quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A filosofia e as crianças

Durante um bom tempo, estudei filosofia para crianças e dei aula de filosofia para crianças. Embora atualmente eu tenha uma posição mais crítica em relação ao método do Lipmann, que foi o americano que desenvolveu essa ideia, continuo achando que aproximar a filosofia e as crianças é não só muito bonito, mas muito produtivo.
A maior crítica que o método recebeu foi justamente o fato de ser um método. Nenhuma pedagogia ou filosofia mais reflexiva foi colocada no lugar e o projeto foi perdendo sua força. Lá se vai a criança, junto com a água do banho...
Longe das políticas educacionais, não necessariamente públicas, fica a impressão de que há algo de filósofo na criança, tal como há algo de infantil no filósofo.
Um livro que comprei há alguns anos atrás me fez pensar nisso, mesmo depois de afastada das salas de aula. 101 Experiências de Filosofia Cotidiana não é um livro que comporta a filosofia acadêmica, mas traz essa proposta de enxergar o cotidiano como se fosse a primeira vez.
O livro lista 101 propostas de experiências, mas vou enumerar algumas que me parecem bem típicas do olhar infantil:
Experimentar roupas - "Faz tempo que as roupas não servem mais para proteger do frio ou da chuva nem para preservar um suposto pudor. Parece difícil imaginar que mesmo as roupas mais primitivas servissem apenas para aquecer pessoas. É claro que sempre tiveram uma função simbólica.
(...)
Você pode experimentar roupas não para comprá-las, mas para explorar experiências inesperadas. Em vez de procurar, como de hábito, o que lhe cai bem, o que corresponde ao seu gosto, estatura ou status, seu tipo e seu imaginário, experimente roupas incoerentes.
Colocar-se no planeta dos pequenos gestos - Esse é lindo! A idéia é recuperar na lembrança pequenos gestos significativos...a minha mãe colocava bem de leve a mão nos nossos ouvidos quando íamos dormir. o silêncio abafado, o calor da mão dela e o seu cheiro são enormidades desses pequenos gestos. Só me lembrei dele, quando me vi fazendo igual na minha filha. Mais que isso, quando a minha filha me pediu que deitasse a palma da mão no seu ouvido como eu fazia sempre e ela gostava muito. E eu nem tinha percebido que assim fazia.
Sorrir para qualquer um - Quem não se lembra de um clássico das crianças, de um tempo em que ninguém usava cinto de segurança (menos ainda cadeirinha) no banco de trás...a gente ajoelhava no banco traseiro e ficava acenando pros carros. Vez em quando a gente também fazia língua e escondia...isso era verdade!
Tomar banho de olhos fechados (passar condicionador nos azulejos ou no corpo vai nessa mesma linha)
E mais...
Entrar dentro de um quadro
Apegar-se a um objeto
Provocar a si mesmo uma dor rápida
Chamar seu próprio nome
Acompanhar o movimento das formigas
Procurar o "eu" em vão
Descascar uma maçã em pensamento
Contemplar um pássaro morto
a 31 é...brincar feito criança...como se as outras 100 não fossem a mesma coisa!
_Cibele_

Um comentário:

Mauricio J disse...

Quando a gente cresce parece que as coisas que de fato valem são perda de tempo. Por que?

 
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