Lendo o belo artigo do Denis Russo sobre “pessoas que existem e pessoas que não existem”, que a Paula me mandou, fiquei pensando.
Muitas vezes já tive a impressão de que a(s) pedagogia(s) é (são) feita(s) pra crianças idealizadas ou projetadas segundo determinadas concepções. Não me parece possível que certas atitudes ou técnicas, que certos sistemas ou estruturas, tenham sido criados pra gente de verdade.
O próprio Jean Piaget uma vez admitiu que o seu “sujeito epistêmico” era irreal, já que baseado numa série de estudos dirigidos, com sujeitos diversificados, organizados em determinadas categorias (também outros estudiosos conseguiram fazer este auto-exame).
Se consideramos as diversas concepções como indicações, percursos, linhas mestras que podem nos orientar no sentido de conhecer melhor as crianças em seu processo de construção de conhecimento, ok. Basear toda uma perspectiva pedagógica num sujeito irreal é que sempre me pareceu estranho, por mais pertinentes que sejam as conclusões desta ou daquela abordagem teórica. Toda e qualquer leitura do Ser Humano só pode ser parcial e cirscunstancial. O problema está em absolutizá-la, tentando forjar uma prática. A(s) pedagogia(s), me parece, tentam sempre “colocar nos trilhos” algo que, no fim das contas, não é linear.
As intenções são as melhores possíveis, claro. Não existe ninguém mais bem intencionado que os pedagogos. Os diversos projetos surgem de “utopias bem intencionadas” . Mas na prática acabam se transformando em algo irrealizável. Justamente porque se deparam com crianças que existem.
E fiquei pensando de novo se a função da Escola, ao invés de se perder no meio das inúmeras pedagogias, não seria simplesmente, como diz Marcello Bernardi, “contribuir à auto-realização de cada criança, desde o nascimento. Não tanto e não só ensinar alguma coisa, mas fazer com que a criança saiba aprender sempre mais e sempre melhor”.
Esta é a minha utopia bem intencionada: uma Escola sem pedagogia(s).
_ Claudia_ tentando ser “desmedida”, seja lá o que for isso
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