quarta-feira, 2 de março de 2011

Diagnóstico Escolar

Eu e a Cibele estávamos conversando sobre isso outro dia, na nossa caixa de comentários. Fiquei com vontade de escrever outras minhas impressões. Pra botar mais lenha na fogueira dessa conversa  =)

Pra começar, as definições. Definições são boas porque são simples, curtas e grossas. Melhor que dicionário em alguns casos, porque vão mais no cerne da questão.

diagnóstico
(francês diagnostic)

s. m.

1. Classificação de doença pelos seus sintomas.

2. Conjunto desses sintomas.

adj.

3. Relativo à diagnose

diagnose

s. f.

Conhecimento das doenças pela observação dos seus sintomas.

Transportando essa definição pro âmbito educativo, seria um conhecimento do aluno pela observação de suas reações diante dos diversos objetos de conhecimento.

Como a Ci disse, pode significar uma tentativa de identificar pontos de aprendizagem, até onde já se chegou, o que falta pra aprender.

O que eu questiono é se seria um instrumento útil na relação professor-aluno. Tenho a impressão de que fazer um diagnóstico no âmbito escolar  (o que pressupõe chegar a conclusões)  afasta ao invés de aproximar, na medida em que se baseia num suposto saber aplicado – subjetivamente, por mais que se tente ser objetivo - ao outro. Conclusões “fecham” um processo que deveria estar sempre aberto, já que a aprendizagem é volátil, muda a cada segundo, a cada nova experiência.

Mesmo evitando juízo de valor, na melhor das hipósteses, ou estigmatização (na pior), o diagnóstico escolar  inclui o aluno em certas categorias e é portanto, ao meu ver, limitador.

O diagnóstico seria útil em nível de consultório, já que são necessárias certas conclusões que determinarão os rumos do tratamento (o trabalho clínico precisa de um enquadramento, mesmo porque parte de um problema e tem um período que passa inclusive por condições econômicas). Na Escola não é assim. A relação professor-aluno é construída no dia-a-dia, nas vicissitudes da aprendizagem, no “comer sal junto”, e pode ser muito mais fluida. Não parte de problemas ou dificuldades, mas de convivência e de trocas pessoais.

Acho que as relações humanas podem ser mais vagas. Não precisam de definições, de categorias nem de diretrizes. No meu ponto de vista, quanto mais aberto estiver o professor pra “esperar o inesperado” (Morin) da parte do aprendiz, mais ele fará bem o seu trabalho.

_Claudia_

5 comentários:

Cibele disse...

Clau, o nome é péssimo. Nem é psicologização, é medicalização, já que a psicologia também gosta desse status da área de saúde. Mas o diagnóstico, num país que muda de professores anualmente, serve pra que o professor não pressuponha que o aluno aprendeu tudo o que foi dado no ano anterior, que é a postura da escola tradicional. Um bom diagnóstico de turma identifica, por exemplo, quais hipóteses ortográficas estão sendo mais utilizadas e ajuda o professor a nortear as suas ações para aquele ponto e não dá-los por aprendidos. O diagnóstico não precisa ser formal, feito numa única avaliação escrita por exemplo, ele pode ser as conclusões de uma observação mais demorada. Diagnóstico é utilizado pelos administradores e pelos engenheiros também e aqui significa apenas um conhecimento que norteará as ações. É claro que não estamos falando aqui da educação infantil. É claro que não é o caso de aferir comportamentos, mas de aferir aprendizagens.
A relação entre professor e aluno é fluida, mas a aprendizagem e a escola não são lugares para a improvisações.

Claudia Souza disse...

Pra "esperar o inesperado" como eu dizia antes, Ci, o professor tem de ter uma capacidade de observação e de abertura imensas, além de ter muito na mão seus instrumentos de trabalho. Isso é muito diferente de improvisar.

Entendo a preocupação de não pressupor a partir de dados homogêneos, de tentar conhecer e compreender e acho que todas essas atitudes são importantes. Mas o risco do diagnóstico na Escola é reduzir o relacionamento a verdades supostas, ou a julgamentos, ou a falsas percepções... Afinal, em sala de aula existem poucos instrumentos disponíveis pra se fazer uma bom diagnóstico, nesses termos que você tá colocando. Será que não seria o caso de observar muito sim, mas sem querer/dever chegar depressa a conclusões pra apresentar/representar o aluno? E de continuar observando sempre enquanto se intervem, sem querer fechar as observações, isto é, a cada intervenção sublinhar processos e resultados conseguidos, numa constante?

Claudia Souza disse...

Ci, faz outro post sobre isso? =)

Cibele disse...

Clau, Não vou escrever sobre isso não porque tem todo um campo de estudos sobre isso e eu não me sinto suficientemente amparada pra fazê-lo. Há, por exemplo, diferentes definições dentro dos estudos sobre avaliação escolar e usar a definição do dicionário é pouco.

Posso acrescentar muito pouco, como, por exemplo, o fato de que a avaliação diagnóstica não exclui uma outra avaliação, essa que vc defende, chamada avaliação processual.

Há excessos pro dois lados. Tanto pra um excesso de métodos e prescrições que quase inviabilizam a fluência na sala de aula, quanto um deixa correr solto.

Não estou com isso defendendo um método. Há mil formas de avaliação diagnóstica e cada um que encontre a sua. Só acho que se a educação brasileira escolhe pela alternância de professor anual, acaba pagando essa conta. Intuitiva ou formal, o professor leva um bom tempo (ou deveria levar) conhecendo a turma e os alunos antes de traçar as suas estratégias.

Cibele disse...

Clau, estou esquecendo de falar uma coisa. Toda conclusão diagnóstica é provisória. Até porque, nenhum aluno é estático.

 
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