quintarola ( a gente até conversou sobre isso, né, Clau?) e se não o fiz foi porque uma certa emoção me travou os dedos.
Clau, pois é, eu penso bastante sobre crianças que se misturam demais aos adultos. Até adiantei essa ressalva no primeiro parágrafo. Só não desenvolvi mais, porque achei que enfraqueceria a causa que agora me pareceu mais urgente.
Mas é ótima idéia escrever sobre isso...obrigada, sócia!
Eu acho que passa bem por aí mesmo, Ci. Mas eu insisto em dizer que o "tudo pode" continua, agora mais "embasadinho",mais travestido, talvez mais escondido ou em outras facetas. Enfim. Ahh, e essa história da birra dá outro post. A coisa é mais complexa que a gente imagina.
Ops! De novo escrevendo junto com outro comentário aqui, aí não vejo antes rsrsrs Escreve sim, vou adorar ler você sobre isso.
"oportunizaram aqui no Quintarola é muito oportuno." rarara...redundância redundante...
Clau, sobre o revolvinho, a figura vem de um site americano...é uma criança americana...explica?
F, quem é você que não deixa o seu nome? Fico curiosa com esses anônimos do Quintarola...parece até que a gente está discutindo algum segredo de estado...hahahahaha
acho que deixar tudo e afastar de tudo são formas de negligência.
Cibbele, F. é a forma ultra-sintética, aliás como tudo que ela escreve ha ha ha que essa danada deixa nos comentários por aí. É a Fernanda Parrila, amiga aqui da Itália ha ha ha Ontem ela me ligou dizendo que tinha comentado aqui e a gente morreu de rir como eu não liguei a letra à pessoa ha ha ha Mas ela faz isso só pra fazer cena ha ha ha A Fefe é um amor e super divertida. Volta sempre aqui!
Mauricio J, também acho. Mas não é uma negligência proposital muitas vezes. Abraço.
Claudia voce tem toda razão! Vivemos outros tempos sim !!!! Ca entre nos, hoje em dia a maioria das crianca sao criadas pela babàs ou seja suas mamães eternamente com sentimento de culpa .. logo... altamente permissivas ....
É triste mas é verdade, Paula. Bom, mas não são todas, né? Vamos ser otimistas.
Sobre o revolvinho: que nada! O revolvinho do NO CHILDREN tá dizendo assim: esses "perversos polimorfos" vão te matar! ha ha ha Falando sério. Achei muito engraçadinha essa figura, bem 50's.
acho que esse assunto das babàs tb dava outro post, né?
Fernanda Parrila, paulista e sao-paulina, amiga da Clàudia aqui da Italia, que escreve em anonimo porque è uma desblogada e desURLizada. mas nao me ignorem please! hehe
(relaxem, eu sei que isso aqui no Quintarola nao acontece)
F.
F, muito prazer! Volte sempre!
Clau...hahaha...essa dos perversos polimorfos é boa...o fato da figura ser americana explica a familiaridade com a arma.
Eu não estou aqui fazendo apologia da falta de educação, só acho que faz parte do ser criança essa educação em processo. A minha questão é a do lugar dado às criança na sociedade. Imaginem que repercussão teria uma nova "grife" de pacotes turísticos old-free. Os velhos também têm as suas particularidades. Andam devagar demais para a nossa pressa...Seria preconceituoso, não?
E também acho que uma das causas da falta de limites atual (que não sei se é maior ou menor que antes, precisaríamos de investigar mais a fundo*) vem desse lugar apartado da criança: babás, monitores, etc...
* as crianças eram mais respeitosas, chamavam os adultos de senhora ou senhor, pediam a benção, mas ouve-se relatos de travessuras homéricas: roubar galinha do vizinho, botar fogo na lixeira da escola, botar bichos nojentos na carteira do professor...Enfim, isso precisaria ser pensado com mais cuidado...
Queria só reforçar, se é que já não está óbvio, que a Cibbele em nenhum momento disse que é normal criança ser mal educada. A causa que ela defende nesse post é outra.O meu primeiro comentário pode ter inclusive tirado o foco dessa causa, que eu apóio completamente: a de que é importante considerar a infância como um momento peculiar na vida,com suas especificidades às vezes "incômodas" pra um mundo formatadinho num modelo adulto. Que bom que existem as crianças (e os artistas, os loucos, as minorias) pra tirar essa linearidade. Nao foi minha intenção, Ci, me desculpe. Meu pensamento às vezes é ultra-linkado, cheio de outros ramos, uma coisa me faz pensar em outra e aí vai. Mas isso não tira a força do teu post não, que como disse o Idelber é lindo,lindo,lindo e fundamental.
Querida Cibele, pensei, pensei e pensei..sobre esse assunto polemico!!
Tive um insight, quem sabe esses lugares publicos tomem outras providencias em vez de afastarem nossas crianças.
Criem o banquinho do castigo da Super Nany para os PAIS. Eles terão o privilegio de assistirem uma cena em tempo real, como proceder com os seus filhos, vendo outras familias estruturadas e bem resolvidas socialmente. Seria uma contribuição pras crianças. Pois não vejo problema algum nesses pequenininhos, e sim na falta de noção de alguns pais. Claro que é uma brincadeira meu comentario, mas não deixa de ser interessante. Não vejo o mundo e qualquer espaço sem elas, pois elas fazem nossas alegrias..bjos
proceder é tão dificil, que coloquei no singular, uma vez que deveria ser no plural.. PROCEDEREM.
Prá vc ver tanto que é dificil..hahahaaa
Blog bom é assim, não é ? Roda Viva!
Obrigada pelo apoio, sócia...agora, simbora todo mundo apoiar a causa Birra free da Clau lá no post providencial Biiiiiiiirrrrrraaaaaaa!
kkkkkkkk, não é má idéia, Sandra! É nas interações sociais que as maiores modificações acontecem, né?
Paula, obrigada pela atenção constante. Ce sabe que a sua cadeira já é cativa, né?
obrigada! dou umas desaparecidades :#@[ outros blogs ˆˆˆˆˆ outros interesses que nao tem a ver com as criancas , mas sempre acabo vontando por aqui porque gosto muito do Quintarola, abracos!
"Birra free" assim... cultivadinha, neam? ha ha ha Eu sou a favor da liberdade cultivada er er er
Jota, não comentei mas a sua colocação foi super pontual e sintética...valeu!
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