Uma das técnicas de entrada em campo do Corsaro, sociólogo americano que a gente já citou aqui várias vezes, é a proposta de um adulto atípico. Um adulto que se comporte de forma diferente da habitual para que consiga ter acesso ao universo da criança.
Mas quem é o adulto habitual? Aquele que é grande? Aquele que tem a autoridade? Aquele que sabe o que as crianças não sabem? Aquele que repreende?
Com as crianças italianas, Corsaro utilizou-se de sua falha linguística. Ele era um adulto que não dominava a língua, um in-fans de grande estatura. Além disso, ele combinou com as professoras que não teria função de autoridade naquele grupo.
Ano passado, fiz duas experiências de entrada em campo com essa proposta. Na primeira, numa escola tradicional, a entrada foi como prevista: as crianças rapidamente me viram como um adulto que não sabia e que não repreendia. Acharam estranho que eu copiasse também toda a informação do quadro, fizesse os exercícios. Um adulto-aluno. Em seguida, começaram a testar minha autoridade e quando viram que eu não me colocava como autoridade, sentiram-se mais à vontade.
Na segunda escola, uma escola mais democrática e não tradicional, cheguei e ficar insegura. Que horas as crianças me dariam o sinal? Ninguém estranhou as minhas perguntas, já que nessa escola, os professores também se colocavam como pesquisadores que descobriam junto. Quando a professora saiu de sala, as crianças agiram da mesma forma que na presença dela. As regras continuaram a valer, garantidas não pela autoridade do adulto, mas pelo grupo. Eram crianças educadas para a autonomia.
Quando agi no lugar do adulto tradicional, ajudando com meus critérios de ajuda, fui repreendida por uma criança. Ela tinha me emprestado seus lápis de cor e quando fui guardar, apontei os que estavam sem ponta e organizei o estojo. Pega na minha “boa” ação, ela me disse: Ah, não, você bagunçou tudo! Não é assim que eu guardo. As minhas cores preferidas, as que eu uso mais, ficam na frente.
Essa experiência evidenciou que para entrar como adulto atípico é preciso primeiro saber que arquitetura simbólica organiza aquela infância e aquela adultez.
Passadas as minhas primeiras dúvidas, descobri que, para conseguir a confiança daquelas crianças, eu precisaria muito mais do que uma lista de providências ou comportamentos ensaiados, mas de tempo, convivência e contato. E entendi o que a professora deles quis dizer quando me apresentou, muito sabiamente, dizendo: Essa é a Cibele, ela vai nos conhecer um pouquinho e nós vamos também conhecê-la.
E depois me vieram outras dúvidas…
_Cibele, muito prazer_
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