sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Quintal Como Espaço de Auto-Projetação

Quem observa uma criança brincando livremente no quintal percebe como ela vai construindo um sem-fim de significados em cada ação. Um pedacinho de pau vai sendo transformado continuamente. De espada a corpinho de boneca, de talher a pincel, de cavalinho a, de novo, espada. E essa operação vai se complexificando cada vez mais, na medida em que o pedacinho de pau vai sendo combinado e re-combinado com outros elementos também simples, como pedrinhas, plantas, água. Não precisa de muita quantidade, nem de varieadade pra dar sentido na brincadeira. As necessidades são poucas e genuínas. Os objetos ocupam um importante lugar de representação, como deveriam ser normalmente se não tivessem sido, um dia, transformados em produto. E a criança reina absoluta nessa teia, projetada por si mesma, pelo seu Desejo.
Na medida em que projeta, ela se auto-projeta, se constrói como Sujeito, para-além de uma tênue identidade. O Sujeito auto-projetado é dono de si mesmo, não esta à merce de nada nem de ninguém. Não sofre homologações – ao menos ali, naquele momento em que é levado pela brincadeira. Pode criar a seu bel-prazer um mundo encantador e aberto.
Auto-projetar-se significa construir um significado para si mesmo no mundo.
Quantos de nós adultos – cercados de toda sorte de objetos e de sofisticações - somos capazes dessa proeza?

_Claudia Souza _

4 comentários:

Anônimo disse...

"Auto projetar-se significa construir um significado para si mesmo no mundo".

Bonito de doer, Clau!

Anônimo disse...

Claudia, Cibele , que lindo trabalho! Como é bom ter oportunidade de ler essas coisas lindas que me dão inspiracao pra o meu dia dia com as criancas. Com a expressao "auto projetacao" fiz uma viagem no tempo, me vi brincando no lindo quintal onde cresci.parabens! PAULA JUCHEM

Anônimo disse...

Claudia, talvez a carência de dar significado a si mesmo e requerer um lugar pra autoprojeção possa acontecer com crianças bem mais seguido que gostaríamos de imaginar. Atribuo isso à sistematização da vida, em que muita criança não tem tempo pra fugir da carga de compromissos planejados, incluindo nesta o brincar pedagógico e orientado que arrisca podar a liberdade inventiva. É a era do tudo pronto, do brinquedo que tem mais graça sendo destruído; ainda bem que não se perde de todo a oportunidade de experimentar sentidos pela desconstrução! Criança tem que ter tempo e lugar (um quintal sem guia mas apenas vigilância) para nada fazer porque é nele que imagina, faz e acontece! Dá trabalho, arrisca a segurança, foge do projeto dos pais, mas é o momento da criança ser ela mesma com suas próprias experiências e motivações. Bah, esse papo me deu uma saudade da minha tropa alinhada de botões de roupa que eu comandava nas curvas dos pés dos móveis, enquanto minha mãe costurava nossos vestidos de passeio...

QUINTEIRAS disse...

Pois é, gente. A coisa ta feia pro lado dos pequenos. Mas como disse a Lisete, eles nem que seja "desconstruindo" conseguem se safar relativamente bem :-P Mas mesmo assim precisam de mais e mais aliados "do lado de ca" - nos adultos podemos e devemos adotar outra postura diante deles. Paula, querida, é uma HONRA pra mim te ter como leitora aqui do nosso "quintalzim" - um poquim de mineires hi hi hi

 
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