quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fechando os olhos

Eu nao tenho NADA contra imagens. Pelo contrário. Um mundo farto de imagens é teoricamente um mundo alegre e rico de estímulos à imaginação e à criatividade. Mas às vezes me assusta o fato delas ocuparem um lugar tão central. E - deve ser overdose - me vem vontade de descansar a vista.

Fico com vontade de dar um (alguns) passo(s) atrás e mergulhar na penumbra das tardes-quase noite em que avós contavam histórias usando apenas as nuances da voz e o coração de quem ouvia. Na luz dos lampiões (ou das velas), que proporcionava incríveis e errantes sombras. Em quando o livro era uma distração tanto ou mais interessante que o filme ou o vídeo-game. Quando a gente podia montar na cabeça roteiros e mais roteiros do que nos era simplesmente narrado na escola, sem tantos recursos.

Não, não era nada mal poder inventar nossas próprias imagens, mesmo se toscas e incompletas, imperfeitas, deformadas.

Imaginar sem necessariamente materializá-las. Cultivá-las no nosso interior.

Acho que tem havido um excesso de “imagens prontas” (no livro infantil, o que é extraordinário é quando o ilustrador consegue deixar espaços à ação do leitor e propor outros enredos que também podem/devem ser decifrados, não sem esforço, senao até a imagem mais legal fica boba).

Meio pra facilitar. Meio pra encobrir. Meio pra homologar – este é o efeito mais pernicioso. Padrões são ferramentas poderosas.

Uma grande parcela da vida se passa no nosso mundo interior. Às vezes é importante destacar-se um pouco da realidade externa pra percebê-lo com mais potência. Inclusive pra aprender a ler as mensagens escondidas em outras formas de discurso que não o imediato, o que se vê.

Um pouco de escuro pra descansar... pra fechar os olhos e ver do outro lado.

_Claudia_

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