quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Falar bem se aprende

Uma das primeiras diferenças que eu notei entre as crianças italianas e as brasileiras é a desenvoltura e competência oral das primeiras. Não que as crianças brasileiras não falem bem, mas as italianas exageram. Falam com uma retórica assustadora, e com que correteza gramatical… As crianças brasileiras têm essa desenvoltura no corpo, na expressão corporal, se se quiser, que as italianas têm muito menos. Mas no ítem oralidade as italianas estão muito na frente. Coisa que levam pra vida inteira, o italiano adulto médio fala muito bem.

Com o tempo percebi que essa competência vem muito da escola, do estilo de educação daqui. Desde muito cedo, a expressão oral é incentivada na sala de aula. A avaliação nas escolas italianas é tão oral quanto escrita, às vezes até mais oral. As aulas são principalmente faladas e são constantemente ensinadas regras do diálogo, coisas simples como não interromper o outro que fala (e se acontece o outro se aborrece), encadear o discurso com bons elementos de coesão e coerência, alterar seu ritmo para não entediar os ouvintes, etc. Isso tudo ajuda muito. Gostaria de ter aprendido isso tudo quando era criança, pra ter mais familiaridade com a coisa. Não tenho.

Mafalda

Eu não tive essa formação oral e acho falar uma das coisas mais complicadas que existem. Me peçam pra escrever um artigo e dou pulos de alegria, mas se preciso falar em público passo dias de sofrimento, gaguejo, perco o fio da meada.  Me sinto sempre “correndo atrás do prejuízo”, como dizem os narradores de futebol, esses sim, companheiros da desenvoltura oral embora inimigos da competência linguística. Não se deve confundir uma coisa com a outra… “Falar bem” não é dizer abobrinhas que parecem sérias.

Hoje encontrei esse artigo falando da importância da narrativa oral no desenvolvimento cognitivo, reconhecida por uma pesquisa na USP; teria até algumas ressalvas às conclusões do artigo, embora concorde absolutamente com a afirmativa central, mas o comentário final do Maurício Leite (Mala de Leitura) é extraordinário.

Enfim, a ideia seria oferecer desde cedo recursos pra  encadear pensamento e expressão oral. Algo como ser inteligente com a desenvoltura de um speaker. Quer mais?

Aqui você pode ver e baixar a tese completa.

_Claudia_

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