segunda-feira, 1 de junho de 2009

Medo do escuro, do silêncio e da solidão

É impressionante como as crianças enfrentam a hora de dormir com certa ansiedade. Os bebês _só descobri isso na marra_ quando acordam à noite, solicitam o mesmo cuidado que lhes foi dado na hora de dormir...Se dormiram no colo, pedem colo, se dormiram mamando, querem mamar de novo. De forma que o melhor a se fazer é nada fazer. Nada de estratégias mirabolantes como dar voltinhas de carro ou adormecer frente à tv.

Mesmo depois de aprenderem a dormir sozinhas, as crianças ainda enfrentam o escuro, o silêncio e a solidão. Uma vez, levei um livro chamado O Apanhador de Sonhos para a minha oficina de brincadeiras teatrais. O teatro e as brincadeiras de faz-de-conta, a gente sabe, acabam revelando mistérios muito profundos. Não era minha função analisá-los e nem tenho competência para isso... Mas esse dia me pareceu marcante, pelo seguinte: NENHUMA criança, coisa raríssima, quis ser o protagonista. Zacarias dormia e entrava numa atmosfera muito onírica e por isso mesmo, aos olhos dos pequenos, bastante assustadora. Acabaram me propondo ser o Zacarias e cada um deles escolheu ser unicórnio, dragão, bichos e tudo mais que habitava aquele sonho. Uma criança teve a idéia de me enterrar com almofadas, embora não houvesse nenhuma menção a nada parecido no livro, que aliás, é muito doce. Nada assustador.

Os adultos, às vezes ouvem, no silêncio da noite e da solidão, os barulhos que o dia, a produtividade ou a pressa não permitiram ouvir. Em geral, estão ali as fraquezas. E talvez a maior delas seja o medo de perder o controle e entrar num modo: estar-amorfo. Alguns adultos tem insônia, que eu imagino, é outro tipo de medo de dormir. Só depois de grande, aprendi a ouvir bem os barulhos (é preciso conhecer os inimigos), fazer um chá, pensar em antídotos e voltar a dormir. E já ensinei isso a algumas crianças. Uma delas veio me contar encantada, que depois de sonhar que um monstro queria roubá-la de sua mãe no shopping, fechou os olhos e conseguiu sonhar que o pai chegava e matava o tal monstro.
Sabidíssimo o artista plástico Leonilson na obra que ilustra esse post. Sim, sim, ando de namoro com a arte contemporânea. Um travesseiro bordado o nome do medo: ninguém. (click na foto para ver maior)
_Cibbele Carvalho_

6 comentários:

Claudia Souza disse...

Bacana o que você escreveu. Eu sempre achei que dormir faz parte do universo da separação e que as crianças precisam aprender a encontrar recursos pra fazer isso de um modo sereno. Só que é uma relação, não parte só delas. Se os pais dão tudo pronto, "fazem a criança dormir" ou tentam retirar as dificuldades, privam os filhos dessa importante aprendizagem. Tem um lado muito bom em estar só consigo mesmo. Pensa na gente quando deita, leva um tempo pra pegar o jeito e até pra se entregar ao sono. Os meninos também. Tem de dar esse tempo. Além disso, o sono é feito em ciclos e todo mundo dá umas acordadas durante a noite, só que adormecemos de novo sem perceber (a não ser quem tem insônia). Se a criança acorda e chora forte (porque um certo chorinho é normal na confusão sono-vigília) é porque não sabe adormecer sem estratégias externas (como os insones). Mas pode aprender, se tiver oportunidade. Essa oportunidade quem dá são os pais.

Claudia Souza disse...

O travesseiro do Leonilson é estupendo.

Juciane Deliziê disse...

Olha só, discordo em partes, das afirmações que a criança, recém nascida, tenha que dormir no berço, sozinha, poxâ, ela estava num ambiente protegido, aconchegante, "quentinho", e de repente, sai de lá, peladinha, com frio, tem que chorar... enfim, um processo que todas passam, mas, ai, é que entra a questão, quem precisa mais de atenção, pra mim sempre será a criança, que dormirá comigo, terá o aconchego ainda, olha só, se nós, "adultos" gostamos de dormir abraçadinhos com alguém, sempre na busca de algo e/ou relativo a isso, pra mim nada mais é do que o desejo do incosciente carente desse afeto que dizemos que a criança tem que "acostumar" a dormir sozinha!
Por exemplo, meu filho tem quase 6 anos, não me deu trabalho algum quanto a isso, tanto que, ele mesmo, por si só, quis sua liberdade, quer ficar sozinho no quarto dele, pede licença, fecha a porta e entra no seu universo, claro que isso é muito relativo, cada criança, cada pessoa tem seu jeito, mas, entre marido e filho, ahhh, minhas caras Quintarolas, meu filho é minha vida! E se ele levanta a noite e vai pra minha cama, deixo, porque, fala sério, o cheirinho deles é tão bom, sentir a respiração, ver ele sorrindoeqto dorme, vai saber o que estava sonhando, e aproveito mesmo, porque ele vai crescer e um dia, ele vai querer é dormir com outra... hauahua!
E olha, ele me faz até cafuné pra dormir e comentários a parte, ele é um rapazinho que aprendeu a abaixar a tampa do vaso e dar descarga... hauahaua... sou fã do meu filho!

Juciane Deliziê disse...

Ahhh... e o travesseiro é bacanérrimo!

Cibele disse...

Juciane,
Eu e a Clau vez em quando nos aventuramos em posts mais pessoais, mas veja que ali não vai opinião de especialista, não. Aliás, o quintarola não é mais um daqueles lugares em que especialistas descrevem regras de como fazer isso ou aquilo. Pessoalmente, não gosto de criança na minha cama. Nem recém nascida, que eu morria de medo de machucar durante o sono. Mas haverá quem diga que a cama compartilhada é bacana. E sincerente, na prática, muitas vzes a gente deixa o certo de lado e faz o que dá conta.
Beijos e obrigada pela contribuição, viu?

Claudia Souza disse...

Então Ju, como a Cibbele disse, a gente bota aqui as nossas impressões, nada de conselho de especialista, embora eu até seja oficialmente especialista, mas não me considero porque já rodei por muitas praias diferentes em volta da Educação e da Psicologia rsrsrs. O suficiente pra saber que cada família é uma e age do seu jeito. Do que eu disse comentando esse post, não sou contra o deleite de dormir aconchegado com a criança - porque você tem razão, é uma delícia mesmo! - eu por exemplo já dormi muitas vezes com meu filho. A questão pra mim é outra, é que eu tive vontade de "ensinar" pra ele a dormir sozinho, sem ficar acostumado, dependente de mim pra dormir, porque menino é cheio de ritual e de costume. Além disso, como a Cibbele, bebezinho eu tinha medo também de machucar. Mas enfim... foi meu jeito de lidar com a coisa. Achei que foi bom isso pra ele e pra mim, e foi desde pequenininho a nossa rotina. Mas vez por outra, geralmente quando um dos dois estava mais carente, sem problemas, ele vinha dormir na minha cama.
Eu também sou fã do "Foguetinho" ha ha ha Ele ainda é foguetinho?

 
BlogBlogs.Com.Br