Esse post da Clau me lembrou um texto do Deleuze chamado Do Jogo Ideal*, em que ele lembra dois jogos inventados por Lewis Carroll a partir de jogos conhecidos. Um deles é o croquê jogado por Alice, em que as bolas são ouriços, os tacos são flamingos rosados e os arcos não param de se deslocar. Difícil imaginar quais regras regem esse jogo maluco ou a corrida de Caucus em que a partida é dada por cada um no tempo que lhe convier.
O próprio Deleuze explica que nesse jogo ideal-maluco os lances são sucessivos, mas simultâneos em relação a esse ponto que muda sempre a regra, insuflando o acaso e ramificando o caos numa distribuição nômade e não mais sedentária. É o jogo dos problemas e das perguntas e não mais das hipóteses organizadoras de regras como no jogo convencional.
Quem convive com o brincar da criança, o brincar genuíno, tão distante dos almanaques, sabe que ela se apropria rapidamente da regra, apreende sua estrutura e não pára de propor e experimentar novas regras infinitamente. Por vezes a própria estrutura inicial se desloca e depois de tantos deslocamentos, já nem se sabe mais de onde se partiu. A criança improvisa e por isso é vanguarda.
Se fosse uma reza, pra usar a imagem bonita da Clau, o brincar seria aquela reza que a gente diz espontaneamente, nada a ver com as orações de catecismo, por exemplo. O Garrocho que me perdoe se cometi alguma heresia falando de Deleuze (e corrija minhas blasfêmias), daquilo que ele sabe muito mais que eu.
Mas não resisti a esse improviso.
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Aliás, por falar em Deleuze, um autor que sempre me encheu os olhos, ando encafifada com um troço...a idéia da infância como devir contradiz totalmente as visões mais recentes da criança como um ser humano presentificado, não?
_Cibele_que só esquenta as turbinas para além dos posts frugais quando a semana já está acabando
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