Menino tem umas soluções tão diferentes das nossas diante de situações complexas…
Porque consegue botar no mesmo prato coisas muito diferentes, às vezes até opostas (o conceito de absurdo não funciona como restrição).
Porque vê o mundo de outras perspectivas, sem ter de usar a imaginação.
Porque não usa a reversibilidade.
Porque é ingênuo.
Porque arrisca.
Porque brinca (e brincar pode ser muito mais sério que considerar).
Por isso que eu fico revoltada às vezes com a ultra-pedagogia (essa mania de ensinar a priori que o adulto tem). Porque já vi inúmeras vezes adulto – até sem perceber - tentando impedir soluções incríveis e originais das crianças. Ainda bem que poucas vezes conseguem, porque outra coisa que menino sabe muito bem é sair pela tangente.
Uma menininha chega ao ateliê e diz que quer construir uma casinha. A operadora, tomada de furor pedagógico, quer “ajudar”: oferece a ela uma caixa de papelão, pra ser “a base” da sua construção. Mas a menininha recorta a caixa, pega um único lado plano e constrói sua casinha toda ali, sem nenhum volume, mas cheia de movimento das janelinhas, das portas até da fumaça saindo da chaminé. Aplica papel colorido, desenhos nas paredes num interessante recurso de transparência, e logo obtém a casinha mais linda que eu vi nos últimos tempos. Toda “achatada”, pra nós vista do alto, pra ela vista como lhe convém.
Imagem: Escher
Não precisei explicar nada pra operadora. A pedagogia agiu ao revés.
_Claudia_
3 comentários:
Idéia boa essa do absurdo sem restrição, heim!
Ah, também me espanto todos os dias com o que me ensinam as crianças...
Mas é preciso ter ouvido de ouvir, né?
Entao, pra mim o grande pondo da formaçao de educadores é esse: estimula-los a observar, a aprender a VER e a OUVIR.
Noossa!
Essa foi linda!
Fico aqui matutando: de que lando vou andando/configurando a vida - do lado da casa-modulação-topologia de invenção ou do lado da informação-modelagem-educação?
Vou de banda... Aprendendo o avesso. Mas é bom vigiar que o outro lado pega e gruda.
Abraços
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