Menino precisa ser surpreendido. Sem surpresa, no party. A gente devia - bem que podia - manter essa característica pra vida toda. Porque surpresa é mais ou menos a máxima moriniana de ESPERAR O INESPERADO. Menino faz isso muito bem. A gente não. A gente é cheia de expectativas, mas se recusa a esperar o inesperado. Ao contrário, a gente quer sempre prever, e aí tudo vai perdendo a graça. Envelhecer é isso (também?).
Quando a gente convive com crianças - especialmente se são crianças saudáveis e muito muito vivas - aprende que uma pequena - aqui na Itália inclusive mínima - dose de surpresa muda tudo. Quiçá os educadores soubessem esse segredinho e o usassem com mais constância... e/ou com mais sabedoria. Porque não basta surpreender por surpreender. A surpresa tem de ser surpreendentemente ... surpresa!
Alguns exemplos:
Quando a gente convive com crianças - especialmente se são crianças saudáveis e muito muito vivas - aprende que uma pequena - aqui na Itália inclusive mínima - dose de surpresa muda tudo. Quiçá os educadores soubessem esse segredinho e o usassem com mais constância... e/ou com mais sabedoria. Porque não basta surpreender por surpreender. A surpresa tem de ser surpreendentemente ... surpresa!
Alguns exemplos:
- um espetáculo de teatro de marionetes francês que assisti outro dia em Mantova. Falando assim, ESPERA-SE que as marionetes sejam pequenininhas, que a cena se passe num palco e que os atores manipulem os bonecos do alto. Na-na-ni-na-não... eles fazem. E vem com uns bonecoes imensos, balões flutuantes, manipulados de baixo (ok, com fios) por três ou quatro pessoas. O cenário? O céu da cidade. Mais surpreendente ainda é que a história se passa no fundo do mar. Ou seja, nós público, somos colocados no fundo do fundo, na medida em que assistimos tudo "de baixo". Enfim, um deslocamento de ponto de vista extraordinário. Os manipuladores interagem com o público de um modo muito interessante, fazem parte do boneco, caminham do nosso lado como se fossem eles também personagens, provocam emoções extras com gritos, expressões, um deles chegou a "cutucar" uma menininha na platéia. Resultado: como não podia deixar de ser, crianças absolutamente satisfeitas (surpreendidas), adultos encantados, famílias devidamente "alimentadas" num domingo cultural.
- os - bons! - narradores/contadores de história. No Museu onde eu trabalho, a moça que faz a visita guiada tem esse dom de sobra. E assim ela consegue apresentar um cavalinho de pau ou um "pracinoscópio" (precursor do cinema) de 300 anos a uma menininada acostumada com computador e DVD sem que ninguém pisque! A-do-ro ouvir os "oohhhs" enquanto ela desfila seu novelo de brinquedos artesanais, "anacrônicos", mais-que-simples...
- Os mágicos de espetáculo. Às vezes, eu queria ser como eles pra brincar com as crianças. Queria conhecer e realizar com tamanha habilidade algumas ações simples, do tipo que enganam os olhos e surpreendem. Surpreendem sem que sejam magia de verdade - todo mundo sabe disso, inclusive as crianças, mas nem por isso deixam de ser magia. Magia de mentirinha - eu queria conhecer essa Arte, juro.
Fotos minhas do Espetáculo "A Pérola" , do grupo frances Plasticiens Volants, apresentado durante o Festival Internazionale d'Arte e Teatro per l'Infanzia em Mantova, Itália, 9 de novembro de 2008.
_Claudia Souza _
8 comentários:
Engraçado, Clau, como as crianças se surpreendem com pequenas coisas né? Elas notam primeiro as nuvens no céu ou as folhas estão caindo. Parece que nós, adultos, estamos muito ocupados em diálogos internos, né?
Se bem que vez por outra me surpreendo com esse anestesiamento chegando até mesmo lá na infância. É como se tivessem abusado do fator surpresa (os super efeitos cinematográficos,a avalanche de presentes e a quantidade de luzes e sons dos brinquedos)até que ela, a surpresa, deixasse de existir por repetição.
PS: Humilhação esses seus passeios culturais...!!! Desaforo!!!
Ci, o legal é que mesmo com essa "overdose", as crianças ainda conseguem se surpreender com as coisas simples. Acentece algum anestesiamento, como voce disse, mas é raro. Eu fico impressionada como elas se encantam com brincadeiras, brinquedos, etc, que fogem totalmente do estereotipo pos-moderno. Os educadores menosprezam essas coisas. Talvez porque desconheçam que o "universo infantil" - onde ainda é permitido que exista - é muito diferente do nosso. Acho que vou escrever sobre isso num post sobre contos de fadas, que tal? :-))) Sobre os passeios culturais, pois é, ja to me inteirando do circuito infantil italiano rsrsrs Coitado do Marco, ele é que vai me acompanhando pra todo canto, ta virando meio agente cultural da infancia também!! kkkkkkk
Ainda bem que é raro, amiga...Estou lendo um livro que tem o relato de algumas crianças sobre teatro infantil, é um estudo sobre recepção. Uma delas chega a dizer que o teatro é mais chato que a televisão porque você não pode mudar quando está chato. É a mesma mentalidade de vendedor de livros que empurra o livro mais colorido porque chama mais atenção da criança. Estranho, né?
Menina, esse negócio de ter um blog é muito legal, né? Arranjei um lugar pra desopilar minhas asneirinhas...hahahahaha
Mas ai que ta o ponto. Se um espetaculo teatral nao consegue surpreender a criança, ela simplesmente quer "mudar o canal". Atitude mais que saudavel essa! Eu muitas vezes ja desejei o mesmo!! Como tem coisa CHATA sendo oferecida por ai, puxa vida. Isso nao quer dizer que as crianças estejam hiper-estimuladas. A coisa, pra mim, ta é na QUALIDADE dos estimulos. Crianças sao muito seletivas...
(Claudia Souza)
É verdade, tem muuuuita coisa chata...
Mas acho estranho o que os adultos julgam ser chamativo às crianças...já ouvi muito profissional de teatro falando assim: tem que ter música senão criança cansa, tem que ter cor (chamam de cor aquela coisa arregalada, pronta)e mais um monte de quase tabus que eu já vi caírem por terra totalmente. Já notaram o encantamento das crianças por algus livros da cosac & naif que fogem totalmente do padrão?
Esse livro que eu estava lendo pretendeu chegar perto de um estudo sobre recepção da criança aos produtos culturais, mas ainda acho que a infância é um público muito desconhecido.
Também acho. A questao é que artistas e produtores culturais (e principalmente pedagogos er er er) GERALMENTE conhecem pouco de criança...
(Claudia Souza)
O problema da pedagogia que ela está pouco interessada em quem a criança é muito voltada para o que ela deve ser tornar. Um tanto quanto arriscado e nebuloso, né?
Cibele
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