quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vivendo e aprendendo a jogar _parte 2

Não acompanho esporte, mas fui assistir ao filme do Senna, acompanhando meu marido. Do ponto de vista do cinema, é uma das piores coisas que já vi. O roteiro é uma colagem cronológica grosseira e a sensação de que valeu a pena ter assistido, se deve só e unicamente à história de um cara muito competente naquilo que se propunha a fazer dentro de um jogo espúrio.

A tensão entre a competência de um indivíduo contra um sistema de cartas marcadas, coerente a várias situações micro e macropolíticas, se dá pela ameaça do cinismo garantidor da ordem ou do aniquilamento do sujeito. Ambos resultados igualmente indesejáveis.

É certo que qualquer discussão ética ou política já se relaciona, por princípio, com a infância, mas passo a frente, vez em quando alguns exemplos caem no colo.

Não há educador que não saiba da importância do brincar, sobretudo na primeira infância. Contudo, a maioria das escolas tradicionais de Belo Horizonte aderiu completamente a ideia da alfabetização até os 5 anos, o que se reflete sobretudo nos exames de seleção.

Surpreendidas, as escolas “alternativas” (não alternativas às pedagogias mais modernas, mas alternativas às políticas que atendem a outros interesses que não a própria educação) se veem em uma situação cuja equação tende a duas resultantes arriscadas: ou acolhem o risco de estarem fora do sistema ou se adequam só o suficiente para terem fôlego de protestar. Não considerarei aqui o cinismo uma resultante válida. Tampouco o aniquilamento total do projeto de uma educação infantil coerente com o que se sabe sobre as crianças. Para as duas soluções válidas, ainda dois riscos. O primeiro, da própria sobrevivência e o segundo, da incoerência. Decisões difíceis.

Voltando ao Senna, é o inicinho do filme, ele e os pais dando uma entrevista em que a mãe declara algo mais ou menos assim: “Foi um bom ano de trabalho e isso é mais importante do que os títulos. Foi um bom ano sobretudo de trabalho honesto.”

O que não impediu que o piloto no Japão, em 1990, jogasse o jogo contra o qual ninguém queria protestar.




Quem de nós ao fim do ano poderá dizer que teve um bom ano de trabalho?

Cibele

2 comentários:

Claudia Souza disse...

Nossa, Ci, esse post foi uma paulada! Ontem mesmo estava argumentando com meu marido sobre uma questão "futebolística" hehe, dizendo que usar as regras do campeonato a próprio favor não é pouco ético (um treinador mandou dois jogadores se fazerem expulsar pra serem poupados na próxima partida, já classificados), e ele dizendo que não, que se fosse o presidente do clube demitiria o tal treinador. Agora lendo teu post... E não é que ele tem razão?

Cibele disse...

Clau,

Usar as regras, mesmo contrariando os princípios, a próprio favor só deveria valer quando o jogo é espúrio, né? Quando o melhor se vê prestes a perder dentro de um jogo injusto, vc não acha?

Saudad´ocê, sô!

 
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