O modo como a cultura trabalha a sexualidade ainda deixa muito a desejar. Seja ela a cultura de massa ou aquela mais íntima, transmitida nos grupos mais próximos. Depois de um final de século XX burbulhante, cheio de revoluções, parece que pouca coisa saiu do lugar. Pode até ser que algumas famílias, no privado, consigam oferecer a seus filhos modelos menos complicados de convivência com a própria sexualidade, mas o mais comum ainda é a “falta de rosca” diante desse dado simples e natural da nossa existência. Que a cultura transformou e continua a transformar, em consecutivos desdobramentos, em qualquer coisa muito distante disso.
A tal da “Educação Sexual”, muito em moda nas escolas nas décadas de 80 e 90, quase sempre traduzida em uns livros bizarros, outros estúpidos, que menosprezam a inteligência e o bom gosto dos pequenos, não resolveu. Salvo raras exceções, esse material didático mais atrapalha que ajuda o mal-jeito paterno e materno. Manuais, livros de auto-ajuda, conselhos os mais variados, nada disso funciona diante de situações corriqueiras e sutis.
A masturbação infantil, as “troquinhas”, as investidas, as explorações, a curiosidade, o desejo de entender como as coisas funcionam no profundo e no íntimo.
Quase todo pai e mãe tem medo das fatídicas perguntas das crianças sobre sexo . Os que querem não ter, acabam exagerando do outro lado. E têm ainda mais medo quando percebem que seus filhos atuam sexualmente desde muito cedo. Isso porque a gente não foi acostumada a lidar com essas situações nas nossas famílias de origem, e precisa praticamente aprender sozinha a dar conta delas.
Terreno cheio de armadilhas esse: negações e seu oposto, o “ver chifre em cabeça de cavalo”; furor pedagógico (que significa querer explicar o que não foi perguntado); paranóias (estimuladas por certos horríveis acontecimentos da vida real); moralismos; hipocrisias; "neutralidade científica"; alguma ignorância.
Muito trabalho pra quem quer fazer tudo direitinho. Trabalho interior. Trabalho de observação e de auto-conhecimento. De escuta. De cumplicidade. E por que não, de certas micro-revoluções que já estão passando da hora.
_Claudia_
2 comentários:
Clau, sua danada, voltou em grande estilo! Arrasou no post...o vídeo é hilário e as reflexões muito boas...Não conhecia esse livro da Marta Suplicy...taí...
Lóviu!
Oi, Ci. 'Brigada, sócia. Tô aqui. Tô de pé. Beijo.
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