Achei muito boa essa entrevisa com a psicóloga Solange Jobim, Conselheira do Projeto Criança Consumo, entre outras coisas. Ela trabalha bem com a questão da autonomia da criança, da criança ativa na produção de sentido (diante da publicidade, no caso), mas ao mesmo tempo, defende a necessidade de mediação do adulto.
Uma coisa que já algum tempo tem me chamado atenção nos discursos sobre a cultura da criança é que muitas vezes eles são pouco críticos, mergulhados na salada russa de autores, correntes e teorias.
Outro dia falei da necessidade de se repensar a criança como devir deleuzeana e a criança presentificada, da sociologia da infância. Aqui fica outro dilema...o adultocentrismo e a criança como centro da família, como entidade santificada. Não necessariamente dicotomias, mas como são ideias aparentemente incompatíveis, precisamos de um esforço reflexivo pra costurar tudo isso e superar essa condição dos estudos da infância_ um pouco superficial, um pouco acrítica e muito ideológica. Achei que a Solange Jobim foi super certeira nas suas conciliações, assim como nos seus divórcios conceituais.
É preciso que cada um faça as suas apostas. Eu ainda não consigo fazê-las com muitas certezas, mas tenho me esforçado.
Um abraço e bom fim de semana,
Cibele
5 comentários:
Também achei as respostas bem certeiras. Só uma ressalva em relação à teoria de Piaget. Não acho que seja anacrônica, pelo contrário, acho que os conceitos que ele estudou se aplicam mais que nunca às crianças num contexto de capitalismo selvagem. Não sei por que tem essa mania de achar que Piaget era individualista e não enxergava o social. Acho que são deformações de leitura dos textos dele (tá bom, ele escreve mal a beça). Afinal, o cara teceu tudo em termos de interação com o ambiente! E o social não é ambiente?
Não que seja individualista, Clau, mas me parece que a ênfase teórica não é no social. Depois veem outros autores e aprofundam nesse ponto. Aí, concordo com você...algumas leituras acabam lendo como discordâncias e omissões aquilo que é um prolongamento.
Então, Ci, a ênfase dele pode até não ser no social porque é mais ampla. Piaget considera o social uma parte do ambiente (o "meio") com o qual o sujeito interage, como um dos muitos "objetos de conhecimento". Mas isso não quer dizer que o despreze ou não o enxergue como dizem alguns. Ele inclusive valoriza muito as trocas sociais para o desenvolvimento cognitivo, principalmente na última fase de sua obra. Chega quase a afirmar que é a mais importante. Daí que é um prolongamento mesmo como você falou.
É assim que se formam as escolas teóricas, né, Clau? Negando as tradições anteriores...Tem um monte de exemplos pra isso...
Pensando por esse lado, Clau, talvez ela tenha exagerado no divórcio conceitual mesmo...
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