Até algum tempo atrás, achava-se que, no desenvolvimento infantil, a conquista da linguagem escrita partisse do desenho. Era uma confusão que se fazia com a história da língua escrita, na qual obviamente os caracteres (signos) surgiram a partir de símbolos (desenhos).
Depois de muitos estudos psicogenéticos (entre eles e principalmente os de Ferreiro&Teberosky), já se sabe que não é assim que acontece. O processo de construção da lingua escrita é independente da evolução do desenho, segue percursos e tem características próprias. Ou seja, mesmo que palavras e desenhos sejam linguagens igualmente importantes para o Sujeito epistêmico, mesmo se coordenadas na representação, são intraduzíveis uma na outra, uma não determina a outra.
De fato, a linguagem escrita alfabética (ortográfica) é um sistema tão arbitrário quanto “descolado”, uma cadeia complexa de significantes muito mais que de significados, que busca novas formas de representação do pensamento. Cada criança que nasce já a encontra assim, não precisa reconstruí-la desde o início referindo-se ao símbolo original (o que seria uma grande burrice).
A palavra GATO, por exemplo, é uma estrutura muito mais complexa que a imagem desenhada do animal a que se refere. Contém sons, memórias, sequências, hierarquias, regras que não estão estabelecidas na relação direta com a imagem, como na escrita primitiva. A palavra, o conjunto de caracteres que a gera, é arbitrário, não se refere ao significado nem a sua representação imagética.
Se a gente observa uma criança que desenha e outra que escreve (ou a mesma enquanto realiza as duas operações) compreende perfeitamente a diferença fundamental dos dois processos em termos de processo cognitivo. A criança aprende a escrever ESCREVENDO e não necessariamente lança mão de imagens ou espera a evolução representativa do desenho. As relações não são dadas. Se fossem, pensar seria fácil demais.
Uma Educação baseada em algo mais que relações diretas é imprescindível. Até pra evitar certas deformações teóricas absurdas.
_Claudia_
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