domingo, 17 de julho de 2011

Teatro na escola–post encomendado

Esse é um tema que eu adoro! Durante algum tempo da minha vida, dei aulas de teatro para crianças e acho realmente fantástica a potência da criança nessa área. De forma que, já há muito tempo sem estudar o tema, minha cabeça resta povoada de imagens e sensações deliciosas.


É por isso que jamais conseguiria escrever um post com um título tão importante: teatro na escola: limites e possibilidades. Não sei fazer isso de jeito nenhum. No máximo, sai um que começaria assim: Teatro na escola: breves considerações de alguém muito parcial sobre um tema de enorme importância.


Pode ser?


Imaginando que sim...


Bom, se a gente pensar que o teatro é uma forma de expressão importante da humanidade, só por isso, ele já deveria estar na escola. Do lado da literatura, das artes visuais, da música e por aí vai.


E tem mais. Se a gente pensar na proximidade da criança com a brincadeira de faz-de-conta, aí a gente vê que tem coelho nessa moita. A criança entende bem da ação dramática. Ela cria falas-movimentos o tempo todo. E pra não cair no exagero de pensar a criança como pura fabulação, olha que engraçado: já vi criança que caminhou em passos firmes para a realidade, enquanto fazia teatro. Uma criança excessivamente imaginativa, que usava esse recurso para impor a sua vontade, e que, fazendo teatro, acabou explorando tanto daquele espaço, que deixou os outros mais livres.


Algumas crianças e materiais não estruturados como panos, bolas, arcos, caixas e temos o suficiente para muitas cenas muito expressivas. A gente não precisa de crianças com talento, nem com dom (se é que essas coisas existem), nem de palcos com cortinas de veludo, nem de espelhos e barras, nem de iluminação, nem de cadeiras na platéia. Aliás, taí mais uma característica importante do teatro das crianças bem pequenas: em geral, as crianças não estão nem aí pra platéia (elas são meio pós-modernas). Estão interassadas em ações, assumem melhor que os adultos a perecividade, transitam por diferentes níveis e formas de fabulação. Não exigem essa coerência de personagem do teatro tradicional, não estão nem aí pra quarta parede (nem pro público, se é que isso é possível, aliás). Quem se preocupa com os cachinhos da criança em cena é o Sílvio Santos, mas isso não nos interessa.


E aí, outro ponto delicado. O teatro na escola, embora seja um espaço de muita liberdade e de uma liberdade que talvez nenhum outro canto tenha, não pode ser confundido com espontaneísmo. Cabe ao professor estar atento em formas de promover ao grupo, oportunidades de se apropriar da linguagem teatral: tem teatro de bonecos, de objetos, de sombra, mímico, tradicional, circense, de rua, performático e por aí vai. E há diferentes funções a serem ocupados no grupo: o dramatrugo, o diretor, o ator, o figurinista, o cenógrafo. As possibilidades são inúmeras e dificilmente uma criança, mesmo uma criança tímida, não encontra seu lugar nessa expressão tão democrática.


Agora, tudo isso pode ser muito mal usado. Tem professor que sempre elege alguns "talentos" loirinhos para a princesa das apresentações festivas de fim de ano. Tem crianças que são árvores a vida inteira. Tem professor que se apropria do teatro como forma de exposição, colocando-o sempre em função de outras matérias. Tem escola que usa jogral pra criança apresentar poesias, de preferência com as mãozinhas pra trás, como se fosse possível fazer teatro com corpos disciplinados, em fila e um texto dito por uma boca que não é a do ator da cena.


Um ponto aqui e outro ali que a gente pode aprofundar mais em outro momento. Mas como eu ia falando, essa semana, assisti uma aula (muito, muito legal) do Cauê e me deu uma vontade de brincar como e com um aluno dele! Mas as crianças não deixam. O espaço de ação infantil raramente está aberto ao adulto (mesmo para adultos atípicos). E quando ele se abre, em geral é para uma deliciosa vingança! Foi por isso que quando ensaiei um diálogo com um menino que tinha feito de uma cadeira uma nave espacial bacana, ele não teve dúvidas, apontou os dedos pra mim e pum! pum! pum!


_Cibele_

2 comentários:

Claudia Souza disse...

Bom, saiu a resposta ao desafio tal-e-qual eu queria ler =) Obrigada, Ci. Tô saStifeita hehehe
Teu post foi tipo uma síntese da situação, inclusive com uma atenção a esses absurdos que acontecem (ainda com frequência!) nas escolas. Quando se fala em "apresentação teatral" na escola geralmente eu tenho arrepio, sei que vou me aborrecer. Salvas raríssimas (e o Cauê é uma delas) exceções.

Cibele disse...

Ufa! Passei de semana, então...hahahaha

 
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