sábado, 22 de outubro de 2011

O que a gente pensa dos outros, o que os outros pensam da gente: interpretações

Esses dias eu tenho pensado muito nisso. Em como o mundo atual tem se tornado mais e mais baseado em interpretações, e não em conhecimento. Porque conhecimento, do meu ponto de vista, tem a ver com “comer o sal junto”, com aceitar as imperfeições, os erros, os enganos, as distrações, o “lado B” que todo mundo tem. Que nem sempre é tão comercial como o layout que virou moda sustentar (no social network isso chega a ser impressionante, existe super-exposição sim, mas só do layout, nunca se escondeu tanto o ser real).

Já pra interpretar não. Dá muito menos trabalho. É muito mais fácil interpretar mal uma ação de uma pessoa e a partir daí considerá-la alguém “do mal” ou “desprezível” que tentar compreender suas razões em um ou mais momentos da vida, o que seria uma ótima oportunidade para conhecê-la melhor. A mesma coisa vale para as “boas” ações. Tem gente que vira ídolo da noite pro dia por causa de uma frase “bem” interpretada…

Tenho visto por aí (e por aqui) que esse comportamento de interpretar simplesmente (e interpretar significa necessariamente olhar o outro com meus próprios olhos) tem sido muito comum. E fico assustada. Sinceramente. Me assusta saber como algumas pessoas me interpretam. Pro bem ou pro mal. É igual, porque não sou eu. Eu não sou um dia, eu não sou uma frase, eu não sou uma roupa, eu não sou um trabalho…

Daí páro e penso: mas como ela(e) está dizendo tudo isso de mim se mal me conhece? Porque não só pensa, como também diz. Pra muita gente. Batem o carimbo mesmo, com força. Como eu disse, pro bem (o elogio) ou pro mal (a difamação). Quem elogia ou difama perdeu tempo em conhecer? (…)

As crianças são as principais vítimas dessa deformação comportamental moderna. Porque as crianças são interpretadas o tempo todo. Na Escola, em casa, nas ruas. Facílimo, afinal elas não têm ainda argumentos pra se defender. Sobram diagnósticos e análises sobre as crianças. Sombram prontuários, portfolios, avaliações.  Sobra “ela é…” isto ou aquilo. (Ainda  mais essas pessoas em formação!) Mas quem somos nós?

Quem quer conhecer as crianças?

_Claudia_

12 comentários:

Cibele disse...

Bonito, bonito isso, Clau! Engraçado que andei pensando em algo do gênero outro dia também. (Será que é o inferno astral?) Não sobre as crianças, porque aí vc arrasou, mas sobre como me incomoda ser adjetivada. Mesmo quando o adjetivo é bom, a gente parece que fica preso nele. Chato!

Agora, sobre as crianças, isso acontece tanto com o desenho delas, né? Cada um tem uma história pra contar parecida, mas a minha é assim (vai ver até já contei): me perguntaram se a Ciça não estava deprimida porque estava desenhando com cores escuras. Pensei....será? Coisa estranha... Depois descobri que os lápis preferidos dela estavam todos sem ponta e que os que ela não gostava tanto, estavam com ponta novinha e eu não tinha notado.

As novas metodologias de pesquisa com desenho de criança costumam recolher a fala da criança no momento do desenho, pra tentar evitar essas distorções. E tem que ser na hora, porque pouco tempo depois a criança resignifica o desenho. Criança é muito legal mesmo!

Claudia Souza disse...

