quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Diário da Amazônia – Parte 4

Um outro trecho da experiência da Regina Marques na Amazônia. Desta vez contando sobre um bonito projeto sobre a diversidade botânica da região e sobre o movimento das gentes por ali.

Botânica Comunitária

Uma experiência nova e interessantíssima, acampando com os botânicos do Kew Gardens de Londres e do Istituto INPA, três dias numa área totalmente desabitada e pura, em busca de amostras para criar um herbario. Lá fomos subindo o rio Xiparinã na canoa com motor, chamada rabeta, passando por dezenas de igapós e laguinhos e parando para pegar plantas. A maioria delas fica lá na copa das árvores, onde os mateiros e um dos botânicos sobem como macacos e cortam pequenos ramos com folhas, flores e frutos. William, botânico inglês, adora subir nas árvores, acaba a viagem todo arranhado mas feliz. Conta que uma vez, ao cortar uma amostra, o ramo caiu em cima de uma casa de marimbondos. Ele viu o enxame inteiro subir até ele e pensou que iria morrer ali mesmo, uma morte atroz. Ele mesmo não sabe como, mas conseguiu ficar perfeitamente imóvel enquanto os marimbondos passeavam por todo o seu corpo, olhos, boca, nariz, orelhas, por longos cinco minutos, até que foram indo embora devagar.

O Rio Xiparinã é tão limpo que quando tínhamos sede bastava esticar a mão com um copo pra fora da canoa e beber… já viram luxo maior? Dormíamos na rede, amarrada entre as árvores, devo dizer que não dormi sonos tranquilos, mas me disseram que na floresta é melhor ficar sempre alerta. Fomos acompanhados por dois mateiros e um assistente – o serviço do assistente era pescar e preparar a comida. Eu ajudava preparando as amostras de plantas, que colocava num jornal dobrado. De 8 a 10 amostras por planta, que, de volta à Reserva, foram colocadas numa prensa e em seguida numa estufa pra secar. Todas as espécies foram fotografadas e descritas e os pontos onde foram recolhidas marcados num GPS. Essas amostras são enviadas para herbários no mundo inteiro para serem identificadas. Os botânicos foram embora levando 400 amostras, nenhuma repetida. E só pegaram plantas com flores e frutos, então os mateiros foram treinados pra continuar coletando, descrevendo, fotografando, secando e armazenando as plantas que florescerão em outras épocas. Um projeto muito bonito.

Movimento

Turistas vão e vem, nestes dias apareceram uma australiana, um indiano, um chileno, uma russa e dois italianos. Brasileiros? Nenhum!

Ontem apareceu uma barca enorme, a Caravana da saúde, do governo estadual, com cardiologista, oculista, dentista, ginecologista. Consultas, remédios e muitas extrações de dentes. Todos muito contentes com os remédios da cidade, enquanto aqui tem muita planta medicinal, mas esse conhecimento está se perdendo.

Enquanto escrevo muitos insetinhos vem passear na tela do computador. Ouço barulhinhos supeitos na palha do teto, Morcegos? Ratos? Melhor não saber! Gasto litros de repelente, nem preciso de hidratante, mas basta uma mínima distração e lá vem o tal do pium, borrachudo danado que faz a pele empolar.

Mas continuo vivendo esses dias como uma oportunidade única, um verdadeiro presente”.

As fotos estão imperdíveis.

_Claudia_

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