Trabalhando no IBRIT, Instituto Cultural Brasil Itália, estou tendo a oportunidade de encontrar muitas crianças brasileiras ou filhas de brasileiros que vivem e crescem por aqui, com pouco contato com o Brasil.
Oficialmente, as que são filhas só de um pai ou mãe brasileiro(a) com o(a) outro(a) italiano(a) são consideradas italianas, podendo ter a dupla cidadania se forem registradas também no Consulado Brasileiro; as que foram adotadas por casais italianos obtém a dupla cidadania automaticamente ; já aquelas filhas de ambos os pais brasileiros, mesmo tendo nascido aqui, são consideradas brasileiras (na Itália a cidadania é por hereditariedade, não por territorialidade, isto é, mesmo tendo nascido aqui, se nem o pai nem a mãe são italianos a pessoa mantém a cidadania de origem).
São variáveis legais, na prática muda pouco. É claro que, vivendo aqui, todas elas absorvem muito mais a cultura local, mesmo que a família se preocupe em transmitir-lhes paralelamente a cultura brasileira.
Nessa transmissão tem o filtro do adulto ou das experiências fugazes de férias: não é atual, não é genuína, não é vívida, não é contínua. A verdadeira cultura de pares que vai sendo incorporada, reproduzida e reinterpretada (Corsaro) óbvio, é a italiana. A brasileira fica de lado, quase esquecida, ou então aparece deformada em exageros de identificação (por exemplo, é muito comum os pais brasileiros se pautarem na cultura indígena pra falar de Brasil pros filhos, mesmo que tenham vindo de São Paulo).
Daí que se torna importante, da parte dos organismos culturais brasileiros no exterior (em que o IBRIT se inclui) intervir no sentido de reforçar nessas crianças os laços com suas raízes culturais. Temos pensado que o mais importante é formar grupos de brasileirinhos, pra que as crianças possam viver uma cultura brasileira autêntica junto com outras na mesma situação. A partir dessa linha mestra, planejamos sessões de cinema, oficinas, encontros de mães, mostras, conta-contos além de uma biblioteca infantojuvenil de livre consultação.
Agora estamos pensando também em levar essas atividades às escolas onde estudam crianças que têm alguma relação com o Brasil. O objetivo é atingir o público italiano compartilhando a cultura brasileira como é de verdade, sem os inúmeros estereótipos e lugares-comuns que se vêem por aqui. A gente acredita que isso também possa ajudar e muito! os pequenos cidadãos (brasileiros e italianos) a encontrar afinidades culturais.
Para uma consciência planetária (Morin) é muito importante não olhar as outras culturas apenas pela lente do exótico, do diferente, do diverso, vale tentar descobrir semelhanças. É óbvio que as culturas são múltiplas e variadas e que isso deve ser considerado, mas foi de um sentimento exagerado de alteridade que nasceram as perigosas idéias fascistas que serviram de base para as maiores atrocidades do século XX.
A partir das semelhanças é que os brasileirinhos no mundo poderão construir uma identidade mais efetiva de si mesmos e das duas (ou mais) nações que os acolhem.
_Claudia_
2 comentários:
Legal esse trabalho, heim, Clau! Conhecer as raízes da gente, da nossa família, ajuda muito a entender a gente mesmo, né?
E como, Ci! Ainda mais em se tratando de Brasil, um país super bem-servido culturalmente! Não conhecer isso tudo é um pecado, né.
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