Estive lendo a biografia do bibliófilo brasileiro José Mindlin, 95 anos, que dá nome à biblioteca do Instituto Brasil Itália aqui de Milão, e fiquei pensando o que pode levar uma pessoa a ter tanto amor pelos livros, não só como fonte de conhecimento, mas inclusive como objeto, ao ponto de acumular através da vida um acervo de quase 38 mil obras.
Uma biblioteca, afinal, é uma coleção de livros, e essas pessoas acabam se relacionando com eles como objetos possíveis de serem colecionados.
Como qualquer outra coleção, uma biblioteca precisa de muita organização, de zelo, de critérios, de classificações e principalmente de muita paciência. Tem seus elementos raros. Outros que estão ali só pelo mais puro afeto. Os repetidos. Os mais bonitos. Os significativos de uma época. Mas o que faz realmente viva uma biblioteca – repito, como qualquer outra coleção – é o uso, as interações que provoca, a transmissão do saber e da paixão da parte de quem coleciona pra quem usufrui.
Pra uma criança, ter a sua biblioteca em casa pode ser um caminho interessante de incentivo à leitura. Conheço pais que têm por hábito sair aos sábados de manhã com os filhos pra comprar novos livros. Que, chegando em casa, põem-se a lê-los com curiosidade. Que dedicam algumas horas da semana pra organizá-los, cuidar deles juntos. Que separam um lugarzinho “de honra” em casa pra guardar/exibir aquelas preciosidades. Enfim que compreendem que essa pode ser uma paixão transmitida de geração pra geração.
E o livro – mesmo pra criancinhas muito pequenas –torna-se um objeto quase de culto. E por isso não pode ser rasgado, ou rabiscado, ou deixado de lado como se nada fosse. Essas coisas são ensinadas, a criança não nasce atribuindo valores. Aconteceu um acidente? Tem sempre um modo de reparar, de recuperar, de consertar, afinal aquele é um objeto importantíssimo. Fazer a lista dos livros. Protegê-los com capas de plástico. Classificá-los pelos mais diversos critérios. Compará-los, reconhecer os diversos autores e ilustradores, criticá-los, apreciá-los. Amá-los.
Não é difícil, através dessas ações simples, que a criança compreenda seu valor em meio a tantos outros objetos.
_Claudia_
PS.: É claro que frequentar as bibliotecas comunitárias também é super importante. Mas a biblioteca pessoal tem um sabor de escolha muito gostoso =)