domingo, 9 de novembro de 2008

História do quintal

A moradia é um discurso e seus significados. Cada parede, uma frase. Cada casa, um texto inteiro. Uma casa fala por si mesma. Da mesma forma, seus cômodos, a varanda, os corredores e, porque não, a quintarola.

Um grupo constrói a moradia que lhe é peculiar. A terra é carregada pelo desejo-braço de alguém ou por um grupo de alguéns. A terra pode ser também carregada por um alguém que não tem (nem desejo, nem casa, nem liberdade). A terra faz o muro em taipa, já que ainda não nos inventaram o tijolo cozido. O espaço é determinado por esses muros, por fronteiras, por oposição.

O espaço do quintal é designado pela organização da cidade-colônia, que concede terrenos calculados pela metragem linear da fachada e não pela metragem quadrada, surgindo assim vários terrenos retangulares, com grandes áreas ao fundo.

Quintal: pequena quinta ou a quinta parte do terreno. Galinhas, porcos e árvores frutíferas o habitavam. Mulheres e escravos trabalhando. Crianças circulando. A cozinha dos cozimentos demorados e muito quentes. A casinha. Não compartilham dessa origem os quintais do além-mar, dado que nossa província destina-se (ou é destinada por outrem) à exploração e não ao povoamento. A produção brasileira enche caravelas rumo ao mercado externo, exigindo que cada casa fosse não só lugar de morada e abrigo, mas espaço de cozimento, de plantações e criações, que atendessem as necessidades mais urgentes.
Essa origem do quintal na arquitetura brasileira nos dá pistas do espírito quinteiro de que queremos falar...

Nossa quintarola é espaço velado aos visitantes de cerimônia. Para eles, oferecemos a varanda ou a sala de estar. Nossa quintarola está aberta a quem quiser se dependurar no muro para prosear, trocar ou emprestar xícara de trigo. Nossa quintarola (entre muros, mas aberta ao céu)recebe de alma inteira.
Importante citar duas fontes sobre a origem dos quintais na arquitetura urbana brasileira:
1) Os estudos para o doutorado do arquiteto Luis Octávio da Silva ;
2) O terceiro capítulo deste livro.
3) Inspiração vinda desta matéria.
_Cibbele Carvalho_

4 comentários:

Anônimo disse...

Cibella! ta muito lindo esse quintal. Depois venho colher um pouco mais de tempero ok. beijos grandes.

Anônimo disse...

Pode deixar que eu levo o café.
Beijão, Bila.
J.

Anônimo disse...

Por falar em moradia, me lembrei desta expressão: "Noli foras ire, in te ipsum redi: in interiore hominis habitat veritas".Ou seja não saias, volta para dentro de ti: a verdade mora no interior do homem.

Dá para concluir que a moradia é simples representação. Belo dentro, bela moradia...

E pelo que conheço da Cibele haverá de ser muito bom frequentar esta Quintarola.

Maurício Senior

Anônimo disse...

Sil, se o Jairo achou bonito, é porque é bonito meeeesmo! Pode ficar metida!
Obrigada pela visita, Jairo! Volte sempre!

***

J.,
Café, ôba!...E cadê a Dona Ana pra nos trazer um pratinho de biscoito frito e sonhos, cobertos por um guardanapo de pano com bico de crochê?
Saudade das nossas madrugadas filosofando...espero seus pitacos aqui e se eu falar alguma asneira pseudo-sociológica, faça-me o favor de me corrigir.

Beijos

***

Esse cumpadre mui elegante, que cita em latim, sabido toda vida, é meu pai! Obrigada pela força, pai! Vou tentar me lembrar dessas palavras
; )

 
BlogBlogs.Com.Br