terça-feira, 28 de junho de 2011

Enquanto a Cibele se prepara…

Me lembrei de dois exemplos de medidas lúdicas em Educação.

1) Numa classe de Maternal I é muito comum que as crianças se mordam umas às outras. Já escrevi um artigo sobre isso, que foi publicado e re-publicado em todo tipo de site. Algumas crianças são mais mordidas que outras por diversos motivos, geralmente as que são mais “fofinhas” e que permitem maior aproximação. Difícil pros pais entenderem isso, principalmente se são pais de primeira viagem, que tendem a ser mais hiper-protetivos. Numa dessas situações, um pai sofria terrivelmente cada vez que seu filho era mordido na escola. E o menino era cada vez mais mordido. Um dia, a professora vai entregar o menininho pro pai no portão. Ele observa que o filho tinha nada menos que três sinais de mordidas, dois nos braços e um na bochecha. Olha pra professora com ar de desespero, e quase chorando diz:

- Mas o que é isso? Como você deixou que isso acontecesse?

E ela:

- Desculpe, pai, eu também queria dar uma mordida nele, afinal é tão fofinho e carinhoso. Mas não tinha mais espaço.

O pai me contou como essa medida lúdica o ajudou a compreender a situação e a ver a mordida com os olhos das crianças, sem a violência que nós adultos geralmente percebemos nela. Depois dessa constatação, “inexplicavelmente” a criança começou a se defender melhor e a avitar as mordidas dos colegas, sem contudo perder seu caráter afetuoso.

2) Uma mãe controlava bem de perto a alimentação do filho de 3 anos, evitando açúcar, guloseimas, etc. Seu lanche era especial e ela tinha orientado a escola de suas escolhas dietéticas, que eram sempre cumpridas à risca. Um dia, porém, durante uma festinha de aniversário de uma colega na escola, a mãe da aniversariante, não sabendo da situação, serviu coca-cola ao menino, antes mesmo que a professora pudesse intervir em contrário. A professora então achou por bem não retirar a bebida dele bruscamente para não chamar a atenção, deixou-o provar e depois, com muita delicadeza, substituiu o copo por suco de fruta, perguntando-lhe se queria “beber mais alguma coisa”. O menino continuou se divertindo na festinha e tudo parecia tranquilo. No dia seguinte, a mãe entrou com um passo pesado na escola para falar com a coordenadora. Estava muito aborrecida.

- Eu soube que meu filho ontem foi aplicado na coca-cola. – disse, franzindo as sombrancelas. Ao que a coordenadora respondeu sem titubear:

- Não se preocupe, o copo era descartável.

Através desta medida lúdica a mãe percebeu seu exagero, pôde pensar no caráter social dos alimentos e rever muitos conceitos que tinha estabelecido rigidamente para si mesma e para o filho.

_Claudia_

4 comentários:

Cibele disse...

Lembre de várias também...uma delas aqui do Quintal, inclusive. Eu estava vindo embora, indignada com uma educadora que coagia as crianças a cortarem os cabelos (existe gente, existe). Quando ouvi essa música do Tom Zé, um cara é praticamente um executivo de medidas lúdicas, postei de pura molecagem:
http://quintarola.blogspot.com/search?q=tom+z%C3%A9
"Com quantos quilos de medo se faz uma tradição" e "se a tesoura dos cabelos também corte crueldade"...Grande Tom Zé!

Claudia Souza disse...

Hahaha Essa foi boa! Tenho percebido que as Medidas Lúdicas nascem, muitas vezes, da nossa indignação.
##
E sabem o que descobri? O "Teatro do Oprimido", técnica inventada por Paulo Freire nos anos 70 e mais conhecida na Europa que no Brasil, pelo menos atualmente, é uma SUPER medida lúdica! Dêem uma pesquisada e confiram.

Cibele disse...

Acho que uma medida lúdica entra na lógica do outro, sim, só que para corrompê-la. não é à toa que tem na ironia uma forte aliada.

Claudia Souza disse...

Tem razao, e' um tipo de descentramento ironico ...

 
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