Uma coisa que aprendi com os anos, Ci. O melhor modo de enfrentar questões complexas como esta que você me coloca é não complicar muito e divagar.
Divagando – isto é, sendo duas vezes vaga hehe – eu já começo duvidando da colocação arièsiana de que a infância é um conceito tardio na história da humanidade. Sei não, tenho lido outras vertentes e estou quase convencida de que esse conceito existe desde o início, só que não interessava, por motivos diversos, reconhecê-lo e dar-lhe o valor devido, já que isso significaria tratar as crianças em modo mais decente (como nunca foram tratadas, idade contemporânea incluída). Mas bem, só isso já daria um artigo e não cabe num post então deixo só a poeira levantada e parto já pra coisa da universalidade da infância.
Também divagando tendo a considerar em relação dialética e muito retro-alimentadora os efeitos de cultura e biologia na constituição da(s) infância(s). As duas colaborando mutuamente, nem mais nem menos pra cada lado. Daí que, no que tem de biologia sobressaem as semelhanças (a universalidade) entre as diversas infâncias, no que tem de cultural sobressaem as diferenças.
“Na nossa espécie” – diz Barbara Rogoff - “cada geração vem ao mundo predisposta a adotar os usos e costumes dos nossos antepassados, graças à condivisão de uma série de atividades promovidas culturalmente”.
Eu acho as crianças italianas muito diferentes das brasileiras. Uma coisa que chama muito a atenção é como as crianças brasileiras se comunicam principalmente com o corpo e só depois estabelecem um contato verbal. Com as crianças italianas ocorre justamente o contrário: são capazes de uma retórica impressionante desde o primeiro contato, mas só depois de muita convivência começam a se expressar corporalmente. São mais contidas, mais obedientes, mais preocupadas com a opinião do adulto sobre suas produções. Até sua brincadeira é mais contida, mais limitada. É muito mais fácil trabalhar com as crianças italianas que com as brasileiras, por um lado, mas muito mais difícil por outro, porque eu fico sempre querendo provocá-las pra ver se conseguem “sair da toca” e compreender que podem participar do processo de construção de regras, por exemplo. (Aliás, isso é outra coisa que chama a atenção aqui, o modo impessoal com que as regras são colocadas).
Você vê como cada frase desse post daria outros e mais outros…
_ Claudia _
PS.: Sobre o sol, a resposta é SIM, as crianças daqui também desenham e muito o solzinho estereotipado no canto da página ou no alto. A representação desses ícones (sol, árvore, montanhas, casa) não varia muito não, e parecem não estar em relação com o que vêem no ambiente, mas com símbolos mais profundos.
Deixo um link de um site de desenhos de crianças italianas retratando paisagens.
Um comentário:
Rápida e exageradamente eficiente! Que humilhação!
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