Roberto DaMatta, nesse livro, invencionou a idéia de Rua e Casa como categorias sociológicas fundamentais para a compreensão da sociedade brasileira. Barrocos, nos entendemos através de antíteses: público e privado, fora e dentro, masculino e feminino. O autor se refere ao quintal como “o espaço arruado da casa”. Fiquei pensando...o que há de "arruado" no quintal? Céu aberto, chão de terra, árvore, bicho, chuva, vento, sereno...Uma certa aventura (projetada), algum risco (calculado), uma interação com o tempo e o espaço.
Cá pra mim, tenho que o quintal também é uma categoria sociológica fundamental para o entendimento da infância. Quintal não designa apenas um espaço geográfico. As categorias sociológicas são (vou citar o cara por completa incapacidade de dizer melhor e mais bonito) “acima de tudo, entidades morais, esfera de ações sociais, províncias éticas dotadas de positividade, domínios culturais institucionalizados e, por causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas (blogs) e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas.” Pura poesia em forma de texto dissertativo, não é?!
_Cibbele Carvalho_
7 comentários:
bonito, Bila ! J.
Lembrei de um menininho de 3 anos - acostumadissimo a quintais, claro - que me disse um dia: Hoje vai chover. Perguntei: Mas como é que voce sabe? Ele "cheirou" o ar.
Obrigada, J.
Essa idéia de espaço arruado da casa é muito boa, né? Fiquei pensando se a privação do quintal na infância não atrapalharia justamente essa transição para a rua, que acontece na vida adulta. E mais, fiquei pensando se a praça não seria justamente uma tentativa da rua de acolher a infância sem quintal. Mas são idéias que eu ainda estou amadurecendo e que estão querendo muito virar outro post. hahahaha...
Pescar o cheiro de chuva no ar do quintal é coisa pra quinteiro profissional, né não, Clau?
Mas a praça do jeito que vai, sei nao... Bom, ai a gente entre na coisa do Quintal Real X Quintal simbolico, né? Conheço crianças que nao tem quintal real e conseguem te-lo simbolicamente e o que é pior, o vice-versa disso!! E' tragico, mas lembro de um menino que tinha um quintal IMENSO em casa, mas nunca ia la, ficava sempre brincando sozinho no computador ou vendo TV...
(Claudia Souza)
Eu não tive quintal real, mas tive quintal simbólico...Eu brincava com trapos de panos, só tinha uma boneca, viajava em livros, tive alguns bichos e ralei meus joelhos em garagens e pracinhas.
O que eu acho delicioso do quintal e que a praça perde, é um segredo, uma brincadeira secreta. É estar a salvo das vistas do vizinho. Como eu disse lá embaixo, o quintal não é lugar para visitas de cerimônia. Por isso o Backyardigans trai o quintal.
Cibele
Eu tive um quintal enorme à disposição... uma jabuticabeira bem frutífera... sempre alcançada por uma tábua estendida. E um porão para o meu ruminar criança. Tinha bolinha de gude, pião e outras coisas de menino na pracinha em frente. Chão de terra, plantas e hortas, galinhas e galos cantores, cães e gatos... Bolo de fubá e café quentinhos com leite de vaca (mesmo). Ali no meu quintal eu me visitava, reinava e recebia meus amigos, anjos e outros seres imaginários. E olha que eu não me chamava Pedrinho!
Ai, que delícia de quintal...Bolo de fubá e café quentinhos com leite de vaca é muito luxo! Adorei o menu quintarolesco...
Igual aquela música do Cocoricó..."Chove, chove, chove, deixa choveR...enquanto tiveR bolo de cenoura a gente nem vai percebeR...Ai que tarde tão bela...banana quente no foRno com açúcaR e canela..."
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