quarta-feira, 7 de julho de 2010

Reza (em tempos de Copa do Mundo)

bambini-che-giocano As Ludi, na Antiguidade, eram grandes festas de caráter religioso em que o rito – isto é, seguir certos procedimentos em modo predeterminado – assumia uma sua sacralidade. O vocábulo atual lúdico faz referência a este carater sagrado original, e o jogo pode ser considerado uma tentativa de (re)encontrar o Divino, o Belo, o Essencial.

Dentro dessa “sacralidade”, nao cabe o engodo. Ou seja, como componente fundamental do jogo, temos o cumprimento de certas regras implícitas: ou se está dentro do jogo e se aceitam e se cumprem estas regras, ou se está fora, o que significa não fazer parte do jogo em questão.

Não fazer parte pode significar também não usufruir plenamente do prazer e do crescimento que o jogo propõe. Uma escolha que pode ser feita pelo jogador em nível consciente ou não.

As regras, longe de serem leis, simplesmente conduzem o jogo e o jogador como o leito de um rio; são a sua organizaçao interna, o seu contexto, a sua razão de existir.

Embora possam ser ultrapassadas, superadas e de algum modo reconstruídas, são elas que dão ao jogo sua consistência. O jogador pode compreendê-las (quanto mais, melhor) ou não, mas conhecê-las, haver-se com elas, é imprescindível. Mesmo que decida corrompê-las, estará ainda subordinado a elas desde o momento em que aceitou fazer parte do jogo. Só é possivel corromper o que de algum modo foi/é determinante.

Além da compreensão das regras (o que permite jogar com habilidade e estratégia), a atividade lúdica compõe-se de um outro elemento: a pura sorte. Um jogo sempre comporta um “lance de dados”, o acaso, um certo caos. Mas nem a sorte conseguiria intervir se as regras não fossem respeitadas dentro do organismo do jogo. A sorte também está subordinada às regras, já que acontece a partir de seu traçado.

Quando observamos as crianças que brincam, conseguimos perceber com muita clareza o quão seriamente elas se lançam naquela atividade aparentemente inofensiva. Brincar é uma experiência que requer um empenho máximo, porque nos envolve em primeira pessoa. É um tipo de meditação: jogando/brincando, o sujeito está conectado com o entorno, relaciona-se, coloca-se como ser ativo e passivo, reflete.

Brincar não é nem de longe perda de tempo, simples entretenimento. Brincar, não só pras crianças mas pra qualquer pessoa, é um tipo de oração.

_Claudia_

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