Deve ser o inferno astral sim! hahaha (ufa, o meu acaba amanhã!).
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É horrível mesmo ser interpretado com base em fragmentos. Gente não pode ser sujeita a conceitos! E hoje tem muitas pessoas que adoram inventar conceitos sobre os outros, assim, do nada, com pouco conhecimento, sem nem escutar o ponto de vista do outro. Acho isso uma deformação social dos nossos tempos e fico incomodadíssima! Não devia, né. Principalmente porque esse tipo de coisa é sinal de falta de amor, de carinho pelo gênero humano. Quando você ama você tende a perceber os outros mais por inteiro e inclusive a aceitar as diversas facetas de cada um. E não me interessam pessoas que amam pouco.
Como eu disse, em relacionamentos cada vez mais virtualizados, conhecer tem sido praticamente impossível. Amar então ai ai esquece! Coisa pra poucos!
Agora, se a gente se sente incomodada, coitadas das crianças, elas vivem isso todo dia!
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Esse caso da Ciça é a típica interpretose! hahaha Quando você vai conhecer, aparecem outras coisas muito diferentes!

Claudia Souza disse...

Ci, love u!! =D
(nunca é demais declarar um sentimento que a gente sente!)

Claudia Souza disse...

Aqui, outras que são (mal) interpretadas o tempo todo são as mães e as professoras, né? Tem um monte de "teórico" em campo pra isso.
Que não são mães nem professoras, diga-se de passagem.

Cibele disse...

Clau, loviu também...cada dia mais.
: )

Ah, é verdade, ser mãe e professora não é mole não. Basta um escorregão e a patrulha aparece. Como se fosse possível (e principalmente desejável) ser mãe ou professora perfeitas. Aliás, depois de lidar com o erro do aluno, a educação devia aprender a lidar com o erro do professor e dos pais.

Anônimo disse...

claudia e cibele
acompanho o blog de vcs a muito tempo e posso dizer que as conheço já um pouquinho. portanto não se tratade uma adjetivação, mas de um pequeno e afetivo conhecimento ;)
adoro o blog acho um dos melhores na área e como vcs duas escrevem. parabéns!
para a discussão quero acrescentar que as interpretações são afins à pessoa que interpreta e não à realidade. portanto não devem ser levadas em consideração.
abs às duas.
Luisa Siqueira (Brasília)

Cibele disse...

Luisa,
Que legal o seu retorno! Temos muitos retornos por e-mail e poucos aqui no blog mesmo. Volte sempre, e aproveite pra deixar as seus pitacos, que é o mais legal de um blog, né?
Vc tem razão quando diz que as interpretações são afins ao intérprete, só não sei (não sei mesmo) se a realidade da gente existe. Será?

Claudia Souza disse...

De mim posso falar só de realidadeS =) Sou fácil de interpretar nãoooo! hahaha (embora ao longo da vida muitos tenham tentado, no bem ou no mal, como acontece com todo mundo, só dei reta às interpretações do meu psicanalista - que tinha conhecimento de causa. O resto joguei no lixo hehe Sempre vivi por e com conhecimento e afeto, são essas as únicas interlocuções que considero válidas).

Luisa, obrigada pelo comentário gentil e interessante, volte sempre pra bater prosa no Quintal.

Anônimo disse...

e o seu psicanalista tb vc pagava ele nè Clau ha ha ha ha

eu tb quanto mais te conheco mais gosto de vc :)
bj
Fefe
(a de Roma pq sei que tem Fefe aos montes aqui nesse quintal)

Claudia Souza disse...

Hahahaha Fefe, você é ótima.

Conhecer os outros é uma Arte e uma delícia! Que bom poder errar, ser chato, ou triste às vezes e ainda assim contar com a amizade! Isso não é pra todo mundo não! =)

cibele disse...

Tudo isso em terras estrangeiras... fiquei pensando, tarefe difícil, heim!

Claudia Souza disse...

Ô, e se é!
Sabe, Ci, vou até escrever sobre isso depois, até me abriu uma janelinha. Porque cê sabe que é mais difícil criar laços de amizade aqui com os conterrâneos que com os nativos? Não sei o que acontece com as pessoas que emigram.Muitas se tornam inseguras e competitivas. Bohhh sei lá. Pensei que seria o contrário, sempre que conhecia um brasileiro pensava "Que bom, alguém da minha terra, vai me compreender". Que nada! Aprendi a duras penas que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas não posso me lamentar não. Nesses 5 anos fiz amizades SUPER fortes por aqui.Tem gente que já virou família =)

 
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