segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A voz do povo é a voz de Deus

A palavra POVO é usada com frequência em sentido pejorativo, principalmente por uma suposta (auto-declarada)  elite intelectual/artística. Povo não sabe votar. Povo é massa de manobra. O que agrada ao Povo não pode ser coisa boa.  Povo não sabe pensar por si mesmo. Uma obra popular não pode ser considerada Arte, é folclore. E por aí vai. Conclusão: é mais chique ser o “artista incompreendido”. Afinal, “a verdadeira Arte/Cultura é para uns poucos (ricos) eruditos que sabem apreciá-la, não pra uma manada de ignorantes que querem apenas consumi-la – e cosumá-la”. Nosso herói, o “artista incompreendido” , não vende muito, não é muito reconhecido, tem poucos seguidores (num vocabulário mais atual), não é (e nem quer ser, deusmilvre!) popular, pois “seu valor é intrínseco à maravilhosa Arte que produz”. É o marginal orgulhoso, consciente da “grandeza singular de sua obra” (…)

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Eu sou uma apaixonada pelo POVO e pela CULTURA POPULAR. Acho a Cultura popular a coisa mais próxima da Cultura Lúdica que existe no mundo adulto. Acho também que a Cultura Popular é tão parecida no mundo inteiro que serve de ponte para toda e qualquer integração. POVO é comum. É coletivo. Nada mais HUMANO que POVO (com suas qualidades e defeitos).

Adoro os ditados, canções e contos populares, a sabedoria popular, os costumes, as festas, as tradições, a culinária, o senso comum, o jeitinho peculiar das diversas comunidades. Até a magia popular me agrada, eu que sou completamente convicta da Racionalidade.

Sempre adorei trabalhar em grupo, no coletivo. Falar no plural, pertencer a um time, a uma associação, ter empatia, ser semelhante. Mesmo sabendo o risco grande que essa atitude comporta: os “ismos” (sobre os quais já escrevi aqui), as deformações, as lavagens cerebrais de estar “dentro de”. Mas pra esses riscos tem remédio, e é o pensamento crítico que a gente adquire com o tempo, principalmente nas idas e vindas. Movimentar-se é um excelente antídoto pras ideias preconcebidas e territoriais.

Fato está que, com todos esses riscos, prefiro confrontar-me com a sociedade, prefiro falar “de dentro” do povo. Colaborar, compartilhar são ações que prezo muitíssimo. Eu quero ser popular. Como escritora, tenho a ambição não só de ser criticada como de ser ajudada pelos colegas e pelo editor, além de desejar ser lida por todas as crianças do mundo. Quero ser best-seller benhe! =)  Como educadora pretendo saber me comunicar (em linguagem ampla e acessível) com todas as famílias que existem. Como cidadã quero continuar a exigir pacificamente meus direitos e assumir minhas responsabilidades.

Gosto, tenho prazer em me sentir parte de um POVO. Com todas as suas (humanas) contradições.

Eu acho que o povo sabe – e muito bem – apreciar as boas obras. E que decide consumir outras não tão boas mas que de algum modo lhe trazem satisfação, mesmo que momentânea. O povo decididamente não “compra” (não “engole”)  ideias/obras medíocres. Existe uma sabedoria imperceptível nas escolhas populares que faz com que permaneçam apenas elementos que merecem permanecer.

(Ando inclusive pesquisando alguns fenômenos de popularidade entre as crianças, quero entender por que, além é claro, da propaganda, do lado estritamente comercial, algumas coisas “pegam” entre elas e outras não. Principalmente quero entender por que algumas coisas permanecem. Em breve vou compartilhar com vocês os resultados dessa minha pesquisa).

_ Claudia Souza (quer sobrenome mais popular que esse? hehehe)

Duas ressalvas: Querer ser popular não significa querer ser unânime, bem como ser convicta da Racionalidade não significa querer ter razão.

6 comentários:

Anônimo disse...

claudia, mais popular que souza só silva
ass rosângela rego da silva :)

Cibele disse...

Taí um assunto embolado. Complicado mesmo. Primeiro a gente tinha que ver o que a gente entende por folclore e por cultura popular. Se pensarmos o folk-lore como sabedoria do povo, a substituição por cultura popular pouco se justifica. Os dois conceitos mantém a ideia de uma permanência ou de um atraso colocado pelo tradicional. Há quem chame isso de uma crise taxonômica da cultura. Troço difícil de conceituar. Eu gosto das duas coisas: do erudito e do popular. Na verdade, gosto do que tem cara, do que cheira a genuíno. Seja lá de que lugar veio.

Como se não bastasse o nó, lá vai mais um: de onde vem essa proximidade entre cultura popular e cultura infantil? Por que fica aí uma aproximação bastante delicada entre a criança e o povo, né?

Isso pra nem chegar numa certa linha teórica que vai dizer que não existe cultura popular...xiii, aí a porca torce o rabo. rs...

Claudia Souza disse...

Rô, siamo tutti buona gente né.
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Cibele, devagar com o andor porque o santo é de barro hahaha Teu comentário foi muito mais "denso" que o meu post! hahahaha
Me botou um monte de pulgas atrás da orelha e isso é ótimo.
Alguns pontinhos:
Cultura Popular e crianças: basta pensar no quadro de Bruegel =)
Cultura Popular e folclore: o conceito de folclore geralmente é usado num sentido muito restrito, de mitos, lendas, pratos típicos, etc.
Popular e Erudito: também aprecio os dois, desde que o Erudito tenha sentido e não seja só uma fachada, como acontece com frequência.
Cultura Popular não existe: isso é coisa de Lacan?? =o

Claudia Souza disse...

Ops, percebi só agora e aqui vai outro pontinho: dona Ci, Cultura Lúdica não é sinônimo de Cultura Infantil. Eu disse que acho a Cultura Popular próxima da Cultura Lúdica, não da Cultura Infantil. Na cultura lúdica cabem adultos e crianças uai! =P (por isso pensei no quadro do Bruegel, tendeu?)

Cibele disse...

Clau, essa coisa da inexistência da cultura popular é o Bourdieu num texto polêmico chamado "Popular? Você disse popular?" ...fácil de achar na internet.

Tá, o argumento da cultura lúdica e não infantil é bom, mas ainda acho que essa proximidade entre cultura lúdica (e por proximidade a infantil) e cultura popular tem outras raízes. A cultura erudita, se é que se pode chamar assim, também pode ter semelhanças com a cultura lúdica. Vai ver toda cultura é lúdica...não sei. Acho que corre muita água debaixo dessa ponte. E uma das chaves talvez seja a construção desse campo científico que começou com os estudos folclóricos e caminhou pra noções mais "contemporâneas" de cultura.

Sobre o quadro do Bruegel, eu também não arriscaria muito. A nossa visão sobre ele está bem impregnada da tese do Ariès. O que temos ali? Crianças que se vestem como adultos? Adultos infantilizados? Crianças brincando COM adultos? Eu fico com vontade de voltar a ele pela história da arte e não pelo Ariès...taí...

Claudia Souza disse...

Bem, eu vejo o quadro do Bruegel como "lúdico" e basta. Gente que se diverte, que brinca, independente da idade, papéis, etc.
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A Cultura Erudita na minha modesta opinião é menos Lúdica que a popular. Mais baseada em outros critérios que eu também aprecio muito, como disciplina, por exemplo. Nem por isso é menos importante.
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Vou descascar o Bordieu depois te conto o que achei.
=*

 
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