terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Inventário Sentimental dos meus Brinquedos

Texto dedicado à minha prima Lícia, sem dúvida alguma, a maior companheira nas minhas traquinagens e que me surpreendeu com um gesto muito doce_ presenteou minha filha com o Cascatinha dela, igualzinho ao meu boneco preferido e que eu já não tinha mais

• 1 Susie Carmem Miranda,
• 1 par de patins,
• 1 Barbie,
• 1 caixa de madeira e trapos de pano,
• 1 bola (preferencialmente para queimada),
• poucos metros de elástico,
• 1 boneco Cascatinha,
• alguns jogos e muitos livros.

Esses foram os preferidos. Já nasci no mundo do plástico, mas ainda a salvo da descartabilidade de hoje. Enrolados em calça plástica, acreditando na chupeta e na mamadeira como substitutos da pele, eu e minha geração. Dessa forma, minhas memórias (e toda memória tem alguma coisa de poética, até mesmo as de plástico) estão permeadas por essa matéria fria, lisa, barata, resistente e leve.

Até hoje sei o cheiro do plástico que envolvia o brinquedo novo. E a sensação estranha de ver a minha boneca presa em arames pelos pés, mãos e pescoço, numa caixa de papelão. Uso de propósito o pronome possessivo. Não havia a menor dúvida de que a boneca era minha, antes mesmo daquele encontro.

Ela vinha limpa, penteada, nova e aos poucos ia ganhando as formas da nossa convivência. As marcas das nossas brincadeiras. Peter Stallybrass desenvolve essa idéia citando Lear: "A minha mão cheira à mortalidade". Continua o autor_ é um cheiro que eu adoro e pelo qual a criança se apega ao cobertor, ao bichinho de pelúcia, ao travesseiro. E é por isso que as crianças não gostam de lavar esses “mimis”. Uma boneca de pano facilmente ganha o encardido e o cheiro que marcam essa particularidade. O carrinho de madeira ganha as cicatrizes de cada aventura. Mas o plástico se defende, não absorve o cheiro, não se modela às mãos. É impermeável.

Em tempos de consumismo, perturbamos um pouco a relação entre as crianças e seus objetos. Dificilmente uma criança marcará e será marcada tão intensamente por dezenas de bonecas loiras de plástico, como acontece com uma só. Stallybrass, no mesmo livro, afirma que Marx errou quando emprestou o termo fetiche da antropologia do século XIX e o aplicou às mercadorias, uma vez que a abundância de materiais só faz desvalorizá-lo.

A infância tem mesmo uma força própria. Ela escapa e se molda aos contornos dos novos tempos. Quando vejo uma boneca-bebê pintada à canetinha, um cabelo cortado ou um carrinho costumizado, só faço pensar em como a infância se rebela, insiste e resiste em deixar suas próprias marcas.
Quem mais topa fazer o seu inventário?
_Cibbele Carvalho_

8 comentários:

Anônimo disse...

1 Barbie
1 bebezão da Estrela (esqueci o nome, era daquelas bonecas dos anos 80, bem grandonas);
algumas fofoletes;
maquiagem, roupa de gente grande e uma mesa onde eu era professora ou apresentadora de notícias (nessa eu tb usava uma caixa de papelão que servia de enquadre para simular a TV);
uma bota herdada da minha mãe, porque eu queria ser a versão feminina dos policiais e detetives dos enlatados americanos;
bicicleta

Anônimo disse...

O meu brinquedo inesquecível foi o Syncron (acho que escrevia assim). Era um carrinho com uma roda enorme na frente, duas pequenas através e que eu controlava pedalando e virando para os lados com duas manivelas. Sensacional!! Dava altas derrapadas controladas, descia morro com ele na rodovia, dava cavalo de pau. Deu até vontade de buscar na internet e comprar um para mim de novo...

Tive também um carrinho do Batman, mas apesar de ser um carro Dele, não tinha o mesmo charme.

Como se vê, não é à toa que amo Fórmula 1.

QUINTEIRAS disse...

Maravilhoso teu texto, Ci!! Eu tive poucos (porque tinhamos pouco tempo pra gastar com eles, a gente brincava demais uns com os outros, familia grande, e também, é claro, comprar brinquedo pra todo mundo nao era facil) brinquedos, mas significativos. Tive a Suzy e fazia seus acessorios, muitas panelinhas, pratinhos, etc, carrinho de rolima, corda, e depois de crescida tive a boneca mais chique da época, a Prosinha. Puxava-se uma cordinha e ela falava. E' claro que a curiosidade matou o gato: querendo saber de onde vinha a voz mecanica ( e era de um disquinho vinil), fiz uma cirurgia nela e acabei com a brincadeira de ouvir.
_Claudia Souza _

QUINTEIRAS disse...

Sam,
Clássicos os seus brinquedos, heim! O gosto pela maquiagem carregou com você, né? (pra quem não sabe, a Sam sabe tudo de maquiagem). Eu tb queria ser detetive...
Paulo,
Fiquei preocupadíssima com essa parte: procurar na internet e comprar um pra você de novo...hahahaha
Clau,
Obrigada, querida! Um disquinho de vinil???? E isso resistia ás reviravoltas da boneca???

Anônimo disse...

Proce ver a tecnologia da época! Tinha ema "eletrolinha" presa dentro da boneca! Que funcionava quando se puxava a cordinha. A boneca (despedaçada!) tenho até hoje, la na casa da minha mae. Tai, acho que quando chegar ai no Brasil vou leva-la ao Hospital do Brinquedo, quem sabe me restauram? A eletrolinha sei que nao vai ter jeito, mas a boneca quem sabe... :-)))

Anônimo disse...

Bila, tá bonito seu texto, sô!
De cara me lembro de dois: bolas de meia e o famigerado colossos, um carrinho que demorei um tempão pra ganhar e que está guardado até hoje. Paulo, se você achar o Syncron por favor compre dois que acerto contigo...a gente até dá um tempo no GP4 pela causa! J.

Anônimo disse...

Obrigada, J.!
Eu procurei o tal Syncron no google e não tive notícia do que se trata. Vc já viu um, J.? Lembra do carrinho de rolimã by Tio Thompson? Tenho até hoje uma cicatriz no dedo!

Anônimo disse...

Do Syncron nunca ouvi falar, mas pelo que entendi o divertimento é o mesmo dos carrinhos de rolimã do Tio Thompson. J.

 
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