quinta-feira, 28 de abril de 2011

Princesas e fantasmas

Nesse feriado de Páscoa fomos pra um lugar paradisíaco, as Cinque Terre, na Liguria, entre a França e a Itália. Terras altas ao lado do mar.  Quando estiverem googlando por acaso, procurem fotografias e informações.

Como no sábado choveu, fomos  passear pelas redondezas e acabamos chegando a uma fortaleza medieval perto de Parma, o Castello di Bardi.  O castelo até que é bem conservado, apesár de algumas obras de restauração mal-feitas ao longo do tempo que descaracterizam certas partes da construção do século IX (reparem, é século IX mesmo e não XIX!).

Bem, mas meu assunto é outro. É, claro, a cultura da criança.

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Ali são organizadas diariamente duas visitas guiadas. Demos sorte e chegamos poucos minutos antes de uma delas. Durante a visita, para um grupo de 8 adultos e 5 crianças, a guia ia desfiando um monte de datas, de informações meio insípidas, de um modo muito, mas muito inadequado aos pequenos. À medida que íamos entrando, o castelo, que de fora parecia bem intrigante,  ia se tornando um lugar meio mortinho, meio sem graça, meio “coisa velha e descuidada”.

Aí os adultos do grupo de visitantes começaram a tentar resolver a coisa do jeito deles. Sutis como trombones. Começou um tal de falar de princesa pra cá e princesa pra lá. “Aqui a princesa gostava de caminhar”, “onde será o quarto da princesa?”, “a princesa achou o príncipe aqui e se casaram” e ufa! Não davam uma dentro, tentando encarar uma onda de conto de fadas numa fortaleza medieval (que mesmo que tenha sido habitada por nobres, de princesa não tinha nada). A gente não aguentava mais ouvir falar de princesa. Mas entendia o desespero dessa gente tentando envolver as crianças numa didática museal muito ruim.

A um certo ponto, a guia começou a falar da lenda de um fantasma que ronda a fortaleza. Um truque também desesperado pra fazer a coisa valer como atração turística. Pra inglês ver, porque ela não sabia brincar, jogar com a coisa. A conversa parecia mais papo de jornalzinho de escola. Não envolvia, não capturava. A história do tal fantasma não passava de uma apelação. Obviamente as crianças duraram pouco na visita. Logo estavam se divertindo a correr pelos “cortili”  do castelo, subindo nas rochas, escondendo-se atrás das janelinhas estreitas. Deixaram de conhecer um monte de coisas interessantes de um período e de uma vida tão distantes.

Enfim. Pena. Porque material e ambiente tem de sobra pra fazer um museu vivo. Falta conceito de Museu e de História. Faltam propostas interessantes pra transformar um passeio desses numa atração significativa. Não precisa de muito, a História por ali já grita por si mesma. A região tem tanto a dizer mas se cala atrás de um discurso vazio e didático, sem nenhuma ludicidade. Como em muitos outros lugares como esse…

_ Claudia_

5 comentários:

Cibele disse...

Que lugar lindo, Clau! Taí uma pesquisa muito legal...a forma de se conceber a criança ou a infância no turismo....Tá passando aqui uma propaganda sobre um cruzeiro cheio de personagens de um canal de tv e gincanas com os pais do tipo torta na cara...uma coisa, aos meus olhos, bizarra!

Claudia Souza disse...

No turismo e principalmente nas instituições culturais ligadas ao turismo e à preservação do patrimônio cultural.
Loucura como a maioria delas ainda não se adaptou ao século XXI.
No Brasil, temos como exemplos o Museu da Língua Portuguesa e o do Futebol, em São Paulo, e o Nho Tim em Belo Horizonte, entre outros. Não precisa de tanto assim, basta ter boas ideias pra fazer com que os Meuseus sejam lugares vivos e vivíveis para as crianças (e por que não, para os adultos também!).

Claudia Souza disse...

MEuseus foi ótimo hahaha

Cibele disse...

Tem razão, Clau...é triste ver que acontece muito da didática museal ser apenas um transporte da didática escolar maaaais tradicional, ou melhor, arcaica mesmo.

Tive uma experiência parecida aqui na visita ao Palácio da Liberdade. A guia foi na frente e quando chega a um retrato de Santos Dummont, pergunta às crianças que a seguem: esse é o...o...silêncio...Santos...alguém lá de trás arrisca...Santo Antônio! Não...esse é o Santos Dummont, inventor do a...do a...do avião. hahahaha...desesperador!
E o texto vem cheio de datas, informações desinteressantes...uma pena!

Mas tem solução...a didática museal tem sido objeto de muita pesquisa. Quem sabe isso muda?

Claudia Souza disse...

É, mas isso deve demorar muito, porque como você disse nos Museus conseguem ser AINDA MAIS atrasados que nas escolas em se tratando de didática... salvo raras e honrosas exceções.

 
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